Foto – O burro democrata.
Por Lucas Novaes
Um
dos maiores atributos conquistados pelo acompanhamento do desenvolvimento
político-partidário mundial e dos desdobramentos geopolíticos é ter uma melhor
noção sobre para qual direção o fluxo de ideias está apontando.
Os
conhecimentos adquiridos pela análise das disputas ideológicas internas que
ocorrem ao redor do mundo, aliados ao estudo da estratégia militar política
(geoestratégia) nos permitem uma percepção maior sobre a realidade se comparados
aos que se limitam a uma visão nacional onde os meios midiáticos e organizações
privadas são meros entes poderosos e independentes trabalhando para interesses
estritamente individuais.
O
processo político brasileiro, em especial, desde o fim da Ditadura Militar
(1985) e início da redemocratização do país, parece estar seguindo um caminho
uniforme de maneira lenta e gradual. Isso significa que os movimentos políticos
dissidentes são, cada vez mais, boicotados. Para entender esse processo atual
de uniformização do pensamento político no Brasil, é fundamental que passemos a
estudar e a analisar as disputas partidárias na nação matriz (a nação que
estabeleceu esse processo): os Estados Unidos da América.
É
lugar-comum para muitos da esquerda brasileira (para não dizer mundial)
simplificar as agressões imperialistas do Ocidente no Terceiro Mundo ao
reduzi-las em conflitos do típico físico (invasões e ataques militares). Também
é lugar-comum afirmar que o interesse por trás dessas agressões é o mero benefício
prático e momentâneo (EUA explorando as riquezas petrolíferas da América Latina
e Oriente Médio é um bom exemplo de ideia difundida entre os que se opõe ao
unilateralismo norte-americano). Apesar de todas essas críticas serem não
somente válidas como fundamentais, elas falham ao não explicar completamente o
contexto da dominação estadunidense sobre o resto do mundo. Outra forma de
submeter um país a outro é a mudança no pensamento ideológico da sua população,
chegando a um ponto em que ela não será mais considerada como uma ameaça ou
desafio para o país dominador.
Desde
a segunda metade dos anos 1990, os Estados Unidos têm mudado consistentemente
sua forma de agir no quadro geopolítico. Os ataques militares, antes comuns e
principal forma de aterrorizar seus inimigos políticos, agora ocupam um papel
secundário. Os EUA ainda utilizam sua influência internacional para criar
alianças contra inimigos específicos quando necessário (Invasões do Iraque e da Líbia são exemplos), mas as agressões físicas são vistas como o último caso
possível. As formas de agressão preferidas pelos americanos hoje estão mais
ligadas à diplomacia e são elas: 1 – sanções econômicas contra os países
inimigos (usados intensivamente contra Coréia do Norte e Irã) e 2 – universalização
dos interesses da população por meio do trabalho de ONGs estrangeiras. Essa
nova mudança de estratégia está se demonstrando bem-sucedida e gerando uma
“desradicalização” da esquerda como um todo.
Para
entender o procedimento de moderação das esquerdas brasileiras, precisamos
olhar para o modelo ideal do país matriz (EUA), encontrado no Partido
Democrata. Apesar de haver certa diversidade no partido, suas visões podem ser
resumidas no seguinte esquema:
Em termos de política externa:
- Os
EUA devem buscar manter uma boa relação com a maior quantidade de países
possíveis, desde que seus interesses estejam por cima.
-
Países que desobedecem a seus interesses devem sofrer sanções econômicas.
-
Guerras só devem ser iniciadas em último caso, mas caso ocorram, os EUA devem
ter certeza de que irão ganhar arranjando uma aliança multilateral contra o
adversário.
Em termos de economia:
- Incentivo
ao livre comércio.
-
Quando necessário, o estado deve intervir na economia para evitar uma crise.
-
Devem haver programas sociais para cobrir a maior parte da população.
Em termos sociais internos:
- O
porte de armas de fogo por cidadãos comuns deve sofrer maior regulamentação.
-
Deve haver separação entre a religião e o estado: na cultura e nas leis.
(Direito ao aborto e direitos LGBT).
- A
adesão de minorias ao processo cultural capitalista deve aumentar, gerando uma
identificação maior com o sistema.
- A imigração
deve ser incentivada.
-
Multiculturalismo (gerando maior disputa de interesses e, portanto, justificando
maior controle do estado sobre a população para apaziguar os problemas).
Esse
foi o resumo das políticas principais do Partido Democrata durante as últimas 2
ou 3 décadas, que abriga o perfeito formalismo do Internacional Centrismo (a
esquerda americana representando o Centro do mundo como um todo). Os maiores
expoentes dessa forma de governo foram Bill Clinton e Barack Obama (os dois
últimos presidentes democratas). Ao que tudo indica, Hillary Clinton irá seguir
uma linha parecida com a dos últimos presidentes de seu partido. Isso significa
uma política agressiva contra os países cujo o plano ideológico do governo não
se adequa aos preceitos liberais democráticos e de livre iniciativa que
predominam no Ocidente.
O
Partido Democrata, que controla quase metade do Senado e da Câmara dos
Representantes dos Estados Unidos, é a única opção não conservadora que restou
aos americanos (o Partido Republicano, seu maior adversário, é ultradireitista
e possui apoio dos setores mais reacionários da população estadunidense). Esse
fato deixou a esquerda americana refém de um partido que também representa os
interesses do capital e da grande mídia. Os poderes adquiridos pelos democratas
lhes dão força para frear e controlar qualquer movimento mais esquerdista
dentro do país. Um bom exemplo disso foi o movimento Black Lives Matter (vidas
negras importam), que começou como um conjunto de protestos radicais contra a
brutalidade do comportamento policial para com a parcela afrodescendente
americana e que gerou uma significativa agitação por mudanças. Depois de ganhar
notoriedade na mídia, o movimento BLM acabou tendo um fim trágico: foi
abocanhado pelo Partido Democrata.
Entre
muitos esquerdistas brasileiros, existe o descontentamento com o fato do centro-esquerdista
e liberal Partido dos Trabalhadores ter se tornado a maior referência em termos
de poder político para a esquerda nacional, exercendo uma enorme influência nos
movimentos sociais. Se acredita que isso já representa uma situação ruim, imagine
toda uma esquerda nacional nas mãos de um partido centrista, pró-imperialista e
com apoio de diversos bilionários? Essa é a situação americana: os candidatos
presidenciais do Partido Democrata recebendo milhões de votos por serem o menor
de dois males.
A americanização
da esquerda brasileira pode trazer consequências sérias e irremediáveis para a
soberania nacional e deve ser evitada a qualquer custo.
REFERÊNCIAS:
http://www.motherjones.com/mojo/2015/10/democratic-national-committee-asks-black-lives-matter-activists-organize-racial-jusitce
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