quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Freeza e Rei Vegeta, parte VII


Foto – Rei Vegeta sobre uma cidade tsufuriana devastada (Dragon Ball GT).

E agora com vocês a sétima parte da série de artigos “Freeza e Rei Vegeta”. Dessa vez, trago um artigo traduzido do espanhol que encontrei ao acaso na Internet a respeito do que venho tratando desde a primeira parte.

Tehuelches, o povo originário da Patagônia e a invasão mapuche (por Gustavo Cairo)

Domingo, 10 de outubro de 2021

A desmistificação da presumida “originalidade” mapuche nas terras da Patagônia. Gustavo Cairo, entusiasta da história e deputado provincial pelo PRO em Mendonza, deixa aqui seu testemunho a respeito.

Já faz alguns anos que vemos como na Patagônia argentina certos grupos mapuche que se autodenominam “originários” tomam terras e exercem atos de violência, invocando supostos direitos ancestrais sobre esses territórios.

Se há um povo que pode ser considerado originário da Patagônia é o tehuelche, que a habitou desde uns dez mil anos. Magalhães os chamou “patagões”, quando desembarcou na região que logo em sua honra se denominou Patagônia. Eles se chamavam a si mesmos “aóniken”, a denominação “tehuelche” os mapuche a deram muito tempo depois. Quem visitou a região no século XVII como o jesuíta Mascardi ou o marinheiro Villarino documentaram que nas margens do Nahuel Huapi ou ao sopé do vulcão Lanín viviam tribos tehuelches. Nomes como Esquel, Gaiman e Chaltén provêm de sua língua. A Caverna das Mãos em Santa Cruz apresenta restos arqueológicos tehuelches de milhares de anos de antiguidade.

Os mapuches são originários da Araucania chilena. Alguns grupos começaram a cruzar a cordilheira e instalar-se no atual território argentino a partir do século XVI, depois da chegada dos espanhóis, em um processo denominado “araucanização da Patagônia”.

Antropólogos e historiadores do Chile e da Argentina coincidem na origem chilena deste povo e sua chegada relativamente recente ao leste da cordilheira dos Andes. O reconhecido antropólogo chileno José Bengoa, autor de “História do povo Mapuche” expressa: “antes da chegada dos espanhóis ao Chile, os pampas argentinos estavam habitados por pequenos grupos indígenas não mapuches. Os mapuches não tinham relações com o pampa e se circunscreveram a seu território no lado chileno”. O argentino Antonio Serrano coincide: “Os araucanos não são oriundos do território argentino. Seu estabelecimento nele e a araucanização dos núcleos autóctones é relativamente recente. Os araucanos propriamente ditos ocupavam no momento da conquista do território chileno e eles se nomeavam mapuches”. Mlcíades Vignati da Academia Nacional de História escreveu: “Os indígenas de procedência chilena que invadiram o território na segunda metade do século XVIII, até lograr a hegemonia sobre as outras tribos... Estes elementos eram chilenos da raça araucana”. Por sua parte o historiador anarquista Alvaro Yunque em “Calfucurá, a conquista dos pampas” relata: “antes da raça vinda do Chile... as pampas foram habitadas por índios aborígenes delas, pampeanos autênticos. Lentamente foram substituídos, por eliminação ou absorção, pelas raças mais agressivas e inquietas de Arauco”.

Foi um choque de culturas. Os tehuelches eram amigáveis e acreditavam na convivência pacífica com os brancos. Diversos testemunhos dão conta disso: Musters, um viajante inglês que conviveu com eles mais de um ano desde 1870, disse em seu livro “Vida entre os Patagões”: “os tehuelches são bondosos, de bom caráter. Em minhas relações com eles me trataram sempre com lealdade e consideração, e dispensavam o maior cuidado a meus poucos pertences”. Ramon Lista escreveu em “Os tehuelches, uma raça que desaparece”: “o tehuelche é hospitaleiro, em seu lugar até o inimigo é inviolável”. Os araucanos, pelo contrário, traziam uma mentalidade guerreira, agressivas e eram muito superiores em número. As consequências foram trágicas para os tehuelches.

Os tehuelches chamavam os araucanos de chenna (guerreiros). Musters conta que “os mapuches tinham escravos tehuelches”, capturados nas batalhas das Ravinas Brancas sobre o rio Sengel e Geylum próxima de Nahuel Huapi. Em relação a essas lutas Ramón Lista nos diz: “começam as incursões vandálicas dos araucanos. Os toldos tehuelches são surpreendidos e assaltados ao amanhecer, se combate corpo a corpo, a lança, a flecha, a bola: os anciãos desarmados são estrangulados; as mulheres e as crianças fogem apavoradas; ao uivo de uns lhes responde o grito de vingança de outros; tudo é confusão, e o sangue umedece a terra. Os tehuelches quase desfeitos se reorganizam, estreitam suas filas, e depois de alguns momentos rechaçam a horda araucana que foge levando não poucas mulheres e crianças cativas. Estas razias se repetem de tempos em tempos”. Entras as mais sangrentas batalhas está a de Languiñeo, (“lugar dos mortos”), próximo da atual cidade de Tecka. Nela, no começo do século XIX os araucanos atacaram os tehuelches em um combate que durou três dias. O saldo foi de centenas de mortos aóniken. Entre os sobreviventes, as mulheres foram tomadas por araucanos e submetidas a seu arbítrio. As crianças, assimiladas. Foram encontradas no lugar numerosas sepulturas, armas e ossos dos vencidos. O cacique mapuche Chocory, quem comandava aos atacantes, tomou como uma de suas esposas a uma tehuelche, que eventualmente seria a mãe de Sayhueque, rei do “país das maçãs”.

O chileno Guillermo Cox que cruzou em missão exploratória ao território argentino em 1863 nos conta em seu livro “Viagem às regiões setentrionais da Patagônia” sobre a matança de Pedra Shotel, de 1820, onde o cacique araucano Paillacán atacou aos tehuelches com armas de fogo. O assalto aconteceu de surpresa ao amanhecer e durou várias horas. A derrota tehuelche foi sangrenta. Federico Escalada em “O complexo Tehuelche” entrevista a dona Augustina Quilchaman de Manquel, cujo bisavô foi tomado cativo, junto a sua mãe e quatro irmãs logo depois dessa sangrenta batalha em que entre tantos mataram a seu pai. Duas das irmãs foram tomadas como esposas pelo vencedor Paillacán. A mãe de seu bisavô também foi levada como esposa de um araucano, por direito de conquista. “As mães tehuelches jamais esqueceram a afronta sanguinária infligida a sua estirpe derrotada... nem a lembrança dos entes queridos massacrados nisso durante as noites insones do cativeiro”. Todas estas batalhas de extermínio sobre os tehuelches fazem pensar em um verdadeiro genocídio.

A atitude em relação aos cristãos também foi diametralmente oposta. Os tehuelches tinham uma excelente relação comercial com os espanhóis/argentinos de Carmen da Patagônia e os galeses de Chubut. Intercambiaram plumas de ema e peles por pão, tabaco, açúcar e aguardente. Em Chubut desde 1865 até a atualidade se comemora o encontro entre galeses e tehuelches. Em 1965, para o centenário desse evento, em Porto Madryn foram inaugurados dois monumentos, um à Mulher Galesa e outro ao Índio Tehuelche.

Dionísio Schoo Lastra em “O Índio do deserto” relata: “Casimirio (cacique tehuelche) levava sempre uma bandeira azul e branca, que fazia tremular em reuniões, festas e conselhos, com o propósito deliberado de significar que eles eram índios argentinos”.

Este cacique, na última etapa da Campanha do Deserto e ao ter conhecimento em 1881 da chegada vitoriosa da expedição do general Villegas ao lago Nahuel Huapi “se apresentou com seus índios ao acampamento argentino com a bandeira nacional à frente, e foi recebido com honras de um soldado”. Musters foi testemunha de um discurso pelo qual os tehuelches “concordaram em colocar às ordens de Casimiro com o conselho de defender Patagões em caso possível de uma invasão dos índios de Calfucurá... Porque se essa população fosse destruída, não haveria mercado para suas peles”.

Os mapuches, pelo contrário, traziam uma cultura de luta e ódio contra o “huinca”. O fim da Guerra de Independência no Chile com a batalha de Maipú em 1818 determinou que tribos mapuches inteiras, que em sua maioria apoiaram os realistas, cruzaram a cordilheira para instalar-se definitivamente em solo argentino. Entre elas os voroganos e os ranqueles, que inauguraram uma época de desolação entre as tribos tehuelches do pampa atacando-as sistematicamente. Sob a liderança dos caciques chilenos Calfucurá e Yanketruz, as sangrentas incursões marcaram toda época. Os campos e povoados de San Luís, Mendoza, Córdoba e Buenos Aires eram arrasados, com um saldo de milhares de mortos e cativos, o roubo de milhares de cabeças de gado e a pretensão de negociar de potência a potência com Argentina, desconhecendo a soberania nacional em toda a pampa e a Patagônia.

Os Pampas, que eram os tehuelches da região pampeira se puseram do lado das autoridades argentinas. Juan Catriel combateu junto a Rosas aos araucanos e foi um amigo inabalável dos cristãos. Seu filho Catriel o jovem, foi nomeado coronel do exército argentino e morreu luta contra quem denominava “índios chilenos invasores”. Seu neto Cipriano Catriel e suas lanças foram fundamentais para derrotar a Calfucurá na batalha de San Carlos em 1872.

As campanhas do deserto de Rosas de 1833 e de Roca de 1879, que resgataram milhares de cativas, foram contra essas tribos invasoras, nunca contra os tehuelches. A diferenciação era muito clara. Estanislao Zeballos escreveu em 1878: “Habitam a Patagônia os índios de outra nação acessível à civilização por sua índole pacífica e seus instintos humanitários, os Tehuelches... não são invasores, porque sua índole e seus costumes diferem radicalmente dos caráteres morais e elementos materiais dos araucanos. Os tehuelches são índios naturalmente preparados para a civilização”.

Federico Escalada nos passa uma imagem – já no século XX – de dois dos últimos caciques tehelches: “Keltchamn... é o último grande chefe tehuelche com mando efetivo da Patagônia. O registro deste nobre chefe ficou como um exemplo imutável da fidalguia, pureza e desinteresse de que foi capaz esta raça. O consenso dos antigos povoadores que o conheceram é unânime. Correto, verdadeiro e de magnanimidade superior. As autoridades constituídas o consideravam como polícia e juiz das comarcas que dominava. Os povoadores brancos encontraram nele um bom amigo. Seu segundo, Venancio, seguiu com seu legado e foi capaz de desfilar com bandeira e lança, junto aos escolares, e às Forças da Gendarmaria Nacional. Atuava nessas circunstâncias com a dignidade corresponde a sua posição e participava dos atos pátrios. Aos sessenta e tantos anos morreu de uma sincope. Tivemos a dolorosa sensação de assistir ao último ato da trágica epopeia tehuelche”.

Para concluir, diremos que a Argentina sempre foi uma nação aberta a todos os que quiseram habitá-la em paz e com fins fecundos. Também foi um exemplo mundial de integração social, sem problemas raciais ou religiosos. É inadmissível que um grupo de impostores pretenda invocar ilegítimos "direitos ancestrais”, para usurpar violentamente propriedades e atacar pessoas. Algum desvairado talvez pretenda reeditar os delírios do aventureiro francês Antoine de Tounens que em 1860 se autoproclamou “rei da Araucania e da Patagônia”, considerando a essas regiões isentas da soberania de nenhum país. Muito menos tolerável é que o atual governo argentino por ação ou omissão, os ampare e encoraje seus atos de terrorismo.

Fonte: Tehuelches, el pueblo originario de la Patagonia y la invasión mapuche - Noticias de Mendoza - Memo (em español)

Meus comentários:

É bem no mínimo bem comovente (e ao mesmo tempo estranha) a choradeira que certos setores da esquerda, os mesmos que se regozijam com queimas de livros e derrubadas de estátuas, fazem para com os povos indígenas americanos. Chegam ao ponto de justificar tais atos iconoclastas em nome deles, sendo que isso não passa de demagogia barata em nome deles. Além disso, como esse texto bem mostra tais povos também tiveram seus dias de conquistadores de outras terras e subjugadores de outros povos. Parece que eles acreditam em coisas como mito do bom selvagem e outros contos da carochinha dessa estirpe (com roupagens mais modernas, obviamente).

Mas mais preocupante ainda é ver que existem setores de esquerda que se dizem defensores de uma América Latina unida e ao mesmo tempo batem palmas para aberrações como separatismo mapuche contra a Argentina e o Chile. Sem levarem em consideração não apenas a violação da integridade territorial argentina e chilena, como também o que sairá de uma brincadeira dessas, e que mãos operam por trás disso. Portanto, nós nos posicionamos contrários não apenas ao separatismo mapuche, como também em relação ao separatismo catalão contra a Espanha e outros afins. No fim das contas, o que vejo nos setores de esquerda em questão (como o pessoal do IELA) é que o que eles advogam não é uma América Latina unida e coesa, e sim um indigenismo barato. Pois sem o legado luso-espanhol advindo dos descobrimentos dos séculos XV e XVI não existiria as nações ibero-americanas como nós a conhecemos.

sábado, 4 de dezembro de 2021

Homenagem - 10 anos sem Sócrates, o eterno Doutor da bola

Foto - Sócrates, nos tempos em que jogava no Sport Club Corinthians Paulista, após marcar um gol.

Hoje, quatro de dezembro de 2021, completa-se um decênio sem um dos grandes jogadores do Brasil dos anos 1970 e 1980: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o Doutor Sócrates. Também conhecido por seu apelido Magrão.

Nascido em Belém do Pará em 19 de fevereiro de 1954, Sócrates se estabeleceu junto com sua família em Ribeirão Preto e lá iniciou sua carreira no Botafogo, em 1972. Após formar-se em Medicina na USP, ele sai do Botafogo e vai jogar no Corinthians em 1978. No Corinthians, ele se destacou não apenas por seu futebol, como também por seu ativismo político, liderando junto com jogadores como Casagrande o movimento Democracia Corinthiana (o qual pleiteou mais liberdade e mais participação dos jogadores nos destinos do clube paulistano) e por ter participado das Diretas Já em 1984. Chegou a ser fichado pela Ditadura Civil-Militar, em seus dias de agonia.

Após a passagem pelo Corinthians, foi jogar na Itália, mais precisamente na Fiorentina (1984-1985). À Fiorentina seguiram-se passagens por clubes como Flamengo (1985 – 1987) e Santos (1988 – 1989), até encerrar a carreira no clube que o revelou, o Botafogo da cidade de Ribeirão Preto.

Na seleção brasileira, jogou as Copas do Mundo de 1982 e 1986, sob o comando do técnico Telê Santana. Muitos consideram as seleções das Copas de 1982 e 1986, a despeito do fato de não ter sido campeão, como o melhor selecionado que o Brasil teve depois de 1970. Lá estava Sócrates, junto com outros eminentes jogadores de seu tempo como Toninho Cerezo, Falcão, Careca, Roberto Dinamite, Casagrande, Zico e outros.

Infelizmente Sócrates nos deixou, exatamente há 10 anos, depois de uma longa luta contra o alcoolismo, e curiosamente bem no mesmo dia em que o Corinthians ganhou seu quinto título brasileiro. Infelizmente, não teve a honra de ver seu time de coração vencer a Libertadores e o Mundial de Clubes no ano seguinte.

Mas, porque lembrarmos e celebrarmos o Doutor Sócrates, alguns me perguntarão? Hoje em dia, no futebol, proliferam tipos como Neymar, que politicamente são um zero à esquerda, uns verdadeiros asnos políticos que estão muito mais interessados em aparecer em redes sociais e outras futilidades de uma vida ostentatória. Fazem muita falta jogadores como o Doutor Sócrates, que tiveram todo um ativismo dentro e fora dos campos. Ainda mais em um momento muito difícil em que o nosso país vive.

Doutor Sócrates (1954 – 2011), presente!