Foto
– Eduardo Bolsonaro (esquerda) e Jair Bolsonaro (direita).
Enquanto navegava no
Facebook recentemente, deparo-me com a foto acima (montagem óbvia), postada pelo
usuário Hélio Fernandes, em que Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo aparecem com
a suástica nazista estampada em suas camisas. O político carioca, devido a sua
truculência e defesa do regime civil-militar advindo do golpe de 1964, é
comumente visto por seus detratores como fascista e/ou nazista. Já chegou até a
ser a comparado ao ditador austro-alemão Adolf Hitler. Mas será que esse rótulo,
do ponto de vista conceitual, quando aplicado ao político que outrora fazia
parte do PP (Partido Progressista) e hoje membro do PSC (Partido Social
Cristão), faz sentido ou em realidade não passa de um espantalho, um equívoco,
uma ideia errônea?
Falar que Bolsonaro é um
fascista implica em dizer que ele é partidário daquilo que Aleksandr Dugin[1] chama
de Terceira Teoria Política. Pelo visto, seus detratores andam fazendo uma
leitura errada e equivocada do político do PSC. Jair Bolsonaro, assim como seus
filhos, em realidade é um político conservador que, a despeito de sua
truculência e de seu raivoso discurso anti-esquerdista, defende o sistema da democracia
liberal burguesa vigente no Ocidente. Haja vista que em muitos de seus
discursos na Câmara dos Deputados ele exalta as características democráticas do
regime civil-militar brasileiro. Em vários pronunciamentos na Câmara dos
Deputados, ele alegou que a democracia brasileira se encontra sob uma suposta
ameaça vinda do Partido dos Trabalhadores, o qual supostamente queria implantar
uma ditadura comunista no Brasil. Em outro pronunciamento, ele chega a
questionar o caráter ditatorial do regime em questão, se perguntando “que
ditadura é essa que tinha partido?”, referindo-se ao fato de que na época
haviam dois partidos que dividiam o bolo republicano brasileiro, a ARENA (Aliança
Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro; o mesmo que
anos depois deu origem ao PMDB). Também já fez várias críticas à política
externa que o Brasil tem adotado desde 2003, criticando as relações com países
como Irã, Cuba e Venezuela por esses países serem supostamente ditatoriais (ao
ponto de ter dito em um discurso de 2011 que Lula nos anos 1980 teria
supostamente recebido dinheiro do finado líder líbio Muammar al-Kadaffi para
fundar o PT). Pelo que suas falas sugerem, o foco ideal da política externa
brasileira deveria ser os países do dito “mundo livre e democrático” (ou seja,
Estados Unidos, União Europeia, Israel e Japão). Países essas que, por sua vez,
não tem o menor pudor em se relacionar com as mais abjetas ditaduras mundo
afora (a exemplo das petro-monarquias do Golfo Pérsico, onde qualquer um que
não é muçulmano sunita sofre brutais perseguições, e o atual regime ucraniano,
o qual assumiu o poder em um infame golpe de estado e desde então promove uma
guerra genocida no Donbass contra os russos étnicos locais) e os mais abjetos
grupos terroristas (a exemplo do Exército de Libertação de Kosovo, a Al Qaeda e
do Estado Islâmico). Além de através de seus pronunciamentos promover todo um
revisionismo a respeito do período do regime civil-militar brasileiro, a ponto
de dizer que, devido ao que ele chama de clamor da população (que em realidade
tratava-se do clamor das elites dominantes temerosas de verem o fim de seus
privilégios, além do terrorismo midiático promovido pelos grandes veículos de
comunicação da época), não houve um golpe em 1964, e sim revolução.
Para ser mais exato, Bolsonaro
é a face truculenta e raivosa do espírito do movimento constitucionalista de
1932 (sobre o qual tratamos em um artigo anterior). Esse mesmo movimento, cujo
epicentro foi o estado de São Paulo e que, sob a alegação de que o país
precisava de uma nova constituição e novas eleições presidenciais, foi uma
tentativa da oligarquia cafeeira que até então reinava no país retomar o poder
depois de ter sido desalojada por Getúlio Vargas e a Revolução de 1930, foi
citado por seu filho Eduardo em seu discurso favorável ao impeachment de Dilma.
Para sua sobrevivência e manutenção de seu status
quo, o sistema que aí está precisa tanto de uma figura como Fernando
Henrique Cardoso quanto de uma figura como Jair Bolsonaro. Do primeiro precisa
em tempos de paz social, e do segundo em uma situação em que sua sobrevivência
está ameaçada. E nisso suas falas encontram eco em muita gente principalmente
da classe média para cima que nunca tiveram simpatia pelos governos petistas,
assim como daqueles que se encontram desiludidos com o PSDB, por muitos visto
como um partido que faz uma oposição de mentira e frouxa ao PT.
Já o fascismo do tempo
de Mussolini e o nazismo do tempo de Hitler não tinham o mesmo apreço pelo
mesmo sistema liberal burguês que Bolsonaro e seus filhos apoiam. Muito pelo
contrário, o abominavam profundamente. Além disso, ambos eram avessos ao
conservadorismo tradicional (do qual o político carioca é favorável), eram
nacionalistas e tinham propostas nacionalizantes de fortalecimento do Estado
(ainda que de forma não comunista) e de mudança revolucionária da sociedade. Ao
passo que Bolsonaro, a despeito do que seus discursos transparecem de
nacionalista nada tem. Haja vista que hoje em dia ele defende a diminuição da
interferência estatal na economia e até mesmo a privatização da Petrobrás. E,
bem diferente do falecido Enéas, ele em momento demonstra interesse por
questões de importância visceral para o país como a questão da regulação da
grande mídia, reforma agrária, reversão da privataria[2]
das eras Collor e FHC e o saqueio do país pelo grande capital multinacional e
seus lacaios locais e a escravização do país através das altas taxas de juros
com que se pagam o serviço da dívida pública (ou seja, aquilo que Brizola em
vida chamava de “perdas internacionais”). Por essas e outras que Adriano
Benayon, ex-integrante do PRONA (Partido da Reedificação da Ordem Nacional
Administrativa), disse não ser ter simpatia pela atuação política de Bolsonaro,
definindo-a como “populismo para adeptos da direita, bitolados pelo
anticomunismo”. E, além disso, Bolsonaro em momento algum se mostra simpático
ao fascismo, ao nazismo ou qualquer outra ideologia política advinda da
Terceira Teoria Política.
Portanto, chamar Jair Bolsonaro
de fascista e/ou nazista é tão ou mais impróprio quanto chamar Lula e o PT de
comunista e/ou bolivariano (assunto esse que anteriormente foi abordado e
esmiuçado no artigo a respeito do ataque a Dom Odilo Scherer). Ideologicamente
falando, Bolsonaro está muito mais próximo dos Republicanos norte-americanos
que dos fascistas do tempo de Mussolini e dos nazistas do tempo de Hitler.
Assim como os Republicanos nos Estados Unidos, Bolsonaro é um conservador nos
campos social e político e ao mesmo tempo um liberal no campo econômico. Ou
seja, alguém que advoga aquilo que nós chamamos de “a direita dos valores sem a
esquerda do trabalho”, parafraseando Alain Soral. Ou seja, é contra a
degradação moral dos dias de hoje, mas ao mesmo tempo fecha os olhos para o
terreno onde ela se desenvolve. Ataca o artista ou o universitário maconhista
e/ou o abortista, mas fecha o olho para os grandes capitalistas que promovem
essas coisas por trás das cortinas. De acordo com Aleksandr Dugin, o
conservador liberal é um sujeito que diz amém às mudanças liberais e o avanço
do mundo moderno unipolar, mas de forma mais gradual, e que acredita nos
preceitos liberais da modernidade e ao mesmo tempo acha que ainda é um pouco
cedo para os preceitos da pós-modernidade (ou seja, não se opõe de fato à
pós-modernidade). Assim sendo, o elefante republicano é um símbolo muito mais
condizente ao político carioca que o fascio[3]
fascista ou a suástica nazista. Porque da mesma forma com que o Partido
Republicano não advoga nenhuma transformação revolucionária da sociedade
norte-americana, Bolsonaro não advoga o mesmo em relação à sociedade
tupiniquim. E, como todos nós sabemos, o Partido Republicano é, junto com o
Partido Democrata, o principal partido da ordem burguesa nos Estados Unidos,
tal como o PT e o PSDB aqui no Brasil, o Partido Social Democrata e a
Democracia Cristã na Alemanha, o Movimento por uma União Popular e o Partido
Socialista na França e os Trabalhistas e os Conservadores na Inglaterra, Trabalhistas,
Democracia Cristã e Conservadores na Noruega, Partido Popular e Partido
Socialista Operário Espanhol na Espanha, entre tantos outros exemplos que aqui
podem ser listados.
Foto
– O elefante republicano.
Mas, se Bolsonaro nada
tem de fascista e/ou de nazista, por que será ele ganhou essa pecha da parte de
seus detratores (em especial de setores militantes de esquerda)? Da mesma forma
com que os termos comunista e bolivariano para a direita tacanha brasileira e o
termo nazista para os sionistas viraram espantalhos retóricos e porretes
linguísticos, para a esquerda, o fascismo ganhou o mesmo significado. Quando o
termo fascismo vem à mente das pessoas, ele geralmente é associado com palavras
como truculência e violência, assim como posturas reacionárias e refratárias a movimentos
e governos populares. E é esse tipo de postura que Bolsonaro, que como todos
nós sabemos é partidário do regime civil-militar brasileiro, que dá margem para
ele ser taxado de fascista. Mas há uma diferença abissal entre ser truculento e
refratário a governos de esquerda e movimentos populares (coisa que qualquer um
pode ser, independente da ideologia que professa) e ser um fascista de fato, no
verdadeiro sentido do termo.
Foto
– Bolsonaro caricaturado com o uniforme nazista, uma suástica ao fundo e o
bigode de Hitler.
Bolsonaro é acima de
tudo um homem do sistema (o qual invariavelmente cortará as asas do político do
PSC se um dia ele resolver começar a denunciar suas mazelas) que ai está, e
nisso ele se iguala a figuras como Lula e FHC. Ele teve um crescimento significativo
principalmente de 2010 para cá graças à retroalimentação que as propostas de
gente como sua cara-metade político-ideológica Jean Wyllys (entre elas o kit
gay nas escolas) e as polêmicas e farpas com outros políticos como a petista
Maria do Rosário (notória defensora de criminosos) que apareceram na mídia
propiciaram (a exemplo da entrevista concedida ao CQC em 2011, onde a cantora
Preta Gil lhe perguntou se deixaria seus filhos namorarem uma negra. Bolsonaro,
por sua vez, atrapalhou-se na hora de responder à filha de Gilberto Gil). Nada
mais que isso. E, diga-se de passagem, figuras como ele e o pastor Marco
Feliciano, para que existam e tenham expressão no cenário político, precisam de
figuras como Jean Wyllys e Maria do Rosário, na medida em que um puxa votos
para o outro e vice-versa, com o político do PSC se posando como o “defensor da
moralidade ante a pouca vergonha que aí está” e o político do PSOL (Partido
Socialismo e Liberdade) e ex-BBB se posando de “defensor dos direitos das
minorias ante a truculência dos fundamentalistas da direita”. Os dois lados em
questão são como no taoísmo o Yin e o Yang[4],
as duas faces do deus Janus[5]
na mitologia romana e os personagens Piccolo e Kami Sama em Dragon Ball:
dois elementos opostos entre si, mas que se completam um ao outro, ao ponto de
um não existir sem o outro e vice-versa. Em outras palavras, formam uma unidade
aparentemente contraditória.
Foto
– PT nazi-fascista?
Como se não bastasse os
imbecis que ficam falando que o PT é comunista e bolivariano, descubro
navegando no Facebook a foto acima, em que o Partido de Lula e Dilma é rotulado
de nazi-fascista, só pelo fato de ter uma sigla parecida com o partido de
Hitler, Himmler, Goering e outros. Se a pecha de comunista é imprópria ao PT
(haja vista, que entre outras coisas, o PT, além de nunca ter chamado o povo
para luta alguma, esses anos todos nunca fez reforma agrária e que fez um
governo muito mais voltado para os barões do agronegócio, os banqueiros [que
tiveram lucros estratosféricos durante as eras Lula e Dilma] e os empresários
da Avenida Paulista que para os famélicos depauperados de lugares como o sertão
nordestino e as favelas do Rio de Janeiro), o que dirá a pecha de
nazi-fascista, tendo em vista a suposta irmandade de que gente como o Olavo de
Carvalho (vulgo Sidi Muhammad) falam que existe entre o comunismo e o
nazi-fascismo. Mas, o PT fez algum ato nesse tempo todo tipicamente fascista ou
que pareça fascista? Não. Como um partido que, para começo de conversa, nem ao
menos regulou a mídia pode ser chamado de fascista? A única semelhança de
programa de governo do PT com os fascistas do tempo de Mussolini é que Lula
aqui no Brasil fez uma política de conciliação de classes similar a que
Mussolini fez na Itália. É a direita raivosa brasileira se superando cada vez
mais em sua tacanhice, imbecilidade e burrice (se bem que a esquerda não tem se
mostrado lá muito diferente dessa mesma direita).
Foto
– Bolsowyllys: as duas faces de Janus contrapostas entre si.
Fontes:
Arthur Lima – A quarta
ideologia. Disponível em: http://legio-victrix.blogspot.com.br/2015/11/arthur-lima-quarta-ideologia.html
Bolsonaro = Adolf
Hitler. Veja e tire as conclusões! Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kxFCH5fN_O4
Bolsonaro, conexão
Israel-EUA, entrega da base de Alcântara. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ehyDH0hFAbM
Bolsonaro contra os
pervertidos? Será mesmo? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DgNEjgkHjgA
Bolsonaro: meu filho não
namoraria Preta Gil por causa de seu comportamento. Disponível em: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5034595-EI6578,00-Bolsonaro+Meu+filho+nao+namoraria+Preta+Gil+por+causa+do+comportamento+dela.html
Eduardo Bolsonaro faz o
discurso mais importante de sua vida. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=T8XOU4APMsc
Lula foi à Líbia pegar
dinheiro com Kadafi durante Regime Militar Brasileiro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bkCaceFApUU
O Sentinela – Opinião do
Professor Benayon sobre Jair Bolsonaro. Disponível em: https://www.facebook.com/permalink.php?id=249360728594507&story_fbid=428410840689494
Revolução de 1964 –
Bolsonaro e o recuo do “Globo”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=V2aIlzAqMqg
Privatización y Privatería (em espanhol). Disponível em:
NOTAS:
[1] Leia-se “Duguin”, pois no russo,
assim como em idiomas como o alemão, o polonês, o mongol e o japonês, o som da
partícula g (cirílico Г) não muda em função da vogal seguinte tal como nas
línguas latinas e no inglês.
[2]
O termo privataria é um
neologismo que une as palavras privatização e pirataria. Foi criado pelo
jornalista brasileiro Hélio Gaspari e popularizado pelo também jornalista
Amaury Ribeiro (autor do livro “A Privataria Tucana”, sobre as falcatruas do
processo de privatização no Brasil durante o governo Fernando Henrique Cardoso
[1995 – 2002]).
[3] Leia-se “fachio”, pois no italiano a partícula sc quando
sucedida por e ou i tem o mesmo valor do ch no português e no francês, do sh no
russo, no inglês, no mongol e no mandarim, do sch no alemão, do s no húngaro,
do sz no polonês, do š do servo-croata e outras línguas da Europa
centro-oriental, entre outros.
[4]
Leia-se “Yan”. No mandarim,
assim como no francês, quando uma palavra termina em consoante, a última é
sempre muda.
[5]
Leia-se “Ianus”. No latim, assim
como em idiomas como o alemão, o holandês, o húngaro, o polonês, o
servo-croata, as línguas escandinavas e bálticas, o tcheco, o eslovaco e outros
tantos, a partícula j tem valor de i.