domingo, 27 de março de 2016

A nova onda direitista no Brasil e suas pretensões


FOTO - Jair Bolsonaro, o maior concentrador de votos da nova onda conservadora
Por Lucas Novaes
Nos últimos anos, muitos foram os lamentos por parte de parcelas conservadoras e liberais da direita brasileira causados pela escassez de políticos que rejeitem as retóricas populistas e progressistas. Figuras caricaturais dessa direita, tais como Olavo de Carvalho, Felipe Moura, Rodrigo Constantino e Reinaldo Azevedo (esse último mais moderado ou simplesmente “tucano”) são exemplos de figuras da mídia que anseiam pelo dia em que o processo eleitoral brasileiro estará equilibrado em se tratando de forças dos dois lados do espectro político.
Essas lamentações vieram acompanhadas de uma forte guinada conservadora no país, exposta principalmente por meio de mídias virtuais alternativas tais como blogs, páginas em redes sociais e canais no Youtube. Esse novo rumo no pensamento ideológico de muitos brasileiros trouxe de volta o “Medo Vermelho” (“Red Scare”, termo usado no mundo anglo-americano) na mente da população. As supostas influências comunistas na sociedade brasileira estão sendo denunciadas nos locais mais variados: universidades, escolas, movimentos sociais, novelas, filmes, partidos políticos etc. Agora, o pensamento político no Brasil está um pouco mais parecido com o dos Estados Unidos (não tanto o atual, mas o do pós-segunda guerra logo no início da Guerra Fria). Não são poucas as pessoas que acreditam que o Partido dos Trabalhadores participa de um projeto secreto para implantar uma ditadura comunista e destruir os chamados “valores tradicionais” da família e da propriedade privada.
Esse tipo de discurso conspiratório é um tanto quanto inédito em território tupiniquim pois, apesar de nossa Ditadura Militar (1964-1985) ser ideológica e geopoliticamente anticomunista, a mesma estava mais preocupada em manter a ordem e perseguir subversivos do que empenhada em criar uma subcultura intelectual contra a esquerda (fato que ocorreu nos EUA).
Os novos direitistas brasileiros protestam contra a hegemonia esquerdista do pensamento. Do que eles estão falando, afinal? No Brasil, de fato existe uma hegemonia ideológica. Porém, ela não é de ordem socialista. O domínio no pensamento das elites intelectuais e políticas brasileiras pode ser chamado de Liberalismo. O Liberalismo não é somente o capitalismo ideal e sem restrições pregado pelos liberais conservadores, mas toda uma série de visões filosóficas sobre o papel do Estado, da sociedade e os direitos individuais. O movimento liberal é, portanto, muito extenso e dotado de diversos segmentos.  
O “lado esquerdo” da corrente liberal é o que se pode chamar de dominante. Essa corrente é hegemônica não somente no Brasil, mas no Ocidente como um todo (até mesmo nos Estados Unidos). O Liberalismo de esquerda promove o livre comércio capitalista (mas de forma não dogmática, ou seja, até mesmo aceita influências socialistas), os Direitos Humanos, o cosmopolitismo e a secularização radical da cultura dos povos (conquistada pela promoção do Multiculturalismo, Ideologia de Gênero, legalização das drogas e outras bandeiras progressistas). Esse esquema de ideias se faz presente no plano político do Partido Democrata (do atual presidente norte-americano Barack Obama), bem como na maioria dos partidos de centro e centro-esquerda da Europa. No Brasil, a maioria dos partidos (mesmo os de esquerda como o PT e o PSOL) são liberais. O Liberalismo repudia sentimentos nacionalistas (vistos como uma barreira contra a universalização das culturas), a planificação absoluta da economia (o estatismo total fere os direitos de propriedade e o livre comércio) e a forte religiosidade de certos países (que impede ou retarda o processo de secularização).
A nova onda conservadora nacional não se sente representada por esse segmento do Liberalismo. Políticos como Marco Feliciano, Jair Bolsonaro e seus filhos estão mais alinhados ideologicamente com o lado direito do Liberalismo. O maior expoente partidário dessa turma é o Partido Republicano nos EUA. O liberal de direita propõe um foco maior na desregulamentação do mercado financeiro e não se importa com as desigualdades econômicas (pelo contrário, as vê como normais tendo em vista as noções adquiridas sobre meritocracia). Isso explica o ódio anti-vermelho dos direitistas liberais. Sendo tanto os comunistas tradicionais como os liberais de esquerda opostos ao capitalismo irrestrito, é uma boa jogada política comparar os segundos com os primeiros. Outra característica interessante presente na direita liberal é a sua frequente aliança com setores evangélicos. Essas alianças servem para formar uma massa de votos que dê o sustento e consistência aos projetos econômicos de teor elitista. Essa religiosidade da classe média conservadora brasileira pode ser chamada de puritanismo ou de calvinismo e serve apenas como base de sustentação do livre mercado.
Esses fatos nos mostram que Enéas Carneiro realmente estava certo quando denunciou as conexões com os interesses internacionais presentes nos candidatos da época à presidência (anos 1990). As denúncias do finado político do PRONA não só continuam certas como nunca estiveram tão fieis ao paradigma da realidade. Apesar de ser um tanto exagerado, o mantra “é falsa briga entre eles” proferido por Enéas reflete bem as disputas partidárias no Brasil de hoje.
O Brasil precisa mudar sim, mas as mudanças propostas pela oposição principal ao governo do PT nada têm para oferecer ao povo brasileiro se não a submissão completa da nação aos objetivos geopolíticos dos norte-americanos. Se quisermos procurar alternativas reais, busquemos inspirações fora do Ocidente: os aiatolás iranianos, a ideologia Juche na Coréia do Norte (o Socialismo aliado às tradições do povo coreano), o conservadorismo estatal russo e o carinho e respeito dos cidadãos sírios pelo seu líder, Bashar Al-Assad, são todos exemplos de fenômenos menosprezados pelo Ocidente democrático e capitalista em sua busca incansável pela dominância de pensamento sobre o resto do mundo.
REFERÊNCIAS:


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