Foto – Rei Vegeta sobre uma cidade tsufuriana devastada (Dragon Ball GT).
E agora com vocês a sétima parte da série de artigos “Freeza
e Rei Vegeta”. Dessa vez, trago um artigo traduzido do espanhol que encontrei
ao acaso na Internet a respeito do que venho tratando desde a primeira parte.
Tehuelches, o povo
originário da Patagônia e a invasão mapuche (por Gustavo Cairo)
Domingo, 10 de outubro
de 2021
A desmistificação da
presumida “originalidade” mapuche nas terras da Patagônia. Gustavo Cairo,
entusiasta da história e deputado provincial pelo PRO em Mendonza, deixa aqui
seu testemunho a respeito.
Já faz alguns anos que vemos como na Patagônia argentina certos grupos mapuche que se autodenominam “originários” tomam terras e exercem atos de violência, invocando supostos direitos ancestrais sobre esses territórios.
Se há um povo que pode ser considerado originário da
Patagônia é o tehuelche, que a habitou desde uns dez mil anos. Magalhães os
chamou “patagões”, quando desembarcou na região que logo em sua honra se
denominou Patagônia. Eles se chamavam a si mesmos “aóniken”, a denominação
“tehuelche” os mapuche a deram muito tempo depois. Quem visitou a região no
século XVII como o jesuíta Mascardi ou o marinheiro Villarino documentaram que
nas margens do Nahuel Huapi ou ao sopé do vulcão Lanín viviam tribos
tehuelches. Nomes como Esquel, Gaiman e Chaltén provêm de sua língua. A Caverna
das Mãos em Santa Cruz apresenta restos arqueológicos tehuelches de milhares de
anos de antiguidade.
Os mapuches são originários da Araucania chilena. Alguns grupos começaram a cruzar a cordilheira e instalar-se no atual território argentino a partir do século XVI, depois da chegada dos espanhóis, em um processo denominado “araucanização da Patagônia”.
Antropólogos e historiadores do Chile e da Argentina
coincidem na origem chilena deste povo e sua chegada relativamente recente ao
leste da cordilheira dos Andes. O reconhecido antropólogo chileno José Bengoa,
autor de “História do povo Mapuche”
expressa: “antes da chegada dos espanhóis ao Chile, os pampas argentinos
estavam habitados por pequenos grupos indígenas não mapuches. Os mapuches não
tinham relações com o pampa e se circunscreveram a seu território no lado
chileno”. O argentino Antonio Serrano coincide: “Os araucanos não são oriundos
do território argentino. Seu estabelecimento nele e a araucanização dos núcleos
autóctones é relativamente recente. Os araucanos propriamente ditos ocupavam no
momento da conquista do território chileno e eles se nomeavam mapuches”. Mlcíades
Vignati da Academia Nacional de História escreveu: “Os indígenas de procedência
chilena que invadiram o território na segunda metade do século XVIII, até
lograr a hegemonia sobre as outras tribos... Estes elementos eram chilenos da
raça araucana”. Por sua parte o historiador anarquista Alvaro Yunque em “Calfucurá,
a conquista dos pampas” relata: “antes da raça vinda do Chile... as pampas
foram habitadas por índios aborígenes delas, pampeanos autênticos. Lentamente
foram substituídos, por eliminação ou absorção, pelas raças mais agressivas e
inquietas de Arauco”.
Foi um choque de culturas. Os tehuelches eram amigáveis e
acreditavam na convivência pacífica com os brancos. Diversos testemunhos dão
conta disso: Musters, um viajante inglês que conviveu com eles mais de um ano
desde 1870, disse em seu livro “Vida entre os Patagões”: “os tehuelches são
bondosos, de bom caráter. Em minhas relações com eles me trataram sempre com
lealdade e consideração, e dispensavam o maior cuidado a meus poucos
pertences”. Ramon Lista escreveu em “Os tehuelches, uma raça que desaparece”:
“o tehuelche é hospitaleiro, em seu lugar até o inimigo é inviolável”. Os
araucanos, pelo contrário, traziam uma mentalidade guerreira, agressivas e eram
muito superiores em número. As consequências foram trágicas para os tehuelches.
Os tehuelches chamavam os araucanos de chenna (guerreiros).
Musters conta que “os mapuches tinham escravos tehuelches”, capturados nas
batalhas das Ravinas Brancas sobre o rio Sengel e Geylum próxima de Nahuel
Huapi. Em relação a essas lutas Ramón Lista nos diz: “começam as incursões
vandálicas dos araucanos. Os toldos tehuelches são surpreendidos e assaltados
ao amanhecer, se combate corpo a corpo, a lança, a flecha, a bola: os anciãos
desarmados são estrangulados; as mulheres e as crianças fogem apavoradas; ao
uivo de uns lhes responde o grito de vingança de outros; tudo é confusão, e o
sangue umedece a terra. Os tehuelches quase desfeitos se reorganizam, estreitam
suas filas, e depois de alguns momentos rechaçam a horda araucana que foge
levando não poucas mulheres e crianças cativas. Estas razias se repetem de
tempos em tempos”. Entras as mais sangrentas batalhas está a de Languiñeo,
(“lugar dos mortos”), próximo da atual cidade de Tecka. Nela, no começo do
século XIX os araucanos atacaram os tehuelches em um combate que durou três
dias. O saldo foi de centenas de mortos aóniken. Entre os sobreviventes, as
mulheres foram tomadas por araucanos e submetidas a seu arbítrio. As crianças,
assimiladas. Foram encontradas no lugar numerosas sepulturas, armas e ossos dos
vencidos. O cacique mapuche Chocory, quem comandava aos atacantes, tomou como
uma de suas esposas a uma tehuelche, que eventualmente seria a mãe de Sayhueque,
rei do “país das maçãs”.
O chileno Guillermo Cox que cruzou em missão exploratória ao
território argentino em 1863 nos conta em seu livro “Viagem às regiões
setentrionais da Patagônia” sobre a matança de Pedra Shotel, de 1820, onde o
cacique araucano Paillacán atacou aos tehuelches com armas de fogo. O assalto
aconteceu de surpresa ao amanhecer e durou várias horas. A derrota tehuelche
foi sangrenta. Federico Escalada em “O complexo Tehuelche” entrevista a dona
Augustina Quilchaman de Manquel, cujo bisavô foi tomado cativo, junto a sua mãe
e quatro irmãs logo depois dessa sangrenta batalha em que entre tantos mataram
a seu pai. Duas das irmãs foram tomadas como esposas pelo vencedor Paillacán. A
mãe de seu bisavô também foi levada como esposa de um araucano, por direito de
conquista. “As mães tehuelches jamais esqueceram a afronta sanguinária
infligida a sua estirpe derrotada... nem a lembrança dos entes queridos
massacrados nisso durante as noites insones do cativeiro”. Todas estas batalhas
de extermínio sobre os tehuelches fazem pensar em um verdadeiro genocídio.
A atitude em relação aos cristãos também foi diametralmente oposta. Os tehuelches tinham uma excelente relação comercial com os espanhóis/argentinos de Carmen da Patagônia e os galeses de Chubut. Intercambiaram plumas de ema e peles por pão, tabaco, açúcar e aguardente. Em Chubut desde 1865 até a atualidade se comemora o encontro entre galeses e tehuelches. Em 1965, para o centenário desse evento, em Porto Madryn foram inaugurados dois monumentos, um à Mulher Galesa e outro ao Índio Tehuelche.
Dionísio Schoo Lastra em “O Índio do deserto” relata:
“Casimirio (cacique tehuelche) levava sempre uma bandeira azul e branca, que
fazia tremular em reuniões, festas e conselhos, com o propósito deliberado de
significar que eles eram índios argentinos”.
Este cacique, na última etapa da Campanha do Deserto e ao
ter conhecimento em 1881 da chegada vitoriosa da expedição do general Villegas
ao lago Nahuel Huapi “se apresentou com seus índios ao acampamento argentino
com a bandeira nacional à frente, e foi recebido com honras de um soldado”.
Musters foi testemunha de um discurso pelo qual os tehuelches “concordaram em
colocar às ordens de Casimiro com o conselho de defender Patagões em caso
possível de uma invasão dos índios de Calfucurá... Porque se essa população
fosse destruída, não haveria mercado para suas peles”.
Os mapuches, pelo contrário, traziam uma cultura de luta e
ódio contra o “huinca”. O fim da Guerra de Independência no Chile com a batalha
de Maipú em 1818 determinou que tribos mapuches inteiras, que em sua maioria
apoiaram os realistas, cruzaram a cordilheira para instalar-se definitivamente
em solo argentino. Entre elas os voroganos e os ranqueles, que inauguraram uma
época de desolação entre as tribos tehuelches do pampa atacando-as
sistematicamente. Sob a liderança dos caciques chilenos Calfucurá e Yanketruz,
as sangrentas incursões marcaram toda época. Os campos e povoados de San Luís,
Mendoza, Córdoba e Buenos Aires eram arrasados, com um saldo de milhares de
mortos e cativos, o roubo de milhares de cabeças de gado e a pretensão de
negociar de potência a potência com Argentina, desconhecendo a soberania
nacional em toda a pampa e a Patagônia.
Os Pampas, que eram os tehuelches da região pampeira se
puseram do lado das autoridades argentinas. Juan Catriel combateu junto a Rosas
aos araucanos e foi um amigo inabalável dos cristãos. Seu filho Catriel o
jovem, foi nomeado coronel do exército argentino e morreu luta contra quem
denominava “índios chilenos invasores”. Seu neto Cipriano Catriel e suas lanças
foram fundamentais para derrotar a Calfucurá na batalha de San Carlos em 1872.
As campanhas do deserto de Rosas de 1833 e de Roca de 1879, que resgataram milhares de cativas, foram contra essas tribos invasoras, nunca contra os tehuelches. A diferenciação era muito clara. Estanislao Zeballos escreveu em 1878: “Habitam a Patagônia os índios de outra nação acessível à civilização por sua índole pacífica e seus instintos humanitários, os Tehuelches... não são invasores, porque sua índole e seus costumes diferem radicalmente dos caráteres morais e elementos materiais dos araucanos. Os tehuelches são índios naturalmente preparados para a civilização”.
Federico Escalada nos passa uma imagem – já no século XX –
de dois dos últimos caciques tehelches: “Keltchamn... é o último grande chefe
tehuelche com mando efetivo da Patagônia. O registro deste nobre chefe ficou
como um exemplo imutável da fidalguia, pureza e desinteresse de que foi capaz
esta raça. O consenso dos antigos povoadores que o conheceram é unânime. Correto,
verdadeiro e de magnanimidade superior. As autoridades constituídas o
consideravam como polícia e juiz das comarcas que dominava. Os povoadores
brancos encontraram nele um bom amigo. Seu segundo, Venancio, seguiu com seu
legado e foi capaz de desfilar com bandeira e lança, junto aos escolares, e às
Forças da Gendarmaria Nacional. Atuava nessas circunstâncias com a dignidade
corresponde a sua posição e participava dos atos pátrios. Aos sessenta e tantos
anos morreu de uma sincope. Tivemos a dolorosa sensação de assistir ao último
ato da trágica epopeia tehuelche”.
Para concluir, diremos que a Argentina sempre foi uma nação
aberta a todos os que quiseram habitá-la em paz e com fins fecundos. Também foi
um exemplo mundial de integração social, sem problemas raciais ou religiosos. É
inadmissível que um grupo de impostores pretenda invocar ilegítimos
"direitos ancestrais”, para usurpar violentamente propriedades e atacar
pessoas. Algum desvairado talvez pretenda reeditar os delírios do aventureiro
francês Antoine de Tounens que em 1860 se autoproclamou “rei da Araucania e da
Patagônia”, considerando a essas regiões isentas da soberania de nenhum país.
Muito menos tolerável é que o atual governo argentino por ação ou omissão, os
ampare e encoraje seus atos de terrorismo.
Fonte: Tehuelches, el pueblo originario
de la Patagonia y la invasión mapuche - Noticias de Mendoza - Memo (em
español)
Meus comentários:
É bem no mínimo bem comovente (e ao mesmo tempo estranha) a
choradeira que certos setores da esquerda, os mesmos que se regozijam com
queimas de livros e derrubadas de estátuas, fazem para com os povos indígenas
americanos. Chegam ao ponto de justificar tais atos iconoclastas em nome deles,
sendo que isso não passa de demagogia barata em nome deles. Além disso, como
esse texto bem mostra tais povos também tiveram seus dias de conquistadores de
outras terras e subjugadores de outros povos. Parece que eles acreditam em
coisas como mito do bom selvagem e outros contos da carochinha dessa estirpe
(com roupagens mais modernas, obviamente).
Mas mais preocupante ainda é ver que existem setores de
esquerda que se dizem defensores de uma América Latina unida e ao mesmo tempo batem
palmas para aberrações como separatismo mapuche contra a Argentina e o Chile.
Sem levarem em consideração não apenas a violação da integridade territorial
argentina e chilena, como também o que sairá de uma brincadeira dessas, e que
mãos operam por trás disso. Portanto, nós nos posicionamos contrários não apenas
ao separatismo mapuche, como também em relação ao separatismo catalão contra a
Espanha e outros afins. No fim das contas, o que vejo nos setores de esquerda
em questão (como o pessoal do IELA) é que o que eles advogam não é uma América
Latina unida e coesa, e sim um indigenismo barato. Pois sem o legado
luso-espanhol advindo dos descobrimentos dos séculos XV e XVI não existiria as
nações ibero-americanas como nós a conhecemos.
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