Por Lucas Novaes
Estamos nos aproximando de um dos momentos mais decisivos na história
"democrática" deste país. A partir desta sexta-feira, dia 15 de abril
de 2016, até o domingo da mesma semana, ocorrerá na câmara de deputados o
processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Esse processo marca uma
acirrada disputa entre as forças governistas, favoráveis a gestão atual do
Partido dos Trabalhadores, e os oposicionistas, os quais representam massivamente
os interesses do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), do Partido
da Social Democracia Brasileira (PSDB) e também de algumas frações de poder
político minoritárias, especialmente localizadas à direita do espectro político
nacional.
A hegemonia liberal centro-esquerdista que se manifesta eleitoralmente
por meio da popularidade do PT (sobretudo, nas eleições presidenciais) foi
construída por meio de um discurso de conciliação de classes e de interesses
verticalmente opostos. Isso significa que, de certa forma, os interesses da
classe trabalhadora foram atendidos: houve a redução das desigualdes sociais, a
inclusão de milhões de brasileiros na classe média e a importância dos
sindicatos foi legitimada e valorizada. Na contramão das mudanças, o monopólio
da grande imprensa não foi questionado e as elites financeiras ainda mandam e
desmandam neste país (estes últimos fatos não tanto por responsabilidade exclusiva
do PT como pela fraqueza da esquerda nacional como um todo). Apesar disso, mais
de 54 milhões de brasileiros foram as urnas em 2014 mostrar seu desejo pela
permanência da atual chefe de estado no poder por mais quatro anos. Principal
concorrente do governo, Aécio Neves conseguiu 51 milhões de votos com um
discurso raso e que beira a absurdidade (alguém lembra do momento em que o
tucano disse que manteria e até ampliaria o bolsa-família?). Boa parte (ou a
maioria) dos votos conquistados por Aécio foi atingida mais pelo antipetismo do
que por qualquer mérito partidário (ironicamente, foi o tucano que tanto falou
em meritocracia durante os debates daquele ano. Onde está a meritocracia no
apoio a um partido baseado apenas no ódio ao seu rival?)
O fato de que a oposição nunca esteve tão empenhada em derrubar o atual
governo quanto neste segundo mandato de Dilma Rousseff mostra que criar uma
harmonização entre os interesses do povo e da elite internacional não é mais o
suficiente para se manter no poder. O principal objetivo dos defensores do
Impeachment é a eliminação de qualquer ponto fora da curva nos interesses do
capital financeiro e dos donos do mundo. O Partido dos Trabalhadores, por mais
que tenha passado longe do Socialismo ou do Nacionalismo de esquerda durante
seus 14 anos de governabilidade, nunca foi bem visto pela maioria da elite
econômica e da comunicação. O debate acerca Dilma ter ou não cometido crimes de
responsabilidade fiscal é fundamentalmente secundário e insignificante quando
comparado ao que está em jogo. O discurso anti-PT baseado na luta contra a
corrupção, alem de hipócrita, também é pautado em certo moralismo burguês com a
qual não compartilho. A disputa que ocorre no país é de ordem ideológica e
assim deve ser polarizada por ambos os lados.
E SE O GOLPE
FOR BEM-SUCEDIDO?
O afastamento de Dilma do poder deve ser apenas a primeira de diversas
ações da oposição contra a esquerda principal. O próximo passo seria a cassação
dos direitos políticos de Luís Inácio "Lula" da Silva ou prisão do
mesmo, visando evitar a possibilidade de mais uma amarga derrota a nível
nacional em 2018. Todo o partido do ex-presidente poderia ser posto na
ilegalidade e seus apoiadores perseguidos ao mesmo tempo em que sofre um
verdadeiro linchamento público da grande mídia, em nome da "segurança
nacional" e da "manutenção da ordem".
E SE O GOLPE
FALHAR?
Caso isso ocorra, a oposição sairá desmoralizada e os petistas ganharão
uma sobrevida no poder. Os ataques aos petistas, porém, não devem parar por aí,
sendo necessária a "mobilização permanente". Essa será uma
oportunidade para o PT colocar em prática a tão sonhada "guinada á
esquerda" e voltar aos seus princípios combativos dos anos 1980 e 1990
pois, hoje, sabemos que o esforço do PT em atrair a classe media liberal para
si só causou enfraquecimento ideológico ao partido. O Partido dos Trabalhadores
disse "sim" ao Liberalismo, mas o Liberalismo o rejeitou por não ser
liberal o suficiente. Essa relação não
recíproca onde um dos lados aceita o rebaixamento moral em nome de sua
sustentação não é saudável e deve acabar. Se, com o apoio das massas nas ruas,
o governo atual conseguir sobreviver ao próximo domingo, terá então a última
chance de justificar sua existência.
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