Por Lucas Novaes
Este
é um texto-resposta direcionado ao vídeo intitulado “OLAVISMO CULTURAL: o maior
projeto de doutrinação de jovens” e, também, a seu complemento “OLAVISMO
CULTURAL: Liberalismo econômico e conservadorismo político – Adendo” (ambos postados
no canal do Youtube “Saia da Matrix” em novembro de 2015). Seus respectivos
links encontram-se no final deste texto. É recomendada a visualização dos
vídeos em questão antes da leitura desta resposta. Adianto logo que não existe
inimizade alguma entre o autor desta postagem e Humberto Matos (dono da
página). Muito pelo contrário, seu canal possui alguns vídeos interessantes que
devem ser conferidos.
Antes
de iniciarmos a discussão sobre a análise exposta por ele, é necessário
esclarecer ao leitor a que o termo “Olavismo Cultural” se refere: trata-se de
uma maneira bem-humorada de descrever a influência exercida pelas opiniões
políticas de Olavo de Carvalho (astrólogo brasileiro que mora nos EUA;
considerado guru intelectual da nova direita nacional) sobre uma parcela de
cidadãos brasileiros (muitos deles, jovens). A expressão é usada de maneira
similar ao “Marxismo Cultural” (esta última muito proferida em meios
intelectuais conservadoras norte-americanos e que se tornou popular no Brasil
graças aos escritos de Olavo de Carvalho).
Marxismo
Cultural pode ter diferentes significados, dependendo da visão de mundo do
teórico da conspiração que a profere. Em linhas gerais, trata-se de uma suposta
estratégia política e cultural utilizada por adeptos da ideologia socialista
para destruir os “valores ocidentais” por meios não relacionados a luta de
classes: estímulo ao conflito de gênero (feminismo), de raça (racialismo), de orientação
sexual (ativismo LGBT) etc. Não cabe a nós discutir, em detalhes, o significado
e o uso do termo. Vamos nos ater ao assunto principal, explicitado no título
desta postagem.
BREVE DESCRIÇÃO DO
VÍDEO:
Inicialmente,
Humberto discorre sobre o descontentamento atual dos jovens para com as
ideologias principais: após o final da Guerra Fria, o Socialismo foi tido com o
morto e desacreditado e a ideologia “vencedora” (o Capitalismo) demonstrou não
satisfazer a população como um todo, dado a desigualdade social comum no sistema
econômico de livre mercado.
Em
seguida, nos deparamos com diversos clipes com trechos de falas absurdas de
Olavo, incluindo a teoria da conspiração de que Barack Obama seria, na verdade,
um agente comunista (ou islâmico) infiltrado no governo estadunidense, assim
como a existência de um misterioso projeto que visa a criação de uma religião
biônica mundial. Tais crenças são compartilhadas por muitos eleitores conservadores
e/ou libertários nos Estados Unidos.
Logo
após, a partir dos 10 minutos da exibição, Humberto faz uma (não explanada)
correlação entre os canais de jogos populares, a direita “olavete” e o Partido
da Social Democracia Brasileira (PSDB). A segunda exibição (vídeo complementar)
fala sobre a aliança entre o conservadorismo político (moral, presumidamente) e
o liberalismo econômico como sendo um traço da direita brasileira desde o
Brasil colônia, assim como da tradição de cosmopolitismo da parte do patronato
político e econômico brasileiro que remonta desde aquela época e das raízes
históricas em que o discurso olavista deita.
ONDE O VÍDEO ERRA? (UMA
PROPOSTA DE COMPLEMENTO):
Quanto
ao descontentamento da juventude para com as ideologias principais, é
verdadeira a existência do desagrado. Porém, não se deve resumir uma ideologia
como sendo apenas o sistema econômico. As principais ideologias modernas (isto
é, aquelas que chegarem a ser postas na prática; Socialismo, Liberalismo e
Nacionalismo) também possuem preceitos culturais, filosóficos etc. Humberto
deve saber desse fato, mas, devido ao tempo do vídeo ou porque não quis, acabou
não o explicando.
Porém,
é somente a partir dos 10 minutos que o vídeo começa a ficar confuso,
incompleto e/ou mal explicado. O motivo para isso é que Humberto parece
desconhecer (ou simplesmente desconsiderar) as disputas eleitorais nos Estados
Unidos da América; o embate político entre a direita americana (representada,
em sua maioria, pelo Partido Republicano) e a esquerda (incorporada dentro do
Partido Democrata). Olavo de Carvalho vive nos Estados Unidos há quase duas
décadas e, durante esse tempo, foi exposto ao discurso conservador
norte-americano, ao qual o adere quase por completo. Os preceitos direitistas
digeridos por Olavo não possuem dependência alguma com o pensamento histórico
da “direita tradicional” brasileira ou ao PSDB. De fato, dentro do espectro
político do Brasil, os tucanos ocupam uma posição mais direitista (tanto por
aderirem a práticas mais liberais na economia como pelo fato de atrair um eleitorado
bem diferente dos petistas, seus maiores adversários). Mas comparar o discurso
e objetivos do Partido Republicano (que move a nova direita olavete) com os do
PSDB é um erro absurdo. Desde os anos 1960 (momento em que a esquerda ocidental
vai, aos poucos, abafando a retórica da luta de classes e movendo-se lentamente
em direção ao liberalismo social e ao favorecimento da globalização), a direita
americana passou a comportar-se de modo conspiratório. A aliança entre o
imperialismo (no âmbito da política externa), o forte conservadorismo social
(característica das igrejas protestantes do Sul), o livre mercado irrestrito e
direito ao porte de armas sem regulações é uma marca registrada do pensamento
de direita norte-americano. A Social Democracia dos tucanos, mesmo com suas inúmeras
contradições e constantes guinadas à direita, jamais chegaram perto do anti-esquerdismo
radical (em todas as suas formas) dos republicanos.
Políticos
como Aécio Neves e José Serra não apoiam o armamento civil, não aderem ao moralismo
religioso protestante (existem algumas exceções dentro do partido) e não estão
constantemente denunciando uma suposta doutrinação socialista para destruir os
valores cristãos da família por meio da legalização do aborto e do casamento
homossexual (nunca fizeram isso, aliás). Pelo contrário, o posicionamento
ideológico dos tucanos se aproxima bastante de alguns partidos de centro da
Europa. Na mais extrema das hipóteses, o PSDB está próximo da esquerda
americana (Partido Democrata, atualmente de posição centrista e
internacionalista) e de partidos liberais da América Latina.
Quem,
então, é o representante brasileiro mais fiel ao ideário republicano? Jair
Bolsonaro é a resposta óbvia para essa pergunta. Não é coincidência que os 8%
das intenções de votos conquistados por Bolsonaro nas pesquisas recentes vem ao
custo da queda do desempenho dos maiores nomes do tucanato e ocorre em sinergia
com o aumento da popularidade de Olavo. O voto de grande parte desses eleitores
sempre foi tido como garantido pelos tucanos.
Atualmente,
o partido que mais se aproxima dos ensinamentos doutrinários de Olavo é o
Partido Social Cristão (que ainda não possui projeção nacional, mas vem
crescendo). Entretanto, é possível que o PSDB passe a realizar mais guinadas à
direita para combater o crescimento do Olavismo Cultural e tomar para si certa
parcela desses votos emergentes.
Para
finalizar, não podemos deixar de explicitar que a ascensão do discurso olavista
(isto é, o discurso conservador americano) surge como contraponto ao discurso
do chamado “marxismo cultural” (que nada mais é do que a retórica da nova
esquerda europeia e dos liberais americanos). Ambos os pensamentos refletem a
hegemonia do Liberalismo no pós-Guerra Fria e são consequências diretas da
americanização das sociedades. São dois lados da mesma moeda, dois movimentos
que possuem objetivos geopolíticos parecidos. Essa americanização do território
tupiniquim pode ser dividida em três etapas: geopolítica, econômica e cultural.
A primeira torna-se realidade a partir de 1964 com a Ditadura Militar alinhada (e,
portanto, submissa) aos preceitos da política externa dos EUA e que interrompeu
certa tradição de presidentes nacionalistas de esquerda e desenvolvimentistas.
A partir dos anos 1990, começa a segunda etapa com os governos de Fernando
Henrique Cardoso e sua característica de privatização dos tesouros nacionais.
Do Século XXI até o momento, os governos do Partido dos Trabalhadores, por um
lado, empreenderam uma política social mais igualitária e justa para os
trabalhadores (contrariando interesses de parte da elite) e uma política
externa de cooperação com os vizinhos latino-americanos (contrariando os
interesses dos americanófilos do Atlantismo). Por outro, pouco fizeram para
resistir ao domínio cultural dos Estados Unidos (aderem às mesmas bandeiras universalistas
da ONU, União Europeia e americanos do Partido Democrata que são, por
definição, antinacionais) e falharam por não instruir as massas brasileiras
sobre o perigo que o exército dos Estados Unidos representa para a segurança
internacional. O eleitor petista médio é
instruído a acreditar que os principais inimigos de seu partido são internos (a
grande imprensa brasileira, o partido rival mais forte e os banqueiros
nacionais) e ignorar que essas forças rivais nada seriam sem o financiamento de
entes externos. Ou seja, é a falácia da política interna e do “livre
arbítrio”. Talvez o PT não toque no
assunto porque é conivente com a atuação de Organizações Não Governamentais
estrangeiras em território brasileiro (ironicamente, algumas ONGs ligadas a
movimentos liberais de direita como a Atlas e a Students for Liberty estão
manobrando massas contra o governo. Mas que moral teriam os petistas para
reclamar, quando os mesmos mobilizam ONGs de esquerda a seu favor?). Quanto a
isso, a postura correta a ser tomada é a do governo russo, que vem vetando e
limitando a influência de organizações estrangeiras em seu território,
diminuindo assim, a força do imperialismo ocidental (que lembremos, não se
resume a agressões físicas) contra sua população.
CONCLUSÃO
Ao
omitir a influência política e cultural externas em nossa pátria, Humberto
Matos acabou por comprometer sua análise sobre a conjuntura política.
Links:
https://www.youtube.com/watch?v=LNkpSSti6Oc
(primeiro vídeo)
https://www.youtube.com/watch?v=xavcw83bgR8
(complemento)
Excelente análise. Embora o vídeo OLAVISMO CULTURAL tenha seus méritos, peca nesses ponto em outros. A questão dos canais de Games é realmente muito mal explicada e fragilizada pelo fato de que o universo que o envolve (comunidade nerd e geek) é vastamente esquerdista principalmente neste sentido cultural.
ResponderExcluirTambém me incomoda o modo leviano com que Olavo de Carvalho é tratado. Pois se é fato que realmente proferiu todos aqueles disparates, ele é autor de uma vasta obra que deve ser analisada, uma vez que analise e desmascara amplamente o mesmo Globalismo Liberal, o que interessa a qualquer nacionalista e anti-liberal. E deve-se frisar o fato de que o contrário do que o vídeo sugere, Olavo já era um autor consagrado antes da internet, e um dos autores mais lidos, comentados e influente na própria internet MUITO ANTES de surgir o Youtube, as Redes Sociais ou mesmo a blogosfera.
Ou seja, Olavo deve ser lido, e no que importa combatido, no que ele escreveu de melhor, e não nos deslizes de evidente incompetência específica que pouco ou nada afetam o conjunto de sua obra.
No mais, parabenizo novamente o texto pela perspicaz distinção entre os tradições ideológicas norte americanas, brasileiras e européias, e em especial pelos dois últimos parágrafos que descrevem de forma brilhante as 3 etapas do assédio globalista ao Brasil, e que mereciam um texto à parte e mais específico.
Amigavelmente
Marcus Valrerio XR
Merda analisando merda!
ResponderExcluirArgumente, criatura favelada!
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