Foto
– Luís Inácio Lula da Silva.
No dia 4 de março de
2016, Lula mais uma vez foi submetido ao escrutínio público. A polícia federal (um
órgão reacionário por excelência, diga-se de passagem) deu início a 24ª fase da
Operação Lava Jato, a Operação Aletheia (expressão em grego que significa
“busca pela verdade”). Lula é investigado por suposto recebimento de vantagens
indevidas de empreiteiras suspeitas de desvios na Petrobrás, além das acusações
de supostas irregulares sobre seu tríplex no Guarujá. O prédio de Lula em São
Bernardo do Campo foi revistado pela polícia federal e segundo a Folha de São
Paulo, houve um mandato de busca e apreensão de condução coercitiva (quando o
investigado é obrigado a depor) da parte da Polícia Federal. Lula prestou
depoimento à polícia no aeroporto de Congonhas. Terminado o depoimento à
polícia, ele foi até a sede nacional do Partido dos Trabalhadores, onde fez um
pronunciamento.
Como resposta, Lula,
através de nota publicada no site do Instituto Lula, disse que o que aconteceu
com ele é uma agressão ao estado de direito, classificando a ação da polícia
como arbitrária, ilegal e injustificável, assim como uma grave afronta ao
Supremo Tribunal Federal. O que dizer sobre esse último ocorrido?
Primeiro de tudo,
sintomático do fato de Lula e seu partido estarem colhendo o que tem plantado
desde no mínimo 2002, com o compromisso que assumiu nos bastidores do poder com
as classes dominantes e que gerou ainda no mesmo ano a Carta aos Brasileiros e
que norteou a política sócio-econômica petista desde então, que nada mais foi
que a continuidade do que Fernando Henrique Cardoso vinha fazendo desde 1995.
Ou seja, continuou com o super-endividamento do estado (que em 1995 era de R$
64 bilhões e hoje já passa dos R$ 3 trilhões), fez uma política social que não
tocou nos privilégios da classe dominante brasileira, não tocou na estrutura de
poder desde 1964 vigente na sociedade brasileira baseada no tripé
latifúndio exportador, capital multinacional e burguesia industrial
vende-pátria, manteve o tripé econômico da era FHC baseado em superávit primário,
meta de inflação e câmbio flutuante, investiu muito mais no agronegócio que na
agricultura familiar, entre tantas coisas que aqui podem ser listadas. Em minha opinião, se tem algo pelo qual Lula e o PT devem de fato
ser levados a juízo público é a respeito desse compromisso de classe que Lula
assumiu antes mesmo de ser eleito. Como também as relações de Lula com a cúpula
dos militares em seus primeiros anos de carreira política, incluindo o general
Golbery do Couto Silva, o qual o teria patrocinado como uma forma de criar um
contraponto a Leonel Brizola dentro da esquerda brasileira. O que poderia muito
bem ser feito em uma Comissão da Verdade. Fora isso, eu não vejo mais nenhum
outro motivo concreto pelo qual Lula e seu bando devem ir a juízo público.
E sintomático também dos
duplos padrões da parte do juiz Sérgio Moro e sua equipe. Sérgio Moro (que vem
de uma família com grandes ligações com a ala azul e amarela do petucanato[1]), Newton Ishii (o japonês
da PF, o qual em 2003 foi preso da mesma instituição por corrupção e por
integrar uma quadrilha de contrabandistas) e sua equipe fazem parte daquilo que
eu chamo de a quinta coluna brasileira, junto com políticos como Jair
Bolsonaro, José Serra, Ronaldo Caiado, Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso e
tantos outros. Ou seja, os vende-pátrias que estão fora do governo e a ele
fazem oposição ao mesmo nas ruas e na mídia (tanto impressa quanto televisiva),
enquanto que a classe dominante brasileira e suas distintas frações para a qual
os militares, Sarney, Collor, Itamar e FHC governaram e pela qual Lula e o PT governam
desde 2003, que se reúne em organizações patronais como a FIESP (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo), FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos) e
FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) e que tem sido o poder por
trás do trono na política brasileira desde 1964, é a sexta coluna[2].
Foto
– Sérgio Moro e suas ligações familiares com a ala azul e amarela do
petucanato.
Esse episódio envolvendo
o ex-presidente Lula (figura essa da qual não tenho grande simpatia, a bem da verdade) está nos mostrando claramente o que a Operação Lava Jato realmente
quer. Não está realmente interessada em fazer um real combate à corrupção, e
sim prejudicar Lula e o PT (constatação essa que o jurista Celso Bandeira de Mello fez
em sua entrevista à edição especial da revista Caros Amigos sobre a Operação
Lava Jato). Ou seja, sua real intenção é política. Pois incriminando Lula, ele
estará com sua ficha suja, e assim o político pernambucano estará inapto para
disputar o pleito presidencial de 2018 (do qual caso venha a disputar bem
provavelmente vencerá). Além de queimar com sua imagem perante o povo
brasileiro através de uma grande campanha de desgaste.
Se Moro e sua trupe querem
realmente combater a corrupção, por que não investigaram até hoje, por exemplo,
a participação de políticos não-petistas como Aécio Neves, José Serra, Geraldo
Alckmin e até mesmo Jair Bolsonaro na lista de Furnas? E se os tais imóveis de
Lula estão supostamente em situação irregular, porque não investigar também,
por exemplo, o aeroporto particular de Aécio Neves em Cláudio e o apartamento
de Fernando Henrique Cardoso em Paris avaliado em R$ 11 milhões, que devem ter
tantas irregulares quanto os imóveis de Lula? Porque também não investigam, por
exemplo, o trensalão tucano em São Paulo e o meio quilo de pasta de cocaína
encontrado na fazenda de seu amigo Zezé Perrela? Mas, pelo que estamos vendo,
Moro e sua trupe tem olhos apenas para Lula e os petistas. Ou seja, se Lula tem
que ser submetido a escrutínio público devido a esses imóveis por estarem
supostamente em situação irregular, que Aécio, FHC e outros políticos de outras
agremiações políticas também sejam submetidos ao mesmo.
Foto - Mercado imobiliário suspeito brasileiro.
O que Sérgio Moro e sua
trupe estão fazendo aqui no Brasil não um verdadeiro combate à corrupção, e sim
perseguição político travestida de combate à corrupção, com essa história de
combate à corrupção servindo de cortina de fumaça para os reais objetivos do
juiz paranaense e sua trupe. E o pior de tudo é ver o povão o tratando como um
herói, o que ele está muito longe de ser. No tocante ao endeusamento feito pela
grande mídia, vejo Moro como nada menos que o equivalente tupiniquim de Alberto
Nisman, o juiz argentino que morreu em circunstâncias misteriosas em janeiro do
ano passado. Assim como a grande mídia brasileira hoje em dia endeusa Sérgio
Moro, a grande mídia argentina (principalmente os oligopólios El Clarín e La
Nación, que foram atingidos em cheio pela Ley de Medios promulgada durante o
governo da ex-presidente Cristina Kirchner) fazia o mesmo com Alberto Nisman, o
qual desde 2004 investigava os casos das explosões que levaram abaixo a
embaixada israelense em 1992 e o do prédio da AMIA (Associação Mútua
Israelense-Argentina) em 1994. Ambas tiveram lugar em Buenos Aires, capital
argentina, uma das principais concentrações judaicas da América Latina.
Nisman insistia nessa
história ridícula de que o Irã e/ou o Hezbollah foi responsável pelos dois
incidentes que vitimaram um considerável número de pessoas. Entretanto, nunca
apresentou prova concreta alguma de que tenha havido algum iraniano envolvido
nesses incidentes (conto esse que o atual presidente argentino, o sionista
fanático Mauricio Macri, está exumando, como forma de criar tensões entre os
dois países e justificar um estreitamento de relações com os Estados Unidos e
Israel, países esses com os quais o Irã desde a Revolução de 1979 e a
consequente derrubada da monarquia pró-Ocidente tem tido relações nada
amigáveis), assim como o fato de que a ex-presidente Cristina Kirchner e o
ex-chanceler Hector Timerman estariam blindando por interesses econômicos os
cidadãos persas supostamente envolvidos nesses atentados. Sua morte certamente
foi uma operação de falsa bandeira (operações encobertas feitas por um grupo,
indivíduo ou governo em que depois outro é culpado por isso, com intenções de
se tirar proveito de suas consequências), tal como foi, por exemplo, os
atentados em Paris contra o Charlie Hebdo em janeiro de 2015 e contra a
discoteca Le Bataclan em novembro do mesmo ano, a morte do político
oposicionista Boris Nemtsov na Rússia também no passado e na história do Brasil
o atentado da rua Toneleros em 1954 e o atentado ao Riocentro em 1980.
Acusações de que a ex-presidente esteve por trás de sua morte choveram na
grande mídia, quando certamente os responsáveis por sua morte foram a CIA e/ou
o Mossad.
Foto
– Alberto Nisman, o equivalente argentino de Sérgio Moro.
O que se está fazendo
aqui no Brasil com a Operação Lava Jato é a mesma coisa que na Itália foi feita
na década retrasada com a Operação Mãos Limpas (em italiano Mani Pulite). Essa
Operação Policial, da qual o próprio Sérgio Moro escreveu em 2004 um artigo de
sete páginas a elogiando, teve lugar entre 1992 a 1994 e investigou 6 mil
pessoas e prendeu quase 3 mil. Entretanto, para a Itália ela foi economicamente
um grande desastre. Até então um país próspero e rico do sul da Europa (tanto
que em 1990 sediou a Copa do Mundo), a Itália acabou perdendo a pujança
econômica de antes, pois apenas empresas nacionais foram atingidas por essa
Operação, ao passo que empresas multinacionais passaram ilesas. E como todos
nós sabemos uma empresa multinacional, quando vai a um país periférico da
engrenagem capitalista mundial, não está nem um pouco interessada em
desenvolvê-lo e tirá-lo de sua situação de subalternidade nesse mesmo sistema.
Pelo contrário, o único interesse da mesma nisso é lucrar o máximo que puder e
depois enviar o máximo de dinheiro possível para sua matriz, agindo como se
fosse um parasita sedento pelo sangue do povo do país em questão (por isso que
aqui no Brasil Jango queria controlar as remessas de lucros dessas empresas
através da lei 4131, de três de setembro de 1962).
Hoje em dia, vemos a
Itália sendo um dos países da periferia da União Européia (junto com Espanha,
Portugal, Irlanda e Grécia) que são submetidos aos mandos e desmandos da Troïka
(comissão composta por Comissão Européia, Banco Central Europeu e Fundo
Monetário Internacional), incluindo as famigeradas políticas de austeridade
(que consistem em apertar a cinta na barriga do povo ao mesmo tempo em que
garante os lucros astronômicos de banqueiros e outras figuras ligadas ao
sistema financeiro internacional, mesmo em tempos de crise e mesmo que para
isso o povo mais humilde tenha que perder direitos e passar fome e inanição). Politicamente,
foi igualmente desastrosa para o país, na medida em que enfraqueceu severamente
as principais forças políticas do país e abriu o caminho para que Silvio
Berlusconi se tornasse o poderoso chefão da nação peninsular do sul da Europa,
o que foi durante 17 longos anos (entre 1994 a 2011).
Além disso, a Operação
Mãos Limpas não acabou com a corrupção na Itália. Pelo contrário, ela continuou
do mesmo jeito e até hoje flagela o país. Analogicamente, aqui no Brasil, quando
a Operação Lava Jato terminar a corrupção também não chegará ao fim. No máximo
só acabará com a corrupção petista. A corrupção em outros partidos, incluindo o
tucanato do qual Moro é ligado, continuará de vento em popa. Com a diferença
que, diferente da corrupção petista, essa corrupção não receberá o mesmo
escrutínio da grande mídia que endeusa Moro e a Operação Lava Jato. Além do que
já foi mencionado, a midiatizada Operação Lava Jato pouco ou nada investigou
multinacionais, ao mesmo tempo em que castigou fortemente as empreiteiras
nacionais. Sendo que as multinacionais com certeza são tão ou mais corruptas
quanto. E ai eu pergunto: é isso o que queremos? que economicamente o Brasil se
transforme em uma grande Itália continental? Isso eu não quero de forma alguma
para o meu país.
E esse incidente
envolvendo Lula veio em momento muito oportuno, pois está desviando a atenção
do povo brasileiro quanto ao PL 131, de autoria de José Serra, senador tucano
por São Paulo. Esse projeto prevê a retirada da exclusividade da Petrobrás na
exploração do pré-sal. Assim sendo, terá que dividir essa exploração com
empresas como a Chevron, a Shell e a British Petroleum. Assim Roberto Requião
definiu essa situação envolvendo a Petrobrás: “mantê-la apenas como operadora é
como entregar a sua casa e deixar sua mãe como doméstica, cozinheira ou
limpadora”.
Foto
– A parcialidade da justiça brasileira.
Fontes:
A sexta coluna.
Disponível em:
As raízes intelectuais
do consórcio petucano. Disponível em:
Através do regime Macri
o sionismo quer começar um novo conflito com o Irã. Disponível em:
Brasil: crise financeira
ou fiscal? Disponível em:
Caso AMIA Argentina: a
verdade sobre a morte do promotor Nisman. Disponível em:
Coluna do Professor Tim
sobre o petucanismo – Timtim por TimTim. Disponível em:
Considerações sobre a
Operação Mani Pulite (Mãos Limpas). Disponível em:
Especial Caros Amigos.
Lava Jato: O labirinto da Operação. Nº 78. São Paulo: Casa Amarela, 2015.
Páginas 24-29.
Instituto Lula:
arbitrária, ação da Lava Jato visa a constranger presidente. Disponível em:
“Japonês da Lava Jato”
que virou piada na Internet já foi preso pela própria PF. Disponível em:
Lista de Furnas.
Disponível em:
“Me senti um
prisioneiro”, diz Lula sobre condução coercitiva em São Paulo. Disponível em:
Modelo petucano.
Disponível em:
Objetivo da Lava Jato é
promover “limpeza ideológica” anti-esquerda. Disponível em:
PT incentivado e apoiado
pelo general Golbery – a esquerda que a direita gosta. Disponível em:
Violência contra Lula
afronta o país e o estado de direito. Disponível em:
Requião: entregar o
petróleo é entregar a mãe! Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QgzaKfUTGRc
NOTAS:
[1] Petucanato/Petucanismo é um termo cunhado
pelo colunista da Revista Caros Amigos Gilberto Felisberto Vasconcellos (e
depois utilizado por outros como Nildo Ouriques e Adriano Benayon) para se
referir a situação política que o Brasil vive desde 1995 com a alternância de
poder entre o PT e o PSDB, dois partidos de programa de governo praticamente
igual baseados no modelo neoliberal (incluindo privatizações, terceirização e
precarização do Estado), com a diferença que o PT têm um política um pouco mais
direcionada para o lado social que o PSDB e um afinamento com as classes
dominantes brasileiras um pouco menor que o tucanato.
[2] Segundo o pensador político russo
Aleksander Dugin, na política russa, a quinta coluna é composta pela oposição
liberal pró-Ocidente que consiste de oligarcas, políticos, artistas e pessoas
da mídia que estiveram na década de 1990 no centro da classe política russa
(incluindo o falecido Boris Nemtsov), mas que entraram em desgraça depois que
Putin assumiu o poder em 2000, enquanto que a sexta coluna consiste dos
políticos, oligarcas e burocratas pró-Ocidente em torno de Putin, que tal como
a quinta coluna também é entulho da era Yeltsin e que é tão ou mais vendida ao
Ocidente quanto à quinta coluna, mas que não é tão abertamente hostil ao
presidente Putin. Resumindo a ópera, a quinta coluna consiste dos opositores e
sabotadores a um governo nacionalista que estão fora do palácio, mas dentro do
país, ao passo que a sexta coluna consiste dos opositores e sabotadores que
estão dentro ou no entorno do mesmo palácio. As quatro primeiras colunas, por
sua vez, seriam a oposição a esse mesmo governo só que no exílio, como é o
caso, por exemplo, das comunidades de emigrados de países como Cuba, Venezuela,
Equador e Bolívia que fazem oposição aos governos desses países desde Miami.
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