sábado, 18 de maio de 2019

Cinco meses de Bolsonaro: um governo das minorias contra a maioria (por Lucas Novaes).

Em outubro de 2018, na reta final da campanha eleitoral presidencial do 1º turno, Bolsonaro proferiu a seguinte frase: "Vamos fazer o Brasil para as maiorias. As minorias tem que se curvar às maiorias. A lei deve existir para defender as maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desaparecem.". Essa famigerada sentença gerou um grande alvoroço tanto por parte da grande imprensa burguesa como de uma parcela significativa da mídia de esquerda, que parecem atormentadas com a possibilidade de um governo que obedeça verdadeiramente às vontades da população.
Hoje, cinco meses depois, o que se vê do governo bolsonarista é justamente o contrário: um esforço enorme para tentar impor pautas econômicas liberais contra a vontade da maioria dos brasileiros. O principal projeto que o governo vem tentando aprovar é “A Reforma da Previdência” e para isso, tem gastado milhões de reais em publicidade para essa PEC. A reforma irá impedir que os trabalhadores se aposentem exclusivamente por tempo de contribuição, ou seja: sem aposentadoria para quem tem menos de 60 anos. E para receber 100% do benefício, serão necessários 40 anos de contribuição. O fato do principal “empreendimento” do governo federal ser uma lei que vai contra os interesses dos setores não privilegiados da classe trabalhadora (a absoluta maioria, que precisa trabalhar para apenas para continuar sobrevivendo de forma razoável) já coloca Bolsonaro e seus aliados como inimigos da maioria dos brasileiros.
Outro exemplo de defesa das minorias vindo deste governo é a sua posição radical contra Nicolás Maduro, o presidente legítimo da Venezuela consagrado com quase 70% dos votos em uma eleição onde parte da oposição minoritária liberal se ausentou devido a sua covardia e fracassos em derrubar o presidente. A posição de Ernesto Araújo (ministro das relações exteriores) é o de apoiar os interesses estadunidenses, que tem um apoio minoritário no país latino-americano.

Foto – Nicolás Maduro resiste ao golpismo imperialista
E o que Bolsonaro está fazendo pela maioria cristã que o elegeu? As pautas morais parecem ter sumido completamente da agenda governista. A única coisa feita por Bolsonaro nesses cinco meses que parece ir de encontro ao populismo que o elegeu foi o seu decreto que libera a posse de armas. Entretanto, esta liberação é apenas para categorias específicas: agentes de trânsito, políticos eleitos, conselheiros tutelares. E o fato desta ação ter vindo por meio de um decreto e não de uma longa discussão e aprovação na câmara dos deputados e no senado demonstra ou uma fraqueza ou um desinteresse do governo em comprar essa briga.
Durante esses primeiros meses, a população brasileira demonstrou apatia em relação a sua perda de direitos, algo comum para governos em início de mandato. Entretanto, o recente corte de verbas que afetou universidades públicas no Brasil parece ter voltado a mobilizar os cidadãos brasileiros, que foram para as ruas protestar contra este desgoverno em números que não se viam desde que foram mobilizados pela grande mídia e o empresariado contra Dilma Rousseff. A estratégia dos direitistas e apologistas do governo é a de deslegitimar os protestos, dizendo que foram encabeçados pelo PT para soltar Lula da prisão. Qualquer um que tenha acompanhado os protestos viu que havia sim partidários petistas na manifestação (e eles tem o direito de defender suas pautas), entretanto, foram absolutamente minoritários no enorme contingente de pessoas que foram às ruas. O único consenso que havia lá era o repúdio aos ataques contra a educação pública, e, em menor grau, a oposição à reforma da previdência também estava claro.

Foto – Maiores manifestações anti-governo desde 2016
O tamanho das manifestações chegou a animar muitos brasileiros, que agora já começam a considerar a hipótese do presidente renunciar ou ser afastado do cargo por meio de um impeachment. Quanto a esta pauta, é necessário ter cautela e levar em consideração que o vice-presidente Mourão também é neoliberal e entreguista. E se houver um acordo entre a esquerda e o centrão no congresso, isso pode dar apoio ao general para passar reformas impopulares, algo que não queremos. O que as manifestações do dia 15 deixaram claro é que a população rejeita toda a ideologia neoliberal, ou seja, o governo Bolsonaro como um todo, além de qualquer partidário de idéias similares.
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