sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Homenagem - 10 anos sem Saddam Hussein.


Foto – Saddam Hussein (1937 – 2006).
Hoje, 30 de dezembro de 2016, completaram-se 10 anos da morte de Saddam Hussein Abd al-Majid al-Tikrit. Nascido na cidade de Tikrit em 28 de abril de 1937, Sadddam Hussein é ao lado de nomes como Muammar al-Kadaffi e Gamal Abdel Nasser o maior líder da história recente do mundo árabe. Governou o Iraque como presidente no período entre 16 de julho a 1979 a 9 de abril de 2003 e como primeiro-ministro entre 1979 a 1991 e 1994 a 2003.
Saddam Hussein pertencia ao partido Baath[1] (termo em árabe que significa renascimento), fundado na Síria em 1943 e de caráter nacionalista, laico e pan-árabe, e seu governo é fruto de um processo que se inicia com a Revolução dos Oficiais Livres em 1958 sob a liderança do general Karim Kassem. Como resultado da Revolução de 1958, a monarquia hashemita, que anos antes fizera uma série de concessões ao imperialismo ocidental (entre elas a entrega do petróleo iraquiano e de bases militares aos britânicos por meio do pacto de Bagdá, assinado três anos antes junto com Inglaterra, EUA, Turquia e Paquistão), foi derrubada, a família real executada e a população tomou conta das ruas de Bagdá.
No plano ideológico, a Revolução de 1958 teve uma forte influência da vitória da União Soviética na Segunda Guerra Mundial, assim como das ideias pan-arabistas do líder egípcio Gamal Abdel Nasser (o qual apoiou a própria Revolução Iraquiana junto com o Partido Comunista Iraquiano). O pan-arabismo basicamente propunha a unidade dos povos árabes sob uma única autoridade política, algo da qual careciam desde o ano 756 devido à secessão do Emirado de Córdoba em relação ao Império Islâmico, então sob a autoridade da Dinastia Abássida. Para tal Nasser fundou junto com os baathistas sírios a República Árabe Unida unindo Síria e Egito como primeiro passo para tamanho esforço. Ou seja, o que Nasser queria com o pan-arabismo nada mais é que a mesma coisa que o comandante Hugo Chávez propunha para as nações latino-americanas com o bolivarianismo. Pois como Simon Bolívar uma vez disse, “União! União! Ou a anarquia os devorará!”. Ou vocês acham que sozinhas e desunidas como se fossem gravetos jogados ao chão as nações da América Latina, da África, da Europa (que, diga-se de passagem, mostrou-se extremamente subserviente aos Estados Unidos nos recentes conflitos no Mundo Islâmico) e do Oriente Médio terão alguma chance de resistirem e sobreviverem diante do poder militar, bélico e ideológico do imperialismo anglo-americano? O destino que o Iraque teve a partir de 2003 e a Líbia a partir de 2011 são sintomáticos disso. E lembrem-se o imperialismo anglo-americano possui uma atuação global e não restrita a partes de dois ou três continentes como era com os impérios dos tempos antigos e medievais.
Kassem foi sucedido em 1963 por meio de um golpe de Estado militar, com Abdul Salam Aref se tornando presidente. Para o Baath, que em 1958 tinha apenas cerca de 1000 militantes, esse foi um período de aprendizado e fortalecimento. Superou uma série de deficiências e seus divisionismos internos e em fevereiro de 1968, por meio de um Congresso, prepara sua volta ao poder. E é ai que entra em cena a figura de Saddam Hussein. Em 1968 ele, que esteve preso entre 1964 a 1967 e que se tornou em pouco tempo um dos principais quadros do Partido Baath a ponto de se tornar seu secretário, participou do golpe de Estado liderado por Ahmad Hassan al-Bakr que depôs Abdul Rahman Aref (irmão de Abdul Salam Aref). Saddam foi nomeado vice-presidente de Al-Bakr, assim como presidente adjunto do Conselho de Comando Revolucionário do Partido Baath.
Sob seu governo, o Iraque se tornou um dos países mais ricos e desenvolvidos do dito Terceiro Mundo. Tudo isso em boa medida graças à nacionalização do petróleo. Para isso, Saddam Hussein, que antes fizera acordos com a União Soviética e a França, teve que enfrentar as Sete Irmãs do petróleo (as mesmas que hoje querem meter a mão no pré-sal brasileiro), os EUA e a Inglaterra, os quais no fim cederam. Em 1979, com o afastamento do então presidente Ahmed Al-Bakr, Saddam, até então seu vice e que já era o verdadeiro homem-forte do país, assumiu a chefia do Estado iraquiano. Outras realizações do governo Saddam Hussein no Iraque incluem alfabetização em massa, as mulheres passaram a ter um peso e participação notável na sociedade, 90% da indústria em mãos do Estado, 80% da agricultura cooperativada, criação de uma base científica e tecnológica, política externa independente e ativa cujo foco principal era a unidade árabe, reconhecimento do povo curdo como parte integrante fundamental do Iraque, respeito aos direitos de outras etnias, renascimento cultural árabe, recuperação das milenares raízes de uma terra que foi berço de várias civilizações ao longo da história.
Um ano após sua ascensão a chefia do Estado Iraquiano, teve que enfrentar uma guerra de oito anos contra o Irã, onde os EUA apoiaram os dois lados da contenda. E, como se não bastasse isso, teve que enfrentar em 1991 a primeira invasão anglo-americana, que foi sucedida por tentativas de separatismo da parte dos curdos no norte e dos xiitas sob a liderança do Partido al-Dawad no sul (que o exército iraquiano prontamente reprimiu). Nesse episódio em questão (que foi um embate estritamente político, diga-se de passagem), o que Saddam fez utilizar-se da força para manter a integridade territorial de seu país. Ou será que um líder de sua estatura ficaria de braços cruzados vendo seu país sendo repartido como se fosse uma pizza? E não é dando flores e abraços que se vence essa gente. Depois da Primeira Guerra do Golfo, houve as sanções econômicas que se arrastou por mais de 10 anos, o qual trouxe grandes prejuízos e sofrimentos para a nação iraquiana. Tudo isso sob o pretexto de que o fim das sanções poderia ajudar na recuperação e fortalecimento da indústria armamentista iraquiana. O golpe final veio em 2003, com a segunda invasão anglo-americana ao Iraque, e a subsequente prisão, julgamento farsesco e execução do líder iraquiano.
Tal qual acontece com vários líderes que ousaram desafiar o poder global vigente, o nome de Saddam Hussein é muito difamado pelos grandes meios de comunicação (que não por acaso estão a serviço do status quo desse mesmo poder global vigente). Inúmeras foram as mentiras que foram criadas em torno de sua figura, as quais serviram de justificativa para as invasões anglo-americanas ao Iraque em 1991 e 2003 (e que infelizmente até mesmo setores expressivos de esquerda as engoliram). Entre elas o suposto gaseamento aos curdos de Halabja em 1998 e as supostas armas de destruição em massa que o líder iraquiano tinha à época da segunda invasão anglo-americana, assim como fantasiosas relações com a Al Qaeda de Osama Bin Laden. Também se faz muita fanfarra em torno das relações de Saddam Hussein com os Estados Unidos nos anos 1980.
Vamos aos fatos sobre cada uma dessas acusações, pois são mitos que, além de serem muito repetidos pela mídia de massa ocidental (e como dizia Goebbels, “uma mentira repetida mil vezes se torna verdade”), ajudaram a justificar as barbaridades que o Iraque sofreu na mão do imperialismo anglo-americano desde 1991:
1 – Questão curda: Em 1970, Saddam Hussein reconheceu uma das línguas curdas como um dos idiomas oficiais do Iraque, assim como a bi-nacionalidade do Estado iraquiano, e com isso os curdos ganharam parlamento próprio e ministros em Bagdá. Enquanto isso, a Turquia, que desde que o Império Otomano foi abolido em 1923 é um estado nacional baseado no nacionalismo exclusivista étnico de origem européia (tal qual Israel e a Arábia Saudita), até hoje nunca fez algo do tipo, e assim a questão curda continua a ser um problema para a Turquia até hoje. Posteriormente, como já mencionado acima, Saddam Hussein teve que enfrentar um levante curdo no norte do Iraque após a Primeira Guerra Mundial junto com um levante xiita no sul. Entretanto, o que houve nessas ocasiões não foram perseguições de caráter étnico, e sim embates de caráter político contra movimentos separatistas. Ou vocês acham que um líder da estatura de Saddam Hussein ficaria de braços cruzados vendo seu país se desintegrar em vários pedaços para a alegria do imperialismo anglo-americano e seus sequazes locais?
2 – Guerra contra o Irã (1980 – 1988): Muitos dizem que Saddam Hussein (que em 1979 se mostrou simpático quanto a queda do xá) promoveu entre 1980 a 1988 uma guerra por procuração contra o Irã no período entre 1980 a 1988 a mando dos Estados Unidos. Primeiramente, há de se registrar que em 1982, reconhecendo derrota ante o Irã, Saddam fez um pedido de paz que Khomeini recusou, alegando que só aceitaria a paz caso o regime baathista fosse deposto. No curso da guerra Saddam faria outras propostas de paz, igualmente rejeitadas por Khomeini[2].
Entretanto, em tal conflito os EUA, na época sob a presidência de Ronald Reagan, também apoiou o Irã no curso da guerra, tanto indiretamente por meio de aliados como o Paquistão e a Argentina quanto diretamente por meio do escândalo Irã-Contras a partir de 1985, onde o dinheiro da venda de armas ao Irã era utilizado para financiar a guerrilha reacionária dos Contras na Nicarágua e que quase levou Ronald Reagan a impeachment. Com o apoio aos dois beligerantes em questão, o que Washington queria é que Bagdá e Teerã se digladiassem até a exaustão de forma que se destruíssem mutuamente.
3 – Episódio de Halabja: Tal episódio se deu em 1988, durante um enfrentamento entre iranianos e iraquianos próximo ao vilarejo de Halabja, no nordeste do Iraque, próximo à fronteira com o Irã. Na época, o então de Estado dos EUA, George Schultz, acusou Saddam Hussein de utilizar armas químicas contra os curdos. Em decorrência de tal acusação, o senado dos EUA aprovou por unanimidade sanções econômicas contra o Iraque. Entretanto, quem de fato promoveu o ataque foram os iranianos, em decorrência de um erro durante a batalha. O gás utilizado pelos iraquianos na época era o gás mostarda, e o gás que flagelou Halabja na ocasião era o cianeto, o gás utilizado pelos iranianos. Entretanto, essa acusação foi na época desmentida por Stephen Pelletiere, ex-analista da CIA. Mas, se um ex-analista da CIA desmentiu tal conto, por que muita gente continuou a engolir tal conto? Porque as provas divulgadas por ele foram ignoradas e omitidas pela mídia ocidental. Como não teve sua devida desmistificação, tal acusação foi largamente usada como a grande prova de que Saddam Hussein oprimia seu povo e serviu de pretexto para as invasões de 1991 e 2003.
4 – Relações com os EUA: O Iraque durante a década de 1980 de fato manteve relações com os Estados Unidos. Entretanto, a aproximação entre Bagdá e Washington foi meramente tática, e dessa forma em momento algum ajudou a exercer a política da Casa Branca no Oriente Médio: Saddam Hussein não reconheceu o Estado de Israel (o mesmo Israel que em 1981 destruiu com a usina nuclear de Osirak por meio de um ataque aéreo e que até 2003 olhava o Iraque como um de seus principais inimigos na região), continuou a apoiar a causa palestina (haja vista que em 1987 autorizou o pagamento de indenização às famílias de todos os mártires palestinos mortos na Intifada daquele ano), manteve as relações com países árabes hostis ao Ocidente e em sua política exterior sempre priorizou o relacionamento com países periféricos. Haja vista seu apoio aos sandinistas na Nicarágua durante a década de 1980 e seus posicionamentos favoráveis a independência de Porto Rico em relação aos EUA.
Outro episódio digno de nota é que em 1982, quando Israel invadiu o Líbano, Saddam Hussein permitiu que a guarda revolucionária iraniana a cruzar o espaço aéreo iraquiano em direção ao Líbano para ajudar na formação de um grupo de resistência aos invasores israelitas, ajudando assim no nascimento do Hizbollah. Além disso, nunca abdicou da política de bem-estar social e manteve o petróleo iraquiano sob controle estatal, assim não fazendo concessão alguma ao capital multinacional. Que vassalo era esse que em várias questões estava em desacordo com a Casa Branca? E ao contrário, por exemplo, do Irã, que durante o processo de desintegração da Iugoslávia na década retrasada deu apoio aos bósnios liderados por Alija Izetbegović[3] e assim fez coro à ofensiva de Estados Unidos e Alemanha contra a Iugoslávia.
Fica aqui nossa homenagem a Saddam Hussein. Um líder que, mesmo depois de preso, ainda assim se dizia como o líder legítimo eleito pelos iraquianos e que em seu julgamento farsesco volta e meia peitava os juízes que lhe acusavam (será que Lula terá a mesma atitude caso venha a ser julgado em tribunal pela República de Curitiba?). Foi sem dúvida um gigante que pisou sobre a face da Terra. Um grande terceiro-mundista e opositor do imperialismo anglo-americano e do poder sionista, assim como um grande amigo do Brasil e da América Latina. Também fica aqui nossa indignação quanto ao fato de que nenhum partido dito esquerdista brasileiro (alguns dos quais vivem apoiando terroristas em conflitos como a Síria e a Líbia) lhe prestar homenagens. Isso mostra como a esquerda brasileira está falida nos campos moral e intelectual e colonizada até as entranhas pela máquina de propaganda ocidental e seus mitos. Se nada for feito contra isso, o lixo da história a aguarda.
Saddam Hussein, presente!

Foto – Saddam a cavalo em Bagdá.

Fontes:
1968: o ano da Revolução no Iraque. Disponível em: http://www.horadopovo.com.br/2000a/maio/23-05-00/pag6e.htm
O presidente Saddam Hussein é o Che Guevara do século XXI. Disponível em:
Os sete mitos criados pela mídia ocidental que ajudaram a destruir o Iraque. Disponível em:
Os sete mitos criados pela mídia ocidental que ajudaram a destruir o Iraque (2). Disponível em:
Os sete mitos criados pela mídia ocidental que ajudaram a destruir o Iraque (3). Disponível em:
Os sete mitos criados pela mídia ocidental que ajudaram a destruir o Iraque (4). Disponível em:
Simón Bolívar (em espanhol). Disponível em: https://es.wikiquote.org/wiki/Sim%C3%B3n_Bol%C3%ADvar


NOTAS:


[1] Leia-se “Baas”, pois no árabe a partícula th tem som de s.
[2] Leia-se “Rromeini”, pois no persa, assim como em idiomas como o árabe, o russo e o mongol, a partícula kh tem o mesmo valor do ch no alemão e no polonês, do h no inglês e no húngaro e do j no espanhol: r aspirado.
[3] Leia-se “Aliia Izetbegovitch”, pois no servo-croata e no bósnio as partículas j e ć tem valor de i e tch, respectivamente.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Indicação de leitura, parte 2 - O Mercador de Veneza.


Foto – Capa do livro “O Mercador de Veneza”. Edição Martin Claret.
O escritor inglês William Shakespeare, nascido em Stratford Upon-Avon em 23 de abril de 1564 e falecido na mesma cidade em 23 de abril de 1616 aos 62 anos, é comumente tido como um dos grandes gênios literários e dramaturgos da história da humanidade. Sua fama é tal que Roberto Gomes Bolaños, o ator que deu vida aos personagens Chaves (originalmente El Chavo del Ocho) e Chapolin Colorado, ganhou o apelido de Chespirito, que em espanhol significa Pequeno Shakespeare. Shakespeare é notório por obras como Romeu e Julieta, Hamlet, A Megera Domada, Otelo e Macbeth. Entretanto, há uma obra que eu considero de grande importância para o mundo em que vivemos, muito mais que Romeu e Julieta, por exemplo: O Mercador de Veneza.
E por que falar em específico dessa obra? Assim como Recordações do Escrivão Isaías Caminha é um livro cuja leitura é essencial para se entender o que é a imprensa, o Mercador de Veneza é um livro cuja leitura é essencial para se entender o que é o banqueiro (e o agiota de modo geral). No ano passado Cristina Kirchner, em visita a Villa Lugano, recomendou às crianças de uma escola primária a leitura de “O Mercador de Veneza” para entender os fundos abutres com os quais a Argentina teve problemas no final de seu governo. No que causou certa celeuma em vários círculos judaicos do país (lembrando que é na Argentina que se encontra a maior colônia judaica da América Latina). Recentemente, foi aprovada no Senado a PEC 55 (vulgo PEC do teto), que congela por 20 anos os gastos públicos do Brasil. No que prejudicará por duas décadas os gastos em áreas como saúde, educação, habitação, forças armadas, seguridade social e outras. Tal proposta já começa a valer no ano que vem. Como todos nós sabemos isso, a despeito de toda a ideologia verborrágica que os grandes meios de comunicação vendem (onde se alega fantasias como a necessidade de equilibrar as contas públicas, controle de gastos e retóricas afins), não passa de política de austeridade cuja finalidade é garantir os lucros de banqueiros e outros agiotas em tempos de crise. Em outras palavras, austeridade só para a plebe, não para banqueiros, agiotas, investidores, especuladores e corja limitada. É o mesmo receituário que, ministrado pela Troika, levou países como Espanha, Grécia, Portugal e Itália à situação calamitosa em que se encontram no presente momento e que o ministro Joaquim Levy, ainda no governo Dilma, trouxe para o Brasil.
Esse é um momento muito oportuno para se falar dessa obra de Shakespeare (que se utilizou de várias fontes para sua concepção, entre elas o conto Il Pecorone de Giovanni Fiorentino, a coleção de contos “Gesta Romanorum” compilada ao final do século XIII e o Orador de Alexandre Sylvane), que foi escrita entre 1596 a 1598 e publicada em 1600 (ou seja, ainda no ocaso do século XVI) e que continua atualíssima. “Mas o que a história do Mercador de Veneza tem haver com a PEC 55?”, alguém certamente fará essa pergunta. É que o principal antagonista dessa peça teatral é um agiota. Seu nome Shylock. E, além de agiota, Shylock também é judeu. Alguém poderia nos acusar de incitação à aversão aos judeus ao abordar esse assunto, tal como os judeus argentinos reagiram ante a sugestão de leitura da ex-presidente Kirchner. Mas para nós o Shylock enquanto judeu é de irrelevante para baixo. Para nós nos interessa muito mais o Shylock enquanto agiota que enquanto judeu.

Foto – William Shakespeare (1564 – 1616).
A trama de O Mercador de Veneza tem lugar no século XIV na cidade italiana de Veneza, a época uma das cidades mais prósperas do mundo graças ao comércio e capital da República homônima, e se inicia com os problemas de Bassânio, jovem nobre que perdeu toda sua herança e almeja se casar com a rica herdeira Pórcia. E para isso precisa fazer uma viagem de três meses até Belmonte no continente, para a qual não tem dinheiro para custeá-la. Para resolver o problema, recorre a seu amigo Antônio, um rico comerciante de Veneza, que lhe explica que não possui dinheiro para lhe emprestar, pois sua fortuna está toda empenhada numa frota de navios mercantes que se encontram em águas estrangeiras, mas que poderá ser seu fiador se Bassânio recorrer a um empréstimo. Para isso, Bassânio contrata o já citado Shylock. Shylock, por seu turno, odeia Antônio por sua aversão a judeus, e vendo que ele será o fiador do empréstimo, faz o seguinte acordo: se o empréstimo não for pago até a data estabelecida, terá que receber como garantia uma libra da carne do corpo de Antônio. Bassânio não deseja pegar o dinheiro nessas condições, mas Antônio concorda e assina o contrato. Bassânio viaja para Belmonte para conquistar Pórcia junto com seu amigo Graciano. Em Veneza, Antônio descobre que seus navios naufragaram em alto-mar, e assim não tem mais dinheiro para pagar Shylock. Bassânio, após se casar com Pórcia, descobre o problema em que seu amigo se encontra e parte imediatamente para Veneza, trazendo junto consigo o advogado Belário, irmão de Pórcia, e o caso é levado ao tribunal. Lá, Antônio terá de pagar Shylock uma libra da carne de seu corpo.
O que tal passagem nos mostra a respeito do caráter de agiotas e banqueiros de modo geral? Que o indivíduo pode estar na pior situação financeira possível que eles estão pouco se lixando. Querem o dinheiro de um jeito ou de outro e ponto final. Para isso fazem as mais fortes e intimidadoras pressões no sujeito endividado. E não foram poucas as pessoas que emitiram opiniões nem um pouco amigáveis sobre essa gente: no século XIX Karl Marx chamou os banqueiros de honoráveis bandidos. O escritor estadunidense Mark Twain uma vez disse o seguinte a respeito dos banqueiros: “O banqueiro é o sujeito que te dá a sombrinha quando o sol está raiando, mas o pede de volta quando começa a chover”. E o que o autor de obras como As aventuras de Tom Sawyer, As aventuras de Huckleberry Finn e o Príncipe e o Pobre quis dizer com isso? Que o banqueiro é um sujeito que vive da miséria e do infortúnio alheio. Em 1933, passados 23 anos após o falecimento de Mark Twain, o juiz estadunidense Ferdinand Pecora teria cunhado o termo bankster juntando os termos “banker” e “gangster” (banqueiro e gângster em inglês, respectivamente), que por sua vez em 1937 foi utilizado pelo fascista belga Léon Degrelle de forma pejorativa para designar a gente das altas finanças modo geral.
Uma coisa há de se ter bem clara a respeito de bancos: banco não é instituição de caridade, muito menos Papai Noel. Os bancos, ainda mais no mundo capitalista em que vivemos, não estão ai para ajudar as pessoas em suas necessidades e problemas financeiros. São instituições de caráter capitalista cuja finalidade principal é o lucro e a acumulação de capital em suas mãos. Não raro se aproveitam de pessoas em dificuldades financeiras para lucrarem em cima delas (como por exemplo, em 2008 quando houve a crise econômica nos EUA, onde muitas pessoas foram despejadas de suas casas por ordens de bancos porque não conseguiam mais pagar seus credores e das mais de 500 mil pessoas que foram desalojadas de suas casas na Espanha por bancos desde 2008). São instituições que devem ser estatizadas para o bem de toda a sociedade.

Foto – A famosa frase de Mark Twain sobre banqueiros.
E é essa gente que, segundo Nildo Ouriques, está agora através de medidas como a PEC 55 promovendo uma guerra de classes contra o povo brasileiro em conluio com o governo Temer. Guerra essa que já vinha sendo promovida pela plutocracia brasileira e suas distintas frações (entre elas capital bancário, agrário, industrial, multinacional e comercial) desde no mínimo 1994 com o início do Plano Real e o pacto de classes no qual ele foi ancorado e que agora está sendo escancarada a todos nós. A aprovação da PEC 55 no Senado é apenas o começo dessa guerra. Dentro em breve o ônus do endividamento interno e externo do Estado brasileiro será passado para as costas do povo sem a menor cerimônia e o menor pudor. “E quando será que os grandes plutocratas brasileiros irão pagar o ônus disso? Pois como eles criaram isso eles em tese é que tem que pagar” Alguém poderá nos perguntar. A resposta: no dia de São Nunca. Crises no mundo capitalista são assim: os donos do poder econômico a criam, mas a ralé é quem paga. Ou seja, a velha lógica de ganhos concentrados, prejuízos socializados. Algo que na história brasileira não é nada de novo: já era praticado pelos barões do café no tempo da República Velha (1889 – 1930) através das políticas de valorização e desvalorização do café, na época o principal produto de exportação do Brasil para o exterior.
Shylock queria uma libra da carne do corpo de Antônio quando o litígio judicial entre os dois foi ao tribunal (segundo o artigo da Wikipédia em inglês sobre a obra de Shakespeare, na Inglaterra do século XVI era um conto comum o confisco do vínculo mortal de um mercador após a garantia do empréstimo feito por um amigo). Hoje, os banqueiros nacionais e internacionais, que estão sempre ganhando rios de dinheiro mesmo em tempo de crise através da alta taxa de juros (taxas essas que tem contribuído para a desindustrialização do Brasil desde o início do Plano Real) com que os sucessivos governos que tem ocupado o Palácio do Planalto desde no mínimo a redemocratização do Brasil pagam o serviço da dívida e que tem feito o Brasil de colônia desde os tempos de Dom Pedro I, querem fazer algo bem pior: esfolar e vampirizar o povo brasileiro até não poder mais. Matá-lo de fome e inanição. Tirar uma série de direitos estabelecidos em diversos governos anteriores. Fazer coisas que os militares não usaram fazer. Se banquetear com suas vísceras no jantar e beber de seu sangue servido em uma taça de vinho. Humilhá-lo da forma mais aviltante possível. Terminar o serviço que Collor e FHC iniciaram na década retrasada. E tudo isso em nome de seus superlucros. Perto desses vampiros, Shylock não passa de um amador iniciante.
E você, que xingou e vaiou a Dilma no Itaquerão na abertura da Copa do Mundo 2014, que bateu panelas na varanda de seu prédio e que foi às passeatas de rua gritar palavras de ordem como “fora Dilma”, “não a corrupção”, “fora PT”, “Lula na prisão”, “Ucranizar o Brasil”, inflar pixulecos gigantes do Lula com roupa de presidiário e apoiar o juiz Moro (que certamente está pouco se lixando para você do alto de sua toga, suas mordomias e seu polpudo salário que recebe todo santo mês) e seu séquito em sua perseguição política ao Lula, no fim acabou fazendo o mesmo papelão ridículo feito por aqueles que na Ucrânia pediam a queda de Yanukovych durante o Euromaidan e que queriam a queda de Kadaffi, Assad e outros durante a Primavera Árabe. Vocês chocaram o ovo da serpente. Agora agüentem as doloridas picadas que hão de tomar. Não reclamem se, por exemplo, o governo Temer (ou quem quer que venha a substituir no futuro próximo) resolver fazer cortes na tua aposentadoria, jogar a CLT no lixo, extinguir teu 13º salário, aprovar uma lei de terceirização do trabalho e/ou abolir a Lei Áurea. Paulo Skaf (vulgo industrial sem indústria), Neca Setúbal, Marinhos, Civita e companhia limitada lhes fizeram de otários. Quando será que vocês, que perto dessa gente não passa de plebe, vão aprender?
Foto – PEC 55 aprovada: isso é só o começo.
Fontes:
Bankster (em inglês). Disponível em: https://en.wiktionary.org/wiki/bankster
Em crise econômica, bancos desalojam 500 famílias espanholas por dia. Disponível em: http://www.contrafcut.org.br/noticias/em-crise-economica-bancos-desalojam-500-familias-espanholas-por-dia-ce0f
Estados Unidos: os abusos dos bancos no setor imobiliário e as ações de despejo ilegais. Disponível em: http://www.esquerda.net/artigo/estados-unidos-os-abusos-dos-bancos-no-setor-imobiliario-e-acoes-de-despejo-ilegais/32379
“O governo está nos chamado para a guerra”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fLzogdADB24&t=1s
Opinião – “Espanha: vidas hipotecas pela crise”. Disponível em: http://multimedia.telesurtv.net/pt/opinion/espanha-vidas-hipotecadas-pela-crise/
The Merchant of Venice (em inglês). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/The_Merchant_of_Venice

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O caso Alezzia e a virtude do pequeno empreendedorismo.

Por Lucas Novaes

UPDATE: Parece que em face a repercussão dos ocorridos, a Alezzia tem adotado uma postura mais conciliadora e “pacifista” em sua página oficial, objetivando-se a doar uma quantia em dinheiro para ONGs. Isso demonstra mais uma vez que o aumento na popularidade de uma marca privada vem, necessariamente, acompanhada da perda de suas visões iniciais. 

Um assunto que claramente marcou os últimos dias nas redes sociais (especialmente no Facebook) foi o caso envolvendo uma indústria brasileira “especialista em móveis de inox”. A (até então) desconhecida empresa com sede no Rio de Janeiro tem contratado belas mulheres para fazer propagandas de seus produtos: típica estratégia de marketing capitalista (mulheres bonitas, ao contrário de homens bonitos, atraem milhares do sexo oposto aos produtos que as mesmas promovem). Fato esse não reconhecido por muitos ativistas sociais.


Figura 1 - Exemplo de propaganda da Alezzia.

Esse tipo de marketing acabou por gerar uma repercussão negativa por parte de militantes feministas, que passaram a atacar, em massa, a página oficial da empresa no Facebook, com comentários rancorosos e avaliações negativas aos serviços da mesma no sistema de classificação (que vai de 1 a 5 estrelas) da rede social. Porém, ao não se curvar perante a vontade da militância minoritária e barulhenta das ativistas que queriam que esse estilo de propaganda acabasse, a Alezzia acabou por receber bastante apoio. Esses apoiadores (dezenas de milhares) passaram a seguir a página e classificar a prestadora de serviços como sendo “5 estrelas”.

O que um evento como esse pode nos ensinar? Não é novidade para nós que é comum ver grandes corporações aderindo ás causas de Direitos Humanos e minorias. Avon, Boticário e Apple são apenas alguns dos incontáveis exemplos. Podemos dizer que as grandes empresas, pelo seu caráter multinacional, querem o apoio de todas as demográficas possíveis, maximizando assim, seus lucros. Também é verdade que diversas Organizações Não Governamentais (ONGs) criam militâncias, sobretudo na internet, com o intuito de empurrar essas empresas para causas politicamente corretas, um exemplo claro disso ocorreu em 2011 quando a rede de fast food estadunidense Chick-fil-A patrocinou uma conferência que contava com a participação do grupo conservador Pennsylvania Family Institute, conhecido por suas posições contrárias ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Esse fato gerou uma grande controvérsia e os militantes LGBT tentaram arruinar a imagem da empresa. No final das contas, a Chick-fil-A acabou cedendo à pressão e retirou seu patrocínio aos grupos conservadores que antes patrocinava.



Figura 2 - A Chick-fil-A também já foi alvo da militância dos idiotas úteis.

O progressismo social, por receber apoio não somente das inúmeras ONGs ao redor do mundo, como também do governo dos Estados Unidos e seus vassalos na Europa e em outros lugares, é um fenômeno difícil de ser combatido. A Alezzia, por ser uma empresa brasileira completamente desconhecida até então, não precisou se preocupar com a militância contrária pois não tinha nada a perder: estava na estaca zero e, graças a essa polêmica, conquistou muitos apoiadores. Muitas grandes empresas voltariam atrás e cederiam a pressão para não ter sua imagem supostamente arruinada.

A virtude do pequeno empreendedorismo, descompromissado de grandes causas, é que, por ser pequeno e descomprometido, acaba, muitas vezes, por reforçar certos valores existentes na população. Quando uma empresa cresce e se torna uma marca de alcance nacional ou mundial, ela acaba tendo que atender a diversos interesses alheios aos dos consumidores (interesses de governos estrangeiros, ONGs, militâncias minoritárias). E com isso ela acaba perdendo a sua identidade. Um caso similar ocorreu com o vlogueiro Felipe Neto, o primeiro brasileiro a conseguir 1 milhão de inscritos. No início, apesar de sua superficialidade, ele falava o que milhões de brasileiros pensavam e queriam ouvir. Conforme ele foi ficando mais famoso e assinando contratos com a Rede Globo, teve que mudar suas opiniões consideradas “homofóbicas” e “sexistas”. Agora, ele se tornou um mero propagandista das causas globais. A autenticidade se perdeu.

REFERÊNCIAS:


sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O Partido dos Trabalhadores NÃO é um Partido Comunista.


Foto – Imagem ilustrativa representando algumas pessoas carregando bandeiras do Partido dos Trabalhadores.
Recentemente, em uma discussão no Facebook, perdi as estribeiras depois que vi uma usuária dizendo que o PT é comunista e que nesses anos todos estabeleceu uma ditadura comunista no Brasil. Pessoalmente, não acho que esse seja um espaço adequado para se lavar roupa suja de discussões em fóruns e redes sociais. Mas como se trata de um discurso bem difundido entre a direita reacionária brasileira, principalmente entre os discípulos de Olavo de Carvalho (vulgo Sidi Muhammad Ibrahim) e seu séquito do Mídia sem Máscara (assim como por jornalistas reacionários como o finado Luís Carlos Alborghetti), abrirei uma exceção para esse caso. Tais elementos que acusam o PT de comunista não raro vêm com a conversa falaciosa do marxismo cultural baseado nas ideias de figuras como Antonio Gramsci[1], Heribert Marcuse, Albert Horkheimer e outras figuras ligadas à escola de Frankfurt. Aqui será feito uma espécie de FAQ informativo que tentará ser o mais didático possível, onde será listado alguns motivos pelos quais o partido de Lula, Dilma, José Dirceu, José Genoíno, Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias, Wadih Damous e companhia limitada não pode ser considerado em hipótese alguma comunista.
1 – As raízes ideológicas do PT: Primeiro de tudo, dizer que o PT é comunista implica em dizer que ele é partidário das idéias de Karl Marx e Friedrich Engels[2], expostas em obras como o Manifesto do Partido Comunista (1848) e o Capital (1867), onde o sistema capitalista seria substituído primeiramente pelo socialismo. A burguesia seria alijada do Estado pelo proletariado por meio de um processo revolucionário (e assim se instauraria o que Marx e Engels chamam de a “ditadura do proletariado”), e após o socialismo se alcançaria o comunismo, uma sociedade igualitária que seria o ápice da evolução história do homem onde não haveria mais divisão em classes sociais e a propriedade privada dos meios de produção (tais como fábricas e indústrias, que por sua vez seriam estatizados e geridos através de cooperativas) e o Estado seria abolido. Para tal, o primeiro passo seria a organização da classe trabalhadora e sua conscientização enquanto classe revolucionária. Entretanto, muito embora o PT seja de fato um partido de esquerda, isso não quer dizer que seja um partido comunista obrigatoriamente. E aí eu pergunto a esses reaças de plantão que acham que o PT é comunista: será que o PT, desde que Lula foi eleito pela primeira vez em 2002, instituiu a ditadura do proletariado ou algo similar? E será que sob o PT o Estado brasileiro mudou seu caráter de classe, a ponto de não ser mais o balcão de negócios dos grandes capitalistas (como o próprio Marx define o Estado moderno em uma passagem do Manifesto do Partido Comunista) e estes não serem mais a máquina de governar desse mesmo Estado? A resposta para ambas as perguntas é um sonoro não.
Além disso, os próprios petistas em sua fundação em 1980 não demonstrava grande apreço pelas experiências socialistas do século XX. O PT foi fundado no ano de 1980 por um grupo ideologicamente heterogêneo, que englobava sindicalistas, intelectuais, militantes de oposição ao Regime Civil-Militar brasileiro e figuras ligadas à Teologia da Libertação, no Colégio Sion em São Paulo, fruto da aproximação entre os movimentos sindicais da região do ABC paulista (onde ocorreu uma série de greves entre 1978 a 1980) e militantes antigos da esquerda brasileira. Na época o petismo rejeitava tanto as tradicionais lideranças do sindicalismo brasileiro, como também os modelos soviético e chinês.
2 – O PT e a classe dominante: Se os petistas fossem comunistas como essa gente vive insinuando, no mesmo nível de grandes lideranças históricas de países socialistas tais como Lenin, Stalin, Khoorlogin Choibalsan[3], Kim il Sung[4], Mao Tsé Tung, Ho Chi Minh, Enver Hoxha[5], Fidel Castro, Erich[6] Honecker e tantos outros, não teria feito a política social extremamente limitada feita nesses anos todos. Uma política social onde ao mesmo tempo em que se deu certa atenção aos setores subalternos da sociedade brasileira e certo alívio da situação de miséria extrema, não mexeu em momento algum com os privilégios da classe dominante. Do contrário, a classe dominante nacional teria destino similar ao que teve, por exemplo, a nobreza e a aristocrata tzarista e os exércitos brancos na Rússia após a Revolução de 1917, a aristocracia lamaísta na Mongólia após a Revolução de 1921, os latifundiários e colaboradores dos japoneses na Coréia do Norte após 1948, a burguesia compradora[7] e os traficantes de ópio na China após a Revolução de 1949 e a elite criolla em Cuba após a Revolução de 1959. Seus privilégios teriam sido extirpados, seus bens expropriados e teriam no mínimo se exilado em massa do país, tal qual fizeram, por exemplo, os emigrados tzaristas que fugiram em massa para a Europa ocidental após 1917, Chiang Kai Shek e seus partidários que fugiram em massa da China para Taiwan em massa após 1949 e a elite cubana que após a Revolução de 1959 fugiu em massa para Miami. Sendo que nada disso aconteceu no Brasil desde que Lula foi eleito em 2002 (diga-se de passagem, nem mesmo a Venezuela bolivariana, o mais avançado experimento da esquerda latino-americana desde 1998, botou a elite local para correr, muito menos estatizou em massa os meios de produção do país). Isso tudo ao ponto de em discurso proferido em 2010, Lula ter dito que não tinha a intenção de tirar um milímetro de benefícios que os ricos têm, apenas na ascensão do pobre na escala social do sistema de castas brasileiro.
3 – Politização das massas: A política social petista desde 2003, além de não ter mexido nos privilégios da classe dominante, também padeceu de outro mal. Não houve preocupação em momento algum com a politização das massas que eles beneficiaram com programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, em fazer uma integração dessa gente toda através da cidadania tal como Vargas (que nem era comunista, diga-se de passagem) pretendia nos anos 1930, nem nada disso. Tanto é que se formos ver alguns discursos de Lula sobre essa questão, ele fala apenas em integrar o pobre na sociedade através do consumo e nada mais. E é daí que nascem aberrações como aquilo que muitos chamam de o pobre de direita (a ponto de no último pleito eleitoral paulistano parte considerável do eleitorado de Dória ter sido de beneficiados pelos programas sociais petistas), ou mesmo a gente das periferias das cidades que periodicamente fazem rolezinhos, os quais estão muito mais interessados em comprar o tênis da moda no Shopping Center mais próximo que em consciência de classe ou coisa do tipo.
Se o PT fosse um partido comunista de verdade, teria investido na politização dessa gente toda, tal qual, por exemplo, os processos de Revolução Cultural em países como Rússia, Mongólia, China, Cuba, Coréia do Norte e Vietnã, ou mesmo o que foi feito na Venezuela com Hugo Chávez, onde a política de inclusão social era acompanhada de círculos bolivarianos que promoviam, entre outras coisas, discussões sobre a constituição venezuelana entre os beneficiados pelos programas sociais. E certamente, não teria inventado o conto fantasioso da nova classe média composta por pessoas que recebem por mês entre R$ 741,00 a 1019,00 (que em realidade não passa de classe pobre com um pouco mais de dinheiro e com um rótulo elegante. Em outras palavras, pobreza gourmetizada).
.4 – Questão agrária: Se há algo digno de nota que não foi feito nesses anos todos no Brasil desde que Lula assumiu a presidência da República é a reforma agrária, a despeito das ligações do Partido dos Trabalhadores com movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), ainda mais levando em consideração a grande fanfarra que certos elementos da direita brasileira fazem em torno disso. Mas como explicar o fato de que durante os 13 anos de PT não ter tido reforma agrária alguma no Brasil? O fato é que durante os anos dos governos Lula e Dilma, a fronteira agrícola do chamado agronegócio (que nada mais é que o velho latifúndio de extração colonial e baseado na monocultura agroexportadora com uma roupagem moderna) teve um grande crescimento, assim como recebeu mais investimentos do governo federal que a própria agricultura familiar (que é de onde vem a maior parte do alimento que vai à mesa do cidadão brasileiro). Chegou-se a tal ponto que em seu segundo governo Dilma Rousseff (que assentou menos pessoas que o último presidente da ditadura civil-militar, João Batista Figueiredo) colocou Kátia Abreu, notória ruralista, como ministra da agricultura. A mesma Kátia Abreu que, na contramão de outros notáveis ruralistas como Ronaldo Caiado, posteriormente votou contra o impeachment de Dilma. Em um país realmente comunista, esses ruralistas teriam o mesmo destino que teve, por exemplo, os kulaks na União Soviética nos anos 1930, durante o processo de coletivização do campo durante o governo Stalin.
5 – Questão midiática: O que um comunista de verdade, caso fosse estivesse no poder, faria com grandes conglomerados midiáticos como a Rede Globo e o SBT? No mínimo, faria uma série de medidas para regular a mídia, de forma a tornar a guerra de informação com os grandes monopólios, em especial nos tempos de crise, pelo menos um pouco menos desigual (será que Lula e companhia limitada acharam que a mídia de massa não ia fazer com eles o mesmo que foi feito outrora com Getúlio, Jango, Brizola, Enéas e tantos outros?). Ou então teriam suas concessões cassadas, tal qual Brizola queria fazer com a Rede Globo caso assumisse a presidência do Brasil, ou mesmo o que Hugo Chávez fez com a RCTV na Venezuela em 2007. Lula e os petistas nada disso fizeram enquanto ocuparam o Palácio de Planalto. Pelo contrário, fizeram grandes investimentos na mídia de massa: entre 2003 a 2013, segundo reportagem do site DCM, a Rede Globo recebeu R$ 6 bilhões do Governo Federal (e isso mesmo com a Rede Globo os sangrando diante da opinião pública). Também nada fizeram para fortalecer veículos de mídia alternativa como as rádios comunitárias. Em dois de agosto de 2015, quando foi no Instituto Barão do Itararé em São Paulo ao evento organizado para o lançamento do livro “Cultura do Silêncio”, de autoria do professor Venício Lima, Roberto Requião contou que durante o primeiro governo Lula foi até ao Palácio do Planalto e propôs a Lula uma iniciativa de democratização da mídia. Ele falou sobre o que fez com as comunicações quando foi governador do Paraná: cortou todas as verbas de publicidade para a mídia de massa, investiu na TV Educativa (estatal) e fez um acordo com Hugo Chávez para distribuir o sinal pela Telesur. O político pernambucano então encaminhou Requião para conversar com José Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil, sobre assunto. Dirceu respondeu que isso era desnecessário, pois o governo federal já tinha a Globo como sua TV oficial, certamente achando que domariam a fera através de subsídios econômicos e que ela em momento se voltaria contra eles. O que se mostrou um erro crasso com o tempo.
6 – O Plano Real, a ordem vigente e a questão da dívida: Diferente do que a boiada que vive do senso comum que os grandes veículos de mídia vendem por aí, o maior sorvedouro de recursos do país não é a corrupção envolvendo políticos e empresários que periodicamente aparece no noticiário televisivo, e sim o que o país perde todo ano através dos pagamentos dos juros e amortizações do serviço das dívidas interna e externa. Ou seja, aquilo que Brizola em vida chamava de perdas internacionais. O endividamento interno brasileiro, que em 1994 era de cerca de R$ 64 bilhões, passou para R$ 720 bilhões na virada do governo FHC para o governo Lula, para R$ 1,5 trilhão na virada do governo Lula para o governo Dilma e ao final de 2015, segundo dados do site Auditoria Cidadã da Dívida, beirava os R$ 4 trilhões (e a dívida, cuja auditoria foi vetada pela própria presidente Dilma em janeiro de 2016, apesar de paga religiosamente todo santo ano, não para de crescer).
Segundo Nildo Ouriques, o Plano Real em realidade foi um pacto de classes que envolveu as distintas frações do capitalismo brasileiro (entre eles fundos de pensão, capital agrário, capital industrial, capital comercial e capital bancário) e que se sustenta sobre três pilares: o superendividamento interno e externo do Estado brasileiro (e do qual os capitalistas brasileiros se aproveitam para assaltar continuamente o Estado brasileiro e dele fazer seu balcão de negócios particular), superexploração da força de trabalho através de mecanismos como as altas taxas de juro e o reforço da posição do país como um país subalterno dentro da engrenagem capitalista mundial. Ainda em 1995, Enéas disse que o se criou no Brasil com o Plano Real (o qual o finado político do PRONA na ocasião classificou como cínico, desumano e destruidor) foi uma agiotagem institucionalizada pelo governo, a ponto de Adriano Benayon ter cunhado o termo economia de cemitério. Com a Carta aos Brasileiros em 2002, Lula, certamente acuado ante os ataques especulativos que levaram a uma alta do dólar, mostrou aos donos do poder econômico que aceitou ser um mero gerente do Estado burguês brasileiro e que não ia mudar as regras do jogo do processo de acumulação de capital estabelecidas em 1994. E assim as administrações Lula e Dilma em momento algum fizeram uma auditoria dessa dívida tal qual Rafael Correa fez no Equador em 2007, ou mesmo um calote, e não desarmaram essa bomba que agora está começando a explodir nas costas do povo (e que cujo ônus os plutocratas brasileiros pagarão no dia de São Nunca). Ou será que um país consegue desenvolver-se sofrendo tamanha sangria financeira ao mesmo tempo?
7 – O PT, a privataria tucana e o capital transnacional: Diferente das reformas de base do presidente João Goulart (que nem comunista era, diga-se de passagem) ou do que Leonel Brizola fez ao nacionalizar as filiais gaúchas da ITT e da Bond and Share quando foi governador do estado do Rio Grande do Sul entre 1959 a 1963, os governos petistas em momento algum fizeram uma oposição frontal à presença do capital transnacional aqui estabelecido, nem ao menos colocaram tal questão em pauta. E em momento algum vimos os governos Lula e Dilma fazerem algo no sentido de reverter os efeitos nocivos da privataria dos anos Collor e FHC, que implicaram em uma grande transnacionalização da economia brasileira. A meu ver, se há algo que deveria ser também investigado na Comissão da Verdade e que acho que é até mais importante que os crimes cometidos pelos militares no período entre 1964 a 1985, é abrir a caixa preta do Plano Real, das privatizações dos governos Collor e FHC e da carta aos brasileiros (e assim desvendar todos os mistérios nele envoltos, suas negociatas e seus conchavos e seus personagens nebulosos).
8 – Políticas de austeridade: Em 2015, Dilma Rousseff escolheu para ministro da Fazenda Joaquim Levy. Joaquim Levy é um Chicago Boy (a mesma gente que fez a política econômica de Pinochet no Chile), e era tido até mesmo pelo tucanato como o núcleo racional de seu segundo governo. Enquanto foi Ministro da Fazenda, Joaquim Levy importou para o Brasil as políticas de austeridade que ajudaram a levar os países periféricos da União Européia como Espanha, Portugal, Grécia e Itália à situação de calamidade sócio-econômica em que se encontram no presente momento. Um tipo de política em que se aperta o cinto no povo mais humilde para garantir os lucros dos banqueiros e outros agiotas em tempos de crise (e ainda sob o pretexto de equilibrar as contas públicas e retóricas afins). Em outras palavras, nada para Antonio, tudo e mais um pouco para Shylock (quem leu o Mercador de Veneza sabe do que estou falando). E o que é a PEC 241/55 (recentemente aprovada no Senado) que o governo Temer está enfiando goela abaixo na população senão que a continuação dessa política que já vinha sendo feita na administração Dilma, só que de uma forma mais branda e sem a intensidade que o processo de acumulação capitalista brasileiro requer em um período de crise econômica como que vivemos agora? É um tipo de política que de comunista nada tem na medida em que atende apenas aos interesses de grandes rentistas, banqueiros e agiotas e lesa ao povo em seus direitos mais básicos.
9 – Republicanismo excessivo: Ao longo desses anos todos, o PT também se caracterizou por seu republicanismo excessivo. Isso ao ponto de, entre outras coisas, ter indicado figuras golpistas para o Supremo Tribunal Federal tais como Joaquim Barbosa e Ayres Brito e ter fortalecido o Ministério Público e a Polícia Federal (cujo comando continuou nas mãos de delegados raivosamente anti-petistas) no combate à corrupção (algo que muitos petistas se gabam) sem levar em consideração que essas instituições são grandes antros reacionários (será que eles acharam que o monstro que eles ajudaram a criar em algum momento não ia se virar contra eles?). Também nada fizeram contra delegados da Operação Lava Jato que publicaram nas redes sociais absurdos sobre Dilma Rousseff. A própria presidente Dilma, diante da ameaça de ser deposta, pouco ou nada fez para manter sua posição. E após sua deposição, o próprio partido nada faz no sentido de criar um movimento para a reconquista de seu cargo perdido. Apenas falam em Lula 2018 (como se a política se resumisse a pleitos eleitorais). O que será que um comunista no nível de Stalin ou Mao Tsé Tung faria no lugar de Lula ou Dilma? Certamente a mesma coisa que um leão faz quando é desafiado por outro na posição de chefe de um bando (aonde ele, caso venha a ser vencido, não só será deposto como também terá sua prole aniquilada pelo desafiante): defender sua posição. Assim Hugo Chávez procedeu em 2002 diante do golpe que ele sofreu naquele ano e Nicolás Maduro tem procedido desde o início das agitações golpistas em seu país.
10 – O PT, os milicos e a comissão da verdade: Após a Segunda Guerra Mundial, os colaboradores dos alemães e dos japoneses na União Soviética, na Europa oriental, na China, na Coréia do Norte e no Vietnã foram severamente punidos. Muitos deles mortos e executados. A exemplo do que aconteceu com figuras como Andreï Shkuro e Pyotr Krasnov (o tio-avô de um dos torturadores de Pinochet), colaboradores cossacos dos alemães que após a guerra foram mortos e executados pelas autoridades soviéticas. Agora e os militares, será que tiveram destinos similares durante os governos Lula e Dilma? Não, não tiveram. Enquanto que na Argentina tivemos o caso do ex-presidente Jorge Rafael Videla levado ao banco dos réus e preso, a Comissão da Verdade teve apenas resultados tímidos no Brasil. Não levou ao banco dos réus nenhuma figura chave do regime. Foi para isso que nos idos de 2009 e 2010 Jair Bolsonaro tanta fanfarra fez quanto à subida de Dilma Rousseff ao poder, a ponto de dizer que ela não podia assumir o poder por causa de seu passado como guerrilheira (sendo que ela em seu governo aprovou uma lei anti-terrorismo que certamente o faria ter orgasmos múltiplos)? No fim, o que o político carioca fez se mostrou como uma grande tempestade em copo d’água.
Resumo da ópera: Como insistir nesse conto da carochinha de que o PT é comunista e queria instalar a ditadura do proletariado no Brasil diante de todos esses fatos? Sendo que o PT nem ao menos nesses anos todos tirou da gaveta as reformas de base de João Goulart (que também não era comunista, mas que era considerado como tal por seus opositores) e que nunca chamou o povo para uma única e mísera luta sequer? Falar que o PT é comunista só porque é um partido de esquerda faz tanto sentido quanto dizer que Jair Bolsonaro é fascista só porque ele é truculento e reacionário: nenhum. O fato de o PT ser um partido de esquerda, nascido de lutas populares contra o regime civil-militar e que cuja liderança máxima iniciou sua trajetória política em sindicatos, não exime o fato de que desde no mínimo a Carta aos Brasileiros aceitou fazer parte do jogo da ordem dominante brasileira, a ponto de fazer uma política de conciliação de classes onde devido aos tempos de prosperidade econômica global foi possível ao mesmo tempo fazer políticas de inclusão social e atender aos interesses da classe dominante. Isso tudo nos autoriza a dizer que o PT é um partido de esquerda que acabou se tornando o principal partido da ordem dominante no Brasil (tal qual aconteceu com o PRI no México no século passado), e daí a falar que ele é comunista no mesmo nível de Lenin, Stalin, Choibalsan, Mao Tsé Tung, Kim il Sung, Enver Hoxha e outros tantos há um abismo enorme.
Mas, se Lula e os petistas desde que subiram ao poder não se mostraram nem um pouco comunistas, o que dá margem a essa gente chama-los assim? O PT é um partido de extração popular que enquanto estava na oposição defendia bandeiras como a reforma agrária e que enquanto foi governo promoveu uma política de integração social que a despeito de suas limitações, deixou a classe média (que tanto quer se misturar com a classe dominante) enraivecida. Para a direita mais raivosa, reacionária e conspiracionista, isso soa como comunismo, que historicamente tem sido utilizado como espantalho retórico no Brasil para designar todo aquele que se opõe ao status quo vigente desde 1856, quando o imigrante suíço Thomaz Davatz, que trabalhava na fazenda de Ibicaba (cujo proprietário era o senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, que entre 1847 a 1857 trouxe cerca de 180 famílias europeias para sua propriedade através do sistema de parceria), liderou uma revolta de imigrantes (a qual ficou conhecida na história como a Revolta dos Parceiros e/ou a Revolta dos Imigrantes) exigindo melhores condições de trabalho da parte dos senhores de terra. Mais adiante, voltou a ser utilizado dessa forma em 1964 durante manifestações como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, assim como mais recentemente nas diversas manifestações contrárias ao PT dos últimos anos. Isso a ponto de terem se registrados casos de manifestantes raivosos, do alto de sua histeria e tacanhice costumeira, agredirem pessoas só por vê-las vestir roupa vermelha.
E a respeito da discussão que tive em questão, algo também digno de nota e que cabe aqui registrar é que eu, após ter listado uma série de motivos pelos quais o PT não pode ser considerado como um partido comunista, um sujeito ter desqualificado meus argumentos dizendo que eu não sabia de nada e alegando que ele era professor com PHD em ciência política (ou seja, se utilizando daquele velho artifício do “sabe com quem você está falando?”, muito utilizado no Brasil por gente como juízes e desembargadores para escapar de punições, como em 2011 quando uma agente de trânsito foi multar um juiz que estava com o carro sem placa e sem documentos após uma blitz da Lei Seca no Rio de Janeiro). O fato de uma pessoa ter as mais altas graduações universitárias não é impedimento algum para ela ser um imbecil alienado que só vomita pela boca o discurso mentiroso dos grandes meios de comunicação. Um imbecil alienado pode ser tanto o pobre que mora na favela quanto o professor que tem doutorado e pós-doutorado e que dá aulas em universidades renomadas. Com a diferença que o pobre favelado pode se dar ao luxo de se defender alegando que não tem formação e diploma universitário. O professor doutor e pós-doutor, por sua vez, não.
Fontes:
Alborghetti – lugar de comunista é na cadeia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eiRjOHYd4BY
Auditoria cidadã da dívida. Disponível em: http://www.auditoriacidada.org.br/
Bolsonaro – Leitura do verdadeiro curriculum vitae de Dilma Rousseff. Disponível em:
Brasil: crise financeira ou fiscal? Disponível em:
Casos de agressão por uso de vermelho se multiplicam; por que autoridades se calam? Disponível em: http://outraspalavras.net/alceucastilho/2016/03/19/casos-de-agressao-por-uso-de-vermelho-se-multiplicam-por-que-autoridades-se-calam/
Conferência Estadual dos Bancários (2012). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0fqoD0RDzY4
De produtores a “compradores”. Disponível em: http://anovademocracia.com.br/no-43/1696-de-produtores-a-qcompradoresq
Escândalo: Dilma veta a realização de auditoria da dívida pública com participação de entidades civis. Disponível em: http://www.auditoriacidada.org.br/blog/2016/01/14/dilma-veta-auditoria/
Especial PRONA – Doutor Enéas – Parte 5/8. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fMe-UviyDgo
Fiscal condenada por dizer “juiz não é Deus” se diz “enojada” após nova condenação. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/11/1547105-fiscal-condenada-por-dizer-que-juiz-nao-e-deus-se-diz-enojada-apos-nova-decisao.shtml
José Dirceu teria dito: “A Globo é a TV do governo”. Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2015/08/04/jose-dirceu-teria-dito-globo-e-tv-governo/
Lula fala da economia e de como a classe média é cega e preconceituosa. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ozGbBd6wgRs
Lula na Rocinha: pobre só era gente em tempo de eleição. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pSaKgcBufwQ
Lula: “provei que tenho mais competência que a elite brasileira para governar o Brasil”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=a0dgJPxCK7I
Plano Real: o mito da estabilidade e do crescimento. Disponível em: https://www.diplomatique.org.br/print.php?tipo=ar&id=1698
Repatriation of Cossacks after World War II (em inglês). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Repatriation_of_Cossacks_after_World_War_II
Requião: o grande capital não quer derrubar a Dilma. Disponível em: http://www.conversaafiada.com.br/politica/2015/08/04/requiao-o-grande-capital-nao-quer-derrubar-a-dilma
Sérgio Mamberti: “por que perseguem Lula? Cadê as provas? Cadê?” Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1xI9YOdCP4k
Partido dos Trabalhadores. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_dos_Trabalhadores
Por que João Dória venceu até nas periferias? Disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/10/por-que-joao-doria-venceu-periferias.html
Por que o governo coloca tanto dinheiro na Rede Globo? Disponível em: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/sobre-os-gastos-de-publicidade-do-governo/
Requião: Dirceu achou que podia controlar Globo com dinheiro de publicidade. Disponível em: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/requiao-dirceu-achou-que-podia-controlar-globo-com-dinheiro-de-publicidade/
Uma perspectiva latino-americana para as políticas sociais: quão distante está o horizonte? Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rk/v9n2/a04v09n2

Foto – O paradoxo petista em 2015.


NOTAS:


[1] Leia-se “Gramchi”, pois no italiano a partícula sc, quando sucedida por e ou i, ganha o mesmo som do ch no português e no francês.
[2] Leia-se “Enguels”, pois no alemão, tal qual em idiomas como o russo, o mongol, o polonês e o japonês, o som da partícula g não muda em função da vogal seguinte tal qual no inglês e nos idiomas latinos.
[3] Leia-se “Tchoibalsan”. No mongol, assim como em idiomas como o russo, o mandarim, o espanhol, o inglês e outros, a partícula ch (cirílico Ч) tem valor de tch.
[4] Leia-se “Sun”, pois no coreano, assim como em idiomas como o chinês e o francês, quando uma palavra termina em consoantes como g, t e d, essa é muda.
[5] Leia-se “Rrodja”, pois no albanês a partícula xh tem valor de dj.
[6] Leia-se “Erirr”. No alemão, assim como em idiomas como o holandês, o polonês e o tcheco, a partícula ch tem o mesmo valor do h no inglês, do kh no russo e no mongol (cirílico х) e do j no espanhol: r aspirado.
[7] Conceito criado por Mao Tsé Tung nos anos 1920 para designar o setor da burguesia burocrática chinesa que agia em associação com o capital europeu, revendendo na China os produtos que eles adquiriam no exterior. Dentro do marxismo, é utilizado para designar um setor da classe média de um país que é mancomunado com o capital transnacional (tais como investidores internacionais, banqueiros e corporações transnacionais), que age em seu país como testa-de-ferro de seus sócios internacionais.