Figura
1 – Na foto, um dos políticos brasileiros mais
populares no Facebook e que recentemente ganhou apoio de diversos artistas
famosos
Por Lucas Novaes
Jean
Wyllys é um exemplo de figura política que se tornou caricatural pela sua repetida
representação negativa por parte de adversários. Moralmente, parece não haver
nada de errado com tal ação: pessoas com ideias e modos de agir estúpidos devem
ser ridicularizadas. Entretanto, o que acabou acontecendo com o político mencionado
foi o aumento enorme na popularidade e poder de ganhar votos gerados pela
excessiva exposição do mesmo nos grandes meios de comunicação e redes sociais.
Nas
eleições gerais de 2010, o ex-BBB conquistou míseros 13.018 votos em sua
corrida para a câmara de deputados, o que representou apenas 0,16% do total de
votos válidos no estado fluminense, mas foi suficiente para sua eleição graças
as regras de coeficiente eleitoral. Isso mostra que Wyllys era um político
impopular que recebia a quantidade de atenção da mídia que merecia: quase
nenhuma. Sendo assim, qual a razão para a elevação significativa do poder
eleitoreiro do deputado?
COMO E QUANDO TUDO
COMEÇOU
Em
2010, a partir do final daquelas eleições gerais, iniciava-se um processo no
cenário nacional que contribuiu para a ascensão do discurso liberal no Brasil
bem como o aumento da força de suas pautas. O motivo para tal processo de
transição nas discussões político-partidárias ter começado tão tarde (em
relação ao resto do Primerio Mundo) não é tão claro. Acredito que a partir de
2010, com a influência cultural norte-americana em território tupiniquim
completamente consolidada por meio do intercâmbio de ideias, da força da língua
inglesa imposta pelo mercado de trabalho e pela cultura de consumo promovida
pelo governo, os ingredientes-chave para a eventual “americanização” estavam disponíveis
e preparados para serem usados.
Ainda
em 2010, o deputado federal pelo Rio de Janeiro Jair Bolsonaro (eleito com uma
quantidade grande, porém não preocupante de votos: 120.646) se envolveu em uma
briga política com ativistas de Direitos Humanos ao repudiar material com
conteúdo sobre diversidade sexual que seria distribuído ao público
infanto-juvenil. A repercussão desse conflito acabou gerando uma atenção maior
para o enfrentamento entre políticos conservadores e ativistas LGBT. Essa briga
se estendeu por anos, envolvendo figuras religiosas como o pastor Silas Malafaia
confrontando Jean Wyllys por causa de um projeto que legalizava a existência de
tratamento para homossexuais (a chamada “Cura-Gay”).
Em
2011, Bolsonaro se envolveu em uma polêmica no programa Custe o Que Custar
(CQC) ao dizer que seu filho “não namoraria uma negra pois foi muito
bem-educado” em resposta à pergunta da atriz e cantora Preta Gil. O deputado se
defendeu da alcunha de “racista” afirmando que sua resposta se referia ao
relacionamento do filho com homossexuais e não com mulheres afrodescendentes.
Mal interpretado ou não, o deputado fluminense acabou ganhando uma exposição
espalhafatosa na mídia, tendo sua fama aumentada.
De
polêmica em polêmica, Bolsonaro, com seu discurso anticomunista e moralmente
conservador, acabou aglutinando uma parcela de seguidores com visões políticas
de oposição ao governo de centro-esquerda do Partido dos Trabalhadores, marcado
pela maior redistribuição de renda e geopolítica multilateral (ou seja,
alinhada tanto com os países ocidentais como com seus maiores concorrentes
econômicos). Porém, essa oposição não se encontra alinhada ao Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB) e sim com setores tidos como extrema-direita para
nosso espectro político. A horda bolsonarista e sua histeria antissocialista
está muito mais próxima (em termos ideológicos) do Partido Republicano nos
Estados Unidos.
Uma
das causas da ascensão de Bolsonaro é o aumento da influência de Olavo de
Carvalho (que vive nos EUA a mais de 10 anos) entre os jovens brasileiros da
classe média. Olavo, com seus livros e artigos, forneceu as bases
“intelectuais” para a criação de uma nova subcultura direitista totalmente
alinhada com os discursos conspiratórios da direita americana, beneficiando
Jair Bolsonaro.
O
crescimento da direita liberal proporcionou o terreno fértil para o crescimento
da esquerda liberal (e vice-versa); terreno do qual Jean Wyllys se aproveitou
inteligentemente para formar seu contraponto em favor das “liberdades
individuais” e que, após o reconhecimento legal do casamento civil igualitário,
reconhece o país mais sanguinário de todos os tempos (Estados Unidos) como uma
nação que cada vez menos reprime os direitos dos indivíduos (só se for de seus
próprios cidadãos, pois os estadunidenses financiam grupos terroristas e ONGs estrangeiras
para tumultuar países não alinhados).
Percebe-se,
portanto, que a americanização da política brasileira ganhou força a partir de
2010 e se manifesta por meio de fenômenos políticos e culturais distintos: no
lado direito, temos o ódio irracional ao comunismo sendo propagado com grande
intensidade, o “olavismo cultural” ludibriando a mente de milhares de jovens e
o endeusamento de um deputado despreparado com pensamentos insanos (Jair
Bolsonaro). No lado oposto, percebemos a esquerda universitária e jovem cada
vez mais distanciada do trabalhismo e das questões sobre a soberania nacional e
adotando discursos cosmopolitas liberais em defesa de causas individualistas
(“meu corpo minhas regras”, “apropriação cultural”), causas essas que vem acompanhadas
de diversos termos linguísticos derivados da realidade estadunidense. Temos
então o surgimento de anomalias culturais, tais como uma direita “patriota” que
odeia o próprio país e “conservadora” que deseja transformar as leis do Brasil em
leis similares aos dos Estados Unidos, assim como uma esquerda desassociada da
identidade nacional, que prega a independência dos trabalhadores ao mesmo tempo
em que os aliena com discursos antipopulares sobre a moral, além de não apoiar
os principais governos anti-imperialistas do mundo sob a desculpa de que esses
são ditatoriais.
Figura
2 - A foto da Casa Branca colorida (destacada no perfil de Jean Wyllys e outros
políticos “socialistas”) demonstra a mentalidade colonizada de boa parte da
esquerda brasileira
A influência cada vez maior do liberalismo no seio da direita
e da esquerda brasileiras é ruim não somente pelo fato de limitar a discussão
político-partidária em nossa pátria, enfraquecendo as ideias relacionadas ao
trabalhismo e à independência da nação perante aos interesses estrangeiros, mas
também por realizar uma assimilação entre os interesses políticos dos
brasileiros com os interesses do Imperialismo e do capital financeiro.
Figura
3 - A geopolítica é o denominador comum entre Wyllys e Bolsonaro: ambos
apoiadores de Israel e das revoluções forjadas pelo imperialismo no Terceiro
Mundo.
O
resultado desse processo se mostra em números: nas eleições gerais de 2014,
Jair Bolsonaro e Jean Wyllys passaram de políticos desconhecidos a detentores
de enorme repercussão na grande mídia, conquistando 464.572 e 144.770 votos, respectivamente.
Muitos os veem como inimigos mortais, mas a realidade é que ambos se
complementam perfeitamente dentro da dicotomia liberal (a direita liberal na
economia e moralista nos costumes contra a esquerda cosmopolita e defensora dos
direitos humanos. Ambas alinhadas com os interesses geopolíticos dos Estados
Unidos da América).
Figura
4 - Jair Bolsonaro e Jean Wyllys: duas aberrações políticas modernas.
REFERÊNCIAS:
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