terça-feira, 20 de novembro de 2018

Comentários sobre os três últimos textos traduzidos.



Foto – Moeda nazi-sionista.
Entre as últimas postagens do blog, traduzi um texto em espanhol falando sobre o passado sombrio das primeiras lideranças de Israel (tanto antes quanto depois de 1948), um em inglês falando sobre o histórico de conchavos de lideranças sionistas desde os tempos de Theodor Herzl com os grandes antissemitas de seu tempo (entre eles Plehve, um dos principais incitadores de pogroms da Rússia tzarista durante o reinado de Nikolaj II, o líder nacionalista ucraniano Simon Petljura e os próprios nazistas) e mais um do inglês falando a respeito da colaboração entre nazistas e sionistas no período entre 1933 a 1939. Todos os três foram tirados do site sueco Radio Islam, que possui páginas em diversos idiomas.
Mas, antes de tudo, por que falar sobre isso? Primeiro que falar sobre Deir Yassin, Sabra, Šatila e outros tantos crimes que Israel vem cometendo desde sua fundação em 1948 e a Nakba palestina dela decorrente é a meu ver chover no molhado, já há muito material a esse respeito. Ao passo que não vejo a mesma publicidade a respeito dos conchavos de Herzl (cujo livro “O Estado Judeu” foi muito mais elogiado pelos antissemitas [entre eles o parlamentar húngaro Ivan von Simonyi] que pelas lideranças judaicas de seu tempo, que por sua vez se consideravam muito mais como cidadãos de fé judaica de seus respectivos países) e outras lideranças sionistas com a fina flor do antissemitismo europeu desde o caso Dreyfus e os pogroms da Rússia tzarista. Em outras palavras, uma forma de dar maior publicidade a uma página pouco conhecida da história sombria do movimento sionista desde os anos 1890.
Assim, podemos dizer que sionismo e antissemitismo são duas faces de uma mesma moeda, a ponto de um não existir sem o outro e vice-versa. Como também compartilham raízes e objetivos em comum: nasceram no contexto do nacionalismo do século XIX e almejam a criação de um Estado nacional baseado no exclusivismo étnico-religioso. Algo que em lugares com grande diversidade étnica e religiosa como o Oriente Médio só pode dar em problemas e mais problemas.
Segundo que um dos filhos do presidente eleito Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, pretende criminalizar por meio do projeto de lei 5358/16 o comunismo e o nazismo ao mesmo tempo. Isso sob o pretexto de que ambos mataram milhões de pessoas. Não duvido nem um pouco que não apenas posições contrárias ao sionismo israelense como também o questionamento do Holocausto futuramente seja também criminalizados, quiçá até mesmo o simples ato de dizer que o Holocausto no pós-guerra virou um grande negócio (e para isso utilizando-se de leis de combate ao antissemitismo) possam vir a entrar no mesmo pacote.
Em meu entendimento, o que o holding familiar Bolsonaro quer com essa manobra é dar um formato legal ao que a Operação Lama Jato já vem fazendo desde 2014 em conluio com a Rede Globo: a criminalização da simples ideia do princípio da igualdade social enquanto tal (parafraseando Jessé Souza). Afinal, como disse Paulo Henrique Amorim em recente vídeo, Bolsonaro é Moro e Moro é Bolsonaro. Em um sentido mais amplo, pode-se dizer também que se pretende com isso criminalizar a esquerda brasileira como um todo, em especial aqueles setores que demonstrarem maior combatividade e resistência à sua truculência política e se mostrarem mais incômodos à ordem golpista instaurada no país desde 2016 – o que não impede que esse mesmo regime permita a existência de uma esquerda que lhe faça uma oposição consentida tal qual o MDB nos tempos do regime civil-militar de 1964 a 1985, apenas para dar lhe dar um verniz democrático (e, como Rui Pimenta Costa disse em vídeo recente, o governo Bolsonaro vindouro nada mais é que a continuidade e o aprofundamento do governo Temer). E o curioso é que ao mesmo tempo em que o holding familiar Bolsonaro almeja criminalizar simultaneamente o comunismo e o nazismo nada será feito não só com os crimes da ditadura civil-militar brasileira e do sionismo israelense que eles tanto apoiam.
Diga-se de passagem, isso na verdade é algo que não é exclusivo do Brasil. Bolsokid nada mais está fazendo que importar para cá uma legislação análoga a que existente na Ucrânia desde o golpe do Euromaidan. Desde 2015 o comunismo e o nazismo são criminalizados por lei na Ucrânia. Isso ao mesmo tempo em que o mesmo não é feito em relação à ideologia dos colaboradores ucranianos dos nazistas, em especial Stepan Bandera e a OUN-UPA (os quais promoveram, entre outras coisas, limpeza étnica dos poloneses, tchecos e outros povos que viviam na região ocidental da Ucrânia nos anos 1930 e 1940) e os grupos de extrema direita que hoje tocam o terror na Ucrânia contra os russos do leste e do sul, entre eles o Setor de Direita.
Terceiro, não custa citar mais uma vez que Bolsonaro, nos idos de 2009 e 2010 (ou seja, antes de Dilma Rousseff ser empossada presidente pela primeira vez), dizia em seus pronunciamentos que a petista, por seu passado como guerrilheira e membra de grupos como o Colina e o VAR-Palmares, não podia se tornar presidente da República. Curiosamente, ele cínica e hipocritamente nunca utilizou a mesma lógica para com as primeiras lideranças de Israel que antes de 1948 participaram de grupos de guerrilha como o Lehi (o mesmo Lehi que fez uma proposta de aliança militar com o Terceiro Reich durante a Segunda Guerra Mundial), o Irgun (o mesmo Irgun do qual fizeram parte Yitzhak Šamir e Menachem Begin), o Haganah e o Stern (além do fato de o próprio Bolsonaro ter planejado um atentado à bomba nos anos 1980). O mesmo Bolsonaro que mais recentemente, destilando a mesma hipocrisia e cinismo, dizia estar preocupado com a suposta situação de escravidão dos médicos cubanos ao mesmo tempo em que votou a favor do pacote de maldades do governo Temer.
E quarto pelo simples fato de Jair Bolsonaro e seu holding familiar serem simpatizantes do Estado de Israel, a ponto de querem cometer a barbaridade de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém e assim reconhecer a cidade sagrada das três grandes religiões monoteístas como a capital do Estado de Israel (que já está prejudicando as relações do Brasil com o mundo árabe – as recentes reações do Egito são apenas o começo disso). Israel, como todos nós sabemos, possui uma série de esqueletos guardados em seu armário. Que moral será que eles têm para querer criar uma lei criminalizando comunismo e nazismo sendo que são partidários de ideologias que também aprontaram das suas? A meu ver, nenhuma moral.
 
Foto – Conde Vjačeslav von Plehve, ministro do interior de Nikolaj II entre 1902 e 1904, com o qual Theodor Herzl fez acordos.
E o mais curioso de tudo é ver o Bolsokid querendo criminalizar o nazismo e o comunismo no Brasil bem provavelmente sem saber que talvez, sem os esforços tanto da Alemanha nazista no período entre 1933 a 1939 e o acordo Ha’avara (que permitiu um grande fluxo de capitais e imigrantes para a região que em muito ajudaram a viabilizar a criação de Israel e em seu desenvolvimento econômico ulterior) quanto da União Soviética (movida por interesses geopolíticos na região e achando que dali ia sair um Estado socialista que seria um aliado local seu, mas que no fim das contas passou para o lado do Ocidente) quando votou a favor de sua criação na ONU em 1948, o Estado de Israel que eles tanto lambem as botas não existiria.
Em 2010, Lula esteve na Palestina, quando visitou o Oriente Médio. Passou por Israel, e lá Lula decidiu não visitar o túmulo de Theodor Herzl, ao passo que em Ramallah, trajando um tradicional keffiyeh (lenço palestino), depositou flores no túmulo de Yasser Arafat, o líder palestino falecido em 2004. Obviamente, Avigdor Lieberman, então ministro das relações exteriores de Israel, não gostou nem um pouco disso. Lieberman também boicotou o discurso de Lula no Knesset (parlamento israelense). Nessa mesma época, Bolsonaro criticava as posturas de Lula no que tange ao Oriente Médio e suas aproximações com o Irã, então governado por Mahmud Ahmadinežad.
A pergunta que fica no ar é a seguinte: será que Bolsonaro, o mesmo Bolsonaro que hipocritamente acusa as administrações petistas de terem feito uma política externa ideologizada (sendo que a política externa por ele advogada tem seu direcionamento ideológico baseado no ideário do sionismo cristão), teria peito para tomar uma atitude dessas? Em meu entendimento, é mais fácil o Volta Redonda ou o Bragantino ganhar a Libertadores em cima do Boca Juniors ou do River Plate e o Mundial de Clubes em cima do Real Madrid, do Barcelona ou da Juventus. Isso levando em consideração a maneira como o político carioca agiu no recente episódio dos médicos cubanos, onde fez uma demonstração de que fala grosso com Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua e países árabes e bem fininho com Estados Unidos e Israel (e nisso ele se iguala a Temer e FHC, diga-se de passagem).
P.S: Para os textos traduzidos não ficarem muito longos, resolvi fazer os comentários a respeito de ambos em um artigo em separado.

Foto – Eduardo e Carlos Bolsonaro em Israel com camisa do Mossad e da IDF (Israel Defense Forces – Forças de Defesa de Israel).
Fontes:
Crise ucraniana: os crimes de Stepan Bandera, herói dos neonazistas ucranianos. Disponível em: https://apaginavermelha.blogspot.com/2014/06/crise-ucraniana-os-crimes-de-stepan.html
Golpe de Estado: Bolsonaro pertence ao mesmo processo de Temer. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SDqPazEt1dM&ab_channel=CausaOperariaTV
Lei de Bolsonaro que criminaliza o comunismo é a mesma aplicada na Ucrânia. Disponível em: https://medium.com/democratize-m%C3%ADdia/lei-de-bolsonaro-que-criminaliza-o-comunismo-%C3%A9-a-mesma-aplicada-na-ucr%C3%A2nia-426b375f723f
Lula cometeu “gafe” diplomática ao evitar túmulo de sionista, diz analista. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2010/03/15/boicote-de-chanceler-israelense-divide-opinioes.htm
“Nazi travels to Palestine”: A nazi swastika and Star of David in one coin (em inglês). Disponível em: https://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-5072424,00.html
Preparem-se para o Gaza-samba. Disponível em: https://duploexpresso.com/?p=100718
Ucrânia fascista criminaliza símbolos do comunismo. Disponível em: https://anovademocracia.com.br/no-149/5866-ucrania-fascista-criminaliza-simbolos-do-comunismo

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