Foto
– Protesto em Fortaleza contra o futebol moderno.
Arena Pantanal, Arena
Corinthians, Arena Amazônia, Arena da Baixada, Arena Fonte Nova, Arena
Engenhão, Arena Allianz, Arena isso, Arena aquilo, Arena não sei o que...
Espera ai, que negócio é esse de Arena? Hoje em dia está na moda os estádios de
futebol do Brasil adotar o nome de Arena. Vários já fizeram isso, ao ponto de muitos
deles serem reconstruídos praticamente que do zero.
Mas, em essência, o que
são essas Arenas? Nada mais, nada menos que versões gourmet dos bons e velhos
estádios de futebol. E o que seriam essas versões gourmet dos bons e velhos
estádios de futebol? Nada menos que um eufemismo para estádios de rico, onde o
preço dos ingressos muitas vezes é proibitivo para as massas. Não raro, o preço
das cadeiras mais baratas custa de R$ 200,00 para cima. Historicamente, existia
algo que distinguia o futebol de outros esportes, em especial o automobilismo
(que é um esporte elitista por excelência), era o seu caráter e apelo popular,
e isso é o que toda essa onda de gourmetização dos estádios está destruindo. O torcedor mais humilde, com o preço dos ingressos mais elevados (além da demolição das gerais dos estádios), já está sendo
afastado das arquibancadas, principalmente dos grandes centros (e a isso se
agrava o alto custo de vida do país). Agora, para que a pá de cal seja
colocada, a pergunta que fica é: qual será o próximo passo desses elementos que
promovem a gourmetização dos estádios? Não é absurdo pensar que daqui a um
tempo começarão a também vedar o acesso das pessoas de classes menos favorecidas
aos campos e times de futebol. Isso seria o fim do futebol como nós o
conhecemos e, quem sabe, até algo que pode levar o esporte para o buraco, na
medida em que o transformaria em uma espécie de Fórmula 1 com bolas ao invés de
carros. Mais do que isso, o futebol brasileiro voltaria a uma situação similar
a de seus primórdios, onde era visto como um esporte elitista e de brancos e
que para um atleta negro poder jogar em um time era preciso passar maquiagens
como o pó de arroz. E isso não é tudo: agora as pessoas que vão para o estádio
não vão mais lá para assistir o jogo e torcerem para seu time de coração, como
se o fosse o Camisa 12 do time. Agora muitos desses torcedores (se é que
podemos chamá-los assim) almofadinhas, do alto de sua futilidade, que ficam
principalmente nos assentos VIPs do estádio não vão lá pelo espetáculo em
campo, e sim para ficar nas arquibancadas, tirar fotos com os amigos tão ou
mais fúteis e depois postá-las em redes sociais. Ou seja, agora nos estádios o
negócio não é mais ser o Camisa 12 do time e sim o Rei do Camarote.
A lógica da
transformação dos velhos estádios de futebol em sua essência é a mesma da dos
food trucks que vendem comida gourmet nas ruas. Assim como as arenas, a comida
vendida nesses food trucks, pastelarias e outros estabelecimentos que vendem a
tal comida gourmet nada mais é que as velhas e tradicionais comidas só que
adicionada de muitos outros ingredientes que a encarecem consideravelmente. Um
exemplo disso é o tradicional bolo de chocolate em que se coloca pedaços do
chocolate Kit Kat em suas laterais e, em cima, balinhas coloridas recheadas de
chocolate. Ou as paletas mexicanas (que em seu país de origem nada tem de
gourmet, sendo os equivalentes locais dos picolés vendidos em carrinhos de
sorvete aqui no Brasil) vendidas em muitos estabelecimentos comerciais e que
nada mais são que os tradicionais sorvetes com um recheio mais “anabolizado”
(incluindo morango com leite condensado e chocolate com Nutella, entre outros).
E, diga-se de passagem, os food trucks nada mais são que versões dos velhos
carrinhos de lanche para rico. E as paleterias, sorveterias para rico. Resumindo
a ópera, essas comidas gourmet são para a simples e tradicional comida a mesma
que as arenas em relação aos tradicionais estádios de futebol: produtos feitos
especialmente para o consumo das classes mais abastadas. E assim como os preços
dos ingressos das arenas, o preço desses alimentos gourmetizados é muitas vezes
proibitivo para o povo mais humilde.
Foto –
Picolé normal x Paleta “mexicana”.
E o que é isso em sua
essência? Nada mais que uma maneira de criar novas formas de desigualdade
social na medida em que os modos antigos vão se reduzindo ou mesmo sendo
extintas. Como todos nós sabemos, no Brasil durante os governos Lula e Dilma (deixemos
seus defeitos de lado) as classes menos favorecidas tiveram certa ascensão socioeconômica
(ainda que um tanto tímida). Apesar disso (lembremos que, apesar de tudo, o PT
governou muito mais para as classes dominantes que para o povão) o incômodo foi
tamanho que muitos desses elementos das classes mais abastadas (os quais foram
chamados de a “elite branca” por Juca Kfouri em algumas ocasiões) acharem que
“aeroporto virou rodoviária”. Assim, as elites tratam de criar novas formas de
apartheid social, quer seja através da comida, através do futebol e outros
esportes, entre outras coisas. São esses mesmos elementos que em manifestações
de rua ficam falando palavras de ordem como “impeachment da Dilma já”,
“intervenção militar já”, “Bolsonaro presidente”, “Olavo de Carvalho está
certo”, “vai para Cuba”, “fora PTralhas”, “Não à cubanização do Brasil”, “Somos
todos Sérgio Moro”, entre outros impropérios. São esses mesmos elementos que adoram
vociferar que os nordestinos e nortistas votam mal, mas que votam em políticos
tão ou mais tranqueiras como Moreira Franco (o mesmo que abandonou com os CIEPs
de Brizola e Darcy Ribeiro), Sérgio Cabral Filho, Marconi Perillo, Eduardo
Paes, Paulo Maluf, Jair Bolsonaro, Marcos Feliciano, Jean Wyllys, Pezão,
Saturnino Braga, Geraldo Alckmin, Marta Suplicy, Aécio Neves e outros tantos.
A lógica usada na recente
destruição do Maracanã, em sua essência, é a mesma lógica usada no mesmo Rio de
Janeiro entre 1902 a 1906 durante a reforma urbanística feita pelo prefeito
Pereira Passos. Assim como muitas das reformas urbanísticas feitas em várias
cidades no Brasil mais ou menos na mesma época, a reforma feita por Pereira
Passos foi inspirada na reforma urbanística feita em Paris entre 1853 a 1870
pelo então prefeito Georges Eugène Haussmann[1]. Querendo transformar o
Rio de Janeiro (então capital do Brasil) em uma cidade de ares modernos e uma
espécie de cartão postal do Brasil para o mundo (em especial para a Europa), as
elites da época trataram de construir bulevares inspirados nos criados por
Haussmann em Paris, assim como grandes edifícios e largas avenidas (principalmente
no centro da cidade). Essa reforma
foi chamada pela população na época como “Bota Abaixo”, pois promoveu ao mesmo
tempo a demolição de muitos casarões e prédios antigos. O que fez com que
parcela significativa da população de baixa renda mudasse para os subúrbios da
cidade, no que deu origem às favelas que até hoje fazem parte da paisagem da
periferia do Rio de Janeiro. E o que os bulevares de Pereira Passos têm em
comum com os estádios de futebol gourmetizados de hoje em dia? Ambos os espaços
foram criados para serem usados e frequentados pelas elites abastadas e cridas
sob o signo da exclusão e da segregação das camadas mais humildes. E, pelo
visto, mesmo nos dias de hoje a questão social ainda é vista por essa mesma
elite como “questão de polícia” que nem naquela época.
Foto
– Bota Abaixo no Rio de Janeiro (Rua Uruguaiana com 7 de Setembro, 1906).
E o mais grave em todo
esse processo de gourmetização dos estádios de futebol é que o mesmo foi
realizado com um discurso de combate à violência por parte de torcidas
organizadas e afins. Sob tal pretexto, com isso acabou-se com a geral nos
estádios, os torcedores que levavam bandeiras e instrumentos musicais para o
jogo, cantavam, e empurravam o time. Ou seja, com essa palhaçada toda se
destruiu com o verdadeiro torcedor apaixonado por futebol e por seu time de
coração. Agora vemos nessas arenas uma massa amorfa que muitas vezes olha o
jogo de futebol como um mero detalhe de sua vida social e que vão ao estádio
tirar fotos com os amigos e depois postá-las no Facebook e outras redes sociais.
Concluindo, o que se
verificou com o Maracanã com a reforma para a Copa de 2014 foi uma grande
vergonha, um verdadeiro crime contra a humanidade e contra o patrimônio
histórico do Rio Janeiro (não vamos nos esquecer de que o próprio Maracanã foi
tombado pelo IPHAN em 2000 e por causa disso não podia sofrer modificações em
sua estrutura), assim como para com o próprio futebol e sua história. Com o fim
da geral a alma do Maracanã que presenciou tantos jogos e viu tantos craques
por lá passarem foi destruída impiedosamente. Tudo isso para atender a interesses
escusos de empreiteiras, empresas privadas, políticos corruptos e outros. Como
também não vamos nos esquecer do silêncio da grande mídia nacional com relação
a isso (que certamente alguma coisa deve ter ganho com esses esquemas).
E agora, como fica? O
que passou, passou. Mas isso não é motivo para esquecermos o que aconteceu com
o Maracanã e outros estádios que passaram pelo mesmo processo. A questão agora
não é ficar lamentando o que aconteceu com o Maracanã, e sim não esquecer para impedir
que outros estádios futuramente sejam “gourmetizados”. Por fim, gostaríamos de
deixar aqui todo o meu repúdio para com as Arenas (vulgo Estádios Gourmet) e
para com o futebol moderno de modo geral, assim como minha esperança de que
esse processo de elitização do futebol mais cedo ou mais tarde receba o seu
devido freio e o futebol no Brasil um dia volte a ser um verdadeiro esporte do
povo e não apenas de uma meia dúzia de abastados que tem dinheiro para pagar por
uma cadeira confortável no camarote das arenas. Não ao Futebol Gourmet!
Foto
– Maracanã antes e depois da Reforma.
Fontes:
Fontes:
Bota-abaixo. Disponível
em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/bota-abaixo
Detesto o futebol
gourmet. Disponível em: http://espn.uol.com.br/post/461003_detesto-o-futebol-gourmet
Paleta original mexicana
não é nada gourmet; entenda as diferenças. Disponível em: http://comidasebebidas.uol.com.br/noticias/redacao/2015/02/12/paleta-original-mexicana-nao-e-nada-gourmet-entenda-as-diferencas.htm
Veja quais são as
diferenças entre o futebol gourmet e o futebol de “verdade”. Disponível em: http://torcedores.com/noticias/2014/12/veja-quais-sao-diferencas-entre-o-futebol-gourmet-e-o-futebol-de-verdade
NOTA:
[1] Leia-se Ôssmann, pois no francês a
partícula h é muda que nem no português e no espanhol e a partícula au tem
valor de ô.
lixo esquerdopata sem sentido
ResponderExcluirOlha eu não sou socialista ,não gosto do PT,porem devo admitir que você está certo.
ResponderExcluirO futebol não somente aqui no Brasil mas na Europa e ao redor do globo está passando por uma elitização,o liberalismo está estragando o esporte que tanto gostamos e transformando-o em uma mercadoria,com novas arenas e ingressos caríssimos,times multimilionários que crim times fortíssimos trazendo uma disparidade enorme frente aos seus concorrentes(so observar os campeoes da champions league dos ultimos 20 anos com os de 30 -40 anos atras,idem para as ligad europeias).Isso sem falar nas torcidas que cada vez mais se transformam em torcidas de ténis.