quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Fuzilamento da família imperial: quem e por qual motivo tomaram a decisão (texto traduzido do russo para o português; por Boris Julin)



Foto – Nikolaj II e sua família em foto de 1913 colorizada.

Hoje eu gostaria de falar sobre tal evento épico, como o fuzilamento da família imperial. Nós já analisamos o conjunto do primeiro Sovnarkom[1], ou seja, do primeiro governo soviético – para esclarecer que quando “os judeus capturaram o poder na Rússia”, verificou-se que no Sovnarkom os judeus eram exatamente um homem. Agora nós compreenderemos com o que aconteceu ao redor da família imperial.
Além disso, os eventos por si mesmos, ou seja, a prisão da família, que foi efetuada ainda no tempo do Governo Provisório, o envio desta família à Sibéria, que foi também no tempo do Governo Provisório, a ideia do próprio tribunal sobre o tzar, que também foi ainda no tempo do Governo Provisório – isso nós observar não vamos. Isso já muitas vezes é observado, muito onde é mostrado. Da mesma forma que é dito sobre quem mataram, como cruelmente mataram, - isso nós também observar não vamos, por que isso muitas vezes em todo lugar foi dito e mostrado.
Sobre o que eu quero falar – apenas sobre aquele que poderia influenciar no fuzilamento e quem tomou a decisão.
A própria ideia de falar sobre isso foi gerada por um terrível calor da mais forte propaganda antissoviética, quando se tentou renomear a estação do metrô “Vojkovskaja”, acusando Vojkov de ser o assassino da família imperial. Pela propaganda antissoviética os assassinos da família imperial já são infindáveis: é Lenin, é Sverdlov, é Vojkov, em todos os malditos bolcheviques são culpados.
Então, o que temos na verdade, se apenas tomarmos como fato: depois da Revolução de Outubro na Rússia Soviética formou-se a coalização governante, que consistia dos bolcheviques, esseritas de esquerda e anarcomunistas e anarcosindicalistas, ou seja, essa é a coalização peculiar das alas esquerdas dos maiores partidos da nação dos revolucionários. Em Moscou e Petrogrado a palavra decisiva pertencia aos bolcheviques, mas o fato é que nessa época vigorava o lema “todo o poder aos sovietes!”, ou seja, os sovietes na zona de sua competência detinham toda a plenitude do poder.
Por exemplo, a primeira decisão sobre a criação do Exército Vermelho campesino-trabalhista tomou por conta própria o soviete local, ou seja, o soviete do lado de Vyborg em São Petersburgo, ou seja, os demais sovietes, portanto apenas apoiaram essa decisão. O soviete podia na zona de seu território demitir e designar funcionários, se ocupar com a atividade econômica, ou seja, toda a atividade econômica estava nos ombros do soviete, se ocupar com a atividade administrativa e mesmo política. Ou seja, os sovietes detinham poder real nos lugares.
A família imperial se encontrava sob o controle do Soviete dos Urais. O Uralsoviet estava sob o controle principalmente dos esseritas de esquerda, além disso, lá houve várias pessoas na Preziduma do Uralsoviet dos assim denominados “bolcheviques de esquerda” – o fato é que o Partido dos bolcheviques também não tinha unidade. Os bolcheviques de esquerda – eram pessoas que eram ardorosos oponentes da paz de Brest, que se posicionaram a favor do progresso da revolução mundial, pela lenta liquidação do capital e etc. Por exemplo, o camarada Bukharin foi o mais notável de todos os bolcheviques de esquerda. Na verdade, os bolcheviques leninistas no Uralsoviet eram bem poucos, a eles pertenceu, por exemplo, o próprio Vojkov. E assim a decisão sobre o fuzilamento da família imperial tomou o Uralsoviet.
E agora no assunto de que isso foi “ordem misteriosa de Lenin”, isso foi “ordem misteriosa de Sverdlov”, isso foi de qualquer maneira uma ação astuta dos bolcheviques para esconder seus rastros. Não, os bolcheviques queriam julgar o tzar, queriam trazê-lo a Moscou e lá julgá-lo. O mais provável é que o fuzilariam – aqui não se tem certeza, o mais provável é que não fuzilariam a família, mas aqui também não se tem certeza. Nós não vamos falar sobre essas hipóteses, nós falaremos sobre o que aconteceu.
O fato é que quando falamos que os bolcheviques nesta época governavam o país, as pessoas não sabem sobre o que falam. Os eventos, ligados com o fuzilamento da família imperial, aconteceram em julho de 1918. Quais outros eventos aconteceram em julho de 1918?
Em julho de 1918 aconteceu o levante dos esseritas de esquerda, apoiado justamente pela mesma parte dos bolcheviques – pelos assim denominados bolcheviques de esquerda foi apoiado. Estes eventos célebres, ligados com o assassinato pelos esseritas de esquerda do embaixador alemão Mirbach, tentativas de frustrar a paz de Brest, ou seja, de novamente mergulhar o país na guerra com a Alemanha, e nisso os esseritas de esquerda entraram em revolta armada direta. Eles capturaram Dzeržinskij como refém, eles assumiram o controle de um conjunto de objetos em Moscou, e esse levante suprimiu-se com o uso de força armada.
Além do levante dos esseritas de esquerda em Moscou, houve ainda o levante da Guarda Branca – mas, na verdade, em união novamente, apenas com os esseritas de direitas – em Jaroslavl. Ou seja, quando em um conjunto de cidades da região norte do rio Volga, principalmente em Jaroslavl, aconteceu a deposição, afastamento do poder dos bolcheviques, os quais fuzilaram. Exatamente a mesma barcaça ilustre, na qual mantiveram prisioneiros sem comida, sem água, fuzilamentos massivos, - isso é tudo o levante de Jaroslavl. Um tal de Boris Sanikov foi um dos líderes desse levante de Jaroslavl.
E eis que naquele tempo, exatamente durante todos esses eventos de julho, o Uralsoviet, que era liderado por esseritas de esquerda e bolcheviques de esquerda, tomou a decisão sobre o fuzilamento da família imperial. Se nessa época Lenin tentasse entregar a eles uma ordem de fuzilar a família imperial, o mais provável é que o Uralsoviet, ao contrário, igualmente recusaria fazer isso. Por quê? Por que comandavam o Uralsoviet aquelas pessoas que naquele tempo eram adversárias dos bolcheviques, adversárias de Lenin, eram aquelas pessoas, que tentaram afastar os bolcheviques do poder, considerando-os insuficientemente revolucionários. E eis que essas pessoas tomaram a decisão sobre o fuzilamento da família imperial.
O mesmo Vojkov prenderam pelo que ele marcou 200 puds[2] de ácido sulfúrico por volta dessa mesma época, mas o Soviete ocupou-se com a atividade econômica, além de outras coisas, e a fim de fuzilar a família imperial, ácido sulfúrico é desnecessário. O ácido sulfúrico é necessário para a produção industrial, e isso foi um dos recursos, que se distribuíam pelo Estado nesse período, ou seja, exatamente por ordens dos sovietes locais.
Propriamente falando, o único homem que dos bolcheviques, exatamente dos bolcheviques, tem relação direta com o fuzilamento da família imperial, era Jurovskij, que, na realidade, fuzilou esta família real. Mas o fato é que a esse homem os bolcheviques não ergueram monumentos, em honra dele estações de metro e fábricas não nomearam, ao contrário do mesmo Vojkov, que heroicamente morreu, sendo embaixador na Polônia, sendo lá morto por um terrorista. Não o estudam na escola, não o estudam em institutos, e o próprio nome do homem que fuzilou a família imperial emergiu no tempo da Perestrojka, e agora sobre ele sabe todo o país, graças à propaganda soviética, porque o fuzilamento da família imperial pelo governo soviético não se considerou como um fenômeno legítimo, ou seja, não o compreendem como algo legítimo, compreendem isso como um excesso muito ruim.
Nisso eu não quero dizer nada em defesa do último tzar: a minha opinião pessoal – ele mereceu o fuzilamento por ter arruinado o país, pelo que ele fez, por como ele governou, ele de fato mereceu isso. Mas nós agora falamos não sobre o que ele mereceu, que não mereceu. Nós não falamos sobre o assassinato, mereceu ou não o fuzilamento a família imperial, eu penso que ela não mereceu e não mereceria. Ou seja, eu acho que isso foi uma crueldade injustificável. Mas nós falamos agora sobre aquele que tomou a decisão sobre o fuzilamento da família imperial, e quem responde por isso.
Então os bolcheviques quiseram o julgar o tzar, julgar publicamente, mas a decisão sobre o fuzilamento tomou o Uralsoviet, que em julho de 1918 ao governo soviético da Rússia Soviética banalmente não se submeteu e se proclamou por aquelas pessoas, companheiras de luta das quais insuflaram nesse período revolta contra os bolcheviques, ou seja, o famoso levante dos esseritas de esquerda. Isso é tudo.
Comentários meus:
101 anos completaram-se no dia 18 do último mês da tragédia que se abateu ao último tzar da Rússia e sua família (os quais posteriormente vieram a ser canonizados pela Igreja Ortodoxa em 2000 como portadores da paixão [em russo strastoterpec/страстотерпец] – segundo a teologia ortodoxa, o portador da paixão é uma pessoa que enfrenta a sua morte de forma similar a de Jesus Cristo).
Desde então, muito se comenta a respeito de uma possível ordem da parte de Lenin para o soviete dos Urais para fuzilar a família real, principalmente dos funestos anos da Perestrojka e o fim do poder soviético em diante. Dessa forma, mostrava-se interessante a aqueles que estavam no poder acusar Lenin, Stalin e outras lideranças do período soviético de tudo quanto é crime nos sete decênios e meio em que eles governaram a Rússia, como forma de legitimar o poder deles naqueles anos conturbados e funestos que o gigante nortenho viveu.
Mas os fatos aqui apresentados mostram uma história completamente diferente: Lenin é inocente das acusações a ele imputadas de que ordenou o assassinato do tzar deposto e sua família. E não apenas isso: os próprios Romanov foram depostos e depois presos e enviados para Tobol’sk e Jekaterinburg não pelos bolcheviques, mas pelo Governo Provisório que assumiu o comando do país por meio da Revolução de Fevereiro de 1917. Apenas em outubro do mesmo ano que os bolcheviques assumiram o poder, e só após o fim da guerra civil que se arrastou de 1918 a 1922 é que consolidaram sua autoridade sobre o todo o território do que veio a se constituir como a União Soviética.
Interessei-me a respeito desse assunto quando li um artigo no blog de Vitalij Lëzov (fonte: http://guiademoscu.com/?p=1162), o Guia de Moscou, no qual é dito que os verdadeiros autores do assassinato de Nikolaj II e a família dele foram justamente os esseritas (socialistas-revolucionários) de esquerda, que se desentenderam com Lenin após a assinatura da paz de Brest com a Alemanha e que queriam conduzir uma guerra revolucionária contra a mesma – a ponto de matar o embaixador Mirbach. Dai resolvi me aprofundar a respeito da verdadeira autoria do assassinato do último tzar russo em sites russos e com o tempo tive a ideia de traduzir um desses textos para o português. Ou seja, uma coisa foi puxando a outra até chegar ao ponto em que chegou.
Mas por qual motivo, razão ou circunstância trago esse assunto para cá, a ponto de traduzir um texto do russo para o português sobre algo ocorrido há 101 anos? Porque muito haver com a realidade que o Brasil vive no presente momento. Mais precisamente, no que tange à questão da indústria ideológica do anticomunismo promovida pelo governo do miliciano que hoje ocupa a presidência da República e que também foi forte na Rússia durante a era Jel’cin (sobre o qual nos debruçaremos em textos posteriores por mim traduzidos). É interessante notar, por exemplo, que essa extrema direita que hoje está no poder hoje volta e meia arrota aos quatro ventos que esquerdistas costumam defender bandidos e/ou assassinos. Sendo que, para começo de conversa, na União Soviética, como dito no texto, nunca ergueram um único monumento em homenagem à Jurovskij ou qualquer outro que tomou parte no assassinato da última família imperial russa. Ainda mais interessante é notar que seu nome só veio à tona no tempo da Perestrojka, a mesma Perestrojka que junto com a igualmente desastrosa Glasnost ajudou a abrir o caminho para o desmoronamento do colosso soviético durante a era Gorbačev. Além disso, é extremamente necessário nesse momento delicado e conturbado que o Brasil vive conhecer a verdade a respeito de episódios como esse, para que não repitam (em especial a esquerda) as mentiras contadas pela direita.

Notas:

[1] Da sigla em russo Soviet narodnykh komissarov (cirílico russo Совет народных коммиссаров). Instituição de governo formada pelo Segundo Congresso Panrusso dos Sovietes durante a Revolução de outubro de 1917 e que com o tempo converteu-se na máxima autoridade governamental do poder executivo sob o sistema soviético. Transformou-se em 1946 no Conselho de Ministros.

[2] Cirílico russo пуд. Medida russa de peso que equivale a 16,3 quilos




terça-feira, 23 de julho de 2019

Ariano Suassuna, o cavaleiro do sertão - homenagem.



Foto – Ariano Suassuna (1927 – 2014).
Hoje, 23 de julho de 2019, completam-se meio decênio que um dos grandes nomes da literatura brasileira de todos os tempos, o dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta e professor Ariano Vilar Suassuna, nos deixou.
Nascido nas dependências do Palácio da Redenção, a sede do executivo paraibano, na atual João Pessoa (então Cidade da Parahyba) no dia 16 de junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. Perdeu seu pai aos três anos de idade vítima de um assassinato por motivos políticos no Rio de Janeiro na sequência da revolução de 1930 e junto com sua família mudou-se para Taperoá, onde morou entre 1933 a 1937. Lá, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola. Isso
A partir de 1942 passou a viver no Recife (onde terminou três anos depois os estudos secundários no Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz), e no dia 7 de outubro de 1945 deu início a sua carreira literária por meio da publicação do poema “Noturno” no Jornal do Commercio do Recife. Dois anos mais tarde escreveu sua primeira peça, “Uma Mulher Vestida de Sol”, e a ela seguiram-se outras tais como “Cantam as Harpas de Sião” (1948) e “Auto de João da Cruz” (1950). Sua atuação no teatro também foi marcada pela fundação do Teatro do Estudante de Pernambuco junto com seu colega da Faculdade de Direito Hermilo Borba Filho (com o qual também veio a fundar em 1959 o Teatro Popular do Nordeste). Em 1950, Ariano não apenas se formou na Faculdade de Direito como também recebeu o Prêmio Martins Pena no mesmo ano por “Auto de João da Cruz”.
Em 1953, um ano após voltar a morar em Recife, escreveu “O Castigo da Soberba” e no ano seguinte “O Rico Avarento”. Mas foi o “O Auto da Compadecida” (1955), que projetou seu nome a nível nacional. A sua obra máxima sucederam-se outras como “O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna” (1958) e a “A pena e a lei” (1959). Em 1969, “A pena e a lei” veio a ser premiada no Festival Latino-Americano de Teatro. Posteriormente, outras obras viriam a ser publicadas tais como “O Romance d’A Pedra do Reino – o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta” (1971) e “História d’O Rei Degolado nas caatingas do Sertão” (1976). Postumamente, mais precisamente em 2017, foi lançada a obra “A Ilumiara – Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores”, cuja organização ficou a cargo de sua família reunindo os escritos que o mestre levou seus últimos três decênios de vida para escrever. Segundo as palavras do próprio Suassuna em entrevista concedida à Veja nove dias antes de deixar este mundo, tal romance foi dedicado a três pessoas: Miguel Arraes, Lula e Eduardo Campos.
Torcedor do Sport Club Recife, Ariano Suassuna também se notabilizou por ter sido o idealizador do Movimento Armorial, ao qual deu início em outubro de 1970. Tal movimento tinha como objetivo o desenvolvimento de uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do nordeste do Brasil e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais. Para tal o movimento procurou direcionar todas as formas de expressão artística, incluindo música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema e outras. E para tal convocou nomes expressivos da música com o intuito de procurarem uma música erudita nordestina que viesse a juntar-se ao movimento. Além de Suassuna, também se destacaram dentro do Movimento Armorial o artista plástico e ceramista pernambucano Francisco Brennard, o desenhista e pintor pernambucano Gilvan Samico, o jornalista e escritor pernambucano Raimundo Carrero, o músico compositor potiguar Antônio Madureira e o artista e músico pernambucano Antônio Nóbrega, entre outros.

Foto – Ariano Suassuna ao lado de Miguel Arraes e outros políticos.
Também atuou na política, tendo sido secretário da educação e cultura do Recife entre 1975 a 1978 e secretário de cultura do Estado de Pernambuco entre 1994 a 1998, durante o governo de Miguel Arraes. Também digno nota é o fato de que Ariano Suassuna foi o sexto ocupante da 32ª cadeira da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito no dia três de agosto de 1989 sucedendo a Genolino Amado. Na cidade pernambucana de São José do Belmonte, cidade onde ocorre a cavalgada inspirada no “Romance d’A Pedra do Reino”, Ariano Suassuna construiu um santuário ao ar livre constituído de 16 esculturas de pedra de 3,50 de altura cada (entre elas imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município) e dispostas em formato circular, representando o sagrado e o profano.
Como pode ser visto em várias de suas aulas-espetáculo disponíveis em sites de compartilhamento de vídeos como o You Tube, o Vimeo e outros, Ariano Suassuna foi um notável defensor não apenas da cultura nordestina, como também do Brasil como um todo. Haja vista, por exemplo, suas críticas a determinados setores da sociedade brasileira que chegam ao ponto de dividir pessoas entre aquelas que foram à Disney e aquelas que não foram à Disney e de modo geral sua postura de valorização da cultura brasileira diante dos modismos vindos de fora (algo que, diga-se de passagem, não começou hoje, e sim desde os tempos do Império e da Primeira República, quando a alta sociedade brasileira queria ser francesa e sonhava com os bulevares de Paris). Também nessas mesmas aulas-espetáculo, Ariano (citando Machado de Assis) disse que existem dois Brasis: o Brasil oficial e o Brasil real. O primeiro é o Brasil dos privilegiados, ou seja, daquilo que Jessé Souza chama de a elite do atraso, que manda no país desde o século XVI e seus associados. E o Brasil real é o Brasil do povo mais humilde, dos condenados da Terra. Segundo as palavras do mestre, o primeiro é burlesco e caricato, enquanto que o segundo é a parte boa do país.
No presente momento em que temos na presidência do país um sujeito ligado ao milicianato carioca que lambe as botas das grandes potências (a tal ponto que faz parecer FHC e Temer nacionalistas) e que não teve o menor pudor em ofender publicamente a região nordeste (para isso se utilizando da expressão “paraíba”, termo pejorativo para se referir a nordestinos de modo geral no Rio de Janeiro – similar ao “baiano” usado em São Paulo), é salutar homenagearmos e lembrarmos não apenas de Ariano Suassuna, como também de outros tantos próceres da cultura nordestina (incluindo também Paulo Freire, do qual Ariano Suassuna era grande amigo e que o miliciano e sua gangue querem a todo custo caçar o título de patrono da educação brasileira a ele concedido em 2012). É uma forma de lembrar não apenas o grande homem que Suassuna em vida foi e toda a contribuição cultural que a nós nos legou, mas valorizamos a cultura não apenas do Nordeste como também do Brasil como um todo, ainda mais nesse momento crítico e nos dias sombrios que o país vive.
ARIANO VILLAR SUASSUNA, PRESENTE!

Foto – Ariano ao lado de sua esposa Zélia, companheira de vida com a qual foi casado durante 57 anos.

sábado, 18 de maio de 2019

Cinco meses de Bolsonaro: um governo das minorias contra a maioria (por Lucas Novaes).

Em outubro de 2018, na reta final da campanha eleitoral presidencial do 1º turno, Bolsonaro proferiu a seguinte frase: "Vamos fazer o Brasil para as maiorias. As minorias tem que se curvar às maiorias. A lei deve existir para defender as maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desaparecem.". Essa famigerada sentença gerou um grande alvoroço tanto por parte da grande imprensa burguesa como de uma parcela significativa da mídia de esquerda, que parecem atormentadas com a possibilidade de um governo que obedeça verdadeiramente às vontades da população.
Hoje, cinco meses depois, o que se vê do governo bolsonarista é justamente o contrário: um esforço enorme para tentar impor pautas econômicas liberais contra a vontade da maioria dos brasileiros. O principal projeto que o governo vem tentando aprovar é “A Reforma da Previdência” e para isso, tem gastado milhões de reais em publicidade para essa PEC. A reforma irá impedir que os trabalhadores se aposentem exclusivamente por tempo de contribuição, ou seja: sem aposentadoria para quem tem menos de 60 anos. E para receber 100% do benefício, serão necessários 40 anos de contribuição. O fato do principal “empreendimento” do governo federal ser uma lei que vai contra os interesses dos setores não privilegiados da classe trabalhadora (a absoluta maioria, que precisa trabalhar para apenas para continuar sobrevivendo de forma razoável) já coloca Bolsonaro e seus aliados como inimigos da maioria dos brasileiros.
Outro exemplo de defesa das minorias vindo deste governo é a sua posição radical contra Nicolás Maduro, o presidente legítimo da Venezuela consagrado com quase 70% dos votos em uma eleição onde parte da oposição minoritária liberal se ausentou devido a sua covardia e fracassos em derrubar o presidente. A posição de Ernesto Araújo (ministro das relações exteriores) é o de apoiar os interesses estadunidenses, que tem um apoio minoritário no país latino-americano.

Foto – Nicolás Maduro resiste ao golpismo imperialista
E o que Bolsonaro está fazendo pela maioria cristã que o elegeu? As pautas morais parecem ter sumido completamente da agenda governista. A única coisa feita por Bolsonaro nesses cinco meses que parece ir de encontro ao populismo que o elegeu foi o seu decreto que libera a posse de armas. Entretanto, esta liberação é apenas para categorias específicas: agentes de trânsito, políticos eleitos, conselheiros tutelares. E o fato desta ação ter vindo por meio de um decreto e não de uma longa discussão e aprovação na câmara dos deputados e no senado demonstra ou uma fraqueza ou um desinteresse do governo em comprar essa briga.
Durante esses primeiros meses, a população brasileira demonstrou apatia em relação a sua perda de direitos, algo comum para governos em início de mandato. Entretanto, o recente corte de verbas que afetou universidades públicas no Brasil parece ter voltado a mobilizar os cidadãos brasileiros, que foram para as ruas protestar contra este desgoverno em números que não se viam desde que foram mobilizados pela grande mídia e o empresariado contra Dilma Rousseff. A estratégia dos direitistas e apologistas do governo é a de deslegitimar os protestos, dizendo que foram encabeçados pelo PT para soltar Lula da prisão. Qualquer um que tenha acompanhado os protestos viu que havia sim partidários petistas na manifestação (e eles tem o direito de defender suas pautas), entretanto, foram absolutamente minoritários no enorme contingente de pessoas que foram às ruas. O único consenso que havia lá era o repúdio aos ataques contra a educação pública, e, em menor grau, a oposição à reforma da previdência também estava claro.

Foto – Maiores manifestações anti-governo desde 2016
O tamanho das manifestações chegou a animar muitos brasileiros, que agora já começam a considerar a hipótese do presidente renunciar ou ser afastado do cargo por meio de um impeachment. Quanto a esta pauta, é necessário ter cautela e levar em consideração que o vice-presidente Mourão também é neoliberal e entreguista. E se houver um acordo entre a esquerda e o centrão no congresso, isso pode dar apoio ao general para passar reformas impopulares, algo que não queremos. O que as manifestações do dia 15 deixaram claro é que a população rejeita toda a ideologia neoliberal, ou seja, o governo Bolsonaro como um todo, além de qualquer partidário de idéias similares.
Fontes:


sexta-feira, 3 de maio de 2019

O passado sombrio do juiz Moro, parte I - Operação Maringá



Foto – Jairo de Moraes Gianoto, prefeito de Maringá entre 1997 a 2000.
Em sua mais recente entrevista, concedida após um ano de prisão aos jornalistas Mônica Bergamo da Folha de São Paulo e Florestan Fernandes Júnior do espanhol El País, o ex-presidente Luís Ignácio Lula da Silva afirmou, entre tantas outras coisas, que quer desmascarar Moro, Dallagnol e companhia limitada. Pois bem, gostaria de dar uma mãozinha ao ex-presidente nisso.
Como dito em artigo anterior, a prisão de Lula pessoalmente muito me enoja não tanto por causa daquele que foi jogado ao mar para ser devorado pelos tubarões ou do fato dele ter sido condenado sem provas com base em um processo no mínimo discutível e por “atos indeterminados de ofício”, mas principalmente por causa dos piratas que o jogaram ao mar para ser devorado pelos mesmos tubarões. Sensação essa que em mim ficou ainda mais exacerbada dentro de mim após não apenas ver Moro se tornar ministro da justiça do governo Bolsonaro como também tomar conhecimento a respeito das boladas bilionárias que a Farsa Jato tentou se apoderar da Petrobrás (R$ 2,5 bilhões) e da Petrobrás (R$ 6,8 bilhões) por meio de acordos de leniência. Algo que o próprio Lula chamou de “criança esperança” do Dallagnol. O que configura como um verdadeiro esquema de lavagem de dinheiro com claras intenções políticas e eleitoreiras. Chegou-se ao ponto de Gilmar Mendes chamar essa gente de quadrilha com um projeto de poder.
Em meu humilde entendimento, um dos motivos (para além da blindagem por parte dos grandes veículos da grande mídia tupiniquim e a convergência de poderosos interesses nacionais e internacionais nesse sentido) pelos quais essa gente tem a popularidade que tem (em especial nas classes médias abastadas), a ponto de poderem bancar os paladinos da moralidade perante nós, é o desconhecimento da parte deles a respeito do Moro de antes da Lava Jato. Algo que pode ser visto no artigo publicado por José Padilha, diretor dos filmes Tropa de Elite e Tropa de Elite 2 e do seriado “O Mecanismo”, no artigo publicado em 16 de abril de 2019 na Folha de São Paulo, onde ele disse que Moro, até então visto pelo cineasta como uma espécie de “samurai ronin”, perdeu sua independência política ao se atrelar à família miliciana Bolsonaro. Ele, que sempre apoiou o juiz Moro e a atuação dele na Lava Jato, agora demonstra decepção em relação ao mesmo, a ponto de dizer que agora ele é uma espécie de anti-Falcone (o magistrado italiano no qual Moro diz-se inspirar, assassinado pela Cosa Nostra em 1992).
Ao que tudo indica, José Padilha, assim como muitos dos apoiadores do ex-juiz e da Farsa Jato, não conhece o Moro de antes da Lava Jato, que sempre usou de sua toga para fazer política em favor dos tucanos locais, a começar pela Operação Maringá durante o mandato do ex-prefeito Jairo Gianoto (1997 a 2000) em Maringá. Ou seja, Moro nunca foi ronin (termo usado para designar um samurai sem mestre dos tempos do Japão pré-moderno, os quais muitas vezes eram condenados a uma vida desonrosa e sem propósito), mas um samurai propriamente dito. E o que ele faz hoje ao lado da família miliciana Bolsonaro é dar continuidade ao que já fazia antes com os tucanos do Paraná. E em meu entendimento, é trazendo à luz não apenas todo esse passado de politicagem a favor do tucanato do Paraná, suas reais relações com os doleiros Alberto Yousseff e Dario Messer e esquemas de corrupção como o das APAEs do Paraná e o da indústria das delações premiadas denunciado por Rodrigo Tacla Duran que Moro e sua quadrilha serão desmascarados.
Durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, os tucanos, segundo Jessé Souza em seu mais recente livro “a classe média no espelho”, reduziram e desmontaram o Estado brasileiro a ponto de figurar apenas como um orçamento a ser dividido pela elite dos proprietários. E nessa brincadeira toda (a nível internacional inserida dentro de um contexto de crescente empoderamento do capital financeiro na economia global) entregaram a preço de banana empresas estatais para os donos do mercado durante a privataria tucana, encolheram as funções sociais do Estado, usaram o orçamento estatal para turbinar o setor financeiro com o dinheiro de todos, elevaram a taxa SELIC à taxa estratosférica de 45% com o intuito de propiciar o saque da população inteira e transformação do Banco Central na boca de fumo da real corrupção brasileira.
Nisso surgiram inúmeros esquemas de corrupção, a começar pela privataria tucana dos anos 1990 e o caso Banestado, o maior esquema de evasão de divisas da história do Brasil (que era feito por meio das contas CC5). Essa é a gênese dos esquemas de corrupção tucanos que sempre são colocados para debaixo do tapete da tão imparcial e impoluta justiça brasileira e perante os quais os esquemas nos quais os petistas se envolveram enquanto estiveram na presidência da República e o laranjal do PSL não passam de brincadeira de criança. Nas palavras do próprio Jessé Souza, FHC, em seu anseio de “enterrar a era Vargas” que está sendo retomado por Jair Bolsonaro no presente momento, fez do Estado brasileiro um “instrumento de rapina da ínfima elite de proprietários e dos estratos superiores da classe média”. E um desses esquemas é o da Operação Maringá, que movimentou uma quantia avaliada em cerca de R$ 49 milhões (R$ 500 milhões em valores atualizados). Esquema esse do qual tomei conhecimento por meio do Osvaldo Bertolino (tanto em seu site quanto de seus vídeos no You Tube). Entre aqueles que não vão com a cara do juiz Moro e da Farsa Jato muito se fala no caso Banestado e do fato dele ter livrado a cara de tucanos de alta plumagem e empresas de mídia nele envolvidos ao mesmo tempo em que prendeu alguns funcionários do banco, mas não vejo a mesma publicidade quanto à Operação Maringá, e é por isso que gostaria de começar por ela.

Foto – Luiz Antônio Paolicchi, ministro da Fazenda da administração Jairo Gianoto em Maringá.
Os vários esquemas de corrupção da era tucana deram luz a vários personagens, e um deles é Luiz Antônio Paolicchi, o qual ocupou o cargo de ministro da fazenda de Maringá entre 1993 a 2000. Pode-se dizer que para os tucanos locais Paolicchi era uma espécie de equivalente do que o finado Manfred von Richthofen era para os tucanos de São Paulo no tempo de Mário Covas, do que Paulo Preto é hoje para os mesmos tucanos de São Paulo e do que Fabrício Queiroz é para a família Bolsonaro. Juntos, Paolicchi e Gianoto foram responsáveis por um esquema milionário de desvio de dinheiro, e com tal dinheiro compraram itens como aviões, fazendas, colheitadeiras, insumos agrícolas e carros de luxos. O dinheiro desviado desse esquema comandado por Paolicchi, entre outras coisas, irrigou as campanhas eleitorais de Álvaro Dias (PSDB) e Jaime Lerner (então PFL, hoje DEM) a senador e governador, respectivamente, em 1998. Os negócios do esquema comandado por Paolicchi também incluíam figuras como Daniel Dantas e o doleiro Alberto Youssef.
Em 27 de outubro de 2000 Gianoto, cujo mandato foi marcado por uma série de escândalos administrativos, é deposto por improbidade administrativa antes do término de seu mandato e substituído pelo pemedebista João Alves Correia. Junto com Gianoto, Paolicchi também caiu, tendo sido investigado na época pelo Ministério Público de Londrina por suas ligações com Alberto Youssef, que em dezembro do mesmo ano foi preso em Londrina por envolvimento no escândalo AMA-Conurb. Ainda em 2000 a população de Maringá elege o petista José Cláudio Pereira Neto, com quase 107 mil votos. Gianoto, por seu turno, veio a ser preso seis anos mais tarde pela Polícia Federal por desvio de dinheiro público, formação de quadrilha e sonegação fiscal. Sérgio Moro (que na ocasião trabalhava no escritório de Irivaldo Joaquim de Souza, o advogado de Gianoto) veio em socorro de Gianoto por meio de um habeas corpus. Ironicamente, o mesmo habeas corpus que anos mais tarde foi negado a Lula Moro em 2006 usou-se para livrar a cara de um tucano envolvido em esquemas de corrupção e testemunhando em favor dele. Em 2010 Gianoto foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Paraná a devolver a quantia de cerca de R$ 500 milhões aos cofres públicos.
Junto com Paolicchi e Jairo Gianoto também foram condenados nos autos nº449/2000 Jorge Aparecido Sossai (então contador), Rosimiere Castelhano Barbosa (então tesoureira), Neuza Aparecida Duarte Gianoto (esposa do ex-prefeito), José Rodrigues Borba (ex-deputado federal) e os réus Sérgio de Souza Campos, Celso de Souza Campos, Eliane Cristina Carreira, Izaias da Silva Leme, Silvana Aparecida de Souza Campos, Valdenice Ferreira de Souza Leme, Valmir Ferreira Leme, Waldemir Ronaldo Correa, Paulo Cesar Stinghen, Moacir Antônio Dalmolin, a empresário Flórida Importação e Comércio de Veículos Ltda.
Em 2011 Paolicchi é brutalmente assassinado. Seu corpo foi encontrado amarrado dentro do porta-malas de um carro que estava abandonado. Seis anos mais tarde o tribunal do júri de Maringá condenou por crime de homicídio qualificado os três réus do caso Paolicchi: Vagner Eizing Ferreira Pio (com o qual Paolicchi mantinha uma união estável), Eder Ribeiro da Costa e Valdir Ferreira Pio (pai de Vagner). O primeiro por ter sido o mentor e mandante do crime, o segundo por ter efetuado os disparos que ceifaram a vida de Paolicchi e o terceiro por participação no homicídio.
Paolicchi se foi há quase um decênio, e poucas pessoas sabem a respeito da dimensão de seu envolvimento com a corrupção tucana do Paraná. Certamente, para seu túmulo muitos segredos a esse respeito ele levou. Segredos esses que bem provavelmente envolvem muitos bacanas da alta sociedade do interior paranaense. Em termos de nebulosidade política, pode-se dizer que o caso da morte de Paolicchi é um equivalente paranaense do caso da morte de Manfred von Richthofen e sua esposa Marísia, ocorrido em 2002, nas mãos da filha do casal Suzane e dos irmãos Cravinhos. Eu particularmente imagino o tanto de bacanas (incluindo juízes, procuradores, desembargadores, altos empresários, banqueiros, empresas de mídia e outros tantos) não seriam pegos caso não apenas os esquemas operados por Paolicchi e por Manfred von Richthofen como também por outros operadores do tucanato como o próprio Paulo Preto um dia vierem à tona. Bacanas esses que certamente devem ter dado aval e até ganho comissões e gorjetas desses esquemas. Também imagino as ligações entre os vários esquemas de corrupção dos tucanos que viriam a aparecer caso isso tudo viesse à tona.
Uma coisa é certa a respeito tanto de Paolicchi quanto de Manfred von Richthofen: caso ambos fossem em vida ligados a partidos de esquerda como o PT e o PDT e não aos tucanos, ou se um homicídio similar ao que ceifou a vida de ambos acontecesse com o João Vaccari Neto ou qualquer outro operador ligado ao Partido dos Trabalhadores, isso seria literalmente o escândalo do milênio. Os grandes veículos de comunicação dedicariam milhares de páginas e horas dos telejornais ao caso, seriam feitas investigações policiais incessantes, assim como mandatos de prisão expedidos por juízes e devassas em contas bancárias. Em um ano eleitoral, usariam isso como bala de prata de forma a influenciar o resultado das eleições em favor dos candidatos preferidos do sistema. E quando o caso chegasse aos tribunais, fariam uso do artifício da teoria do domínio do fato para incriminar Lula e outras figuras da alta cúpula petista. E obviamente enviesando politicamente até a medula as investigações a respeito dos esquemas de forma a incriminar apenas os petistas e não mostrar, por exemplo, que a tecnologia advinda do próprio esquema não é de origem petista, mas tucana.
Mas, como se trata de algo que diz respeito aos impolutos tucanos, isso, como diria o próprio ex-juiz e hoje ministro da justiça Moro, “não vem ao caso”. Dessa forma, os meliantes são presos enquanto que os grandes bandidos atravessam o rio sem serem incomodados pelas piranhas.
Fontes:
Souza, Jessé. A classe média no espelho: sua história, seus sonhos e ilusões, sua realidade. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2018.
Desvio de verba envolve mais de 130 pessoas. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0403200125.htm
Diretor de Tropa de Elite, Padilha admite que errou ao apoiar Moro: “trabalha para a família Bolsonaro”. Disponível em: https://www.revistaforum.com.br/diretor-de-tropa-de-elite-padilha-admite-que-errou-ao-apoiar-moro-trabalha-para-a-familia-bolsonaro/
Em Maringá, juiz Sérgio Moro se une a sacerdotes hipócritas para acobertar corrupção tucana. Disponível em: http://outroladodanoticia.com.br/2015/11/24/osvaldo-bertolino-em-maringa-juiz-sergio-moro-se-une-a-sacerdotes-hipocritas-para-acobertar-corrupcao-tucana/
Eu quero desmascarar Moro, diz Lula! Não troco minha liberdade pela minha dignidade! Folha entrevista Lula. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5W8mlg2Ix3M
Jairo Gianoto, ex-prefeito da cidade de Maringá. Disponível em: http://www.maringa.com/maringa/jairo.php
José Padilha: o ministro anti-Falcone. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2019/04/o-ministro-antifalcone.shtml
Lula: “estou muito mais preocupado com o que está acontecendo com o povo brasileiro”. Disponível em: https://www.causaoperaria.org.br/lula-estou-muito-mais-preocupado-com-o-que-esta-acontecendo-com-o-povo-brasileiro/
Padilha diz que projeto de Moro favorece milícias ligadas a Bolsonaro. Disponível em: https://www.brasil247.com/pt/247/cultura/390323/Padilha-diz-que-projeto-de-Moro-favorece-mil%C3%ADcias-ligadas-a-Bolsonaro.htm
Perseguição a Lula é promessa de família. Disponível em: https://www.pragmatismopolitico.com.br/2018/02/perseguicao-de-moro-a-lula-familia.html
Sérgio Moro e a história do desvio de R$ 500 milhões em Maringá por tucanos. Disponível em: http://outroladodanoticia.com.br/2016/11/21/sergio-moro-e-a-historia-do-desvio-de-r-500-milhoes-em-maringa-por-tucanos/


quarta-feira, 3 de abril de 2019

Mussum e o brasileiro médio, tudo a ver.



Foto – Mussum (1941 – 1994).
Essa quinta-feira, dia 4 de abril de 2019, estreia nos cinemas brasileiros o filme documentário “Mussum, um filme do cacildis”, da diretora Susanna Lira. Tal filme conta a história de vida de Antônio Carlos Bernardes Gomes, conhecido nacionalmente como Mussum, desde sua infância nas favelas do Rio de Janeiro até primeiro tornar-se sambista integrante do grupo Originais do Samba e depois consagrar-se como trapalhão, dando um foco maior ao homem por trás do personagem e não ao personagem em si mesmo.
Por muitos fãs, Mussum é comumente tido como o mais engraçado dos Trapalhões. O malandro do grupo, Mussum era notável não apenas por seu jeito peculiar de falar (no qual adicionava as terminações “is” ou “évis” em palavras arbitrárias) como também por ser frequentador assíduo de bares e botecos e seu apreço por bebidas alcoólicas, em especial a cachaça (ou como ele a chamava carinhosamente, mé). Comumente era chamado de “cromado”, “azulão”, “grande pássaro”, “maisena”, “fumaça” e outras palavras afins por seus companheiros de grupo.
Gostaria de aproveitar não apenas o lançamento vindouro do filme sobre a vida do Mussum além das câmeras de TV como também a proximidade com o 25º aniversário do falecimento dele (que irão completar-se no próximo 29 de julho) para falar a respeito de um esquete dos Trapalhões no qual o personagem interpretado pelo finado Antônio Carlos Bernardes Gomes estrela junto com Dedé Santanna. O qual ao que tudo indica é dos anos 1980 e que é atualíssimo, tendo em vista a realidade atual que o país vive.
O esquete começa com Mussum e Dedé em uma sala de espera de um consultório. A atendente pede para que os dois esperem um pouco que o doutor já irá atendê-los. Mussum responde à atendente que não perguntou nada e Dedê, que estava lendo um jornal, alfineta Mussum por sua demonstração de mau humor. Uma discussão entre os dois trapalhões tem início.
Mussum responde com um “mas está certo, viva a liberdade” e que o governo está certo. Em seguida Dedé, resmungando e lendo as notícias do jornal, conta a Mussum que aumentou o preço do feijão. Mussum responde com um bem feito e justifica o aumento do preço do feijão sob a alegação de que o vegetal não tem valor nutritivo algum e que aumentando o preço do feijão as pessoas iriam consumir mais soja (na opinião de Mussum melhor e mais barata que o feijão). Na sequência Dedé fala que o preço dos ovos também aumentou. Mussum justifica o aumento do preço dos ovos sob a alegação de ninguém dá valor ao serviço dos outros e citando um suposto sacrifício feito pelas galinhas na hora de botar os ovos. Dedé responde que não quer mais conversa com o grande pássaro, temendo uma eventual briga. Mussum retruca que todo mundo está do contra, se queixa de protestos, que ninguém tem respeito pelo trabalho dos outros e afirma mais uma vez ser a favor do governo.
Dedé então mostra a Mussum mais uma a notícia do jornal: mais um aumento de preço. Mussum diz que o governo está certo e tem que aumentar preços mesmo. Dedé diz que o preço da cachaça vai aumentar, mostra a notícia ao mangueirense e este fica enfurecido ao saber da última, a ponto de maldizer o mesmo governo que até agora a pouco ele se dizia a favor.

Foto – Mussum e Dedé no esquete em questão.
O que pode ser dito a respeito desse esquete curto do famoso quarteto que por muitos anos alegrou os lares brasileiros com seu humor estilo pastelão e qual é a relação dele com a atual realidade brasileira? Nesse esquete em questão vemos Mussum agir da mesma forma que o brasileiro médio (geralmente pertencente ao que Jessé Souza chama de ala protofascista da classe média) que vomita pela boca discursos como “bandido bom é bandido morto” e afins age. Se o Caco Antibes e a Dona Florinda são o retrato do brasileiro médio em seu ódio e indiferença classista aos menos abastados, o Mussum é o retrato do brasileiro médio na indiferença ao infortúnio alheio e em não se dar conta de que aquele que agora prejudica o desafortunado da vez pode ser aquele que cedo ou tarde irá te prejudicar também.
Grosso modo, tais elementos acham bonito de se ver em programas policiais a polícia espancar, humilhar e prender negros e pobres que moram nos cortiços e favelas do país em batidas nesses lugares. E uma vez tais infelizes presos nas superlotadas cadeias brasileiras, não demonstram incômodo algum pelo destino funesto que a essa gente aguarda, não raro presos por causa de pequenos furtos. E esse também é o mesmo tipo de gente que não apenas apoia as barbaridades e atropelos jurídicos da Operação Farsa Jato como também comemorou com fogos de artifício a prisão do Lula e votou em massa em Jair Bolsonaro (e como também parecem demonstrar indiferença para com os prejuízos bilionários causados à economia do país e milhões de desempregados pela tábua rasa feita em empresas como a Odebrecht, a OAS, a Petrobrás e outras empresas afetadas pelas investigações da quadrilha de Curitiba – algo inadmissível em países como os EUA, a França e a Alemanha).
Resumo da ópera: no esquete dos Trapalhões em questão, enquanto o governo prejudicava os outros, para o Mussum tudo bem. Afinal, não era com ele. Mas, a partir do momento que o mesmo governo que até então ele elogiava aumentou o preço da cachaça, mudou de ideia da água para o vinho. E enquanto a polícia continuar a destilar sua truculência contra pobres e negros nas favelas, continuarão achando isso ótimo ad eternum. O brasileiro médio age da mesmíssima forma quando vê, por exemplo, os meganhas de toga da Farsa Jato passando por cima das leis do país e condenando sem provas o Lula e outros membros do PT. Afinal, também não é com eles. E bem provavelmente, podem vir à tona inúmeros escândalos envolvendo a camarilha do Paraná (incluindo Operação Maringá, caso Banestado, as denúncias de Rodrigo Tacla Duran, o esquema das APAES e a tentativa recente de estabelecer um fundo bilionário privado com dinheiro retirado da Petrobrás e da Odebrecht – no que configura um esquema de lavagem de dinheiro) que essa gente vai continuar jogando confetes para essa gente. O que importa para eles é ver o que eles veem como criminosos e corruptos (em especial se for alguém do PT ou de outros partidos de esquerda e que não usem terno e gravata) sendo presos e humilhados por juízes, procuradores e policiais. “O juiz tá certo, a polícia tá certa. O safado tem que apanhar e ser humilhado até não poder mais e depois ser preso!”, certamente esses sujeitos (que mal se dão conta de que os meganhas de toga aos quais eles jogam confetes são na verdade parte do sistema da corrupção que eles dizem combater) pensam com seus botões nessas situações.
E o mais curioso e irônico a respeito desse esquete é ver que tais elementos são muito bem retratados e satirizados por um negro nascido no morro da Cachoeirinha, uma das favelas da zona norte do Rio de Janeiro e filho de uma empregada doméstica. Logo um negro de origem humilde, que essa gente não raro gosta de ver apanhando e sendo humilhado em batidas policiais nas favelas e cortiços. Enquanto o outro é que está se dando mal, não me importo. Só vou me importar a partir do momento em que a cobra começar a me picar. Assim essa gente pensa. E é por causa de pessoas assim que Luiz Carlos Cancellier, reitor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), suicidou-se no ano retrasado, depois de ter passado por tamanha humilhação nas mãos da polícia catarinense. Dai que surge, por exemplo, a falta de incômodo dessa gente no que tange, por exemplo, à relação da família Bolsonaro para com os milicianos do Rio de Janeiro. Enquanto a milícia no Rio de Janeiro ceifar a vida dos moradores das favelas, a indiferença reina. E a situação irá mudar de figura apenas a partir do momento em que as milícias começarem a apontar seus rifles e atirar suas balas em pessoas que moram na Barra da Tijuca e outros bairros nobres da antiga capital do Brasil.
Da mesma forma, enquanto esses que se dizem os cidadãos de bem do país não começarem a sofrer humilhações vexatórias como a que o reitor Cancellier sofreu pouco antes de suicidar-se e a que moradores das favelas e cortiços sofrem nas mãos da polícia (como a desse vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=DxoRLhwUMTE&t=1s) vão continuar achando bonito tais espetáculos deprimentes que pululam em programas policiais (cujos apresentadores certamente sabem que é disso que seu público cativo gosta). E também analogamente, enquanto não começarem a ser condenados e presos da mesma forma que Lula foi vão continuar jogando confetes para os meganhas de toga que eles apoiam. Uma coisa é certa: quando estiverem na mesma situação em que Lula esteve nas mãos dos meganhas de toga de Curitiba e do TRF4, vão pedir hipocritamente as provas e os mesmos direitos legais que a Lula e outros presos em situação similar da Farsa Jato negam. E enquanto não começarem a ser jogados feito animais para serem abatidos nas superlotadas cadeias brasileiras depois de conduções coercitivas vão continuar agindo dessa forma bestial. Sintomas de uma sociedade até hoje assombrada pelo fantasma da escravidão até hoje nunca devidamente exorcizado.

Foto – Os Trapalhões todos juntos: Mussum e Didi (em cima), Zacarias e Dedé (em baixo).
Fontes:
A história de Mussum, para além do cacildis! Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/a-hista-ria-de-mussum-para-ala-m-do-cacildis/443730
Os Trapalhões – o governo tá certis. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1IeI_NX2h2g
Produtor audiovisual, negro, é abordado e humilhado pela polícia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DxoRLhwUMTE&t=1s

quarta-feira, 6 de março de 2019

Família do líder-mártir notifica sobre perseguição por decreto de senador americano, que publicou fotografia do mártir e ameaçou ao presidente venezuelano (notícia traduzida do russo para o português).



Foto – Kadaffi (à esquerda) e as referidas imagens provocativas (à direita).
Džana – Kair, 28 de fevereiro de 2019. No local.
A família do finado líder Muammar al-Kaddafi resolutamente repudiou a publicação da colagem do senador americano Marco Rubio no site “Twitter” de 24 de fevereiro, que ele desumanamente usou a fotografia de Muammar al-Kaddafi, como se o senador estivesse orgulhoso do crime da OTAN, cometido contra o líder Muammar al-Kaddafi.
Em declaração à imprensa a família confirmou que na quinta-feira recebeu uma cópia deste documento e declarou que o comportamento repugnante e incivilizado deste senador lembra a nós o que o antecessor dele embaixador Christopher Stevens fez com o líder-mártir. Tais ações refletem a degradação moral e renúncia a todos os valores humanitários, humanismo em suas diferentes manifestações.
A declaração adverte este senador e outras pessoas sobre as consequências da transgressão à memória do líder, sublinhando que esta violação não vai ficar impune, visto que a família irá tomar todas as medidas jurídicas e judiciárias para a revisão formal deste fato e punição do culpado por este comportamento bárbaro.
A família dos mártires apelou ao “Twitter” executar as obrigações jurídicas e morais em relação à publicação e das imagens provocativas de indivíduos privados em um site público, que representa para si uma violação dos valores do humanismo.
A família apontou que este comportamento é documentado como parte de uma declaração de repúdio dos chefes da OTAN pelos crimes de guerra e crimes contra a humanidade, perpetrados em nosso país, dos quais o assassinato do líder e dos partidários dele foi seu clímax, assim como o assassinato do mártir Saif al-Arab Kaddafi.
A família do finado líder chamou os meios de informação de massa e organizações de direitos humanos a desmascarar os atos racistas e desumanos e solicitar à responsabilidade dos culpados.
Comentários:
Navegando pelo VK, visito a página Цитатки Муаммара Каддафи (em português Citações de Muammar al-Kadaffi) e vejo essa notícia, publicada originalmente no dia primeiro desse mês. Após lê-la e sabendo de quem se trata o dito cujo, resolvi traduzi-la do russo para o português e aqui publicá-la.
Na referida postagem no Twitter, Marco Rubio, senador do Partido Republicano pela Flórida, fez uma ameaça a Nicolás Maduro por meio de uma foto de Kadaffi com o rosto ensanguentado pouco antes de ser executado e morto por uma turba de fanáticos salafistas, passando ao atual supremo mandatário venezuelano o aviso de que ele será o próximo a sofrer o mesmo destino que Kadaffi sofreu há oito anos. Só de ter feito uma postagem horrenda dessa, visivelmente Marco Rubio não apenas ameaçou Maduro como também tripudiou em cima da memória do grande homem que Kadaffi em vida foi. Aquele que tirou a Líbia de uma situação de miséria e pobreza extrema de seu povo e a transformou no país mais rico da África. Em relação a Kadaffi, Rubio não passa de um anão moral.
Esse é o mesmo Marco Rubio (cuja família emigrou de Cuba para os Estados Unidos poucos anos antes da Revolução de 1959) que nas eleições presidenciais de 2016 foi um dos pré-candidatos nas primárias pelo Partido Republicano e do qual Juan Guaidó é um garoto de recados. De acordo com matéria da Carta Capital datada de 24 de outubro do ano passado, Rubio não apenas teria tido um encontro secreto com Bolsonaro em março do ano passado como também é o elo do político carioca com a Casa Branca. Rubio e Bolsonaro possuem várias afinidades a nível ideológico, entre elas armamentismo, pró-sionismo (Rubio é um dos maiores lobistas pró-Israel no Congresso dos EUA) e é a favor da queda do regime bolivariano que governa a Venezuela desde 1999.  Mais recentemente, Rubio manifestou-se a favor de um estreitamento das relações dos EUA com o Brasil.
Sabe-se que Bolsonaro possui relações com muitos nomes eminentes da extrema direita mundial que no presente momento vive um momento de ascensão, entre eles Viktor Órban, Matteo Salvini, Bibi Netanyahu, Trump, Steve Bannon e o próprio Marco Rubio. Muitos desses nomes que são ligados ao movimento que Bannon impulsiona. Talvez, isso seja apenas a ponta do iceberg.
Portanto, tendo em vista que o clã Bolsonaro com essa gente é articulado, não é de se surpreender que Eduardo Bolsonaro tenha tripudiado em cima da morte do neto de Lula por meningite. O mesmo Eduardo Bolsonaro que em agosto do ano passado esteve nos EUA e lá se encontrou com vários figurões do Partido Republicano, entre eles o próprio Marco Rubio. Segundo a notícia veiculada acima, a família de Kadaffi vai tomar todas as medidas jurídicas possíveis em relação ao patrão de Guaidó por essa publicação indecente e tripudio em cima da memória de Kadaffi. Espero que em relação ao Bolsokid os familiares de Lula tomem medidas similares às que a família de Kadaffi pretende tomar em relação a Marco Rubio. Talvez só assim para esses sujeitos baixarem a bola.
 
Foto – Bolsokid ao lado de Marco Rubio (ao centro).
Material original:
Página do VK Цитатики Муаммара Каддафи (citações de Muammar al-Kaddafi). Disponível em: https://vk.com/quotes_al_gaddafi?w=wall-42043155_6423
Fontes:
As relações perigosas entre Bolsonaro e o senador Marco Rubio (EUA). Disponível em: https://www.prensalatina.com.br/index.php?o=rn&id=19904&SEO=as-relacoes-perigosas-entre-bolsonaro-e-senador-marco-rubio-eua
Bolsonaro e o senador americano cunhado de traficante condenado. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/bolsonaro-e-o-senador-americano-cunhado-de-traficante-condenado/
“Indios hediondos”, dice Bolsonaro; busca presidir Brasil, apoyado por Rubio (em espanhol). Disponível em: http://www.losangelespress.org/jair-bolsonaro-ultraderechista-apoyado-marco-rubio/
Marco Rubio says US should strengthen relationship with Brazil’s far-right president (em ingles). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8MERLbnC0Ms