quarta-feira, 19 de julho de 2023

As mazelas do mundo 4.0 e a questão da dublagem

 

Foto – Dublagem vs Inteligência Artificial.

Recentemente, o dublador Wendell Bezerra (voz de personagens como o Bob Esponja no desenho homônimo, o Goku em Dragon Ball, o Fenrir de Alioth e o Baian de Cavalo Marinho em Cavaleiros do Zodíaco, o Jackie Chan em As Aventuras de Jackie Chan, entre outros personagens) publicou um vídeo em que trata a respeito da questão do impacto que o uso da Inteligência Artificial poderá ter na arte da dublagem. O dublador já se manifestou a respeito desse assunto em outras oportunidades.

Outras manifestações de dubladores também podem ser vistas tanto no You Tube quanto em outras redes sociais. Matéria no Jornal da Band foi veiculada a respeito desse assunto:

Por meio dessa nova tecnologia, vozes de dubladores clássicos e icônicos já falecidos tais como Newton da Matta (Lion-O em Thundercats, Bruce Willis, Dustin Hoffmann), Sílvio Navas (Mum-Ra em Thundercats, Darth Vader em Star Wars, Monstro Estelar em Silverhawks, segunda voz do Bender em Futurama), Marcelo Gastaldi (Charlie Brown em Snoopy, Chaves, Chapolin), Isaac Bardavid (Wolverine em X-Men, Esqueleto em He-Man, Tigrão em Ursinho Pooh), Eleu Salvador (Doutor Brown em De volta para o futuro, Senhor Miyagi em Karatê Kid 4, Doutor Briefs em Dragon Ball Z), Mário Vilela (Seu Barriga e Nhonho em Chaves, Buba e Gyodai em Changeman, Rato de Boné em Bananas de Pijama), Helena Samara (Wilma em Flinstones, Dona Clotilde em Chaves, velha Kaede em Inuyaša), Leda Figueiró (mãe do Tohru em As aventuras de Jackie Chan, Paty em Chaves, Laurinha em Ursinhos Carinhosos), Sônia Ferreira (Rainha Marlena em He-Man, Luna em Thundercats, Doutora Blight em Capitão Planeta), Renato Master (Mitsumasa Kido em Cavaleiros do Zodíaco, Desmark em Goggle Five, Šen Long em Dragon Ball Z), Nelly Amaral (Mestra Genkai na primeira dublagem de Yu Yu Hakušo, Marge Simpson nas temporadas 9 a 13 de Simpsons, primeira voz da Muriel em Coragem: o cão covarde), Ana Lúcia Menezes (Dulce Maria na Carinha de Anjo mexicana, Tanya em Power Rangers Zeo e Turbo, Lupita em Rebelde), Paulo Flores (Mufasa em Rei Leão, Lord Zedd em Power Rangers, Taz Mania no desenho homônimo), Aldo César (Rex Harrison, primeira voz do Bender em Futurama, Doutor Gero/Androide 20 em Dragon Ball Z), Daoiz Cabezudo (primeira voz do Tohru em As aventuras de Jackie Chan, Lula Molusco em Bob Esponja, narrador de Dragon Ball Z), Waldyr Sant’anna (Homer Simpson e vovô Simpson nas temporadas 1 a 8 e 15 a 18 de Simpsons, Eddie Murphy, Danny Glover), João Batista (Rei Cutelo, Cell e Senhor Enma Daioh em Dragon Ball Z, Šendu em As aventuras de Jackie Chan, Thundarr o bárbaro no desenho homônimo), Borges de Barros (Moe Howard em Três Patetas, Doutor Smith em Perdidos no Espaço, Edin em Jaspion), Valter Santos (Camus de Aquário em Cavaleiros do Zodíaco, Dubal em Street Fighter II Victory, Ursulão e Smedley em alguns episódios de Pica Pau), Maximira Figueiredo (Kilza em Jaspion, Aracnin Morgana em Jiraya, Rainha Pandora em Spielvan), Iara Riça (Gi em Capitão Planeta, Trini em Power Rangers, Arlequina em várias produções do universo DC), Orlando Drummond Cardoso (Scooby Doo, Vingador em Caverna do Dragão, Gargamel em Smurfs), Darcy Pedrosa (Coringa em várias produções do universo DC, Chuck Norris, Higgins em Magnum), Francisco Borges (Hannibal Smith em Esquadrão Classe A, Senhor dos sonhos em A Pedra dos Sonhos, Barlock em Street Fighter II Victory), Antônio Moreno (M. Bison em Street Fighter II Victory, Baran em Fly: o pequeno guerreiro, Sorento de Sirene em Cavaleiros do Zodíaco) e tantos outros poderão ser usadas em novos filmes, desenhos e produções televisivas.

Isso à primeira vista pode parecer incrível e muito legal, poder ouvir novamente vozes clássicas de dubladores que já não estão mais conosco em um filme ou desenho novo. Mas eu particularmente sou contra esse tipo de coisa. Para além de toda a questão ética envolvida, isso inevitavelmente irá tirar os empregos e os trabalhos dos dubladores que ainda estão nesse mundo e na ativa.

Além disso, o que dizer daqueles que estão começando agora na dublagem e que tanto estudaram e fizeram cursos para chegar ao ponto em que chegaram? O balde de água fria, a facada nas costas que não vão levar por meio dessa brincadeira? E mesmo os dubladores que já estão no mercado há muitos anos, quantos não perderão os empregos de longa data, o ofício que eles gostam de trabalhar e pelo qual eles tanto se esforçaram para poder trabalhar e se consolidar no meio, e que terão de se contentar dali em diante com subempregos tais como Uber e os iFoods da vida, tal qual aconteceu com muitos engenheiros que perderam seus empregos por conta da devassa que a Operação Lava Jato fez em empresas de construção civil como a Odebrecht e a Andrade Gutierres. E no caso das dubladoras (em especial as mais jovens), quem sabe até o OnlyFans (vulgo prostituição gourmet) entre na jogada.

E mais uma coisa: nunca que aplicativos de inteligência artificial tais como ChatGPT, Alexa e outros afins conseguirão reproduzir a emoção humana e todas as suas nuances, necessária na arte de interpretação de personagens. Por mais amplo que seja o banco de dados que esses programas possam ter. Afinal, não são seres vivos, e sim máquinas. Em outras palavras, coisas.

Eu mesmo vi no Facebook manifestações de diversos dubladores (tanto de São Paulo quanto do Rio de Janeiro) se posicionando contra a substituição do trabalho deles pelo trabalho da Inteligência Artificial. E eu particularmente os apoio nisso. E é bom que eles se organizem, se unem pela defesa dos empregos deles, tal qual os peões de vaquejada fizeram em 2016, quando a atividade, típica do Nordeste Brasileiro, quase foi proibida em todo o país por conta de decisões do Supremo Tribunal Federal e foram a Brasília se manifestar contra as decisões dos togados que quase destruíram com o ofício deles (o qual gera milhares de empregos diretos e indiretos só no Nordeste Brasileiro).

Foto – Manifestação massiva de peões de vaquejada em Brasília contra a proibição da atividade por parte dos togados do Supremo Tribunal Federal, 2016.

Além disso, os dubladores precisam ter consciência e saber que o jogo é pesado e com o que e com quem estão lidando nessa história toda.

Foto – Imagem que circula em redes sociais, compartilhada por diversos dubladores que se posicionam contra a substituição do trabalho deles pela Inteligência Artificial.

O que podemos dizer a esse respeito? Só uma coisa: bem-vindos ao mundo 4.0 que os donos do poder mundial (entre eles os arautos do Grande Reset e da Agenda 2030 como Klaus Schwab, Bill Gates, Jeff Bezos e outros) estão preparando e urdindo a nós em lugares como a feira de Hannover, o vale do Silício, o clube Bilderberg e o fórum de Davos e que se aproveitam de desastres e tragédias como a pandemia da Covid-19 para levar adiante a agenda de engenharia social deles.

E falar dessa gente não é conspiracionismo barato como muitos incautos (principalmente o pessoal da esquerda colorida) podem pensar. E sim algo muito importante sobre o qual nós não nos devemos se calar. Afinal, não é uma questão de teoria da conspiração, e sim de prática da conspiração (assim como de engenharia social pesada). Pois em uma questão delicada como essa não há como não falar dos donos do poder mundial e as engenharias sociais deles.

Vamos colocar as coisas dentro de perspectiva mais ampla, dentro não só da agenda 2030 dos donos do poder mundial como também dentro de uma visão macro-histórica, de uma perspectiva de longa duração. A ameaça da inteligência artificial para com o emprego dos dubladores nada mais é que o desemprego tecnológico em sua versão 4.0. A inteligência artificial, assim como a robótica, nada mais exerce nos dias de hoje o mesmo papel que lá atrás, no século XVIII, o tear mecânico exerceu no processo da Primeira Revolução Industrial. Em outras palavras, é uma situação que na história de novo não tem nada.

À época, a adoção em massa do tear mecânico nas fábricas inglesas causou um desemprego tamanho que em reação a essa situação e vendo seus empregos virarem pó ante o surgimento da nova tecnologia que surgiram movimentos operários tais como o ludismo e o cartismo, que se posicionaram contra a substituição da mão-de-obra humana pelas máquinas (por eles vistas como demoníacas) e que se notabilizaram, entre outras coisas, por suas depredações de maquinário das fábricas inglesas nos primeiros decênios do século XIX. Também na mesma época os operários das fábricas inglesas eram submetidos a jornadas de trabalho extenuantes que chegavam a 16 horas por dia, além de salários miseráveis e viverem em moradias precárias.

Foto – Manifestação de trabalhadores vinculados a movimentos como o ludismo e o cartismo na Inglaterra do século XIX: massivas destruições e depredações de maquinário industrial.

Aliás, falando em Revolução Industrial, vale lembrar que nos anos 1980 houve uma série de documentários da Enciclopédia Britânica lançados em fitas VHS e dublados no finado estúdio paulistano Álamo (à época um dos principais estúdios de dublagem do Brasil, junto com o estúdio fluminense Herbert Richers, hoje também finado). A julgar pelo elenco de dublagem desses documentários, devem ter sido dublados na metade dos anos 1980, talvez mais ou menos na mesma época em que as dublagens dos seriados nipônicos Jaspion e Changeman e de filmes como Comando Delta foram feitas.

E entre estes documentários há um sobre a Revolução Industrial, que contou com a narração de Francisco Borges (em minha humildade opinião uma das mais belas vozes masculinas da dublagem brasileira junto com Newton da Matta e Fábio Moura, finado em 2008 aos 74 anos de idade – dublador esse que pelo que vejo não é lá muito lembrado pelos fãs da arte). Inclusive fala a respeito do custo social deixado pela Revolução Industrial:

E às vezes eu penso no seguinte: será que a dublagem, nessa história toda, não está sendo feita de balão de ensaio para que mais adiante, no momento em que a Inteligência Artificial e a Robótica estiverem em um patamar mais elevado, outras artes sofram esse mesmo tipo de ataque? Em outras palavras, de um dia vermos a corda esticar cada vez mais e mesmo a atuação de atores vivos em filmes live-action e até no teatro também seja atacada (e nisso utilizando-se de hologramas de atores icônicos já finados)? Por isso que as diversas classes artísticas devem se unir em favor dos dubladores antes que a corda estique cada vez mais e eventualmente venha a arrebentar para o lado deles.

E para fechar: se o mundo 4.0 vindouro já é bem assustador, fico imaginando o que o mundo 5.0 ou o 6.0 irá nos reservar (e a tendência é essa com o passar do tempo: de as revoluções industriais e tecnológicas acontecerem em intervalos de tempo cada vez menores). Como bem disse um dos arautos do Grande Reset e da Agenda 2030, Klaus Schwab, “você não terá nada e será feliz sobre isso”.

Foto – “Você não terá nada e será feliz sobre isso” – Klaus Schwab, um dos arautos do Grande Reset e da Agenda 2030.

FONTES:

Dubladores criam abaixo-assinado para evitar o uso de inteligência artificial por estúdios. Disponível em: Dubladores criam abaixo-assinado para evitar o uso de inteligência artificial por estúdios (manualdosgames.com)