Foto – Jairo de Moraes Gianoto,
prefeito de Maringá entre 1997 a 2000.
Em
sua mais recente entrevista, concedida após um ano de prisão aos jornalistas
Mônica Bergamo da Folha de São Paulo e Florestan Fernandes Júnior do espanhol
El País, o ex-presidente Luís Ignácio Lula da Silva afirmou, entre tantas
outras coisas, que quer desmascarar Moro, Dallagnol e companhia limitada. Pois
bem, gostaria de dar uma mãozinha ao ex-presidente nisso.
Como
dito em artigo anterior, a prisão de Lula pessoalmente muito me enoja não tanto
por causa daquele que foi jogado ao mar para ser devorado pelos tubarões ou do
fato dele ter sido condenado sem provas com base em um processo no mínimo
discutível e por “atos indeterminados de ofício”, mas principalmente por causa
dos piratas que o jogaram ao mar para ser devorado pelos mesmos tubarões.
Sensação essa que em mim ficou ainda mais exacerbada dentro de mim após não
apenas ver Moro se tornar ministro da justiça do governo Bolsonaro como também tomar
conhecimento a respeito das boladas bilionárias que a Farsa Jato tentou se
apoderar da Petrobrás (R$ 2,5 bilhões) e da Petrobrás (R$ 6,8 bilhões) por meio
de acordos de leniência. Algo que o próprio Lula chamou de “criança esperança”
do Dallagnol. O que configura como um verdadeiro esquema de lavagem de dinheiro
com claras intenções políticas e eleitoreiras. Chegou-se ao ponto de Gilmar
Mendes chamar essa gente de quadrilha com um projeto de poder.
Em
meu humilde entendimento, um dos motivos (para além da blindagem por parte dos
grandes veículos da grande mídia tupiniquim e a convergência de poderosos interesses
nacionais e internacionais nesse sentido) pelos quais essa gente tem a
popularidade que tem (em especial nas classes médias abastadas), a ponto de
poderem bancar os paladinos da moralidade perante nós, é o desconhecimento da
parte deles a respeito do Moro de antes da Lava Jato. Algo que pode ser visto
no artigo publicado por José Padilha, diretor dos filmes Tropa de Elite e Tropa
de Elite 2 e do seriado “O Mecanismo”, no artigo publicado em 16 de abril de
2019 na Folha de São Paulo, onde ele disse que Moro, até então visto pelo cineasta
como uma espécie de “samurai ronin”, perdeu sua independência política ao se
atrelar à família miliciana Bolsonaro. Ele, que sempre apoiou o juiz Moro e a
atuação dele na Lava Jato, agora demonstra decepção em relação ao mesmo, a ponto
de dizer que agora ele é uma espécie de anti-Falcone (o magistrado italiano no
qual Moro diz-se inspirar, assassinado pela Cosa Nostra em 1992).
Ao
que tudo indica, José Padilha, assim como muitos dos apoiadores do ex-juiz e da
Farsa Jato, não conhece o Moro de antes da Lava Jato, que sempre usou de sua
toga para fazer política em favor dos tucanos locais, a começar pela Operação
Maringá durante o mandato do ex-prefeito Jairo Gianoto (1997 a 2000) em
Maringá. Ou seja, Moro nunca foi ronin (termo usado para designar um samurai
sem mestre dos tempos do Japão pré-moderno, os quais muitas vezes eram
condenados a uma vida desonrosa e sem propósito), mas um samurai propriamente
dito. E o que ele faz hoje ao lado da família miliciana Bolsonaro é dar
continuidade ao que já fazia antes com os tucanos do Paraná. E em meu
entendimento, é trazendo à luz não apenas todo esse passado de politicagem a
favor do tucanato do Paraná, suas reais relações com os doleiros Alberto
Yousseff e Dario Messer e esquemas de corrupção como o das APAEs do Paraná e o
da indústria das delações premiadas denunciado por Rodrigo Tacla Duran que Moro
e sua quadrilha serão desmascarados.
Durante
os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, os tucanos, segundo Jessé Souza
em seu mais recente livro “a classe média no espelho”, reduziram e desmontaram
o Estado brasileiro a ponto de figurar apenas como um orçamento a ser dividido
pela elite dos proprietários. E nessa brincadeira toda (a nível internacional
inserida dentro de um contexto de crescente empoderamento do capital financeiro
na economia global) entregaram a preço de banana empresas estatais para os
donos do mercado durante a privataria tucana, encolheram as funções sociais do
Estado, usaram o orçamento estatal para turbinar o setor financeiro com o
dinheiro de todos, elevaram a taxa SELIC à taxa estratosférica de 45% com o
intuito de propiciar o saque da população inteira e transformação do Banco
Central na boca de fumo da real corrupção brasileira.
Nisso
surgiram inúmeros esquemas de corrupção, a começar pela privataria tucana dos
anos 1990 e o caso Banestado, o maior esquema de evasão de divisas da história
do Brasil (que era feito por meio das contas CC5). Essa é a gênese dos esquemas
de corrupção tucanos que sempre são colocados para debaixo do tapete da tão
imparcial e impoluta justiça brasileira e perante os quais os esquemas nos
quais os petistas se envolveram enquanto estiveram na presidência da República e
o laranjal do PSL não passam de brincadeira de criança. Nas palavras do próprio
Jessé Souza, FHC, em seu anseio de “enterrar a era Vargas” que está sendo
retomado por Jair Bolsonaro no presente momento, fez do Estado brasileiro um
“instrumento de rapina da ínfima elite de proprietários e dos estratos
superiores da classe média”. E um desses esquemas é o da Operação Maringá, que
movimentou uma quantia avaliada em cerca de R$ 49 milhões (R$ 500 milhões em
valores atualizados). Esquema esse do qual tomei conhecimento por meio do
Osvaldo Bertolino (tanto em seu site quanto de seus vídeos no You Tube). Entre
aqueles que não vão com a cara do juiz Moro e da Farsa Jato muito se fala no
caso Banestado e do fato dele ter livrado a cara de tucanos de alta plumagem e
empresas de mídia nele envolvidos ao mesmo tempo em que prendeu alguns
funcionários do banco, mas não vejo a mesma publicidade quanto à Operação
Maringá, e é por isso que gostaria de começar por ela.
Foto – Luiz Antônio Paolicchi,
ministro da Fazenda da administração Jairo Gianoto em Maringá.
Os
vários esquemas de corrupção da era tucana deram luz a vários personagens, e um
deles é Luiz Antônio Paolicchi, o qual ocupou o cargo de ministro da fazenda de
Maringá entre 1993 a 2000. Pode-se dizer que para os tucanos locais Paolicchi
era uma espécie de equivalente do que o finado Manfred von Richthofen era para
os tucanos de São Paulo no tempo de Mário Covas, do que Paulo Preto é hoje para
os mesmos tucanos de São Paulo e do que Fabrício Queiroz é para a família
Bolsonaro. Juntos, Paolicchi e Gianoto foram responsáveis por um esquema
milionário de desvio de dinheiro, e com tal dinheiro compraram itens como
aviões, fazendas, colheitadeiras, insumos agrícolas e carros de luxos. O
dinheiro desviado desse esquema comandado por Paolicchi, entre outras coisas,
irrigou as campanhas eleitorais de Álvaro Dias (PSDB) e Jaime Lerner (então
PFL, hoje DEM) a senador e governador, respectivamente, em 1998. Os negócios do
esquema comandado por Paolicchi também incluíam figuras como Daniel Dantas e o
doleiro Alberto Youssef.
Em
27 de outubro de 2000 Gianoto, cujo mandato foi marcado por uma série de
escândalos administrativos, é deposto por improbidade administrativa antes do
término de seu mandato e substituído pelo pemedebista João Alves Correia. Junto
com Gianoto, Paolicchi também caiu, tendo sido investigado na época pelo
Ministério Público de Londrina por suas ligações com Alberto Youssef, que em
dezembro do mesmo ano foi preso em Londrina por envolvimento no escândalo
AMA-Conurb. Ainda em 2000 a população de Maringá elege o petista José Cláudio
Pereira Neto, com quase 107 mil votos. Gianoto, por seu turno, veio a ser preso
seis anos mais tarde pela Polícia Federal por desvio de dinheiro público,
formação de quadrilha e sonegação fiscal. Sérgio Moro (que na ocasião
trabalhava no escritório de Irivaldo Joaquim de Souza, o advogado de Gianoto) veio
em socorro de Gianoto por meio de um habeas corpus. Ironicamente, o mesmo
habeas corpus que anos mais tarde foi negado a Lula Moro em 2006 usou-se para
livrar a cara de um tucano envolvido em esquemas de corrupção e testemunhando
em favor dele. Em 2010 Gianoto foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Paraná
a devolver a quantia de cerca de R$ 500 milhões aos cofres públicos.
Junto
com Paolicchi e Jairo Gianoto também foram condenados nos autos nº449/2000
Jorge Aparecido Sossai (então contador), Rosimiere Castelhano Barbosa (então
tesoureira), Neuza Aparecida Duarte Gianoto (esposa do ex-prefeito), José
Rodrigues Borba (ex-deputado federal) e os réus Sérgio de Souza Campos, Celso
de Souza Campos, Eliane Cristina Carreira, Izaias da Silva Leme, Silvana Aparecida
de Souza Campos, Valdenice Ferreira de Souza Leme, Valmir Ferreira Leme,
Waldemir Ronaldo Correa, Paulo Cesar Stinghen, Moacir Antônio Dalmolin, a
empresário Flórida Importação e Comércio de Veículos Ltda.
Em
2011 Paolicchi é brutalmente assassinado. Seu corpo foi encontrado amarrado
dentro do porta-malas de um carro que estava abandonado. Seis anos mais tarde o
tribunal do júri de Maringá condenou por crime de homicídio qualificado os três
réus do caso Paolicchi: Vagner Eizing Ferreira Pio (com o qual Paolicchi
mantinha uma união estável), Eder Ribeiro da Costa e Valdir Ferreira Pio (pai
de Vagner). O primeiro por ter sido o mentor e mandante do crime, o segundo por
ter efetuado os disparos que ceifaram a vida de Paolicchi e o terceiro por
participação no homicídio.
Paolicchi
se foi há quase um decênio, e poucas pessoas sabem a respeito da dimensão de
seu envolvimento com a corrupção tucana do Paraná. Certamente, para seu túmulo
muitos segredos a esse respeito ele levou. Segredos esses que bem provavelmente
envolvem muitos bacanas da alta sociedade do interior paranaense. Em termos de
nebulosidade política, pode-se dizer que o caso da morte de Paolicchi é um
equivalente paranaense do caso da morte de Manfred von Richthofen e sua esposa
Marísia, ocorrido em 2002, nas mãos da filha do casal Suzane e dos irmãos
Cravinhos. Eu particularmente imagino o tanto de bacanas (incluindo juízes,
procuradores, desembargadores, altos empresários, banqueiros, empresas de mídia
e outros tantos) não seriam pegos caso não apenas os esquemas operados por
Paolicchi e por Manfred von Richthofen como também por outros operadores do
tucanato como o próprio Paulo Preto um dia vierem à tona. Bacanas esses que
certamente devem ter dado aval e até ganho comissões e gorjetas desses
esquemas. Também imagino as ligações entre os vários esquemas de corrupção dos
tucanos que viriam a aparecer caso isso tudo viesse à tona.
Uma
coisa é certa a respeito tanto de Paolicchi quanto de Manfred von Richthofen:
caso ambos fossem em vida ligados a partidos de esquerda como o PT e o PDT e
não aos tucanos, ou se um homicídio similar ao que ceifou a vida de ambos
acontecesse com o João Vaccari Neto ou qualquer outro operador ligado ao
Partido dos Trabalhadores, isso seria literalmente o escândalo do milênio. Os
grandes veículos de comunicação dedicariam milhares de páginas e horas dos
telejornais ao caso, seriam feitas investigações policiais incessantes, assim
como mandatos de prisão expedidos por juízes e devassas em contas bancárias. Em
um ano eleitoral, usariam isso como bala de prata de forma a influenciar o
resultado das eleições em favor dos candidatos preferidos do sistema. E quando
o caso chegasse aos tribunais, fariam uso do artifício da teoria do domínio do
fato para incriminar Lula e outras figuras da alta cúpula petista. E obviamente
enviesando politicamente até a medula as investigações a respeito dos esquemas
de forma a incriminar apenas os petistas e não mostrar, por exemplo, que a
tecnologia advinda do próprio esquema não é de origem petista, mas tucana.
Mas,
como se trata de algo que diz respeito aos impolutos tucanos, isso, como diria
o próprio ex-juiz e hoje ministro da justiça Moro, “não vem ao caso”. Dessa
forma, os meliantes são presos enquanto que os grandes bandidos atravessam o
rio sem serem incomodados pelas piranhas.
Fontes:
Souza,
Jessé. A classe média no espelho: sua história, seus sonhos e ilusões, sua
realidade. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2018.
Desvio
de verba envolve mais de 130 pessoas. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0403200125.htm
Diretor
de Tropa de Elite, Padilha admite que errou ao apoiar Moro: “trabalha para a família
Bolsonaro”. Disponível em: https://www.revistaforum.com.br/diretor-de-tropa-de-elite-padilha-admite-que-errou-ao-apoiar-moro-trabalha-para-a-familia-bolsonaro/
Em
Maringá, juiz Sérgio Moro se une a sacerdotes hipócritas para acobertar
corrupção tucana. Disponível em: http://outroladodanoticia.com.br/2015/11/24/osvaldo-bertolino-em-maringa-juiz-sergio-moro-se-une-a-sacerdotes-hipocritas-para-acobertar-corrupcao-tucana/
Eu
quero desmascarar Moro, diz Lula! Não troco minha liberdade pela minha
dignidade! Folha entrevista Lula. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5W8mlg2Ix3M
Jairo
Gianoto, ex-prefeito da cidade de Maringá. Disponível em: http://www.maringa.com/maringa/jairo.php
Jornal
questiona passado de Moro com o PSDB. Disponível em: https://www.brasil247.com/pt/247/parana247/163212/Jornal-questiona-passado-de-Moro-com-o-PSDB.htm
José
Padilha: o ministro anti-Falcone. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2019/04/o-ministro-antifalcone.shtml
Lula:
“estou muito mais preocupado com o que está acontecendo com o povo brasileiro”.
Disponível em: https://www.causaoperaria.org.br/lula-estou-muito-mais-preocupado-com-o-que-esta-acontecendo-com-o-povo-brasileiro/
MP
investiga relação Youssef-Paolicchi. Disponível em: https://www.folhadelondrina.com.br/politica/mp-investiga-relacao-youssef-paolicchi-313744.html
Padilha
diz que projeto de Moro favorece milícias ligadas a Bolsonaro. Disponível em: https://www.brasil247.com/pt/247/cultura/390323/Padilha-diz-que-projeto-de-Moro-favorece-mil%C3%ADcias-ligadas-a-Bolsonaro.htm
Perseguição
a Lula é promessa de família. Disponível em: https://www.pragmatismopolitico.com.br/2018/02/perseguicao-de-moro-a-lula-familia.html
Sérgio
Moro e a história do desvio de R$ 500 milhões em Maringá por tucanos.
Disponível em: http://outroladodanoticia.com.br/2016/11/21/sergio-moro-e-a-historia-do-desvio-de-r-500-milhoes-em-maringa-por-tucanos/
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