quarta-feira, 25 de outubro de 2023

A reabilitação do terrorismo em Israel (texto da página História Islâmica + comentários meus)

“Antes da criação do Estado de Israel em 1948 e o estabelecimento de suas forças armadas oficiais (as Forças de Defesa de Israel, comumente referidas como IDF), os grupos estabelecidos no território da Palestina durante o Mandato Britânico, a partir da década de 1920, haviam criado milícias paramilitares irregulares visando a proteção de seus assentamentos e o enfrentamento de habitantes palestinos e ocupantes britânicos.

A Haganá foi criada em 1920 por membros dos assentamentos judaicos e era adepta do Sionismo Socialista, influenciado pela esquerda e que visava criar um Estado judeu limitado pelo rio Jordão, conforme estabeleciam alguns documentos britânicos. Combinavam ação diplomática e militar.

O Irgun foi fundado em 1931 como dissidência da Haganá. Em 1940, foi fundado o Lehi, uma dissidência do grupo anterior. Ambos eram adeptos do Sionismo Revisionista, que pretendia um Estado judeu abarcando os dois lados do rio Jordão.

O Irgun e Lehi eram nacionalistas radicais, o primeiro de tendência à direita e o segundo de esquerda. O nacionalismo destes dois grupos pregava uma supremacia racial judaica, influenciando o desenvolvimento de uma mentalidade de limpeza étnica contra a população árabe-palestina. Enquanto a Haganá possuía um discurso mais defensivo e antiterrorista, o Irgun e o Lehi defendiam abertamente o terrorismo e a guerra de agressão. Apesar das diferenças de discursos e métodos, os três grupos cooperaram em ações terroristas na década de 1940, sendo seus crimes mais famosos a explosão no King David Hotel, em Jerusalém (1946) e o massacre do povoado palestino de Deir Yassin (1948).

A Haganá, o Irgun e o Lehi foram classificados como grupos terroristas pela administração colonial britânica e pelos grupos palestinos. A classificação do Irgun e Lehi como organizações terroristas também foi feita pela Organização das Nações Unidas, o Congresso Sionista Mundial e o Estado de Israel (inicialmente) bem como órgãos das forças armadas americanas. Alguns famosos intelectuais judeus como Albert Einstein e Hannah Arendt condenaram publicamente o terrorismo praticado pelo Irgun e pelo Lehi.

Após a criação do Estado de Israel em 1948 os grupos paramilitares foram incorporados ao exército regular, as Forças de Defesa de Israel (IDF). A maioria de seus membros foi anistiada após 1949 e muitos participaram da política e foram condecorados. Alguns desses políticos famosos foram primeiros-ministros, como David Ben Gurion (ligado anteriormente à Haganá) entre 1948-1953 e 1955-1962, Menachem Begin (ex-Irgun) entre 1977-1983 e Ytzhak Shamir (ex-Lehi) entre 1983-1984 e 1986-1992.

Como Israel era uma nação jovem, era necessária a consolidação de uma identidade nacional. Além da criação de símbolos como bandeira, brasão e hino nacional, os dirigentes do novo Estado precisavam formar a sua versão da própria história, com a criação de datas comemorativas, monumentos e heróis nacionais. A imprensa e historiografia israelense reescreveram a história da ocupação sionista, ocultando as práticas terroristas e transformando os líderes paramilitares em heróis nacionais. Em 1980, Israel instituiu a “Fita Lehi”, uma condecoração para ex-membros do Lehi e foram criados museus para preservação da memória histórica do Irgun e Lehi.

A mentalidade dos antigos grupos paramilitares – de que os fins justificavam os meios para o estabelecimento do Estado judeu – ainda hoje influencia a mentalidade israelense com a prática de assentamentos ilegais na Cisjordânia, prisões arbitrárias e tortura de palestinos por agentes do Estado de Israel e ataques a alvos civis por parte da IDF.

Bibliografia:

ADERETM Ofer. Assassinations, Terror Attacks and Even Castration - the Hidden Actions of Israel's Pre-state Militia. Haaretz, 13 jun. 2020.

ARAB HIGHER COMMITTE DELEGATION FOR PALESTINE. The Black Paper on the Jewish agency and Zionist Terrorism. Memorandum to the Unites Nations. New York, 1948.

BELL, J. Bowyer. Terror out of Zion: Irgun Zvai Leumi, Lehi, and the Palestine underground, 1929-1949.New York: Avon Books, 1977.

BRAM, Shir Aharon. When the Irgun Decided to Be Judge, Jury and Executioner. The Librarians, 11 jan. 2023. CELIK, Ahmed Husrev. Analysis - Fundamentalist Jewish terror in Palestine dates back more than a century. AA - Anadolu Ajansi, 25 maio 2021.

FISCHER, Louise. An Ambivalent Relationship: Israel and the UN, 1945-1949. France: Ministère de L'Europe et des Affaires Étrangères. HEWITT, Ibrahim. Turning terrorists into 'heroes'. Middle East Monitor. 14 out. 2023.

MORAES, João Quartim. As conexões do sionismo com o colonialismo, o fascismo e o racismo. Tensões Mundiais, v. 5, n. 9, p. 167-191, 2009.

PELED, Miko. Nevers the agressor: Israel is convinced of its own benevolence. Mint Press, 14 maio 2020.

SELLERS, Brandon. The Irgun Zcai Leumi: From Terrorists to Politicians. Schemata, 2013.

SHAWYER, Sarah. Creating a Tradition of Collective Amnesia: The reception of knowledge within the Jewish Chronicle regarding the armed resistance against the British in Mandatory Palestine. University of Southampton. Emergence Volume III: Memory and Myth, 2011.

SHELEG, Yair. The War for Memory. Haaretz, 19 abr. 2007. The Role of Jewish Defense Organizations in Palestine (1903-1948). Jewish Virtual Library.

UNITED NATIONS. Origins and Evolution of the Palestine Problem: 1917-1947 (Part I). 1978.

UNITED NATIONS. Origins and Evolution of the Palestine Problem: 1947-1977 (Part II). 1979”.

Fonte: História Islâmica - YouTube

MEUS COMENTÁRIOS

Este é um texto que encontrei na comunidade do You Tube da página História Islâmica, de Mansur Peixoto, e que trata a respeito dos dias de terrorismo paramilitar dos sionistas de ANTES da fundação do Estado de Israel, em 1948.

Uma das coisas que mais me interessam a respeito da presente questão envolvendo Israel e Palestina é como que essa questão ajuda a alimentar a guerra política que hoje vemos no Brasil entre esquerda e direita (principalmente a direita bolsonarista).

De um lado, vemos setores de esquerda declarar apoio à causa palestina. O PCO (Partido da Causa Operária) está fechado com o Hamas nessa questão, ao passo que outros partidos de esquerda também se manifestam favoráveis à causa palestina.

De outro, vemos a direita, em especial a direita de matiz ideológico bolsonarista, em muito influenciada pelo ideário neoconservador do Partido Republicano dos Estados Unidos (ao passo que em determinados setores da esquerda brasileira também a influência da outra grande agremiação política norte-americana, o Partido Democrata, é clara e nítida) e que tem como seus principais porta-vozes o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (ele mesmo apoiador de Israel de longa data), se mostra simpática à Israel. Nessa onda, também vemos casos de pastores e líderes religiosos como Rodrigo Mocellin e Leandro Ruschel chegando ao ponto de destilar islamofobia barata em vídeos no You Tube (os quais receberam respostas da parte de Mansur Peixoto).

Nessa guerra ideológica entre esquerda e direita neocon a respeito da questão entre Israel e Palestina na esteira da repercussão do ataque de sete de outubro do presente ano, vemos a segunda por todos os meios querer associar a esquerda ao Hamas e ao terrorismo, com vistas a acusar os esquerdistas de cumplicidade com o terrorismo não só do Hamas, como também de outros grupos similares. Ao passo que eles, ao prestarem apoio ao Estado de Israel, é que estão do lado certo da questão. E exemplo disso é a seguinte postagem de Carlos Bolsonaro (vulgo 02), o segundo filho do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro:

Foto – Postagem na comunidade no canal do You Tube de Carlos Bolsonaro, datada de 18 de setembro do presente ano. Percebam a tônica do discurso do segundo filho do ex-presidente Bolsonaro.

O irmão mais novo dele, Eduardo Bolsonaro, o 03, na semana retrasada postou a seguinte mensagem na comunidade do canal dele do You Tube:

“O que seriam dos grupos terroristas sem seus braços políticos, com voz na imprensa, para suavizar seus ataques brutais? Não pense ser coincidência que PT, PSOL, PCdoB e toda escória política chamarem 8/JAN de "terrorismo", mas não usarem esta palavra para se referir ao Hamas e seus comparsas. Quem domina a linguagem controla a narrativa. Não apoie quem apóia matança e sequestro de mulheres, crianças e idosos”.

Foto – Foto de postagem de 03 no You Tube, no qual ele claramente tenta colar a pecha de “cúmplices do terrorismo” na esquerda brasileira.

E o curioso é que há uma foto de 2016 na qual tanto 02 quanto 03 estão andando pelas ruas de Israel com camisas do Mossad e do IDF.


Foto – Carlos Bolsonaro (esquerda) e Eduardo Bolsonaro (direita) andando pelas ruas de Israel com camisas da IDF e do Mossad. Foto de 2016.

Vejam só o grande paradoxo. Carluxo e Dudu Bananinha acusam partidos de esquerda como o PT, o PSOL, o PCdoB e outros de defender o Hamas e até de serem “irmãos de almas”. Isso ao mesmo tempo em que ele e o irmão mais novo dele já foram fotografados nas ruas de Israel trajando a camisa de órgãos de inteligência que foram formados a partir dos grupos terroristas que atuavam na Palestina sob o mandato britânico, tais como o Haganah, o Irgun, o Stern, o Lehi e o Palmach. Grupos esses que foram inclusive considerados como terroristas pelo governo britânico na época de atividade deles. Se isso não é um verdadeiro soco nos nossos estômagos, não sei mais o que é.

E os paradoxos não param por ai. Vocês se lembram da carta que em 2014, durante a crise na Faixa de Gaza daquele ano, que o então deputado federal pelo PP Jair Messias Bolsonaro enviou ao embaixador de Israel no Brasil, fazendo um pedido de desculpas a Israel em nome do povo brasileiro por conta das atitudes da então Presidente?

Foto – Carta de Jair Messias Bolsonaro ao embaixador de Israel de 2014.

Pois bem. O que impressiona a respeito dessa carta é que Bolsonaro começa falando sobre o passado da então presidente Dilma Vana Rousseff como membra de grupos como o VAR-Palmares e o Colina ao embaixador de Israel no período de 1964 a 1985. Logo ao embaixador de uma nação que foi forjada sob o signo do terrorismo paramilitar e que cujos primeiros premiês foram membros de grupos terroristas como o Haganah, o Lehi, o Stern, o Palmach e o Irgun.

Vide o caso do já citado David Ben Gurion, egresso do Haganah e premiê de Israel entre 1948 a 1953 e de 1955 a 1962. Ou seja, Ben Gurion foi premiê de Israel em uma época na qual o Partido dos Trabalhadores nem sonhava em existir. Alguns dos membros do PT (tanto atuais quanto históricos, incluindo aqueles que participaram da luta armada no período de 1964 a 1985 e que chegaram a fazer treinamento de guerrilha em Cuba à época, entre eles José Genoíno e José Dirceu) inclusive nem eram nascidos à época, ou eram muito pequenos.

O que mostra que o processo que Mansur Peixoto em postagem anterior no mesmo canal chamou de “transformação de terroristas em políticos oficiais” em Israel antecede em 31 anos à fundação do PT, em 54 anos à primeira eleição de Lula e em 63 anos à chegada de Dilma Rousseff ao poder no Brasil.

Também digno de nota é o fato de que naquele mesmo ano Jair Bolsonaro travou um bate-boca com Jandira Feghali, deputada federal do PCdoB pelo estado do Rio de Janeiro, envolvendo a questão palestina. No qual Bolsonaro respondeu às posições pró-Palestina de Feghali com palavras de ordem como “chega de terrorismo” e “comunismo matou milhões”.

Voltando mais alguns anos no passado, o mesmo Bolsonaro nos idos de 2009 e 2010 se posicionou contra a presença de Cesare Battisti em solo brasileiro por conta do passado dele como membro do PAC (Proletários Armados pelo terrorismo), durante os anos de chumbo da Itália e os quatro crimes atribuídos a ele (os quais ele veio a admitir após ser preso e extraditado de volta à Itália). 

E que na mesma época também dizia que a mesma Dilma não poderia ter sido presidente da República por conta de seu passado como membra de grupos de luta armada no período entre 1964 a 1985 (até chegou a fazer uma leitura da ficha de Dilma na época da ditadura civil-militar brasileira). 

Por essa mesma lógica, muitos dos primeiros premiês de Israel, entre eles David Ben Gurion, Itzhak Šamir e Menachem Begin, não poderiam ter ocupado os cargos que ocuparam em vida por conta do passado deles como membros de organizações paramilitares como o Irgun, o Lehi e o Haganah.

Foto – 01, 02 e 03 em Israel. Vejam a bandeira israelense atrás deles. Foto de 2016.

E voltando ao Carluxo. Segundo notícias do ano retrasado, Carluxo andou procurando equipamentos israelenses para fins de espionagem de rivais políticos, tanto dentro quanto fora do governo comandado por seu pai. Entre eles os programas Pegasus (da desenvolvedora NSO Group) e Sherlock. O primeiro é voltado para hackear celulares, ao passo que o segundo serve para espionagem de computadores e laptops.

Com o primeiro, Carluxo iria criar uma espécie de Abin paralela, a qual por sua vez seria alimentada com informações externas extraídas de computadores e laptops não apenas de rivais políticos, como também de jornalistas, ativistas e outros desafetos políticos dele. Já com o segundo Carluxo pretendia monitorar o governo de dentro.

No fim das contas, o clã Bolsonaro, o mesmo clã Bolsonaro sobre o qual pairam suspeitas de ligações com as milícias do Rio de Janeiro, vive acusando a esquerda de ser favorável ao Hamas e outros grupos afins, de ser cúmplice com o terrorismo desses grupos, mas eles pelo visto também têm os terroristas de estimação deles. Em outras palavras, aqueles que para eles são os “terroristas do bem”.

domingo, 22 de outubro de 2023

A tragédia e a farsa - quem chocou o ovo da serpente chamada Hamas?

 


Foto – 02 e 03 andando pelas ruas de Israel com camisas do Mossad e da IDF.

Nos últimos dias, vi diversas publicações de figuras da direita brasileira de matiz neocon, ao comentar a atual questão entre Israel e o grupo Hamas na sequência do atentado do dia sete do presente mês. Entre eles pessoas como o pastor Rodrigo Mocellin, Leandro Ruschel, Thiago Braga e os filhos mafiosos do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de publicações de canais como o Brasil Paralelo.

Uma das teclas que eles mais batem é que o pessoal da esquerda, em especial os petistas, não reconhecem o Hamas enquanto grupo terrorista. Com a clara intenção de querer associar a esquerda (em especial o Partido dos Trabalhadores) ao terrorismo.

Algo que me salta aos olhos depois de ler tantas publicações e comentários do pessoal dessa direita de matiz neocon é que em momento algum eles falam sobre a seguinte questão: quem chocou o ovo da serpente chamada Hamas? Apenas ficam batendo na tecla de que o Hamas é um grupo terrorista, que a esquerda não reconhece o Hamas enquanto grupo terrorista e tal. O tipo da narrativa que no fim das contas serve de cortina de fumaça.

Foto – Publicação de Carlos Bolsonaro no You Tube, em que ele claramente tenta associar Lula e os petistas com o Hamas.

Nos últimos dias, na esteira dos recentes ocorridos na Faixa de Gaza, também vi um show de islamofobia barata e cretina. Um dos que postaram vídeos nessa linha é Thiago Braga. Ao ver o vídeo dele percebe-se que ele está procurando polêmicas não só com pessoal de esquerda, como também com pessoal islâmico.

Que fique bem claro uma coisa a respeito de Thiago Braga: isso que ele está fazendo não é nada de novo. É basicamente o mesmo expediente que lá atrás tanto os irmãos Neto quanto o Nando Moura se utilizaram para se promoverem no You Tube. Entrar em polêmicas com determinadas pessoas de forma a gerar engajamento e repercussão.

Quando deu seus primeiros passos no You Tube, em 2010, Felipe Neto, por meio do quadro “Não faz sentido”, produziu vídeos nos quais criticou figuras como Fiuk, Justin Bieber, colírios da revista Capricho, bandas coloridas e outros (até chegou ao ponto de ofender pessoas de esquerda que apoiavam o Partido dos Trabalhadores em 2014). Depois de um tempo e após fazer seu pé de meia, Felipe Neto fez uma espécie de branqueamento dele mesmo, jogou o personagem de óculos e camisas escuras que ele encarnava no “Não faz sentido” para debaixo do tapete e passou não apenas a produzir conteúdo “para crianças”, como também a fazer tudo o que criticava antes, incluindo pintar o cabelo de diversas cores diferentes, dizer que ama os fãs em premiações e encher os vídeos dele de indecências. Resumindo a ópera, virou a encarnação terrena da hipocrisia, do cinismo e da falsidade.

O irmão mais novo dele, Luccas Neto, era o “Hater Sincero” quando deu seus primeiros passos no You Tube, nos idos de 2014, e nessa época criticava um tipo de humor que ele classificava como “humor babaquismo”. Travou polêmicas com a Viih Tube (à época menor de idade), o Castanhari e outros. O caso com Viih Tube terminou em processo judicial (Luccas Neto teve que pagar R$ 40 mil em indenizações por danos morais à família dela). E então Luccas Neto fez o mesmo branqueamento que o irmão dele fez antes. Depois de fazer seu pé de meia, Luccas Neto aposentou o Hater Sincero e o enterrou para debaixo do tapete, branqueou a si mesmo e assumiu para si o personagem infantilóide que hoje ele encarna (a ponto de fazer vídeos ridículos como aquele no qual se chafurda em uma banheira cheia de Nutella). Em outras palavras, tornou-se o rei do “humor babaquismo”. E o que mais me espanta é o fato de que ambos os irmãos Neto hoje se comportam como se os personagens que eles encarnaram outrora nunca tivessem existido.

Por fim, Nando Moura. Quando Nando Moura começou a postar vídeos no You Tube, por volta de 2015, ele travou polêmicas com figuras já bem estabelecidas na plataforma tais como Pirulla, Kéfera, Maestro Bogs, Cauê Moura e o próprio Felipe Neto. Algumas dessas polêmicas inclusive terminaram em processos judiciais.

Nos dias hodiernos, as pessoas ficam chocadas (e com razão) com os atos de grupos terroristas como o Hamas, da mesma forma como tiveram a mesma reação quando a bola da vez eram grupos como o Estado Islâmico, o Boko Haram e a Al Qaeda. Mas será que em algum momento elas fizeram a seguinte pergunta: quem chocou o ovo dessas serpentes todas?

Recentemente, navegando pelo Facebook, encontrei este texto, datado de 2015 e publicado na sequência dos ataques ao Charlie Hebdo e à boate Le Bataclan em Paris. Um texto atualíssimo, que nem parece que foi escrito há oito anos:

“Até onde minha vista alcança, Ser ou não Ser Charlie não é a questão, ou ao menos não é a mais importante. Ao se falar de ações violentas de grupos extremistas, é sempre bom tentar saber quem criou, fomentou, armou, treinou e financia esses grupos. E três dos principais grupos extremistas hoje tem uma curiosa semelhança em sua história...

A Al-Qaeda nasceu como um subproduto da guerra entre União Soviética e Afeganistão, confronto em que muitos muçulmanos de outros países foram para o Afeganistão lutar contra os comunistas russos e receberam entusiasmado apoio, psicológico, financeiro e logístico da CIA. Segundo uma reportagem da BBC, é possível acreditar que Bin Laden recebeu pessoalmente treinamento da CIA.

O Hamas tem no seu DNA e na sua certidão de nascimento o Mossad, serviço secreto de Israel, para lutar contra e enfraquecer a OLP de Arafat e a esquerda palestina.

O famigerado Estado Islâmico, que surgiu num Iraque completamente destruído e sem instituições (talvez um excelente estudo de caso do que é o “anarco capitalismo” defendido por alguns liberais), é um filho de alguns pais. Para combater o regime sírio, principal aliado regional do Irã, EUA, França, Inglaterra, com financiamento de Arábia Saudita, Emirados Árabes e Qatar e apoio tácito de Israel forneceram armas, apoio logístico e treinamento aos extremistas do Califado. E quem está na linha de frente dos combates contra o Estado Islâmico? Os curdos ligados ao PKK, grupo nacionalista do Curdistão, historicamente ligado à causa socialista. Desestabiliza-se a Síria e luta-se contra os curdos, um “problema” bem grande para a Turquia. Dois coelhos com uma cajadada só!

Criar, fomentar, financiar, treinar grupos extremos não é novidade na política internacional dos países mais poderosos. Desde Klaus Barbie, o “açougueiro de Lyon”, um dos mais bárbaros carrascos nazistas que vivia publicamente e abertamente na Bolívia após a guerra, dando consultoria para a CIA sobre combate a grupos de esquerda na região (e tendo participado da preparação da operação que matou Che Guevara); até os Contra na Nicarágua e o apoio a todas as ditaduras da América do Sul. E tampouco é novidade na política interna, que o diga o COINTELPRO (Counter-Intelligence Program) do FBI que nos anos 70 foi criado com o objetivo de destruir movimentos sociais, especialmente o Panteras Negras e movimentos indígenas, mas também algumas organizações estudantis e sindicais. O Cointelpro criou células extremistas para desacreditar a esquerda, financiou organizações criminosas que introduziram tráfico de drogas em comunidades em que os Panteras Negras eram fortes, e por aí vai.

Esse monstro extremista que hoje ataca “o Ocidente” foi criado justamente por este, para diminuir, combater ou acabar grupos ou movimentos nacionalistas, de esquerda ou que sequer eram de esquerdas, mas tinham posições independentes em relação aos EUA e seus aliados.

O ataque ao Charlie Hebdo é uma tragédia imensa, independente de suas publicações serem de gosto questionável ou não. Agora, EUA, França, Inglaterra, Israel e seus aliados no Oriente Médio (Arábia Saudita, Emirados Àrabes e Qatar, notadamente) lançam as cortinas de fumaça dos jargões belos, valiosos e vagos: ‘liberdade, liberdade de expressão, democracia’.

Lançam essa cortina de fumaça para esconder que, no fim do dia, o sangue das vítimas dessa semana está na mão deles assim como está nas mãos dos dois irmãos Kouachi”.

Diga-se de passagem, a estratégia que Israel usou para conter grupos mais moderados da oposição palestina como o Fatah e a OLP de Yasser Arafat por meio da criação e da promoção do Hamas é uma estratégia similar àquela que, segundo algumas línguas, a ditadura civil-militar brasileira, na figura do general Golbery do Couto e Silva, teria se utilizado ao criar e promover a figura de Lula e do Partido dos Trabalhadores como forma de conter Brizola dentro do contexto da redemocratização e abertura política do Brasil.

“Crie corvos e eles comerão teus olhos”, assim diz um velho ditado espanhol. Assim o foi com a Al Qaeda, com o Boko Haram, com o Hamas, o Estado Islâmico e tantos outros grupos afins criados pelo “mundo livre e democrático” que depois de picar e destilar veneno nos inimigos destes, se voltaram contra seus criadores e passaram a causar problemas a estes.

Na introdução do 18 Brumário de Luís Bonaparte, Karl Marx diz que a história se repete primeiro como tragédia e depois como farsa. Os nomes dos personagens e dos grupos envolvidos podem variar ao longo do tempo, mas uma coisa é certa: as pessoas nunca aprendem e continuam se comportando como se fosse gado bestializado diante de tais eventos. Lá atrás, os espectadores da tragédia diziam “eu sou Charlie” e lemas similares. E até chegaram ao ponto de colorir seus avatares no Facebook e outras redes sociais com as cores da bandeira da França após o incidente da boate Le Bataclan. E hoje, os espectadores da farsa repetem o mesmo padrão de comportamento, com alguns dizendo “Hamas é terrorista”, “eu sou Israel” e lemas similares, e ainda por cima com alguns deles colorindo seus avatares em redes sociais com as cores da bandeira de Israel. E algumas pessoas até destilando islamofobia barata e cretina visando se promover e gerar engajamento, vendo o público que tem.

Há outro ditado que diz que a vida imita a arte. Tudo isso me faz lembrar alguns personagens do mundo dos animes, mangás e seriados tokusatsu, que também são cobras criadas que em determinado momento de suas trajetórias se voltaram contra seus antigos mestres e passaram a causar dores de cabeça aos mesmos.

Um deles é Šinobu Sensui, o vilão principal do segundo arco do anime e mangá Yu Yu Hakušo, de Yošihiro Togaši, anime que fez considerável sucesso no Brasil nos anos 1990 e 2000, quando foi veiculado primeiro pela Rede Manchete em 1997 e depois pelo Cartoon Network, em 2004. Posteriormente, teve seu mangá publicado pela editora JBC.

Foto – Šinobu Sensui (vulgo Anjo Negro).

Segundo a trama de Yu Yu Hakušo, Sensui foi ninguém menos que o antecessor do protagonista, Yusuke Urameši no posto de detetive espiritual.

Em seus dias de detetive espiritual, Sensui tinha a alcunha de “O Anjo Negro”, dado que ele era considerado um ser puro e sem pecados. Além disso, ele tinha um senso de justiça inflexível e um ódio absurdo em relação ao mal. Em especial, Sensui abominava os youkais que durante a juventude dele lhe causaram grandes problemas. Ele os eliminava em suas missões a serviço do Mundo Espiritual. Todos eles, exceto um chamado Itsuki, que por ele foi poupado e passou a ser seu companheiro de missões.

Até que certa vez, ele foi incumbido de investigar a organização Black Black Club (a mesma organização que no primeiro arco organizou o sequestro da garota Yukina e o torneio das trevas), que pretendia abrir um túnel de ligação entre o Plano Terreno (mundo dos humanos) e o Submundo (mundo dos youkais), com a intenção de contrabandear youkais e depois prendê-los e vendê-los a preços muito altos por humanos abastados.

Após encurralar e vencer todos os inimigos da missão, Sensui deu de cara com uma cena dantesca na qual transcorria um banquete no qual seres humanos faziam toda sorte de maldades com os youkais, mostrando toda a podridão que um ser humano poderia possuir e manifestar. No fim das contas Sensui matou todos os humanos lá presentes.

Ver tal cena dantesca, uma cena que era o oposto de todos os valores que ele cultivou desde tenra idade, foi um choque para Sensui, um verdadeiro divisor de águas na vida dele. Tudo o que ele acreditava e protegia, no fim das contas, era uma farsa.

A partir de então ele, de possa da fita Capítulo Negro, passou a sentir que a existência dos seres humanos era um mal a ser extirpado. Após desaparecer, Sensui, ironicamente, passou a planejar a extinção da humanidade por meio da abertura de um grande buraco negro que permitiria que milhares de youkais entrassem no plano terreno e promovessem uma grande carnificina de seres humanos.

Para poder deter Sensui, o mesmo Sensui que um dia esteve a serviço do Mundo Espiritual, Koenma chama ninguém menos que o sucessor de Sensui no posto de detetive espiritual, Yusuke Urameši e seus amigos. E o resto é história.

Outra dessas cobras criadas do mundo dos animes e mangás é o antagonista-mor do segundo arco de Samurai X (originalmente Rurouni Kenšin), Makoto Šišio.

Foto  - Makoto Šišio.

No tempo do Bakumatsu (guerra civil japonesa que teve lugar entre 1853 a 1869 entre os partidários do Xogunato Tokugawa e os monarquistas), Makoto Šišio foi um retalhador a serviço dos monarquistas. Sucedeu ao protagonista da obra, Kenšin Himura, na condição de assassino das sombras a serviço de seus superiores.

Enquanto exerceu sua função de assassino das sombras, Šišio tornou-se um homem que sabia de muitos segredos dos monarquistas, segredos comprometedores que uma vez tornados públicos deixariam seus superiores em uma posição bem delicada. Além disso, os monarquistas também notaram que Šišio era um homem sedento por poder, e para poder se livrar de um elemento incômodo montaram uma operação de queima de arquivo. Os monarquistas armaram uma tocaia para cima de Šišio, e este não apenas foi baleado, como também gasolina foi despejada sobre seu corpo.

Šišio foi queimado vivo, mas por um milagre do destino sobreviveu à tocaia. Entretanto, a um alto custo físico: por conta das sequelas advindas da tocaia a qual foi submetido, teve suas glândulas sudoríparas destruídas, o que o impossibilita de lutar por mais de 15 minutos. Além disso, passou a ter que andar enrolado por faixas que lhe dão um aspecto similar a uma múmia.

Não apenas Šišio sobreviveu como também sua sede por poder continuou intacta. O espadachim mumificado, agindo sob o lema da lei do mais forte (os fortes sobrevivem e prosperam, os fracos morrem e perecem), passou a almejar a derrubada do governo Meidži, o mesmo governo Meidži que foi constituído por aqueles que um dia o empregaram como assassino das sombras. Para isso constituiu um grupo, o Džuppongatana, que em seu apogeu chegou a dominar alguns vilarejos e povoados do interior do Japão onde a autoridade do governo não se mostrava presente.

Para poder deter Šišio, o governo Meidži, na figura do ministro do interior Tošimiči Ookubo (que anos antes foi um dos principais artificies da Restauração Meidži), resolve recorrer ao antecessor de Šišio como retalhador das sombras, Kenšin Himura, para poder detê-lo. E este vai a Kyoto para poder detê-lo, antes que o Japão venha a ser engolido por mais uma guerra civil.

E a grande ironia do destino é que o espadachim mumificado foi vencido por Kenšin e seus amigos em vida, mas virou o jogo postumamente quando o Japão, ao final do século XIX, adotou como política de Estado precisamente sua filosofia, por meio do lema “Fukoku Kyohei” (País rico, exército forte). Ou seja, o que Šišio em vida queria no fim das contas acabou conseguindo postumamente, sem precisar derrubar o governo encabeçado por aqueles que um dia o empregaram e o queimaram vivo.

Outra dessas cobras criadas é Naraku (cujo nome em japonês significa abismo, inferno), o primeiro e único vilão-mor de Inuyaša, uma das principais obras da renomada mangaká japonesa Rumiko Takahaši.

Foto – Naraku.

Naraku (Narak na dublagem brasileira do anime) se originou de um bandido chamado Onigumo. Certa vez, Onigumo foi submetido a uma tocaia, queimado vivo e jogado em uma caverna para agonizar até a morte. Até que certa vez a sacerdotisa Kikyou, a protetora do artefato mágica Jóia de Quatro Almas, passou a cuidar dele, e com o tempo o imóvel e inerte Onigumo passou a nutrir sentimentos de amor em relação à sua cuidadora. Ele, após tomar conhecimento a respeito da relação de Kikyou com o meio-youkai Inuyaša, se deixou ser devorado por centenas de youkais e dessa fusão nasceu Naraku, que tal como Inuyaša também é um meio-youkai.

Desejoso de ver a Jóia de Quatro Almas corrompida pelo mal, uma das primeiras coisas que Naraku faz após a transformação é armar uma tocaia para cima de Kikyou passando-se por ninguém menos que Inuyaša. Como resultado Kikyou ficou gravemente ferida no ombro direito. Em seguida ele, se passando pela sacerdotisa, devolve a jóia ao vilarejo e ataca Inuyaša. Uma saraivada de flechas é jogada contra o meio-youkai de cabelos prateados. Kikyou se depara com Inuyaša fugindo com a Jóia de quatro almas, pensando que ele sempre a enganou e o lacra em uma árvore com uma flecha de selamento. Logo em seguida Kikyou morre e é cremada junto com a Jóia mágica. Ao passo que Inuyaša fica nessa situação por meio século, até que uma garota vinda do futuro, Kagome Higuraši, ninguém menos que a reencarnação futura de Kikyou, liberta Inuyaša de seu lacre. E o resto é história.

Por fim, falemos sobre um personagem dos seriados tokusatsu que fizeram muito sucesso no Brasil no final dos anos 1980 e primeira metade dos anos 1990, quando tais seriados foram veiculados por emissoras como a finada Manchete e em menor medida por outras emissoras como a Bandeirantes, a Globo e a Record.

Talvez o personagem desses seriados que melhor se encaixa no quesito cobra criada que se levanta contra seus criadores é Ley Barak, que aparece nos episódios 17 a 19 de Flashman, o seriado Super Sentai do ano de 1986.

Foto – Ley Barak.

Barak foi criado pelo Doutor Keflen por meio do sintetizador biomolecular do geneticista do Cruzador Imperial Mess. Certa vez, por volta de 1886, Barak enfrentou Deus Titan (Hero Titan no original), o herói do Planeta Flash, e este não apenas o venceu em combate, como também o poupou. Mess então arma uma tocaia para matar os dois, e Deus Titan, debilitado por conta do efeito Flash Negativo e à beira da morte, o encarregou de entregar o Titan Flash aos heróis terrenos vindouros que, segundo a profecia de Deus Titan, haveriam de enfrentar o Cruzador Imperial Mess. Esses guerreiros são os Flashman. Quinteto de heróis coloridos de origem terrena que foram raptados por Kaura e seu bando ainda pequenos, mas que por milagre do destino foram salvos pelo povo do Planeta Flash.

Um século após a morte de Deus Titan, os Flashman tiveram seu primeiro robô, o Flash King, destruído em combate contra a dupla de monstros Za Skonder. Graças à intervenção de Barak, os heróis ganharam um segundo robô, o Titan Júnior. Barak também tinha outro segredo a contar aos heróis coloridos, o que não foi possível devido à sua morte decorrente dos graves ferimentos que o caçador Kaura lhe infligiu por meio de seu chicote elétrico.

Resumindo a ópera: cobras são criadas, e em determinado momento começam a causar problemas até mesmo àqueles que as criaram no passado. As pessoas ficam horrorizadas quando estas mesmas cobras começam a destilar o veneno e a picar terceiros e até mesmo aqueles que a criaram, sem se dar conta e nem ao menos se perguntar de que ovo elas vieram e quem chocou o ovo de onde elas vieram. Assim o foi com a Al Qaeda, com o Taliban, o Hamas, o Boko Haram, o Estado Islâmico, e talvez assim também o seja com as próximas bolas da vez. É um grande círculo vicioso que vem se repetindo ao longo do tempo, e que certas narrativas que não apenas os grandes meios de comunicação, como também muitos dos comunicadores da direita neocon brasileira em plataformas de vídeo e redes sociais ajudam a perpetuar.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Sionismo e nazismo: duas faces da mesma moeda do fascismo (texto do DCO + comentários meus)

 Israel tem ligações diretas com nazistas europeus, em especial os ucranianos, o que expõe a farsa de acusar de antissemita todos aqueles que criticam o genocida Estado de Israel


A cada dia a política identitária, vinda do imperialismo, vem sendo desmascarada. Os identitários que dizem defender as mulheres, fecham os olhos às mulheres e crianças palestinas assassinadas sistematicamente pelo Estado Fascista de Israel; os que dizem defender negros, fingem ignorar que a criação de Israel ocorreu com a expulsão de um povo de pele escura por brancos europeus.

Mas o que o identitarismo tem a ver com a atual política genocida travada pelos sionistas contra os palestinos? Ora, uma das principais formas de identitarismo é propagada por Israel e pelo imperialismo.

De forma extremamente oportunista, utilizam-se do genocídio que judeus sofreram nas mãos da Alemanha Nazista para blindar o Estado Fascista de Israel e os sionistas de absolutamente qualquer crítica. É proibido criticar o Sionismo pelo genocídio que comete contra o povo palestino. Os críticos são taxados de antissemitas.

Contudo, da mesma forma que a política identitária em relação às mulheres, negros etc. vem sendo desmascarada, já se começa a desmascarar também o identitarismo sionista.

Israel e seus apoiadores acusam os críticos de antissemitismo. Contudo, esse Estado fascista vive estabelecendo alianças com a extrema-direita nazista da Europa.

Segundo denúncia veiculada no sítio de notícias Mint Press News, “em Agosto, o embaixador de Israel na Romênia, Reuven Azar, reuniu-se com o líder do partido de extrema-direita Aliança para a União dos Romenos (AUR), George Simion, provocando indignação em Israel e entre a diáspora judaica”.

Além disto, “ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, instruiu Azar e o líder colono Yossi Dagan a se reunirem com o chefe do partido AUR“, partido este conhecido por negar o Holocausto e exprimir posições antissemitas.

Acontece que esse partido romeno não é o único agrupamento fascista com o qual os sionistas formam alianças.

Em 2019, uma delegação da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido alemão de extrema-direita que tem em si o germe do nazismo, visitou colonatos israelitas na Cisjordânia ocupada e reuniu-se com a ativista pró-colonos Daniella Weiss. Lembrando que tais colonos são israelenses que expulsam a força os palestinos de suas terras, demolindo suas casas e destruindo suas plantações.

Em abril de 2018, o AfD lançou de forma entusiástica uma campanha para que Jerusalem fosse reconhecida como capital de Israel.

Contudo, a principal ligação do sionismo com a extrema-direita europeia repousa nas relações estabelecidas entre o Estado de Israel e o regime nazista da Ucrânia, surgido da revolução colorida do Euromaidan, em 2014.

Desde o golpe de Estado, comandado pelos EUA, Israel não viu problema algum em fornecer armas paras a milícias nazistas que passaram a fazer parte do braço armado da Ucrânia, como por exemplo os batalhões Azov e Aidar, mas outros também.

“O Batalhão Azov ainda usa o símbolo Wollfsangel como parte de seu uniforme, um logotipo amplamente utilizado na Alemanha nazista e que continua popular entre os neonazistas até hoje. De acordo com vários relatórios , o Batalhão Azov utilizou armas fabricadas por grandes empresas de armas israelitas, como a Rafael e a Israel Weapon Industries“.

O fornecimento de armamento aos nazistas ucranianos não é um raio em céu azul. Em primeiro lugar, tais milícias estiveram e estão a serviço do imperialismo, em especial do ianque. Foram fundamentais para o sucesso do golpe do Euromaidan. Israel, como é notório, é aliado dos EUA. Aliás, é uma base militar dos norte-americanos para controlar o Oriente Médio.

Em segundo lugar, antes de ser incorporado (e financiado) pelo regime golpista, o principal financiador do Azov era Ihor Kolomoyskyi, um bilionário banqueiro de nacionalidade israelense, nascido na Ucrânia.

Cumpre informar também que Natan Khazin, que afirma ter sido cofundadro do Azov, é israelense-ucraniano. Assim como os demais, fazem de tudo para jogar para debaixo do tapete a natureza nazista dessas milícias ucranianas.

Ademais disto, há vários israelenses trabalhando em conjunto com ou mesmo compondo os quadros dos batalhões nazistas ucranianos, tais como o Azov.

Em outra matéria publicada no sítio Mint Press News, um desses israelenses era “Konstantyn Batozsky […] que afirmou ter trabalhado como consultor político em Donetsk para o Batalhão Azov entre 2014-15, chegou a defender membros de Azov que tinham tatuagens de símbolos nazis”.

A matéria continua citando fala do próprio israelense apoiador de nazistas ucranianos:

“’Eles eram hooligans do futebol e queriam atenção, então sim, fiquei chocado quando vi caras com tatuagens de suástica’, disse Batozsky sobre os membros do Batalhão Azov que ele conheceu pessoalmente. Ele então seguiu essa declaração dizendo. ‘Mas eu conversava com eles o tempo todo sobre ser judeu e eles não tinham nada de negativo a dizer. Eles não tinham ideologia antijudaica.’ Outro judeu israelita, Daniel Kovzhun, afirma que ‘havia judeus ortodoxos em Azov”, o que, segundo ele, se resumia ao facto de todos os membros serem nacionalistas ucranianos e, portanto, o judaísmo não era um problema’.”

Em suma, Israel tem ligações diretas com nazistas europeus, em especial os ucranianos, o que faz cair por terra o identitarismo sionista, de acusar de antissemita todos aqueles que criticam a ditadura genocida de Israel. Afinal, aqueles que se aliam com partidos e milícias nazistas não são verdadeiros opositores do antissemitismo, apenas demagogos.

Tal aliança tem um caráter imperialista. Mesmo com a guerra, a Ucrânia continua sendo um celeiro para o treinamento de grupos de extrema-direita, que eventualmente podem ser utilizados pelos Estados Unidos para realizar revoluções coloridas em países oprimidos. Paralelamente, e de forma conectada, Israel é uma engrenagem fundamental da ditadura mundial do imperialismo. Inúmeras forças de segurança de países oprimidos sob o controle do imperialismo fazem treinamento em Israel ou com agentes israelenses.

Enquanto o nazismo de outrora era uma expressão primariamente do imperialismo alemão, o atual é uma expressão do imperialismo norte-americano. Assim como o sionismo. São duas engrenagens que servem à manutenção da ditadura mundial do imperialismo.

Assim, a política identitária segundo a qual criticar Israel e o Sionismo é antissemitismo é uma farsa. E deve ser desmascarada.

Fonte: Sionismo e nazismo: duas faces da mesma moeda do fascismo • Diário Causa Operária (causaoperaria.org.br)

MEUS COMENTÁRIOS

É um ótimo artigo que encontrei no Diário da Causa Operária, publicado no dia 12 de outubro do presente ano. Um artigo que ajuda a derrubar a tese muito propalada por partidários de Israel de que anti-sionismo é sinônimo de anti-semitismo. Algo que faz tanto sentido quanto dizer, por exemplo, que jogador de futebol é sinônimo de salários milionários (algo que só uma minoria deles recebe, diga-se de passagem).

AUR, AfD, Azov, Setor de Direita... Talvez isso seja apenas a ponta do iceberg. E saber que Israel de alguma forma está ligado (ou pelo menos veio tendo conchavos com eles) a tais grupos e partidos de extrema direita na Europa (alguns dos quais até hostis aos judeus enquanto povo) é grave e à primeira vista pode parecer algo absurdo e ilógico, mas para mim não é nenhuma surpresa, dado todo o histórico de conchavos e colaboracionismo dos sionistas desde os tempos de Theodor Herzl com a fina flor do anti-semitismo europeu, desde o Caso Dreyfuss na França e os pogroms na Rússia Imperial tardia. Fora a cereja do bolo que ficou de fora: a colaboração dos sionistas com os nazistas NO TEMPO DE HITLER (vide o acordo Ha’avara entre os sionistas alemães e a Alemanha nazista, antes de a guerra na Europa começar). Em 2018 trouxe para cá alguns textos traduzidos do espanhol e do inglês sobre este assunto.

A história mostra que desde os tempos de Theodor Herzl sionismo e anti-semitismo sempre estiveram juntos, e pode-se dizer inclusive que os dois na verdade são duas faces de uma mesma moeda e que um alimenta o outro e vice-versa. E isso é o bastante para mostrar que dizer que anti-sionismo e anti-semitismo são sinônimos é uma lorota que não faz sentido algum.

E para não ficar presos somente à Europa, vale lembrar que Israel também apoia o separatismo curdo em países como o Iraque e a Síria, como forma de balcanizar a região e criar estados-tampão à sua imagem e semelhança. E quem diz isso não sou eu, e sim o professor e historiador Ramez Maalouf.

Por fim, algumas palavras sobre a questão ucraniana. A respeito do apoio de oligarcas judeus com cidadania israelense tais como o citado Igor Kolomojskij (ex-governador biônico da província de Dnipropetrovsk) a grupos como o Setor de Direita, o Batalhão Aidar e o Batalhão Azov, isso é algo que é de conhecimento público desde no mínimo 2014, na época do golpe do Euromaidan.

Entretanto, nesse caso específico do apoio de oligarcas judeus ucranianos a batalhões de extermínio neonazistas, lanço uma ressalva, uma indagação sobre a natureza desse apoio: será que esses oligarcas na verdade utilizam esses neonazistas ucranianos como bucha de canhão nas mãos deles se aproveitando do ódio que eles nutrem em relação à Rússia (e assim matando dois coelhos de uma tacada só)?

Isso me faz lembrar uma cena do episódio 94 de Cavaleiros do Zodíaco (o qual na versão brasileira recebeu o título de “Laços entre irmãos”), da saga de Asgard (exclusiva da versão animada), na qual Shun de Andrômeda diz ao guerreiro deus Bado de Alkor que ele só estava sendo usado pela Hilda e que a representante terrena de Odin (na ocasião sob o efeito do feitiço do anel de Nibelungos) se aproveitava do ódio que ele sentia em relação ao irmão gêmeo dele, Shido de Mizar por conta do fato de ele ter sido abandonado pelos pais logo após nascer enquanto que Šido foi o escolhido da família por conta das leis e superstições existentes em Asgard sobre gêmeos (e mesmo depois de ambos os irmãos teriam sido escolhidos como Guerreiros Deuses, Bado continuou sendo a sombra de Shido), e nisso fazia dele uma arma que ela usava a seu bel prazer em seus desígnios. Além de engambelá-lo com promessas de que Bado tornar-se-ia o legítimo Guerreiro Deus de Zeta caso Shido fosse vencido e morto em combate.

Outro exemplo vindo do mundo dos quadrinhos e animações japonesas: em Samurai X, na saga dos cristãos (exclusiva da animação), o corrupto cardeal Kaioh se aproveitava do ódio que o espadachim cristão Šogo Amakusa nutria em relação ao Japão por conta da secular perseguição aos cristãos nipônicos durante o período Tokugawa (1603 – 1868) para usá-lo a seu bel prazer como uma máquina de guerra em seus desígnios. Como um peão em um grande jogo de xadrez, que cedo ou tarde haveria de ser sacrificado em nome de seu projeto político.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Freeza e Rei Vegeta, parte IX

 

Foto – Freeza e Rei Vegeta III (episódio 78 de Dragon Ball Z).

E com vocês, depois de um grande hiato, trago a nona parte da série de artigos Freeza e Rei Vegeta, iniciada no ano retrasado. Só que dessa vez, ao invés de tratar sobre questões relativas aos povos indígenas das Américas como nos artigos anteriores, no presente artigo irei falar a respeito da escalada de tensões no Oriente Médio entre Israel e Palestina. Um problema que se arrasta desde a criação do Estado de Israel, em 1948, e a nakba (tragédia) da população palestina que fez com que muitos árabes palestinos fossem expulsos de suas terras e deslocados para países vizinhos como Síria, Egito, Jordânia e Líbano.

Nos últimos dias, a situação na Palestina vem passando por uma escalada de tensões por conta de ataques do grupo Hamas à Israel no dia sete de outubro do presente ano. Como não poderia deixar de ser, esse ataque ensejou uma declaração de guerra da parte do premiê de Israel, Benjamin Netanyahu.

Ao que tudo indica, trata-se de uma operação de false flag da parte dos israelenses, talvez até uma armadilha preparada pela própria inteligência israelense na qual os atacantes no fim das contas ajudaram a armar a arapuca que depois será usada para apanhá-los. Um ataque do qual até se tinha conhecimento prévio e do qual nada foi feito para impedi-lo, com vistas a eventuais ganhos e dividendos da parte de Netanyahu e as forças políticas a ele ligadas com vistas a justificar, por exemplo, anexações de mais territórios por parte de Israel e estabelecimentos de colônias judaicas em terras palestinas. Tudo o que ele precisava para sair do lamaçal no qual se debatia e posar perante a população como o salvador da pátria. Mas este não é o ponto sobre o qual pretendo discorrer no presente artigo.

O que mais me chama a atenção a respeito de toda a repercussão do recente ocorrido no Oriente Médio é a maneira como muitas pessoas olham a questão do terrorismo, quando chamam grupos como o Hamas e outros afins de terroristas. Em especial os grupos e políticos da direita neocon brasileira, os quais se aproveitaram da situação para querer vincular Lula ao Hamas, principalmente depois que o petista se manifestou a respeito dos ataques com as seguintes palavras: “Fiquei chocado com os ataques terroristas realizados hoje contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas. Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas”, ele disse. Lula também endossou que para a solução do conflito deve ser buscada uma solução na qual “garanta a existência de um Estado Palestino economicamente viável, convivendo pacificamente com Israel dentro de fronteiras seguras para ambos os lados”.

Entre esses políticos, Eduardo Bolsonaro, o 03 (vulgo Dudu Bananinha), lembrou o fato de que o Hamas felicitou Lula pela vitória nas eleições presidencial do ano passado. Sendo que o político pernambucano também recebeu felicitações de muitos outros políticos e chefes de Estado, entre eles o francês Emmanuel Macron, a italiana Giorgia Meloni, o inglês Riši Sunak, o alemão Olaf Scholtz, o estadunidense Joe Biden, o russo Vladimir Putin, o ucraniano Volodymyr Zelenskij, o português Antônio Costa, o canadense Justin Trudeau, o mexicano Andrés Manuel Lopes Obrador, o húngaro Viktor Órban, o chinês Xi Jinping, entre tantos outros.

Também é digno de nota o bate-boca recente entre Lindbergh Farias (PT – RJ) e Carla Zambelli (PL – SP), na qual a antiga membra do Femen acusa o petista de não responder se o Hamas é ou não é terrorista e de complacência de setores da esquerda brasileiro com o terrorismo de grupos islâmicos como o Hamas.

Nikolas Ferreira também postou vídeo sobre os últimos ocorridos, no qual do alto da demagogia tão típica de elementos como ele acusa a esquerda brasileira como um todo de ser cúmplice do terrorismo do Hamas.

E de cereja do bolo, o pronunciamento do ex-presidente Bolsonaro em marcha contra o aborto em Belo Horizonte, com as seguintes palavras: “Quando se fala de terroristas, nós nos lembramos do que aconteceu no dia de ontem em Israel. Lá sim, não aconteceu uma tentativa de golpe de Estado, mas um ataque terrorista patrocinado pelo Hamas, que são aliados do PT e de Lula aqui no Brasil”. No X (antigo Twitter), o ex-presidente também se lembrou dos elogios do Hamas a Lula após a vitória dele no pleito eleitoral do ano passado ser anunciada.

Pelo que eu estou vendo, esse pessoal da direita que tanto fala em terrorismo do Hamas e palavras de ordens afins não sabe que antes da criação do Estado de Israel em 1948 os sionistas também se organizaram em grupos de guerrilha e luta armada tais como o Haganah, o Irgun, o Palmach, o Lehi (grupo esse que chegou a propor uma aliança militar com o Terceiro Reich) e o Stern. Em outras palavras, Israel é um Estado que foi fundado sob o signo do terrorismo.

Um dos poucos que vi falar sobre os dias de terroristas dos sionistas foi o dono da página História Islâmica, Mansur Peixoto. O qual postou a seguinte mensagem na comunidade de sua página no You Tube:

“Quem introduziu e disseminou no Oriente Médio o conceito da guerra urbana via atentados terroristas e mesmo grupos terroristas foi a própria vanguarda sionista. Organizações terroristas sionistas como o Irgun, Lehi, Haganah e o Palmach, visando pressionar as autoridades britânicas para que não mediassem mais a vinda de imigrantes judeus europeus, bem como para aterrorizar árabes palestinos a fugirem, fizeram dezenas de atentados e massacres em todo território do Mandato Britânico da Palestina após a tomada do território otomano na Primeira Guerra Mundial, atiçando ainda mais a revolta árabe com a crescente presença sionista na região. Inúmeros soldados e oficiais britânicos, membros das Nações Unidas, combatentes e civis árabes foram vítimas dessas ações terroristas sanguinárias.

Após a criação do Estado de Israel em 1948, diversas lideranças desses grupos terroristas passaram a formar a chefia do governo israelense, podendo agora dar continuidade aos massacres de árabes e tomada de território palestino sem a condenação pública por terrorismo, já que este fora transferido para a autoridade estatal sionista, reconhecida e apoiada internacionalmente, e claro, sob o pretexto de combater o Hamas (grupo militante originalmente criado por Israel para minar o poder de Yasser Arafat, e terem uma justificativa para continuas ''retaliações'' coordenadas). Talvez o exemplo mais famoso desta transformação de "terroristas em políticos oficiais'' seja o caso de Ytzhak Shamir, antigo líder do grupo Lehí, responsável não só pela morte de centenas de árabes em ataques terroristas, como também de membros da ONU, que após a criação do Estado de Israel se tornou Primeiro Ministro”.

Foto – Em cima: treinamento de radicais do grupo Irgun em 1947 (esquerda), escombros do Hotel King David após o atentado que ceifou a vida de 91 pessoas em 1946 (direita). Abaixo: oficiais britânicos enforcados por militantes do Irgun. Créditos: Comunidade da Página História Islâmica no You Tube.

E o que eu quero é aqui é isso, lembrar às pessoas que os sionistas que hoje se queixam do terrorismo do Hamas também tiveram os dias de terroristas deles.

Em 2018 postei aqui mesmo alguns textos que eu mesmo traduzi do inglês e do espanhol a respeito desse assunto, textos não apenas sobre o passado dos sionistas e das primeiras lideranças do Estado de Israel como membros de grupos terroristas paramilitares, como também sobre o histórico de conchavos e colaboração dos sionistas desde os tempos de Theodor Herzl com a fina flor do antissemitismo europeu. Do caso Dreyfuss na França e dos pogroms da Rússia Imperial tardia aos nazistas (e até mesmo um pouco mais além). Textos estes publicados dentro do contexto da vitória eleitoral de Jair Bolsonaro.

Voltemos a Bolsonaro pai. Nos idos de 2009 e 2010, Jair Messias Bolsonaro (PP-RJ), então o deputado federal do baixo clero que ele durante muito tempo foi, disse em pronunciamentos que Dilma Rousseff, à época candidata petista para a Presidência da República, não poderia se tornar Presidente da República por conta do passado dela como membra de grupos de guerrilha e luta armada no período do regime civil-militar brasileiro (1964 – 1985), entre eles o Colina e o VAR-Palmares. Até chegou a fazer uma leitura da ficha corrida dela em um desses pronunciamentos. 

Uma ficha que inclui atos tais como o assalto à residência de Adhemar de Barros (então governador de São Paulo) e assassinatos em decorrência de ações armadas como o do oficial do exército brasileiro Mário Kozel Filho e o do capitão norte-americano Charles Rodney Chandler, ambos ocorridos em 1968.

Não só ela, como também muitos outros futuros membros do Partido dos Trabalhadores participaram de tais grupos à época, entre eles José Dirceu, Franklin Martins, Carlos Minc, Diógenes de Oliveira e José Genoíno, e até fizeram treinamento de guerrilha em Cuba. Grupos esses que estiveram envolvidos em sequestros de embaixadores, assassinatos de militares estrangeiros (como foi o caso do major alemão Edward von Westernhagen, assassinado em 1968 pelo grupo COLINA depois de ter sido confundido com Gary Prado, o responsável pela captura e morte de Che Guevara na Bolívia um ano antes), assaltos a bancos para financiar grupos armados e outros. Além de terem participado de episódios como a Guerrilha do Araguaia.

Nessa mesma época, Bolsonaro também se posicionou a favor da extradição (a qual veio a se concretizar anos mais tarde, em 2019) de Cesare Battisti, membro do grupo armado italiano PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) nos anos 1970 que depois de passagens pela França e pelo México recebeu asilo político no Brasil em 2009 por decisão do então ministro da justiça Tarso Genro, de volta à Itália com uma retórica bem similar, batendo na tecla do passado dele nos anos de chumbo da história da Itália (nos quais também atuavam grupos de extrema direita egressos do fascismo tais como o Terza Posizione, o Ordine Nuovo e a Vanguarda Nacional) e os quatro crimes imputados a ele (os quais ele veio a admitir depois de ser enfim preso e extraditado).

Como nós sabemos muito bem, Bolsonaro é um notório apoiador do Estado de Israel, e no tempo de baixo clero dele periodicamente tecia críticas à política externa dos governos petistas por conta dos relacionamentos destes com países como Cuba, Venezuela, Bolívia, Líbia, Irã e outros (sendo que nos governos petistas o Brasil nunca deixou de se relacionar com as democracias ocidentais, como os Estados Unidos, a França, a Inglaterra, a Alemanha e outras. E que estas nunca tiveram o menor pudor em se relacionar com as mais abjetas ditaduras e regimes repressivos mundo afora, tais como o Zaire de Mobutu, o Haiti da Dinastia Duvalier, as Filipinas de Ferdinando Marcos, a África do Sul no tempo do apartheid e o Irã do xá Reza Pahlevi). Há uma foto de dois dos filhos dele, Carlos e Eduardo (vulgo 02 e 03), andando pelas ruas de Jerusalém com camisas do Mossad e da IDF.

Foto – 02 e 03 nas ruas de Jerusalém com camisas do Mossad e da IDF.

Depois que Dilma tornou-se Presidente da República, em 2014 a política gaúcha condenou as ações de Israel na Faixa de Gaza após mais uma crise na conturbada região, lá estava Jair Messias Bolsonaro para escrever e enviar uma nota para o então embaixador de Israel no Brasil em 25 de julho do mesmo ano. Na nota em questão, Bolsonaro prestou solidariedade e apoio moral a Israel e comparou a luta que Israel vem travando com o Hamas (grupo esse que na verdade foi uma criação do próprio Estado de Israel, como forma de criar uma oposição controlada pelo sistema e ao mesmo tempo criar dentro dos palestinos um contraponto a Yasser Arafat – uma estratégia similar a que a ditadura civil-militar brasileira, na figura do general Golbery do Couto e Silva, teria usado em seu ocaso para conter Brizola dentro da esquerda ao promover e criar a figura de Lula) com a luta que o regime civil-militar em seu apogeu travou contra grupos guerrilheiros de esquerda. E pede desculpas ao povo israelense por aquilo que classificou como “manifestação destrambelhada, inoportuna, hipócrita e covarde manifestação do Governo Brasileiro”.

Foto – Carta de Bolsonaro ao então embaixador de Israel. 25 de julho de 2014.

Ainda em 2014, mais precisamente em 15 de julho, Bolsonaro teve um breve bate-boca com a deputada Jandira Feghali (PCdoB – RJ) a respeito da questão Israel x Palestina. A esquerdista manifestou-se contrária às políticas de Israel, ao lado de outros deputados com pequenos cartazes escritos “Palestina Livre”, quando eis que foi cortada por Jair Bolsonaro com gritos de ordem como “abaixo o terrorismo na Palestina” e “chega de terrorismo”.

Dois anos depois disso, o mesmo Bolsonaro dedicou seu voto favorável ao impeachment de Dilma em memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador da ditadura civil-militar finado um ano antes disso. Também em 2016 Bolsonaro foi batizado pelo Pastor Everaldo no Rio Jordão, quando o processo de impeachment de Dilma ainda corria no senado.

E o mais curioso de todo é que o mesmo Bolsonaro não aplica essa mesma lógica para com os primeiros líderes de Israel. Pois pela lógica que Bolsonaro aplicou para com Dilma antes da petista tornar-se Presidente da República, figuras como Menachem Begin, Ariel Šaron e Itzhak Šamir, os quais foram membros de grupos como o Lehi e o Irgun, também não deveriam ter sido premiês de Israel (sendo que aquilo que Mansur Peixoto classifica como “transformação de terroristas em políticos oficiais” em Israel se deu inclusive antes mesmo da fundação do Partido dos Trabalhadores, em 1979). Dois e pesos e duas medidas? Cherry picking? Ou será que no fundo toda essa verborragia da parte de Bolsonaro e companhia limitada esconde o fato de que eles na verdade têm os terroristas de estimação deles? Em outras palavras, aqueles que, na visão deles, são os terroristas do bem. Os terroristas que, ao que tudo indica, não vêm ao caso para eles.

Que fique bem claro uma coisa: ao falar sobre os dias de terroristas dos sionistas não estou aqui para justificar nada do que o Hamas faz ou deixa de fazer. Atentados, matanças, nada disso. Não é esse o meu propósito, passa bem longe disso. E sim mostrar a hipocrisia (com uma pitada de cherry picking) da direita neocon brasileira (em especial Bolsonaro e seu clã mafioso) na questão do terrorismo. Por que eles se mostram uns leões quando falam não apenas do Hamas e do Hezbollah, como também dos grupos de luta armada no tempo da ditadura civil-militar brasileira como os já citados Colina e VAR-Palmares, do Cesare Battisti (hoje preso na Sardenha) e sua participação no PAC durante os anos de chumbo da Itália, do alemão Baader-Meinhof, das Farc na Colômbia, do Exército Zapatista de Libertação Nacional no México e outros similares, mas ao mesmo tempo se calam não só sobre Irgun, Stern, Haganah, Palmach e Lehi na Palestina sob o mandato colonial britânico, como também sobre Patria y Libertad no Chile durante o governo Allende (1970 – 1973), Triple A na Argentina pré-golpe de 1976, os grupos de extrema direita atuantes na Itália e na Alemanha nos anos 1970 e 1980, Batalhão Azov e Setor de Direita (cuja bandeira apareceu em manifestações pró-Bolsonaro no Brasil) na Ucrânia atual, os perpetradores do fracassado atentado do Riocentro em 1981 (um dos muitos episódios de terrorismo de extrema direita no Brasil entre 1964 a 1985), entre tantos outros que podem ser listados.

Aliás, o próprio Bolsonaro, à época paraquedista do Exército, chegou a elaborar um plano para explodir bombas-relógio em unidades militares do Rio de Janeiro em reinvindicação por melhores salários para sua tropa. Ele até enviou uma cópia do plano do atentado à revista Veja um ano depois à revelia de seus superiores (letra essa que segundo laudo da Polícia Federal é do próprio Bolsonaro). Por conta disso foi afastado e exonerado do Exército. Em decorrência dessa brincadeira, Bolsonaro foi preso por 15 dias.

Foto – Cereja do bolo: o plano do atentado de 1986, segundo a revista Veja.

Fontes:

Bolsonaro diz que Hamas é aliado de Lula e do PT. Disponível em: Bolsonaro e mídia ligam Lula e PT ao Hamas - Eduardo Guimarães - Brasil 247

Bolsonaro e mídia ligam o PT ao Hamas. Disponível em: Bolsonaro e mídia ligam Lula e PT ao Hamas - Eduardo Guimarães - Brasil 247

Bolsonaro foi preso por 15 dias na década de 1980 após artigo para Veja. Disponível em: Bolsonaro já foi preso; entenda o motivo (uol.com.br)

Líderes internacionais dão parabéns a Lula por vitória na eleição. Disponível em: Líderes internacionais dão parabéns a Lula por vitória na eleição (poder360.com.br)