sábado, 19 de março de 2016

"Cultura política": uma nova proposta de entendimento (parte 1)


Figura 1 - O Ocidente e o Resto

Por Lucas Novaes
De acordo com a Enciclopédia Internacional das Ciências Sociais, a expressão “cultura política” é um termo que faz referência ao “conjunto de atitudes, crenças e sentimentos que dão significado a um processo político e que proporcionam os pressupostos e regras que governam o comportamento no sistema político”.
Quando utilizada em um contexto geral, a cultura política chegou a ser representada dentro algum dos principais sistemas históricos. Quem fez isso foi o advogado e figura política canadense William S. Stewart, que concluiu que todo o comportamento político na história das nações pode ser incluído em algum dos 8 exemplos principais: Anarquismo, Oligarquia, Corporativismo Tory, Fascismo, Liberalismo clássico, Liberalismo radical, Socialismo democrático e Socialismo Leninista. Stewart morreu em 1938. Desde então, importantes eventos históricos como a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria e a unilateralidade americana ocorreram.
Outro autor que nos permite a reflexão sobre o assunto é o teórico russo Aleksander Dugin. Para Dugin, a era moderna é marcada pela existência e embate entre três poderosas teorias políticas: o Liberalismo, o Socialismo e o Nacionalismo. O Liberalismo surgiu primeiro, sob influências francesas e inglesas. O Socialismo veio depois, como contraponto à primeira teoria. O Nacionalismo (utilizado por Dugin para se referir ao Fascismo italiano e ao Nacional Socialismo alemão) surgiu por último para enfrentar as duas primeiras e também foi o primeiro a ser derrotado, dando início à ordem bipolar. O Socialismo chegou a ter uma grande influência na política nacional de diversos países, principalmente no auge da Guerra Fria, mas foi enfraquecido nos anos 1980 e hoje atua sob uma esfera limitada e desorganizada na escala global. O Liberalismo (político, econômico e social) atualmente exerce sua hegemonia sobre o mundo.
Há de se constatar também que existem nuances entre esses três sistemas e a história nos mostrou que é possível concatenar elementos de uma teoria com um regime onde outra teoria é considerada a “oficial”. O modelo norte-coreano, com sua ideologia “Juche”, pode ser visto como um exemplo de sistema Socialista aplicado para os interesses de uma nação específica em um mundo hostil a mesma. Nos pôsteres propagandísticos governamentais coreanos, está presente uma grande exaltação da soberania nacional e do seu povo, além do desprezo pelo imperialismo, representado pelas investidas americanas (fato esse que leva muitos socialistas ocidentais, especialmente os antissoviéticos a não considerar a Coréia do Norte como um país “socialista de verdade”). Essa última expressão é marca registrada de partidos minúsculos como o PSOL e o PSTU, além de políticos como a Luciana Genro. Além desses exemplos fusionistas, muitos grupos de esquerda na América Latina foram capazes de encontrar um elo entre a ideologia socialista original e seu materialismo com a religiosidade católica (marca cultural da América Ibérica). Nos Estados Unidos, o Liberalismo individualista impera em quase todas as esferas da cultura americana. Apesar disso, por mais contraditório que pareça, muitos conservadores americanos enxergam a existência de um nacionalismo que está intimamente ligado com o Capitalismo e a cristandade. A história nos ensina que a “tradição” dos Estados Unidos foi o abandono dos hábitos e costumes culturais de todos os povos estrangeiros que lá resolvem residir e a ingressão deles no estilo de vida consumista e cosmopolita. Ser conservador nos EUA é, portanto, conservar a revolução liberal e o livre mercado.
Existe, entretanto, uma nova maneira de se perceber os desdobramentos políticos e a dinâmica das disputas partidárias (seus interesses no plano econômico, social e militar). Essa nova maneira lida com a forma pela qual os principais termos da política (Direita, Esquerda, Centro, Socialismo, Capitalismo, Fascismo, Liberalismo etc.) são interpretados ao redor do mundo e nos mostra o processo de convergência das interpretações dos países da periferia (América Latina, Oriente Médio, Ásia) para o centro (Europa e, principalmente, o mundo Anglo-Saxão). Mais detalhes sobre essa maneira serão explicados na segunda parte do artigo.
REFERÊNCIAS:

Nenhum comentário:

Postar um comentário