segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Genealogias políticas, parte IV: Ministério Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Galvão Bueno, Carolina Lebbos e Luciano Pizzatto.


Ministério Bolsonaro

Fonte: mensagem postada no perfil do professor Ricardo Costa Oliveira no dia 28 de novembro de 2018
A escolha de mais dois deputados federais para o ministério do cujo atende ao critério de pertencimento à famílias políticas, sempre "a teoria do nepotismo" explicando as mesmas oligarquias da classe dominante. No Desenvolvimento Social - Osmar Gasparini Terra (MDB-RS), médico, neto do advogado e juiz de Vacaria, Augusto Diana Terra e bisneto do Coronel Avelino Paim de Sousa, poderoso chefe político regional, tio do senador Paim Filho, que ofereceu o cargo de assessor para seu sobrinho Walter Paim Terra, pai do "novo" ministro. Pelas genealogias das famílias Paim, Terra e outras, no Rio Grande do Sul, entendemos a reprodução social e políticas destas famílias oligárquicas dentro do Estado ao longo dos séculos, típico modelo brasileiro de concentração de rendas, patrimônios e poder político. No Turismo - Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), nome fantasia de Marcelo Henrique Teixeira Dias, filho do ex-deputado Álvaro Antônio Teixeira Dias, que foi da ARENA, PMDB, PDT, uma família empresarial e política com base no Barreiro, uma das mais antigas regiões de Belo Horizonte. Tudo em família, sempre.
Geraldo Alckmin

Fonte: Mensagem postada no perfil do professor Ricardo Costa Oliveira no dia 5 de agosto de 2018
Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho, médico e político profissional, é mais um produto da classe dominante tradicional brasileira com fortes raízes no século XVIII. Procedente de uma família entre o Sul de Minas e o Vale do Paraíba paulista. Alckmin era ferrenho adepto do nepotismo porque quando foi prefeito de Pindamonhangaba ofereceu cargos para o pai e seus três cunhados. A filha de Alckmin adorava a Daslu e seus luxos e excessos. O cunhado de Alckmin e filho já estiveram envolvidos em denúncias de operações de caixa 2 e concessões de aeroportos (sina dos candidatos presidenciais do PSDB) e outras irregularidades. Geraldo Alckmin foi sobrinho de José Geraldo Rodrigues de Alckmin, ministro do Supremo Tribunal Federal entre 1972-1978. O trisavô do ex-governador e candidato presidencial Geraldo Alckmin, em linha paterna, foi João Capistrano de Macedo Alckmin, latifundiário, escravocrata (mais de 30 escravos no censo de 1839 de Pouso Alto), advogado bacharelado em 1832 na primeira turma da faculdade de direito de São Paulo, juiz de órfãos de Campanha/MG, deputado provincial de Minas Gerais. De acordo com a "teoria do nepotismo", trata-se de mais um herdeiro do poder da classe dominante tradicional do Sudeste do Brasil, sempre atuando dentro do Estado e do nepotismo na reprodução de seus privilégios e vantagens sócio-econômicas. Boa parte das mentalidades do Antigo Regime continuam nesta gente, suas denúncias de corrupção sempre protegidas pelos seus correligionários no legislativo, no sistema judicial e em suas origens históricas e formas de exclusão. Candidato agora do bloco golpista do PSDB e do direitão/centrão, o que há de pior na política brasileira.
Galvão Bueno

Fonte: Mensagem postada no perfil do professor Ricardo Costa Oliveira no dia 16 de julho de 2018
Perguntaram sobre o parentesco e genealogia do rico e culturalmente limitado apresentador da TV Globo (redundância) Galvão Bueno, com a Rua Galvão Bueno de São Paulo. Mais uma vez a hereditariedade e os capitais sociais familiares explicam muito de como conseguir um emprego milionário de destaque na mídia, na midiotia. Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno, o apresentador e locutor falando besteiras por aí. Filho de Benedicta Mildredes dos Santos, atriz de sucesso no rádio, teatro e TV nas décadas de 40 e 50 - e do redator e executivo da mídia, Aldo Viana Galvão Bueno. Amélia Simone era tia de Mildred dos Santos, também radioatriz. Aldo era filho de Álvaro Galvão Bueno e de Dulce Viana, família com muitos altos comerciantes, burocratas e militares no Rio de Janeiro. O pai de Álvaro foi o médico e diplomata Américo Galvão Bueno casado com Amélia Chaves, filho de outro Américo Galvão Bueno casado com Francisca Fagundes. Este Américo era irmão de Carlos Mariano Galvão Bueno, bacharel em direito e professor da Faculdade de Direito de São Paulo, o homenageado na Rua Galvão Bueno de São Paulo. Genealogia Paulistana – Título Furtados. Antonio Galvão de França, Galvão vem do Capitão-mor em Pindamonhangaba e Guaratinguetá, natural do Algarve – Título Prados. Gente que sempre se deu bem no Brasil e bem relacionados com longas e conhecidas genealogias nos principais poderes estabelecidos. A prefeitura de Londrina teve problemas com uma área da Associação Galvão Bueno..
Carolina Lebbos, a carcereira de Lula

Fonte: Mensagem postada no perfil do professor Ricardo Costa Oliveira no dia 20 de abril de 2018
Perguntaram sobre os capitais sociais e políticos familiares da juíza Carolina Moura Lebbos, a "carcerária" de Lula. O pai era o médico cardiologista Elie Lebbos, nascido no Líbano e naturalizado brasileiro, também era administrador e empresário. Possuía muitas conexões políticas. Era o médico particular do falecido deputado José Janene. Casado com a também médica Marina Vieira Moura Lebbos. Pelo lado materno a família Moura é uma das mais ativas famílias de médicos cardiologistas em Curitiba. O avô materno era o professor da UFPR Arnaldo Moura, primeiro presidente da Sociedade Paranaense de Cardiologia. Pelo lado Vieira é de Itajaí, com alguns empresários. Passar de uma família com fortes capitais sociais na medicina para o direito e a magistratura, dentro do mesmo ethos de classe conservador e elitista, é uma passagem direta.
Luciano Pizzatto

Fonte: Mensagem postada no perfil do professor Ricardo Costa Oliveira no dia 21 de março de 2018
Lamento o falecimento do Luciano Pizzatto em Brasília. Mal súbito. Em famílias como a Pizzatto encontramos os dilemas e fracassos da modernização da burguesia imigrante do final do século XIX. Luciano era secretário de representação do Paraná em Brasília. Ex-deputado estadual e federal por várias legislaturas. Foi presidente da Companhia Paranaense de Gás na gestão Beto Richa. Sua última disputa eleitoral foi como candidato a vice-prefeito de Curitiba na chapa da jovem oligarca Maria Victoria Borghetti Barros, com uma imensa diferença de idade, experiência e trajetória. Luciano estava próximo da vice-governadora Cida Borghetti, esposa do ministro da Saúde, Ricardo Barros e cotado para alguma secretaria, após a presumida saída de Beto Richa para disputar as eleições de outubro. Passou por vários partidos. O bisavô Pedro Nolasco Pizzatto, filho de imigrantes italianos de Araucária, próximo de Curitiba, começou a acumular poder político e riquezas, ao adquirir um imenso latifúndio na região de Palmas/General Carneiro. O avô Dorcel Antonio Pizzato foi empresário e presidente do Sindicato dos Madeireiros no período do Estado Novo. O pai, Douglas Pedro Pizzato, também foi homem rico e ativo no meio empresarial. Família atuante no futebol do Coxa, nas associações empresariais e clubísticas. A venda de terras da fazenda da família Pizzatto para o Parque das Araucárias teve muitas polêmicas, no final do governo Lerner, sobre os imensos valores pagos. Luciano Pizzatto vivia de cargos comissionados no Governo do Paraná nos últimos anos e sua esposa, Dora Maria Ficinski Dunin Pizzatto, também é presidenta do Instituto Curitiba de Saúde, nomeação do prefeito Greca de Macedo. Mais uma trajetória de uma família da imigração italiana do final do século XIX, da burguesia madeireira para o atual estamento burocrático-estatal, diria Raymundo Faoro. Não apresentam as raízes do antigo senhoriato, mas aprenderam logo o papel do Estado e da política no Brasil.

sábado, 1 de dezembro de 2018

O mito do antifascismo sionista (texto de Roger Garaudy - tradução do espanhol para o português por mim feita)



Foto – Roger Garaudy (1913 – 2012).

Em 1941, Yitzhak Šamir cometeu um crime imperdoável desde o ponto de vista moral: recomendar uma aliança com Hitler, com a Alemanha nazista contra a Grã-Bretanha (Bar Zohar, Ben Gurión, O Profeta armado, Paris, 1966, p. 99)
Quando começou a guerra contra Hitler, a quase totalidade das organizações judaicas colocaram-se ao lado dos aliados e inclusive alguns de seus mais destacados dirigentes, como Weizmann, tomaram posição em favor dos aliados, mas o grupo sionista alemão, que naquela época era muito minoritário, adotou uma atitude inversa e de 1933 a 1941 esteve vinculado à uma política de compromisso e inclusive de colaboração com Hitler. As autoridades nazistas a princípio, ao mesmo tempo em que perseguiam aos judeus, afastando-os, por exemplo, da função pública, dialogavam com os dirigentes sionistas alemães e estabeleciam tratamento especial distinguindo-os dos judeus integracionistas a quem se perseguia. A acusação de conluio com as autoridades hitleristas não se dirigia a imensa maioria dos judeus, alguns dos quais nem se quer esperou a guerra para lutar contra o fascismo. O fizeram nas Brigadas Internacionais na guerra civil espanhola entre 1936 e 1939 (1). Outros, mesmo no gueto de Varsóvia, criariam um Comitê judaico de luta e eles sabiam como morrer combatendo. Mas essa acusação é aplicável a minoria fortemente organizada dos dirigentes sionistas cuja única preocupação era a de criar um Estado judaico poderoso. Sua preocupação exclusiva de criar um Estado judaico poderoso e inclusive sua visão racista do mundo os faziam muito mais antibritânicos que antinazistas. Depois da guerra Menachem Begin ou Itzhak Šamir chegaram a ser dirigentes de primeiro escalão no Estado de Israel.
Datada de cinco de setembro de 1939 – dois dias depois da declaração de guerra da Inglaterra e França contra a Alemanha – Chaim Weizmann, Presidente da Agência Judaica, escrevia a M. Chamberlain, Primeiro Ministro de Sua Majestade o Rei da Inglaterra, uma carta na qual lhe informava que nós os judeus,
“estamos ao lado da Grã-Bretanha, e combateremos pela Democracia, precisando que os mandatários judeus estavam dispostos a firmar imediatamente um acordo para permitir a utilização de todas as suas forças em homens, de suas técnicas, de sua ajuda material e de todas as suas capacidades”.
Reproduzida no Jewish Chronicle de oito de setembro de 1939, esta carta constituía uma autêntica declaração de guerra do mundo judeu contra a Alemanha. Expunha o problema do internamento de todos os judeus alemães em campos de concentração como súditos de um povo em estado de guerra com a Alemanha, igual ao que fizeram os americanos com seus próprios súditos de origem japonesa que internaram enquanto durou a guerra contra o Japão.
Os dirigentes sionistas deram provas, na época do fascismo hitlerista e mussoliniano, de um comportamento equívoco que ia desde a sabotagem da luta antifascista a tentativa de colaboração. O objetivo essencial dos sionistas não era o de salvar vidas judaicas, mas o de criar um Estado judaico na Palestina. O primeiro dirigente do Estado de Israel, Ben Gurion, proclamava em linguagem simples, em sete de dezembro de 1938, ante os dirigentes sionistas do Labour: se eu soubesse que era possível salvar todas as crianças da Alemanha trazendo-as para a Inglaterra, e somente a metade delas transportando-as para Eretz Israel, escolheria a segunda solução. Já que devemos levar em conta não apenas a vida dessas crianças, mas também a história do povo de Israel (2). A salvação dos judeus na Europa não figurava inicialmente da lista de prioridades da classe dirigente. Era a fundação do Estado o que era primordial ante seus olhos (3).
“Devemos ajudar a todos os que tenham necessidade sem levar em conta as características de cada um? Não deveríamos dar a esta ação um caráter nacional sionista e intentar salvar prioritariamente aos que podem ser úteis à Terra de Israel e ao judaísmo? Sei que pode parecer cruel expor a questão desta maneira, mas desgraçadamente devemos estabelecer claramente se somos capazes de salvar 10.000 pessoas entre as 50.000 que puderam contribuir para a construção do país e ao renascimento nacional ou para um milhão de judeus que puderam chegar a ser para nós um fardo, ou melhor, dizendo um peso morto. Neste caso nos limitaremos a salvar os 10.000 que puderam ser salvos apesar das acusações e dos clamores do milhão abandonado a sua própria sorte (4)”.
Este fanatismo inspira, por exemplo, a atitude da delegação sionista na Conferência de Evian, em julho de 1938, na qual 31 nações se reuniram para discutir a absorção dos refugiados da Alemanha nazista. A delegação sionista exigiu, como única solução possível, a de admitir a 200.000 judeus na Palestina. O Estado judeu era mais importante para eles que a vida dos judeus. O inimigo principal para os dirigentes sionistas era a assimilação. Centravam nisso a preocupação fundamental de todo racismo, incluso o hitleriano: a pureza do sangue. É por isso que, em função do antissemitismo sistemático que os animava nesse buraco o propósito monstruoso de dar caça a todos os judeus da Alemanha e depois aos da Europa quando chegar a hora, os nazistas consideravam os sionistas como interlocutores válidos posto que eles também serviam a este propósito.
Desta conclusão existem provas evidentes. A Federação Sionista da Alemanha dirigia ao Partido Nazista em 21 de junho de 1933 um memorando no qual expressamente se declarava:
“Na fundação do Novo Estado, que proclamou o princípio da raça, desejamos adaptar nossa comunidade às novas estruturas nosso reconhecimento da nacionalidade judaica nos permite estabelecer relações claras e sinceras com o povo alemão e suas realidades nacionais e raciais. Precisamente porque nós não queremos subestimar estes princípios fundamentais, é por isso que também nos pronunciamos contra os matrimônios mistos e a favor da manutenção da pureza do grupo judeu. Os judeus conscientes de sua identidade, em nome dos quais falamos, podem encontrar lugar na estrutura do Estado alemão, pois estão livres do ressentimento que os judeus assimilados devem experimentar; cremos na possibilidade de relações leais entre os judeus conscientes de sua comunidade e o Estado alemão. Para alcançar seus objetivos práticos, o sionismo espera ser capaz de colaborar inclusive com um governo fundamentalmente hostil aos judeus. A realização do sionismo não está mais incomodada que pelo ressentimento dos judeus no exterior, contra a atual orientação alemã. A propaganda para o boicote – atualmente dirigida contra a Alemanha – é por definição, não sionista (5). O memorando acrescenta: no caso de os alemães aceitaram esta cooperação, os sionistas se esforçaram em convencer aos judeus do estrangeiro que renunciaram a participar no boicote contra a Alemanha (6). Os dirigentes hitlerianos acolheram favoravelmente a orientação dos mandatários sionistas que, por sua preocupação exclusiva por constituir seu Estado na Palestina, juntavam seus esforços para se livrarem-se dos judeus. O principal teórico nazista, Alfred Rosenberg, escreve: ‘o sionismo deve ser vigorosamente apoiado a fim de que um contingente anual de judeus alemães seja levado à Alemanha (7)”.
Reinhardt Heydrich, que mais tarde foi o protetor na Tchecoslováquia, escrevia em 1935, durante o tempo em que era chefe dos Serviços de Segurança das SS no Das Schwarze Korps, órgão oficial das SS, um artigo sobre o inimigo visível no que se estabeleciam distinções entre os judeus: “nós devemos dividir os judeus em duas categorias – os sionistas e os partidários da assimilação. Os sionistas professam uma concepção estritamente racial, e, para a imigração na Palestina, ajudam a edificar seu próprio Estado judeu nossos melhores votos e nossa boa vontade oficial para eles (8)”.
O Betar alemão recebeu um novo nome: Herzlia. As atividades do movimento na Alemanha deveriam certamente obter a aprovação da Gestapo; em realidade, Herzlia atuava sob a proteção desta última. Um dia, um grupo das SS atacou um acampamento de verão do Betar. O chefe do movimento então se queixou a Gestapo e, alguns dias mais tarde, a polícia secreta lhe comunicou que os SS em questão foram castigados.
1. Mais de 30% dos americanos da Brigada Abraham Lincoln eram judeus, os quais a imprensa sionista denunciava, porque combatiam na Espanha, em lugar de ir à Palestina. Na Brigada Dombrovski, de 5.000 poloneses, 2.250 eram judeus. A estes judeus que lutaram em todas as frentes do mundo com as forças antifascistas, os dirigentes sionistas, em um artigo de seu representante em Londres, intitulado: “Devem participar os judeus nos movimentos antifascistas?”, respondia: “Não!” e fixaram o único objetivo: a construção da Terra de Israel (Jewish Life, abril de 1938, p. 11).
2.Yvon Gelbner, Zionist policy and the fate of European Jewry», em Yad Vašem studies. Jerusalén. vol. XII, p. 199.
3. Tom Segev. Le Septième Million. Ed. Liana Levi, Paris 1933, p. 539.
4. Memorando do Comitê de Salvação da Agência Judaica. 1943. Citado por Tom Segev. (op. cit).
5. Lucy Dawidowicz, A Holocaust reader, p. 155.
6. Lucy Dawidowicz, The war against Jews (1933-1945) Ed. Penguin books, 1977, p. 23 1232.
7. A. Rosenberg: Die Spur des Juden im Wandel der Zeiten, Munich 1937, p. 153.
8. Hohne. Order of the Death's Head, p. 333.
Comentários
Esse é mais um texto que eu encontrei no portal em espanhol do site Radio Islam e por mim traduzido para o português.
O autor desse texto é o francês de origem católica Roger Garaudy, notório por ter legado ao mundo cerca de 50 livros publicados sobre religião e política. Na Segunda Guerra Mundial integrou a resistência francesa contra o nazismo, tendo sido preso e depois se filiando ao Partido Comunista depois da guerra (pelo qual foi deputado quatro vezes antes de ser expulso em 1970). Em 1982 converteu-se ao islamismo.
Garaudy também se notabilizou por ter sido em vida um crítico contundente do sionismo e das políticas do Estado de Israel em relação aos palestinos. Como era de se esperar, foi por causa de tal postura acusado e rotulado de “anti-semita” e processado em seu país natal por esse motivo. Em 1996 publicou seu livro mais contundente e notório sobre o tema, “Les Mytheus fondateurs de la politique israelienne”, que depois foi publicado em inglês com o título “The Founding Myths of Modern Israel”.
Esse é mais um texto que fala sobre o passado sombrio do movimento sionista antes da fundação do Estado de Israel, em especial sobre os conchavos dos sionistas com o Terceiro Reich. Podemos ver que desde os tempos de Herzl os sionistas não tiveram o menor pudor em conchavar com a fina flor do antissemitismo europeu para atingir seus intentos, sem ter lá muita consideração pelas vidas judaicas daqueles que sofreram nas mãos primeiro dos pogroms da Rússia tzarista durante os reinados dos dois últimos tzares e depois nos campos de concentração da Alemanha nazista.
Chega a mencionar também, ainda que bem de passagem, sobre os campos de concentração para japoneses nos Estados Unidos durante os anos da Segunda Guerra Mundial. Estiveram nesses campos os familiares do ator Pat Morita (falecido em 2005), notório por ter interpretado o Senhor Miyagi na tetralogia Karatê Kid. Como todos nós sabemos, tais campos de concentração, assim como os primeiros campos de concentração da história, aqueles feitos para os bôeres na Guerra dos Bôeres (1899 – 1902) pela Inglaterra, não têm a mesma publicidade e notoriedade que campos de concentração da Alemanha nazista como Auschwitz, Dachau e Majdanek possuem, ou mesmo os gulags da União Soviética e e em menor escala os laogais da China e da Coreia do Norte.
Como no caso dos textos anteriores e antes que venham com acusações de antissemitismo e afins, o traduzi tendo em vista o fato de que Bolsonaro (assim como parte de sua entourage, em especial aqueles ligados à denominações religiosas neopentecostais) é um fanático filo-sionista a tal ponto que pretende não apenas direcionar a política externa brasileira para uma política de alinhamento com os Estados Unidos e Israel (algo do qual ele já advogou anos antes de ser eleito presidente; https://www.youtube.com/watch?v=ehyDH0hFAbM&ab_channel=ocastilhista) como também reconhecer Jerusalém como capital do Estado de Israel e transferir a embaixada do Brasil para a Cidade Sagrada das três grandes religiões monoteístas.
Tendo em vista o contexto atual e a roubada na qual o político carioca quer enfiar o país, é muito importante sabermos sobre o passado negro do movimento sionista antes mesmo da fundação do Estado de Israel. Pois como dito em texto anterior, uma das coisas que temo quanto ao governo Bolsonaro é uma eventual implementação de uma “religião do Holocausto” no Brasil, vindo dentro do mesmo pacote da criminalização do comunismo e do nazismo por meio do PL 5358/16, onde o questionamento do holocausto e posições contrárias a Israel seriam penalizadas por lei (a ponto de serem criadas leis específicas para isso), ou se não amplamente alvos de violência simbólica e retórica por meio da acusação de que quem é anti-sionista é também anti-semita e afins.
Diga-se de passagem, só o passado negro do movimento sionista pré-1948 e todo seu histórico de conchavos com a fina flor do antissemitismo europeu o último decênio do século XIX mostra quão falsa e absurda é a acusação de que ser anti-sionista é sinônimo de hostilidade ao povo judeu e à religião judaica. Pois se anti-sionismo é sinônimo de antissemitismo, então grupos judaicos como o Neturei Karta, judeus ortodoxos contrários ao sionismo, são antisemitas? Pois a meu juízo não. Como dizia Roberto Avallone, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. E se anti-sionismo é sinônimo de antissemitismo, então Plehve, Pletjura, Zubatov e os nazistas que colaboraram com o sionismo no período entre 1933 a 1939 não eram anti-semitas?

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Genealogias políticas, parte III: Luiz Henrique Mandetta, Roberto da Cunha Castelo Branco e Ratinho Júnior.


Luiz Henrique Mandetta

Fonte: Postagem no perfil do Facebook do professor Ricardo Costa Oliveira no dia 20 de novembro de 2018.
O médico e deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM), do Mato Grosso do Sul, pertence a uma das principais famílias políticas da região, primo da família Trad, do atual prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad, do senador eleito, Nelson Trad Filho, do deputado federal reeleito Fábio Trad e do vereador Otávio Trad. Nelson Trad, já falecido, foi deputado federal, estadual, secretário de justiça, procurador-geral e se casou com Therezinha Mandetta, tia do "novo" ministro. Como afirmamos: o novo governo é a velha oligarquia política familiar em ação. Para quem pensava em ter votado contra o sistema e pela renovação, prossegue a "República do Nepotismo" !
Roberto da Cunha Castello Branco

Fonte: Postagem no perfil do Facebook do professor Ricardo Costa Oliveira no dia 19 de novembro de 2018.
Indicado para a Petrobras mais um membro da classe dominante tradicional e das oligarquias políticas familiares do Nordeste. Roberto da Cunha Castello Branco, natural de São Luís, Maranhão, filho de um juiz que era primo em segundo grau do Marechal Humberto Castello Branco, ex-presidente da República depois do golpe de 1964. Um dos primeiros doutores formados em Ciências Econômicas no Brasil considerava a desigualdade salarial como transitória, mas sabemos que a desigualdade é estrutural e depende das conexões das famílias e classes sociais dentro da reprodução social no Estado. Mais um membro da elite estatal com longa carreira em cargos privados e no Estado, sempre interessados nas privatizações, que sempre beneficiam a pequena minoria dos mais ricos.
Ratinho Júnior

Fonte: Postagem no perfil do Facebook do professor Ricardo Costa Oliveira em 23 de setembro de 2018.
Ratinho Júnior é um raso símbolo do atraso VIP - Vim do Interior do Paraná, um recente ser social formado pela dimensão familiar da hereditariedade do poder nas novas famílias da região. Ratinho é um tipo empresarial, midiático e de gestão no Estado representando bem o jogo da política paranaense no último meio século. Ratinho é uma estética política, uma mentalidade política, um padrão cultural, uma práxis política do VIP, a verdade do interior do Paraná, o vindo do interior do Paraná, no sentido positivo e negativo que o conceito apresenta. Ratinho se destacou nesta partida por WO contra Cida, João Arruda e Osmar. A falta de uma longa e profunda tradição política é compensada por novas formas de riqueza, de inserção nos interesses, no imaginário deste populoso, carente e novo interior do Paraná.
Ratinho é um ser oportunista, amorfo, superficial e destinado a reproduzir a velha política sob a pretensão de um novo Paraná, que permanecerá atrelado aos velhos esquemas familiares, partidários e institucionais do Paraná Tradicional, associado à uma ideologia de mudança, de modernização inexistente, que apenas repetirá o que já subsiste em termos de dominação, clientelismo e atraso político. Tudo isso sempre esteve presente o tempo todo na formação, carreira e trajetória dos Ratinhos dentro do legislativo, dos partidos e governos da ordem estabelecida. É preciso fingir mudar para que tudo permaneça como está. Ratinho é o produto disso tudo e representa tudo isso. Não será com Ratinhos que o interior do Paraná terá uma voz, uma política moderna, renovadora e representativa de suas forças sociais subalternas e excluídas. A representação social e política autêntica e moderna das maiorias excluídas do interior do Paraná ainda há de vir e acontecer.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Comentários sobre os três últimos textos traduzidos.



Foto – Moeda nazi-sionista.
Entre as últimas postagens do blog, traduzi um texto em espanhol falando sobre o passado sombrio das primeiras lideranças de Israel (tanto antes quanto depois de 1948), um em inglês falando sobre o histórico de conchavos de lideranças sionistas desde os tempos de Theodor Herzl com os grandes antissemitas de seu tempo (entre eles Plehve, um dos principais incitadores de pogroms da Rússia tzarista durante o reinado de Nikolaj II, o líder nacionalista ucraniano Simon Petljura e os próprios nazistas) e mais um do inglês falando a respeito da colaboração entre nazistas e sionistas no período entre 1933 a 1939. Todos os três foram tirados do site sueco Radio Islam, que possui páginas em diversos idiomas.
Mas, antes de tudo, por que falar sobre isso? Primeiro que falar sobre Deir Yassin, Sabra, Šatila e outros tantos crimes que Israel vem cometendo desde sua fundação em 1948 e a Nakba palestina dela decorrente é a meu ver chover no molhado, já há muito material a esse respeito. Ao passo que não vejo a mesma publicidade a respeito dos conchavos de Herzl (cujo livro “O Estado Judeu” foi muito mais elogiado pelos antissemitas [entre eles o parlamentar húngaro Ivan von Simonyi] que pelas lideranças judaicas de seu tempo, que por sua vez se consideravam muito mais como cidadãos de fé judaica de seus respectivos países) e outras lideranças sionistas com a fina flor do antissemitismo europeu desde o caso Dreyfus e os pogroms da Rússia tzarista. Em outras palavras, uma forma de dar maior publicidade a uma página pouco conhecida da história sombria do movimento sionista desde os anos 1890.
Assim, podemos dizer que sionismo e antissemitismo são duas faces de uma mesma moeda, a ponto de um não existir sem o outro e vice-versa. Como também compartilham raízes e objetivos em comum: nasceram no contexto do nacionalismo do século XIX e almejam a criação de um Estado nacional baseado no exclusivismo étnico-religioso. Algo que em lugares com grande diversidade étnica e religiosa como o Oriente Médio só pode dar em problemas e mais problemas.
Segundo que um dos filhos do presidente eleito Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, pretende criminalizar por meio do projeto de lei 5358/16 o comunismo e o nazismo ao mesmo tempo. Isso sob o pretexto de que ambos mataram milhões de pessoas. Não duvido nem um pouco que não apenas posições contrárias ao sionismo israelense como também o questionamento do Holocausto futuramente seja também criminalizados, quiçá até mesmo o simples ato de dizer que o Holocausto no pós-guerra virou um grande negócio (e para isso utilizando-se de leis de combate ao antissemitismo) possam vir a entrar no mesmo pacote.
Em meu entendimento, o que o holding familiar Bolsonaro quer com essa manobra é dar um formato legal ao que a Operação Lama Jato já vem fazendo desde 2014 em conluio com a Rede Globo: a criminalização da simples ideia do princípio da igualdade social enquanto tal (parafraseando Jessé Souza). Afinal, como disse Paulo Henrique Amorim em recente vídeo, Bolsonaro é Moro e Moro é Bolsonaro. Em um sentido mais amplo, pode-se dizer também que se pretende com isso criminalizar a esquerda brasileira como um todo, em especial aqueles setores que demonstrarem maior combatividade e resistência à sua truculência política e se mostrarem mais incômodos à ordem golpista instaurada no país desde 2016 – o que não impede que esse mesmo regime permita a existência de uma esquerda que lhe faça uma oposição consentida tal qual o MDB nos tempos do regime civil-militar de 1964 a 1985, apenas para dar lhe dar um verniz democrático (e, como Rui Pimenta Costa disse em vídeo recente, o governo Bolsonaro vindouro nada mais é que a continuidade e o aprofundamento do governo Temer). E o curioso é que ao mesmo tempo em que o holding familiar Bolsonaro almeja criminalizar simultaneamente o comunismo e o nazismo nada será feito não só com os crimes da ditadura civil-militar brasileira e do sionismo israelense que eles tanto apoiam.
Diga-se de passagem, isso na verdade é algo que não é exclusivo do Brasil. Bolsokid nada mais está fazendo que importar para cá uma legislação análoga a que existente na Ucrânia desde o golpe do Euromaidan. Desde 2015 o comunismo e o nazismo são criminalizados por lei na Ucrânia. Isso ao mesmo tempo em que o mesmo não é feito em relação à ideologia dos colaboradores ucranianos dos nazistas, em especial Stepan Bandera e a OUN-UPA (os quais promoveram, entre outras coisas, limpeza étnica dos poloneses, tchecos e outros povos que viviam na região ocidental da Ucrânia nos anos 1930 e 1940) e os grupos de extrema direita que hoje tocam o terror na Ucrânia contra os russos do leste e do sul, entre eles o Setor de Direita.
Terceiro, não custa citar mais uma vez que Bolsonaro, nos idos de 2009 e 2010 (ou seja, antes de Dilma Rousseff ser empossada presidente pela primeira vez), dizia em seus pronunciamentos que a petista, por seu passado como guerrilheira e membra de grupos como o Colina e o VAR-Palmares, não podia se tornar presidente da República. Curiosamente, ele cínica e hipocritamente nunca utilizou a mesma lógica para com as primeiras lideranças de Israel que antes de 1948 participaram de grupos de guerrilha como o Lehi (o mesmo Lehi que fez uma proposta de aliança militar com o Terceiro Reich durante a Segunda Guerra Mundial), o Irgun (o mesmo Irgun do qual fizeram parte Yitzhak Šamir e Menachem Begin), o Haganah e o Stern (além do fato de o próprio Bolsonaro ter planejado um atentado à bomba nos anos 1980). O mesmo Bolsonaro que mais recentemente, destilando a mesma hipocrisia e cinismo, dizia estar preocupado com a suposta situação de escravidão dos médicos cubanos ao mesmo tempo em que votou a favor do pacote de maldades do governo Temer.
E quarto pelo simples fato de Jair Bolsonaro e seu holding familiar serem simpatizantes do Estado de Israel, a ponto de querem cometer a barbaridade de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém e assim reconhecer a cidade sagrada das três grandes religiões monoteístas como a capital do Estado de Israel (que já está prejudicando as relações do Brasil com o mundo árabe – as recentes reações do Egito são apenas o começo disso). Israel, como todos nós sabemos, possui uma série de esqueletos guardados em seu armário. Que moral será que eles têm para querer criar uma lei criminalizando comunismo e nazismo sendo que são partidários de ideologias que também aprontaram das suas? A meu ver, nenhuma moral.
 
Foto – Conde Vjačeslav von Plehve, ministro do interior de Nikolaj II entre 1902 e 1904, com o qual Theodor Herzl fez acordos.
E o mais curioso de tudo é ver o Bolsokid querendo criminalizar o nazismo e o comunismo no Brasil bem provavelmente sem saber que talvez, sem os esforços tanto da Alemanha nazista no período entre 1933 a 1939 e o acordo Ha’avara (que permitiu um grande fluxo de capitais e imigrantes para a região que em muito ajudaram a viabilizar a criação de Israel e em seu desenvolvimento econômico ulterior) quanto da União Soviética (movida por interesses geopolíticos na região e achando que dali ia sair um Estado socialista que seria um aliado local seu, mas que no fim das contas passou para o lado do Ocidente) quando votou a favor de sua criação na ONU em 1948, o Estado de Israel que eles tanto lambem as botas não existiria.
Em 2010, Lula esteve na Palestina, quando visitou o Oriente Médio. Passou por Israel, e lá Lula decidiu não visitar o túmulo de Theodor Herzl, ao passo que em Ramallah, trajando um tradicional keffiyeh (lenço palestino), depositou flores no túmulo de Yasser Arafat, o líder palestino falecido em 2004. Obviamente, Avigdor Lieberman, então ministro das relações exteriores de Israel, não gostou nem um pouco disso. Lieberman também boicotou o discurso de Lula no Knesset (parlamento israelense). Nessa mesma época, Bolsonaro criticava as posturas de Lula no que tange ao Oriente Médio e suas aproximações com o Irã, então governado por Mahmud Ahmadinežad.
A pergunta que fica no ar é a seguinte: será que Bolsonaro, o mesmo Bolsonaro que hipocritamente acusa as administrações petistas de terem feito uma política externa ideologizada (sendo que a política externa por ele advogada tem seu direcionamento ideológico baseado no ideário do sionismo cristão), teria peito para tomar uma atitude dessas? Em meu entendimento, é mais fácil o Volta Redonda ou o Bragantino ganhar a Libertadores em cima do Boca Juniors ou do River Plate e o Mundial de Clubes em cima do Real Madrid, do Barcelona ou da Juventus. Isso levando em consideração a maneira como o político carioca agiu no recente episódio dos médicos cubanos, onde fez uma demonstração de que fala grosso com Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua e países árabes e bem fininho com Estados Unidos e Israel (e nisso ele se iguala a Temer e FHC, diga-se de passagem).
P.S: Para os textos traduzidos não ficarem muito longos, resolvi fazer os comentários a respeito de ambos em um artigo em separado.

Foto – Eduardo e Carlos Bolsonaro em Israel com camisa do Mossad e da IDF (Israel Defense Forces – Forças de Defesa de Israel).
Fontes:
Crise ucraniana: os crimes de Stepan Bandera, herói dos neonazistas ucranianos. Disponível em: https://apaginavermelha.blogspot.com/2014/06/crise-ucraniana-os-crimes-de-stepan.html
Golpe de Estado: Bolsonaro pertence ao mesmo processo de Temer. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SDqPazEt1dM&ab_channel=CausaOperariaTV
Lei de Bolsonaro que criminaliza o comunismo é a mesma aplicada na Ucrânia. Disponível em: https://medium.com/democratize-m%C3%ADdia/lei-de-bolsonaro-que-criminaliza-o-comunismo-%C3%A9-a-mesma-aplicada-na-ucr%C3%A2nia-426b375f723f
Lula cometeu “gafe” diplomática ao evitar túmulo de sionista, diz analista. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2010/03/15/boicote-de-chanceler-israelense-divide-opinioes.htm
“Nazi travels to Palestine”: A nazi swastika and Star of David in one coin (em inglês). Disponível em: https://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-5072424,00.html
Preparem-se para o Gaza-samba. Disponível em: https://duploexpresso.com/?p=100718
Ucrânia fascista criminaliza símbolos do comunismo. Disponível em: https://anovademocracia.com.br/no-149/5866-ucrania-fascista-criminaliza-simbolos-do-comunismo

domingo, 18 de novembro de 2018

Genealogias políticas, parte II: Gabriela Hardt e Tereza Cristina.


Gabriela Hardt, a nova verduga de Lula.

Fonte – postagem do professor Ricardo Costa Oliveira em seu perfil no Facebook em 17 de novembro de 2018.
Quem observou o julgamento de Lula percebeu as atitudes autoritárias, arrogantes e partidárias do poder judiciário. O que observamos e verificamos nas nossas pesquisas sobre a composição de boa parte do judiciário é que a magistratura brasileira só pode ser entendida pelas suas genealogias familiares políticas. A juíza Gabriela Hardt é outro caso. Filha do engenheiro químico Jorge Hardt Filho, que trabalhou na Petrobras, em São Mateus do Sul (PR) e de Marilza Ferreira, natural de Friburgo (RJ) e que foi secretária municipal de educação. A família Hardt é uma das principais famílias políticas locais e de comerciantes de Indaial, Santa Catarina, parte da pequena classe dominante local. O tio Frederico João Hardt, o Lico, foi prefeito de Indaial entre 1993-1996, Alfedo Hardt em 1961-1966, o bisavô Frederico Hardt entre 1935-1941. A família Hardt representa mais uma típica oligarquia local do interior do Brasil, com vários parentes na política, juízes e burgueses locais (Lojas Hardt, Confecções Hardt). "Parques, escolas, ruas e hospitais receberam nomes de integrantes do clã". Oligarquias políticas no Brasil quase sempre possuem valores autoritários e conservadores, agem contra a democracia e contra a modernidade, sempre apoiando golpes políticos, a seletiva justiça de exceção, a exclusão social e política.
FAMILIARES DE JUÍZA QUE INTERROGOU LULA DESTILAM ÓDIO CONTRA A ESQUERDA
Fonte – Postagem na página do Facebook Rede POVO em 17 de novembro de 2018.
As relações familiares da juíza Gabriela Hardt talvez expliquem a parcialidade com que interrogou e as animosidades que demonstrou contra Lula.
Gabriela é oriunda de uma das mais ricas famílias de Indaial, localizada no vale europeu de Santa Catarina. Além de possuírem o principal comércio da região, a força política dos Hardt está expressa em toda a cidade. Seu tio, Lico Hardt, foi prefeito pelo MDB e seu avô um dos primeiros prefeitos da cidade. Parques, escolas, ruas e hospitais receberam nomes de integrantes do clã.
Filha de Jorge Hardt filho e Marilza Ferreira Hardt, a juíza tem em seus pais a inspiração antipetista e anti-esquerda. Não é difícil encontrar postagens de seus pais, um engenheiro químico aposentado da Petrobras e uma professora que já foi secretária de educação num município governar o pela direita, destilando ódio.
Numa delas, Jorge acusa o jornalista Élio Gaspari de ter se “acanalhado” por ter defendido a necessidade de imparcialidade do judiciário. Em outra, defende a fala do vice de Bolsonaro de que o Brasil teria herdado a malandragem de negros e índios. Em um terceira, onde comenta sobre violência, escreve que “nem que o tratamento de choque seja por militares” para mudar a realidade. Uma clara alusão à tortura. Em outras, busca vincular Hitler e o nazismo aos partidos de esquerda.
Mais moderada nas palavras, Marilza não se cansou de compartilhar conteúdos contra Lula, Dilma e em favor do golpe de 2016. Numa delas, solta o verbo contra o PT, PCdoB e CUT por ocasião da participação de cubanos no programa Mais Médicos.
Numa explicação freudiana, é possível afirmar que Gabriela Hardt é fruto do meio em que vive. Talvez por isso tenha utilizado da sua parcialidade e até de grosserias durante o interrogatório de Lula.
Tereza Cristina, “a musa do veneno”.

Fonte – Postagem no perfil do professor Ricardo Costa Oliveira em seu perfil no Facebook no dia 7 de novembro de 2018.
Tereza Cristina será a futura Ministra da Agricultura. Já descrevemos o perfil genealógico dela muito adequado para o novo governo oligárquico-familiar: Deputada Federal Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias (DEM - Mato Grosso do Sul). A "musa do veneno" que comandou a aprovação da flexibilização de agrotóxicos. Tereza Cristina é bisneta de Pedro Celestino Corrêa da Costa, militar, governador de Mato Grosso por duas vezes nos anos 20. O avô de Tereza Cristina foi Fernando Corrêa da Costa, que também governou o Estado em duas oportunidades (51-56 e 61-66) e depois foi senador. Tereza confina dezenas de milhares de animais em seus negócios ao longo dos últimos anos. Veneno para gado e para eleitores.


sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Sionismo e Terceiro Reich (por Mark Weber - texto traduzido do inglês para o português)



Foto – Moeda nazi-sionista.
No começo de 1935, um navio de passageiros destinado à Haifa na Palestina deixou o porto alemão de Bremerhaven. A popa dele levava as letras hebraicas para seu nome, “Tel Aviv”, enquanto que um estandarte da suástica flutuava do mastro. E embora o navio era de propriedade sionista, seu capitão era um membro do Partido Nacional Socialista. Muitos anos mais tarde um viajante a bordo do navio recordou a combinação simbólica como um “absurdo metafísico1”. Absurdo ou não, isto é apenas uma vinheta de um capítulo pouco conhecido da história. A ampla colaboração entre o Sionismo e o Terceiro Reich de Hitler.

Metas em comum
Ao longo dos anos, pessoas em muitos países diferentes engalfinharam-se com a “Questão Judaica”: o que é, qual é o papel apropriado dos judeus em uma sociedade não judaica? Durante os anos 1930, os sionistas judeus e os nacional-socialistas alemães compartilharam visões similares em como lidar com essa questão complicada. Eles concordavam que os judeus e os alemães eram nacionalistas distintamente diferentes, e que os judeus não pertenciam à Alemanha. Os judeus vivendo no Reich deveriam ser, portanto, considerados como “Alemães de fé judaica”, mas como membros de uma comunidade nacional em separado. O sionismo (nacionalismo judaico) também implica uma obrigação dos judeus sionistas de reassentarem-se na Palestina, “a terra pátria judaica”. Eles dificilmente poderiam se considerar sionistas sinceros e ao mesmo tempo reivindicar direitos iguais na Alemanha ou qualquer outra nação “estrangeira”.
Theodor Herzl (1860-1904), o fundador do sionismo moderno, sustentou que o antissemitismo não é uma aberração, mas uma reposta natural e compreensível pelos não judeus para alienar as atitudes e o comportamento judaicos. A única solução, ele argumentou, é para os judeus reconhecerem a realidade e viverem em um estado próprio em separado. “A questão judaica existe onde quer que os judeus habitem em números perceptíveis”, ele escreveu em seu trabalho mais influente, o Estado Judaico. “Onde não existe, ela é trazida por judeus vindouros... Eu acredito que entendo o antissemitismo, que é um fenômeno muito complexo. Eu considero esse desenvolvimento como um judeu, sem ódio ou temor”. A questão judaica, ele sustentou, não é social ou religiosa. “É uma questão nacional. Para resolvê-la nós devemos, acima de tudo, faze-la um assunto de política internacional...” Independentemente de sua cidadania, Herzl insistiu, os judeus não constituem meramente uma comunidade religiosa, mas uma nacionalidade, um povo, um Volk2. O sionismo, escreveu Herzl, ofereceu ao mundo a bem-vinda “solução final à questão judaica3”.
Seis meses após Hitler chegar ao poder, a Federação Sionista da Alemanha (de longe o maior grupo sionista da Alemanha) enviou um memorando detalhado ao novo governo que revisou as relações germano-judaicas e formalmente ofereceu apoio sionista em “resolver” a vexatória “questão judaica”. O primeiro passado, ela sugeriu, tinha que ser um franco reconhecimento de diferenças nacionais fundamentais4.
“O sionismo não tem ilusões sobre a dificuldade da condição judaica, que consiste acima de tudo em um padrão de ocupação anormal e na falha de uma postura intelectual e moral não enraizada em uma tradição própria. O sionismo reconheceu décadas atrás que como resultado da tendência de assimilação, sintomas de deterioração estavam fadados a aparecer...
O sionismo acredita que um nascimento da vida nacional de um povo, que está agora acontecendo na Alemanha através da ênfase em seu caráter cristão e nacional, também precisa acontecer no grupo nacional judaico. Para o povo judeu, também, origem nacional, religião, destino comum e um senso de sua singularidade deve ser de importância decisiva na formação de sua existência. Isto significado que o individualismo egoísta da era liberal deve ser superado e substituído com um senso de comunidade e responsabilidade coletiva...
Nós acreditamos que é precisamente a nova [Nacional Socialista] Alemanha que pode, através de ousada resolutividade no manuseio da questão judaica, tomar um passo decisivo para superar um problema que, em realidade, terá de ser tratado pela maioria dos povos europeus...
Nosso reconhecimento da nacionalidade judaica proporciona um relacionamento claro ao povo alemão e suas realidades nacional e racial. Precisamente porque nós não queremos falsificar estes fundamentos, porque nós também somos contra casamento misto e somos pela manutenção da pureza do grupo judaico e rejeitamos quaisquer transgressores no domínio cultural, nós – tendo sido educados na língua germânica e cultura germânica – podemos demonstrar um interesse nos trabalhos e valores da cultura germânica com admiração e simpatia interna...
Por seus objetivos práticos, o sionismo almeja ser capaz de conquistar a colaboração até mesmo de um governo fundamentalmente hostil aos judeus, porque no tratamento da Questão Judaica não estão envolvidos sentimentos, mas um problema real cuja solução interessa a todas as pessoas e no presente momento especial ao povo alemão...
Propaganda de boicote – tal como está acontecendo no presente momento levada adiante contra a Alemanha de muitas formas – é em essência não-sionista, porque o sionismo não quer enfrentar mas convencer e construir...
Nós não estamos cegos para o fato de que a questão judaica existe e irá continuar a existir. Da situação anormal dos judeus para eles resultam em desvantagens severas, mas também condições escassamente toleráveis para outros povos”.
O jornal da Federação, o Jüdische Rundschau (“Revista Judaica”), proclamou a mesma mensagem: “O sionismo reconhece a existência de um problema judaica e desejos para uma solução de longo alcance e construtiva. Para esse propósito o sionismo deseja obter a assistência de todos os povos, quer sejam eles pró ou anti-judaicos, porque, nessa visão, nós estamos lidando com um problema concreto e não sentimental, a solução da qual todos os povos estão interessados5”. Um jovem rabino berlinense, Joachim Prinz, que posteriormente se estabeleceu nos Estados Unidos e se tornou chefe do Congresso Americano Judaico, escreveu em seu livro de 1934, Wir Juden (“Nós Judeus”), que a Revolução Nacional Socialista na Alemanha significa “Comunidade judaica para os judeus”. Ele explicou: “Nenhum subterfúgio pode nos salvar agora. No lugar da assimilação nós desejamos um novo conceito: reconhecimento da nação judaica e raça judaica6”.
Colaboração ativa
Nessa base de ideologias similares sobre pertencimento étnico e nacional, Nacional-Socialistas e sionistas trabalharam juntos pelo que cada grupo acreditou ser de seu próprio interesse nacional. Com resultado, o governo hitlerista vigorosamente apoiou o sionismo e a emigração judaica para a Palestina de 1933 até 1940-1941, quando a Segunda Guerra Mundial impediu colaboração extensiva.
Mesmo quando o Terceiro Reich se tornou cada vez mais entrincheirado, muitos judeus alemães, provavelmente a maioria, continuou a se considerarem, por vezes com orgulho considerável, como alemães em primeiro lugar. Poucos eram entusiásticos sobre puxar as raízes para começar uma vida nova em uma Palestina distante. Não obstante, mais e mais judeus alemães se voltaram para o sionismo durante esse período. Até o fim de 1938, o movimento sionista floresceu na Alemanha sob Hitler. A circulação do quinzenário da Federação Sionista Jüdische Rundschau cresceu enormente. Inúmeros livros sionistas foram publicados. “O trabalho sionista estava em seu pleno andamento” na Alemanha durante estes anos, a Encyclopaedia Judaica nota. Uma convenção sionista realizada em Berlim em 1936 refletiu “em sua composição a vigorosa vida festiva dos sionistas alemães7”.
A SS era particularmente entusiástica em seu apoio ao sionismo. Um documento de posição da SS de junho de 1934 urgiu apoio ativo e de ampla escala para o sionismo da parte do governo e do Partido como a melhor forma de encorajar a emigração dos judeus alemães para a Palestina. Isso exigiria uma crescente autoconsciência judaica. Escolas judaicas, ligas esportivas judaicas, organizações culturais judaicas – em resumo, tudo que poderia estimular esta nova percepção e autoconsciência – deveria ser promovido, o papel recomendou8.
O oficial da SS Leopold von Mildenstein e o oficial da Federação Sionista Kurt Tuchlter visitaram a Palestina juntos por seis meses para avaliar o desenvolvimento sionista lá. Baseado nessas observações de primeira mão, von Mildenstein escreveu uma série de doze artigos ilustrados para o importante jornal berlinense Der Angriff que apareceu no fim de 1934 com o título “Um nazista viaja pela Palestina”. A série expressou grande admiração pelo espírito pioneiro e os êxitos dos colonos judeus. O autodesenvolvimento sionista, von Mildenstein escreveu, produziu um novo tipo de judeu. Ele elogiou o sionismo como um grande benefício tanto para o povo judeu quanto para todo o mundo. Um lar nacional judaico na Palestina, ele escreveu em seu artigo final, “apontou o caminho para curar uma ferida secular no corpo do mundo: a questão judaica”. Der Angriff publicou uma medalha especial, com uma suástica em um lado e uma Estrela de David em outro, para comemorar a visita conjunta sionista-SS. Poucos meses depois os artigos apareceram, von Mildenstein foi promovido para a chefia do departamento de assuntos judaicos do serviço de segurança da SS com a intenção de apoiar a migração e o desenvolvimento sionista mais efetivamente9.
O jornal oficial da SS, Das Schwarze Korps, proclamou seu apoio ao sionismo em um editorial de primeira página de maio de 1935: “Pode não estar muito longe o tempo aonde a Palestina irá novamente ser capaz de receber seus filhos que foram perdidos há mais de mil anos. Nossos bons votos, junto com boa vontade oficial, vá com eles10”. Quatro meses depois, um artigo similar apareceu no periódico da SS11:
“O reconhecimento dos judeus como uma comunidade racial baseada no sangue e não na religião conduz o governo alemão a garantir sem reserva a separação racial dessa comunidade. O governo se encontra em acordo completo com o grande movimento espiritual dentro dos judeus, o chamado sionismo, com seu reconhecimento da solidariedade dos judeus ao redor do mundo e sua rejeição de todas as noções de assimilação. Nessa base, a Alemanha leva a cabo medidas que irão certamente exercer um papel significativo no futuro na condução do problema judaico ao redor do mundo”.
Uma importante linha de navegação alemã iniciou um serviço direto de linha de passageiros de Hamburgo a Haifa, Palestina, em outubro de 1933 provendo “comida estritamente košer em seus navios, sob a supervisão do rabinato de Hamburgo12”.
Com apoio oficial, os sionistas trabalharam incansavelmente para “reeducar” os judeus da Alemanha. Como o historiador americano Francis Nicosia expressou em sua pesquisa de 1985, O Terceiro Reich e a Questão Palestina: “Os sionistas foram encorajados a levar sua mensagem à comunidade judaica, para coletar dinheiro, para mostrar filmes sobre a Palestina e de modo geral educar os judeus alemães sobre a Palestina. Houve pressão considerável para instruir aos judeus na Alemanha para pararem de se identificarem como alemães e para despertar uma identidade nacional judaica neles13”.
Em uma entrevista após a guerra, o antigo chefe da Federação Sionista da Alemanha, Doutor Hans Friedenthal, resumiu a situação: “A Gestapo fez de tudo nesses dias para promover a imigração, particularmente para a Palestina. Nós às vezes recebemos seu apoio quando nós requeremos algo de outras autoridades a respeito de preparações para emigração14”.
No Congresso do Partido Nacional Socialista de setembro de 1935, o Reichstag adotou as chamadas “leis de Nuremberg” que proibiram casamentos e relações sexuais entre judeus e alemães e, na realidade, proclamaram os judeus uma minoria nacional alienígena. Alguns dias depois o sionista Jüdische Rundschau editorialmente deu boas vindas às novas medidas15.
“A Alemanha... Está atendendo às demandas do Congresso Sionista Mundial quando ele declarou os judeus que agora vivem na Alemanha como sendo uma minoria nacional. Uma vez que os judeus foram rotulados como uma minoria nacional é novamente possível estabelecer relações normais entre a nação germânica e os judeus. As novas terras dão à minoria judaica na Alemanha sua própria vida cultural, sua própria vida nacional. No futuro, será capaz de dar forma à suas próprias escolas, seu próprio teatro, e suas próprias associações esportivas. Em resumo, pode criar seu próprio futuro em todos os aspectos da vida nacional...” 
A Alemanha deu à minoria judaica a oportunidade de viver por si mesma, e está oferecendo proteção estatal para esta vida em separado da minoria judaica: o processo de crescimento da comunidade judaica irá desse modo ser encorajado e uma contribuição será feita ao estabelecimento de relações mais toleráveis entre as duas nações.
Georg Kareski, o chefe tanto da “Revisionista” Organização Estatal Sionista quanto da Liga Cultural Judaica, e antigo chefe da Comunidade Judaica berlinense, declarou em uma entrevista ao jornal berlinense Der Angriff no fim de 193516:
“Por muitos anos eu considerei a completa separação dos assuntos culturais dos dois povos [judeus e alemães] como uma pré-condição para viverem juntos sem conflito... Por muito tempo eu apoio tal separação, desde que esteja fundada no respeito à nacionalidade alienígena. As leis de Nuremberg... parecem-me, a despeito de suas provisões legais, para confirmar completamente com este desejo para uma vida separada baseada no respeito mútuo... Esta interrupção do processo de dissolução em muitas comunidades judaicas, que tem sido promovido através de casamentos mistos é, portanto, de um ponto de vista judaico, completamente bem vindo”.
Líderes sionistas em outros países ecoaram estas visões. Stephen S. Wise, presidente do Congresso Judaico Americano e do Congresso Mundial Judaico, disse em um comício em Nova York em junho de 1938: “eu não sou um cidadão americano de fé judaica, eu sou um judeu... Hitler estava certo em uma coisa. Ele chama o povo judeu de raça e nós somos uma raça17”.
O especialista em assuntos judaicos do Ministério do Interior, Doutor Bernhard Lösener, expressou apoio ao sionismo em um artigo que apareceu na edição de novembro de 1935 do Reichsverwaltungsblatt oficial18:
“Se os judeus já tivessem seu próprio Estado no qual a maioria deles estavam assentados, então a questão judaica poderia ser considerada como completamente resolvida hoje, também para os próprios judeus. A menor quantidade de oposição às ideias subjacentes às leis de Nuremberg foi mostrada pelos sionistas, porque eles percebem imediatamente que essas leis representam a única solução correta também para o povo judeu. Para cada nação deve ter seu próprio Estado como a expressão externa de sua nacionalidade particular”.
Em cooperação com as autoridades alemãs, grupos sionistas organizaram uma rede de cerca de quarenta campos e centros agrícolas através da Alemanha onde possíveis colonos eram treinados para suas novas vidas na Palestina. Embora as leis de Nuremberg proibissem os judeus de ostentarem a bandeira germânica, aos judeus era garantido o direito de ostentar a bandeira nacional azul e branca judaica. A bandeira que um dia seria adotada por Israel foi arvorada nos campos e centros sionistas na Alemanha hitlerista19.
O serviço de segurança de Himmler cooperou com o Haganah, a organização sionista militar clandestina na Palestina. A agência SS pagou ao oficial do Haganah Feivel Polkes para informação sobre a situação na Alemanha e por ajuda no direcionamento da emigração judaica para aquele país. Enquanto isso, o Haganah foi mantido bem informado sobre os planos alemães por um espião que eles conseguiram plantar nos quarteis generais de Berlin da SS20. A colaboração entre SS e Haganah incluiu até mesmo entregas secretas de armas alemãs a colonos judeus para uso em escaramuças com árabes palestinos21.
Na sequência da explosão de violência e destruição da “Kristallnacht” (noite dos cristais) de novembro de 1938, a SS rapidamente ajudou a organização sionista a recuperar-se e a continuar seu trabalho na Alemanha, embora agora sob supervisão mais restringida22.
Ressalvas oficiais
O apoio alemão ao sionismo não foi ilimitado. O governo e oficiais do partido estavam bem atentados da campanha contínua de poderosas comunidades judaicas nos Estados Unidos, Inglaterra e outros países para mobilizar “seus” governos e concidadãos contra a Alemanha. Enquanto a comunidade judaica internacional permaneceu implacavelmente hostil à Alemanha Nacional Socialista, e enquanto a grande maioria dos judeus ao redor do mundo mostrou pouco afã para reassentarem-se na “terra prometida” sionista, um Estado judaico soberano na Palestina não seria realmente “solucionada” a questão judaica internacional. Em vez disso, oficiais alemães argumentaram, isso poderia fortalecer enormemente esta perigosa campanha anti-alemã. O apoio germânico ao sionismo foi por isso limitado ao apoio para uma pátria nacional judaica na Palestina sob controle britânico, não um Estado judaico soberano23.
Um Estado judaico na Palestina, o Ministro das Relações Exteriores informou aos diplomatas em junho de 1937, não estaria no interesse da Alemanha não porque seria incapaz de absorver todos os judeus ao redor do globo, mas serviria apenas como uma base de poder adicional para a comunidade judaica internacional, da mesma maneira que Moscou serviu como uma base para o comunismo internacional24. Refletindo uma espécie de mudança na política oficial, a imprensa alemã expressou uma simpatia muito grande em 1937 à resistência árabe palestina às ambições sionistas, em um momento onde a tensão e conflito entre judeus árabes na Palestina estava crescendo drasticamente25.
Um boletim circular do Ministério das Relações Exteriores de 22 de junho de 1937 advertiu que a despeito do apoio aos assentamentos judaicos na Palestina, “seria, no entanto, um erro presumir que a Alemanha apoia a formação de uma estrutura de Estado na Palestina sob alguma forma de controle judaico. Em vista da agitação anti-germânica da comunidade judaica internacional, a Alemanha não pode concordar que a formação de um Estado judaico palestino poderia ajudar no desenvolvimento pacífico das nações do mundo26”. “A proclamação de um Estado judaica ou uma Palestina administrada por judeus”, alertou um memorando interno pela seção dos assuntos judaicos da SS, “poderia criar um novo inimigo para a Alemanha, um que poderia ter uma influência profunda nos desdobramentos do Oriente Médio”. Outra agência da SS previu que um Estado judaico “poderia trabalhar para trazer proteção especial de minoria aos judeus em cada país, assim sendo dando proteção legal à atividade exploradora da comunidade judaica mundial27”. Em janeiro de 1939, o novo ministro dos assuntos estrangeiros, Joachim von Ribbentrop, igualmente alertou em outro boletim circular que “A Alemanha deveria considerar a formação de um Estado judaico como perigosa” porque “poderia acarretar um aumento internacional no poder para a comunidade judaica internacional28”.
O próprio Hitler em pessoa revisou toda essa questão no começo de 1938, e a despeito de seu ceticismo de longa data das ambições e inquietações sionistas que suas políticas poderiam contribuir para a formação de um Estado judaico, decidiu apoiar a migração judaica para a Palestina ainda mais vigorosamente. A expectativa de livrar a Alemanha de seus judeus, ele concluiu, prevaleceria sobre os possíveis perigos29.
Enquanto isso, o governo britânico impôs restrições ainda mais drásticas na imigração judaica a Palestina em 1937, 1938 e 1939. Em resposta, o serviço de segurança da SS firmou uma aliança secreta com a agência sionista clandestina Mossad le-Aliya Bet para traficar judeus ilegalmente para a Palestina. Como resultado dessa colaboração intensiva, vários comboios de navios conseguiram chegar à Palestina passando por canhoneiras britânicas. A migração judaica, tanto legal quanto ilegal, da Alemanha (incluindo Áustria) para a Palestina aumentou dramaticamente em 1938 e 1939. Outros 10.000 judeus estavam programados para partir em outubro de 1939, mas o estalar da guerra em setembro colocou um fim ao esforço. Contudo, as autoridades alemãs continuaram a promover emigração judaica indireta para a Palestina em 1941 e 194130. Mesmo em março de 1942, ao menos um campo de treinamento “kibutz” sionista oficialmente autorizado para potenciais emigrantes continuou a operar na Alemanha hitlerista31.
O acordo de transferência
A peça central da cooperação germano-sionista durante a era Hitler foi o acordo de transferência, um pacto que permitiu dezenas de milhares de judeus alemães migrarem à Palestina com sua riqueza. O acordo, também conhecido como Ha’avara (Hebraico para “transferência”) foi concluído em agosto de 1933 após conversações entre oficiais alemães e Chaim Arlosoroff, secretário político da Agência Judaica, o centro palestino da Organização Mundial Sionista32.
Através desse arranjo incomum, cada judeu vinculado à Palestina depositava dinheiro em uma conta especial na Alemanha. O dinheiro foi usado para comprar ferramentas agrícolas feitas na Alemanha, materiais de construção, bombas hidráulicas, fertilizantes, e assim por diante, que foram exportados para a Palestina e lá vendidos por uma companhia Ha’avara de propriedade judaica em Tel Aviv. O dinheiro das vendas foi dado ao emigrante judeu na sua chegada à Palestina em um montante correspondente a seu depósito na Alemanha. Produtos germânicos choveram na Palestina através do Ha’avara, que foi suplementado pouco tempo depois com um acordo de permuta no qual laranjas palestinas foram trocadas por madeira, automóveis, maquinário agrícola e outros produtos alemães. O Acordo assim serviu à meta sionista de trazer colonos judeus e capital de desenvolvimento à Palestina, enquanto simultaneamente serviu à meta germânica de libertar o país de um grupo alienígena indesejável.
Delegados no Congresso Sionista de 1933 em Praga vigorosamente debateram os méritos do acordo. Alguns temiam que o pacto pudesse minar o boicote econômico internacional judaico contra a Alemanha. Mas os oficiais sionistas tranquilizaram o Congresso. Sam Cohen, uma figura chave por trás do acordo Ha’avara, enfatizou que o acordo não era economicamente vantajoso à Alemanha. Arthur Ruppin, especialista em emigração da Organização Sionista que ajudou a negociar o pacto, pontuou que “O Acordo de transferência de forma alguma interferiu com o movimento de boicote, uma vez que nenhuma nova moeda irá fluir na Alemanha como resultado do acordo33...” O Congresso Sionista de 1935, reunião na Suíça, esmagadoramente endossou o pacto. Em 1936, a Agência Judaica (o “governo das sombras” sionista na Palestina) assumiu o controle direto do Ha’avara, que permaneceu em vigor até a Segunda Guerra Mundial forçar seu abandono.
Alguns oficiais alemães se opuseram ao arranjo. O cônsul geral da Alemanha em Jerusalém, Walter Döhle, por exemplo, criticou fortemente o acordo várias vezes em 1937. Ele ressaltou que ele custou à Alemanha as divisas que os produtos exportados para a Palestina através do pacto poderiam trazer se fossem vendidos em outro lugar. A venda de monopólio do Ha’avara dos produtos alemães para a Alemanha por meio de uma agência judaica naturalmente lá enfureceu homens de negócios alemães e árabes. O apoio alemão ao sionismo poderia levar a uma perda de mercados alemães no mundo árabe. O governo britânico também se ressentiu do acordo34. Um boletim interno do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha de junho de 1937 referiu-se aos “sacrifícios de divisas” que resultou do Ha’avara35.
Um memorando interno de dezembro de 1937 do Ministério do Interior da Alemanha avaliou o impacto do Acordo de Transferência: “Não há dúvida de que o acordo Ha’avara contribuiu mais significantemente para o desenvolvimento muito rápido da Palestina a partir de 1933. O acordo forneceu não apenas a maior fonte de dinheiro (da Alemanha!), mas também o grupo mais inteligente de imigrantes, e finalmente ele trouxe ao país as máquinas e produtos industriais essenciais ao desenvolvimento”. A vantagem principal do pacto, o memorando informou, era a emigração de um grande número de judeus à Palestina, o mais desejado país-alvo no que diz respeito à Alemanha. Mas o papel também notou os importantes inconvenientes apontados pelo cônsul Döhle e outros. O ministro do Interior, continuou, concluiu que as desvantagens no acordo agora prevaleceram sobre as vantagens e que, portanto, deveria ser encerrado36.
Apenas um homem poderia resolver a controvérsia. Hitler pessoalmente reviu a política em julho e setembro de 1937, e novamente em 1938, e cada vez decidiu manter o arranjo Ha’avara. A meta de remover os judeus da Alemanha, ele concluiu, justificava os inconvenientes37.
O ministério da economia do Reich ajudou a organizar outra companhia de transferência, a Agência de Comércio e Investimento Internacional, ou ACII, através da qual judeus em países estrangeiros poderiam ajudar os judeus alemães a emigrarem para a Palestina. Quase $900.000 foram eventualmente canalizados através da ACII para os judeus alemães na Palestina38. Outros países europeus ansiosos para encorajar emigração judaica concluíram acordos com os sionistas inspirados no Ha'avara. Em 1937 a Polônia autorizou a companhia de transferência Halifin (Hebraico para “troca”). No fim do verão de 1939, Tchecoslováquia, Romênia, Hungria e Itália assinaram acordos similares. O estalar da guerra em setembro de 1939, entretanto, impediu a implementação de acordos de larga escala39.
Realizações do Ha'avara
Entre 1933 a 1941, cerca de 600.000 judeus alemães emigraram para a Palestina por meio do Ha’avara e outros arranjos germano-sionistas, ou cerca de 10% da população judaica da Alemanha em 1933 (estes judeus alemães perfaziam cerca de 15% da população judaica da Palestina). Alguns emigrantes do Ha’avara transferiram considerável riqueza pessoal da Alemanha para a Palestina. Como o historiador judaico Edwin Black notou: “muitas dessas pessoas, em especial no fim dos anos 1930, foram permitidos a transferir verdadeiras réplicas de suas casas e fábricas – de fato réplicas brutas de sua própria existência40”.
O montante total transferido da Alemanha para a Palestina por meio do Ha’avara entre agosto de 1933 e o final de 1939 foi 8.1 milhões de libras ou 139,57 milhões de marcos alemães (então equivalente a mais de $40 milhões). Este montante incluiu 33,9 milhões de marcos alemães ($13,8 milhões) fornecidos pelo Reichsbank em conexão com o acordo41.
O historiador Black estimou que $70 milhões adicionais podem ter fluido para a Palestina por meio de acordos comerciais corolários alemães e transações bancárias internacionais especiais. Os fundos germânicos tiveram um impacto grande em um país tão subdesenvolvido como a Palestina era nos anos 1930, ele pontou. Muitas grandes companhias industriais foram construídas com capital da Alemanha, incluindo a Mekorot sistemas hidráulicas e a firma têxtil Lodzia. O influxo de produtos e capital Ha’avara, conclui Black, “produziu uma explosão econômica na Palestina judaica” e foi um “fator indispensável na criação do Estado de Israel42”.
O acordo Ha’avara contribuiu grandemente ao desenvolvimento judaico na Palestina e, portanto, indiretamente, à fundação do Estado israelense. Um boletim circular do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha relatou, com certa inquietação, que “a transferência de propriedade judaica fora da Alemanha [por meio do acordo Ha’avara] contribuiu em uma escala não pequena para a fundação do Estado judaico na Palestina43”.
Antigos oficiais da companhia Ha’avara na Palestina confirmaram essa visão em um estudo detalhado do Acordo de Transferência publicado em 1972: “A atividade econômica possibilitada pelo influxo de capital germânico e as transferências do Ha’avara para os setores privado e público foram de grande importância para o desenvolvimento do país. Muitas novas indústrias e companhias comerciais foram estabelecidas na Palestina judaica, e muitas companhias que são muito importantes mesmo hoje na economia do Estado de Israel devem sua existência ao Ha’avara44”. O Doutor Ludwig Pinner, um oficial da companhia Ha’avara nos anos 1930, posteriormente comentou que os imigrantes excepcionalmente competentes do Ha’avara “contribuíram decisivamente” para o desenvolvimento econômico, social, cultural e educacional da comunidade judaica da Palestina45.
O acordo de transferência foi o exemplo de alcance mais longo de cooperação entre a Alemanha hitlerista e o sionismo internacional. Por meio desse pacto, o Terceiro Reich de Hitler fez mais que qualquer outro governo durante os anos 1930 para apoiar o desenvolvimento judaico na Palestina.
Os sionistas oferecem uma aliança militar com Hitler
No começo de janeiro de 1941 uma pequena, mas importante organização sionista enviou uma proposta formal a diplomatas alemães em Beirute para uma aliança político-militar com a Alemanha do tempo de guerra. A oferta foi feita pelo subversivo radical “Lutadores pela liberdade de Israel”, melhor conhecido como Lehi ou Gangue Stern. Seu líder, Avraham Stern, tinha recentemente rompido com o radical nacionalista “Organização Militar Nacional” (Irgun Zvai Leumi) sobre a atitude do grupo em relação à Inglaterra, que efetivamente proibiu assentamento judaico adicional da Palestina. Stern considerou a Inglaterra como o principal inimigo do sionismo.
Esta proposta sionista digna de nota “pela solução da questão judaica na Europa e a participação ativa do NMO [Lehi] na guerra ao lado da Alemanha” vale a pena citar com alguma extensão46.
“Em seus discursos e declarações, os principais políticos da Alemanha Nacional-Socialista muitas vezes enfatizaram que uma Nova Ordem na Europa iria requerer como pré-requisito uma solução radical da questão judaica pela evacuação (“Europa livre de judeus”).
A evacuação das massas judaicas da Europa é uma precondição para a resolução da questão judaica. Entretanto, a única maneira pela qual isso pode ser totalmente aceita é através do assentamento dessas massas na terra natal do povo judeu, a Palestina, e pelo estabelecimento de um Estado judaico em suas fronteiras históricas.
A meta da atividade política e os anos de luta da parte do Movimento da Liberdade de Israel, a Organização Nacional Militar na Palestina (Irgun Zvai Leumi), é para resolver o problema judaico dessa maneira e então completamente libertar o povo judeu para sempre.
O NMO, que está muito familiarizado com a boa vontade do governo do Reich Alemão e seus oficiais para as atividades sionistas dentro da Alemanha e o programa de emigração sionista, considera que:
1. Interesses comuns podem existir entre uma Nova Ordem Europeia baseada no conceito germânico e as verdadeiras aspirações nacionais do povo judeu como encarnado pelo NMO.
2. É possível cooperação entre a Alemanha nazista e uma comunidade judaica nacional-popular [Hebräertum].
3. O estabelecimento do Estado judaico histórico em uma base nacional e totalitária, e vinculado por tratado com o Reich alemão, poderia ser no interesse da manutenção e fortalecimento a futura posição germânica de poder no Oriente Próximo.
Na base dessas considerações, e sob a condição de que o governo do Reich alemão reconheça as aspirações nacionais do Movimento da Libertação de Israel mencionado acima, o NMO na Palestina se propõe a tomar parte ativa na guerra ao lado da Alemanha.
Esta oferta da parte do NMO pode incluir atividade militar, política e informacional dentro da Palestina e, após certas medidas organizativas, fora também. Junto com isso os homens judaicos da Europa podem ser militarmente treinados e organizados em unidades militares sob a liderança e comando do NMO. Eles podem tomar parte em operações de combate pelo propósito de conquistar a Palestina, tal frente deveria ser por formada.
A participação indireta do Movimento da Liberdade de Israel na Nova Ordem da Europa, já na fase preparatória, combinada com uma solução positiva-radical do problema judaico europeu nas bases de suas aspirações nacionais do povo judaico acima mencionado, poderia fortalecer grandemente a fundação moral da Nova Ordem aos olhos da humanidade.
A cooperação do Movimento da Liberdade de Israel poderia também ser consistente com um discurso recente pelo chanceler do Reich alemão, no qual Hitler salientou que ele poderia utilizar qualquer combinação com a intenção de isolar e derrotar a Inglaterra”.
Não há registro de qualquer reposta germânica. Aceitação era de qualquer maneira muito improvável porque nessa época a política alemã era decisivamente pró-árabe47. Notavelmente, o grupo Stern procurou firmar um pacto com o Terceiro Reich em uma época quando Hitler estava empenhado em exterminar os judeus já estavam em ampla circulação. O Stern aparentemente ou não acreditou nessas histórias ou ele estava querendo colaborar com o inimigo mortal de seu povo para ajudar a trazer um Estado judaico48.
Um importante membro do Lehi na época que o grupo fez esta oferta foi Yitzhak Šamir, que depois serviu como Ministro do Exterior de Israel e em seguida, durante grande parte dos anos 1980 e até junho de 1992, como primeiro ministro. Como chefe de operações do Lehi na sequência da morte de Stern em 1942, Šamir organizou numerosos atos de terror, incluindo o assassinato em novembro de 1944 do ministro britânico do Oriente Médio Lord Moyne e o assassinato em setembro de 1948 do mediador sueco das Nações Unidas Conde Bernadotte. Anos depois, quando Šamir foi perguntado sobre a oferta de 1941, ele confirmou que ele estava ciente da proposta de aliança de sua organização com a Alemanha do tempo de guerra49.
Conclusão
Apesar da hostilidade básica entre o regime hitlerista e a comunidade judaica internacional, por muitos anos os interesses judaico-sionistas e nacional-socialistas germânicos coincidiram. Em colaboração com os sionistas por uma solução mutualmente desejável e humana para uma questão complexa, o Terceiro Reich estava disposto a fazer sacrifícios de divisas estrangeiras, prejudicar as relações com a Inglaterra e enfurecer os árabes. De fato, durante os anos 1930 nenhuma nação fez mais para promover os objetivos judaico-sionistas que a Alemanha de Hitler.
Notas
1. W. Martini, "Hebräisch unterm Hakenkreuz," Die Welt (Hamburgo), 10 de janeiro de 1975. Citado em: Klaus Polken, "Os contatos secretos: Sionismo e Alemanha Nazista, 1933-1941," Jornal dos Estudos Palestinos, Primavera-Verão de 1976, p. 65.
2. Citado em: Ingrid Weckert, Feuerzeichen: Die "Reichskristallnacht" (Tübingen: Grabert, 1981), p. 212. Veja também: Th. Herzl, O Estado Judaico (Nova York: Herzl Press, 1970), pp. 33, 35, 36, e, Edwin Black, O acordo de transferência (Nova York: Macmillan, 1984), p. 73.
3. Th. Herzl, "Der Kongress," Welt, 4 de junho de 1897. Reimpresso em: Theodor Herzls zionistische Schriften (Leon Kellner, ed.), erster Teil, Berlim: J_discher Verlag, 1920, p. 190 (and p. 139).
4. Memorando de 21 de junho de 1933, em: L. Dawidowicz, Um leitor do holocausto (Nova York: Behrman, 1976), pp. 150-155, e (em parte) em: Francis R. Nicosia, O Terceiro Reich e a Questão Palestina (Austin: Universidade do Texas, 1985), p. 42.; Sobre o sionismo na Alemanha antes da ascensão de Hitler ao poder, veja: Donald L. Niewyk, Os judeus na Alemanha Weimar (Baton Rouge: 1980), pp. 94-95, 126-131, 140-143.; F. Nicosia, Terceiro Reich (Austin: 1985), pp. 1-15.
5. Jüdische Rundschau (Berlim), 13 de junho de 1933. Citado em: Heinz Höhne, A ordem da cabeça da morte (Nova York: Ballantine, pb., 1971, 1984), pp. 376-377.
6. Heinz Höhne, The Order of the Death's Head (Ballantine, 1971, 1984), p. 376.
7. "Berlin," Encyclopaedia Judaica (Nova York & Jerusalém: 1971), Vol. 5, p. 648. Para uma olhada em um aspect dessa “vida vigorosa”, veja: J.-C. Horak, "Propaganda de filme sionista na Alemanha nazista," Jornal Histórico do Filme, Rádio e Televisão, Vol. 4, No. 1, 1984, pp. 49-58.
8. Francis R. Nicosia, O Terceiro Reich e a Questão Palestina (1985), pp. 54-55.; Karl A. Schleunes, The Twisted Road to Auschwitz (Urbana: Universidade de Illinois, 1970, 1990), pp. 178-181.
9. Jacob Boas, "Um nazista viaja pela Palestina," History Today (Londres), Janeiro de 1980, pp. 33-38.
10. Reimpressão fac-símile da primeira página do Das Schwarze Korps, 15 de maio de 1935, em: Janusz Piekalkiewicz, Israels Langer Arm (Frankfurt: Goverts, 1975), pp. 66-67. Também citado em: Heinz Höhne, A Ordem da cabeça da morte (Ballantine, 1971, 1984), p. 377. Veja também: Erich Kern, ed., Verheimlichte Dokumente (Munich: FZ-Verlag, 1988), p. 184.
11. Das Schwarze Korps, 26 de setembro de 1935. Citado em: F. Nicosia, O Terceiro Reich e a Questão Palestina (1985), pp. 56-57.
12. Lenni Brenner, Sionismo na era dos ditadores (1983), p. 83.
13. F. Nicosia, O Terceiro Reich e a Questão Palestina (1985), p. 60. Veja também: F. Nicosia, "O Yišuv e o Holocausto," The Journal of Modern History (Chicago), Vol. 64, No. 3, Setembro de 1992, pp. 533-540.
14. F. Nicosia, O Terceiro Reich e a Questão Palestina (1985), p. 57.
15. Jüdische Rundschau, Sept. 17, 1935. Citado em: Yitzhak Arad, com Y. Gutman e A. Margaliot, eds., Documentos no Holocausto (Jerusalém: Yad Vashem, 1981), pp. 82-83.
16. Der Angriff, 23 de dezembro de 1935, em: E. Kern, ed., Verheimlichte Dokumente (Munique: 1988), p. 148.; F. Nicosia, Terceiro Reich (1985), p. 56.; L. Brenner, Sionismo na era dos ditadores (1983), p. 138.; A. Margaliot, "A Reação...,"Estudos Yad Vashem (Jerusalém), vol. 12, 1977, pp. 90-91.; Sobre a notável carreira de Kareski, veja: H. Levine, "Um colaborador judaico na Alemanha Nazista," História Centro-Europeia (Atlanta), Sept. 1975, pp. 251-281.
17. "O Doutor Wise clama aos judeus declararem-se como tais," New York Herald Tribune, 13 de junho de 1938, p. 12.
18. F. Nicosia, O Terceiro Reich (1985), p. 53.
19. Lucy Dawidowicz, A guerra contra os judeus, 1933-1945 (Nova York: Bantam, pb., 1976), pp. 253-254.; Max Nussbaum, "Sionismo sob Hitler," Congress Weekly (Nova York: Congresso Judaico Americano), 11 de setembro de 1942.; F. Nicosia, O Terceiro Reich (1985), pp. 58-60, 217.; Edwin Black, O acordo de transferência (1984), p. 175.
20. H. Höhne, A ordem da cabeça da morte (Ballantine, pb., 1984), pp. 380-382.; K. Schleunes, Estrada Tortuosa (1970, 1990), p. 226.; Informe secreto interno da SS sobre F. Polkes, 17 de junho de 1937, em: John Mendelsohn, ed., O Holocausto (Nova York: Garland, 1982), vol. 5, pp. 62-64.
21. F. Nicosia, Terceiro Reich (1985), pp. 63-64, 105, 219-220.
22. F. Nicosia, Terceiro Reich (1985), p. 160.
23. Esta distinção é também implícita na “declaração Balfour” em novembro de 1917, na qual o governo britânico expressou apoio para “um lar nacional para o povo judeu”. Referente à população árabe lá majoritária, a Declaração continuous cautelosamente, “sendo claramente compreendido que nada deve ser feito que possa prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não-judaicas existentes na Palestina”. O texto completo da declaração é reproduzido em fac-símile em: Robert John, Por trás da declaração Balfour (IHR, 1988), p. 32.
24. F. Nicosia, Terceiro Reich (1985), p. 121.
25. F. Nicosia, Terceiro Reich (1985), p. 124.
26. David Yisraeli, O problema palestino nas políticas alemãs 1889-1945 (Universidade de Bar-Ilan, Israel, 1974), p. 300.; Também em: Documentos na política externa alemã, Série D, Vol. 5. Doc. No. 564 or 567.
27. K. Schleunes, The Twisted Road (1970, 1990), p. 209.
28. Circular de 25 de janeiro de 1939. Documento de Nuremberg 3358-PS. Tribunal Militar Internacional, Julgamento dos principais criminosos de guerra  perante o Tribunal Militar Internacional (Nuremberg: 1947-1949), vol. 32, pp. 242-243. Conspiração e agressão nazista (Washington, DC: 1946-1948), vol. 6, pp. 92-93.
29. F. Nicosia, Terceiro Reich (1985), pp. 141-144.; Sobre o olhar crítica de Hitler do sionismo em Mein Kampf, veja esp. Vol. 1, Cap. 11. Citado em: Robert Wistrich, O apocalipse de Hitler (Londres: 1985), p. 155.; Veja também: F. Nicosia, Terceiro Reich (1985), pp. 26-28.; Hitler disse a seu ajudante do exército em 1939 e novamente em 1941 que ele exigiu aos britânicos sobre transferir todos os judeus da Alemanha para a Palestina ou o Egito. Os britânicos rejeitaram a proposta, ele disse, porque isso iria causar mais tumultos. Veja: H. v. Kotze, ed., Heeresadjutant bei Hitler (Stuttgart: 1974), pp. 65, 95.
30. F. Nicosia, Terceiro Reich (1985), pp. 156, 160-164, 166-167.; H. Höhne, A ordem da cabeça da morte (Ballantine, pb., 1984), pp. 392-394.; Jon e David Kimche, As estradas secretas (Londres: Secker & Warburg, 1955), pp. 39-43. Veja também: David Yisraeli, "O Terceiro Reich e a Palestina," Estudos do Oriente Médio, Outubro de 1971, p. 347.; Bernard Wasserstein, A Inglaterra e os judeus da Europa, 1939-1945 (1979), pp. 43, 49, 52, 60.; T. Kelly, "O homem que enganou os nazistas," Washington Times, 28 de abril de 1987, pp. 1B, 4B. Baseado em entrevista com Willy Perl, autor de A conspiração do Holocausto.
31. Y. Arad, et al., eds., Documentos sobre o Holocausto (1981), p. 155. (O kibutz de treinamento estava em Neuendorf, e pode ter funcionado mesmo depois de março de 1942).
32. Sobre o acordo em geral, veja: Werner Feilchenfeld, et al., Haavara-Transfer nach Palästina (Tübingen: Mohr/Siebeck, 1972).; David Yisraeli, "O Terceiro Reich e o Acordo de Transferência," Jornal da História Contemporânea (London), nº. 2, 1971, pp. 129-148.; "Haavara," Encyclopaedia Judaica (1971), vol. 7, pp. 1012-1013.; F. Nicosia, O Terceiro Reich e a questão palestina (Austin: 1985), pp. 44-49.; Raul Hilberg, A destruição dos judeus europeus (Nova York: Holmes & Meier, 1985), pp. 140-141.; O acordo de transferência, por Edwin Black, é detalhado e útil. Entretanto, contem numerosas imprecisões e conclusões desatinadamente errôneas. Veja, por exemplo, a resenha por Richard S. Levy em Comentário, setembro de 1984, pp. 68-71.
33. E. Black, O acordo de transferência (1984), pp. 328, 337.
34. Sobre a oposição ao Ha’avara em círculos oficiais alemães, veja: W. Feilchenfeld, et al., Haavara-Transfer nach Palästina (1972), pp. 31-33.; D. Yisraeli, "O Terceiro Reich," Jornal da História Contemporânea, 1971, pp. 136-139.; F. Nicosia, O Terceiro Reich e a Questão Palestina, pp. 126-139.; I. Weckert, Feuerzeichen (1981), pp. 226-227.; Rolf Vogel, Ein Stempel hat gefehlt (Munique: Droemer Knaur, 1977), pp. 110 ff.
35. W. Feilchenfeld, et al., Haavara-Transferência (1972), p. 31. Texto inteiro em: David Yisraeli, O problema palestino nas políticas alemãs 1889-1945 (Israel: 1974), pp. 298-300.
36. Interior Ministry internal memo (signed by State Secretary W. Stuckart), Dec. 17, 1937, in: Helmut Eschwege, ed., Kennzeichen J (Berlin: 1966), pp. 132-136.
37. W. Feilchenfeld, et al, Haavara-Transferência (1972), p. 32.
38. E. Black, Acordo de Transferência, pp. 376-377.
39. E. Black, Acordo de Transferência (1984), pp. 376, 378.; F. Nicosia, Terceiro Reich (1985), pp. 238-239 (n. 91).
40. E. Black, O acordo de transferência, p. 379.; F. Nicosia, Terceiro Reich, pp. 212, 255 (n. 66).
41. W. Feilchenfeld, et al., Haavara-Transferência, p. 75.; "Haavara," Encyclopaedia Judaica, (1971), Vol. 7, p. 1013.
42. E. Black, O acordo de transferência, pp. 379, 373, 382.
43. Circular de 25 de janeiro de 1939. Documento de Nuremberg 3358-PS. Tribunal Militar Internacional, Julgamento dos principais criminosos de guerra peertante o Tribunal Militar Internacional (Nuremberg: 1947-1949), Vol. 32, pp. 242-243.
44. Werner Feilchenfeld, et al., Haavara-Transfer nach Palästina (Tübingen: Mohr/Siebeck, 1972). Citado em: Ingrid Weckert, Feuerzeichen (Tübingen: Grabert, 1981), pp. 222-223.
45. W. Feilchenfeld, et al., Haavara-Transfer nach Palästina (1972). Citado em: I. Weckert, Feuerzeichen (1981), p. 224.
46. Documentos originais em German Auswärtiges Amt Archiv, Bestand 47-59, E 224152 e E 234155-58. (Fotocópia em posse do autor).; Texto original complete em alemão publicado em: David Yisraeli, O problema palestino nas políticas alemãs 1889-1945 (Israel: 1974), pp. 315-317. Veja também: Klaus Polkhen, "Os contatos secretos," Jornal dos estudos palestinos, Primavera-Verão de 1976, pp. 78-80.; (Na época em que a oferta foi feita, o grupo Stern do Lehi ainda se considerava como o verdadeiro Irgun/NMO).
47. Os nacionalistas árabes se opunham à Inglaterra, que então dominava grande parte do mundo árabe, incluindo Egito, Iraque e Palestina. Como a Inglaterra e a Alemanha estavam em guerra, a Alemanha cultivou apoio árabe. O líder dos árabes palestinos, o grão-mufti de Jerusalém, Haj Amin el-Husseini, trabalhou de perto com a Alemanha durante os anos da guerra. Após escapar da Palestina, ele falava ao mundo árabe através da rádio alemão e ajudou a reunir recrutas muçulmanos na Bósnia para a Waffen SS.
48. Israel Šahak, "Yitzhak Šamir, Antes e agora," Middle East Policy (Washington, DC), Vol. 1, No. 1, (todo o nº. 39), 1992, pp. 27-38.; Yehošafat Harkabi, Israel's Fateful Hour (Nova York: Harper & Row, 1988), pp. 213-214. Citado em: Andrew J. Hurley, Israel e a Nova Ordem Mundial (Santa Barbara, Calif.: 1991), pp. 93, 208-209.; Avišai Margalit, "A vida violenta de Yitzhak Šamir," New York Review of Books, 14 de maio de 1992, pp. 18-24.; Lenni Brenner, Sionismo na era dos ditadores (1983), pp. 266-269.; L. Brenner, Judeus na América hoje (1986), pp. 175-177.; L. Brenner, "Yitzhak Šamir: ao lado de Hitler," Perspectivas árabes (Liga dos Estados Árabes), Março de 1984, pp. 11-13.
49. Avišai Margalit, "A vida violenta de Yitzhak Šamir," New York Review of Books, 14 de maio de 1992, pp. 18 - 24.; Lenni Brenner, Sionismo na era dos ditadores (1983), pp. 266-269.; L. Brenner, judeus na América hoje (1986), pp. 175-177.; L. Brenner, "Esqueletos no armário de Šamir" Middle East International, 30 de setembro de 1983, pp. 15-16.; Sol Stern, L. Rapoport, "O homem de Israel das sombras," Village Voice (Nova York), 3 de julho de 1984, pp. 13 ff.