Figura 1 - Sanders, Clinton, Trump, Rubio e Cruz: os principias concorrentes a esta altura.
Por Lucas Novaes
2016 é ano de eleições
presidenciais nos Estados Unidos. Muitos podem não se importar com tal fato,
mas, infelizmente, o que ocorre no país norte-americano possui grande
influência fora do mesmo e apresenta poder para influenciar os rumos de todos
os continentes. Nesta publicação, explicaremos um pouco sobre o governo atual,
o processo eleitoral e o que está em jogo: o que pode mudar e o que
provavelmente continuará do mesmo jeito.
O
GOVERNO ATUAL CHEGA AO FIM
2016 marcará o fim da
administração presidencial de Barack Hussein Obama do Partido Democrata, consolidado
por dois mandatos (2008-2012 e 2012-2016) e um legado com tendências um pouco
mais progressistas (do ponto de vista interno) do que os Estados Unidos
estiveram acostumados sob administrações anteriores. Obama, que venceu suas
duas eleições com relativo conforto, teve um apoio massivo da mídia mainstream
americana, das minorias étnicas, dos estudantes universitários e das grandes
corporações tecnológicas. Resumindo sua campanha em pontos chave, Obama buscou
reformas que aumentassem o alcance dos sistemas de saúde, favoreceu a regulamentação
no comércio de armas, foi crítico da brutalidade policial, além de dar apoio ao
liberalismo social crescente na sociedade americana. Isso foi o suficiente para
que muitos na direita americana questionassem a sua alegada fé cristã. Muitos
teóricos da conspiração inclusive acreditam que o futuro ex-presidente é algum
tipo de muçulmano ou comunista disfarçado. Dentre os crentes desta sandice está
o astrólogo conspiracionista conservador Olavo de Carvalho (que nasceu no
Brasil e atualmente mora no estado da Virgínia, nos Estados Unidos).
Apesar de sua tonalidade
populista (para os padrões dos EUA), a administração do democrata não refletiu
essa positividade para com os países do resto do mundo (em especial, os pobres
e emergentes). Durante o governo de Obama, a política externa de seu país
continuou seguindo a rota unilateral presente nos tempos em que o republicano
George Bush ocupava o cargo. O número de ataques feitos por drones em países de
maioria muçulmana como o Paquistão ultrapassou a casa das centenas. Na maioria
dos casos, os strikes mataram cidadãos inocentes. Os EUA também financiaram e
apoiaram a oposição na Ucrânia ao governo pró-russo eleito democraticamente do Viktor
Yanukovych, eclodindo nos protestos de 2013 conhecidos como “Euromaidan”
(protestos esses que contaram com a participação de inúmeros grupos neonazistas
exigindo a substituição do até então governo atual por um governo pró-americano).
Outro exemplo de agressão imperialista no regime de Obama inclui a participação
dos EUA na intervenção militar na Síria, sob o pretexto de combater os
terroristas do Estado Islâmico (ISIS). O que acabou acontecendo com essa
participação foi o aprofundamento ainda maior da crise no país árabe e a sua
desestabilização definitiva, por meio do financiamento ocidental de diversos
grupos terroristas rotulados como “moderados”.
NOVAS
ELEIÇÕES, NOVOS CANDIDATOS: O PENSAMENTO IDEOLÓGICO DOMINANTE
Com o indefensável regime de
Barack Obama chegando ao fim, o país americano iniciou seu processo político
para a decisão de quem será seu novo líder. Nos EUA, existem dois grandes
partidos que monopolizam as eleições nacionais: o Partido Democrata e o Partido
Republicano. O primeiro deles possui uma orientação geral mais centrista com
caráter diplomático. Devido ás suas políticas mais inclusivas, são considerados
como a “esquerda” americana no sentido mais liberal do termo, tendo um apoio
massivo entre estudantes e minorias raciais. O outro partido (republicano) é
dominado por neoconservadores e defende irrestritamente os interesses
econômicos das grandes corporações. O Partido Republicano também possui uma
forte participação de cristãos evangélicos com orientação moral conservadora,
fazendo com que muitos religiosos pobres (especialmente brancos do Sul) votem
no partido por acreditarem que os poderosos por trás de seu partido preferido
compartilhem sua fé. Os religiosos caipiras nos EUA são utilizados como massa
de manobra do Partido Republicano, assim como as minorias étnicas (negros e
latinos) são usadas como massa de manobra do Partido Democrata. Ambos os
partidos compartilham o interesse de expandir a influência cultural americana e
seu poderio militar para o resto do mundo.
TRUMP
E SANDERS: VENTOS DE MUDANÇA
Por décadas, o pensamento
político nos Estados Unidos seguiu dominado principalmente por dois lados: a
direita liberal (defensora da economia capitalista sem regulações,
conservadorismo social e política externa militarmente intervencionista: a
submissão dos países anti-imperialistas por meio da força bruta) e a esquerda
liberal (defensora da economia capitalista com regulações, liberalismo social e
política externa suavemente diplomata: a submissão dos países anti-imperialista
por meio de sanções e da influência de ONGs internacionais). Porém, neste novo
ciclo eleitoral, suspeita-se que foi encontrada uma brecha nesta dominância: a
ascensão de Donald Trump (pela direita) e Bernie Sanders (pela esquerda).
Primeiramente falaremos de
Sanders, senador do estado de Vermont que se filiou ao Partido Democrata em
2015 para concorrer nas primárias do partido. Bernie Sanders é um ponto fora da
curva pelo fato de denunciar com veemência a falta de regulação presente nas
grandes corporações de Wall Street. Bernie se descreve como um “socialista
democrático”, algo raro no país em que vive, marcado por décadas de propaganda
anticomunista. Ele representa uma dissidência com os democratas tradicionais,
apoiadores de um livre mercado com poucas regulações e onde grandes bancos
estão autorizados a terem um grande controle sobre a política do país. É
necessário lembrar, entretanto, que Sanders não é, em qualquer forma, um
comunista revolucionário. Ele não pretende abolir a propriedade privada nem
estatizar os principais meios de comunicação. Ele é uma espécie de Luciana
Genro americano, porém muito mais relevante, o que não é algo bom, mas já
representa um certo avanço na decadência no pensamento corporativista na
esquerda dominante.
Já em relação ao lado direito,
Donald Trump resolveu se aventurar no processo político em 2015 e após diversos
comentários rotulados como xenófobos e sexistas reproduzidos pela grande mídia,
acabou ficando ainda mais popular (lembra um certo político tupiniquim?). Trump
pode até parecer um político republicano qualquer, mas sua retórica é
considerada bastante infantil e agressiva, não possui a certa etiqueta e modo
de discurso considerado ideal para políticos. Donald Trump é um outsider (forasteiro) dentro do partido
republicano e não possui apoio da mídia (seja ela a grande mídia pró-democrata
e mesmo da mídia neoconservadora pró-republicana). Trump demonstra um caráter
mais populista e nacionalista em seus discursos e parece não estar tão
preocupado em manter a hegemonia militar americana sobre o resto do mundo, o que
assusta os neoconservadores que dominam o Partido Republicano.
Os outros candidatos são
os típicos do estabilishment:
Hillary Clinton, a favorita da mídia e das grandes corporações, pretende
continuar com a política externa agressiva dos governos anteriores. Ela também
deseja a queda do governo de Assad e comparou Putin com Adolf Hitler. Assim
como Obama (primeiro negro da história na presidência), o fato de Clinton ser
mulher pode amaciar ainda mais a realidade da violência americana no terceiro
mundo por meio de propagandas progressistas (afinal, os EUA podem ser
responsáveis pela morte de milhares de inocentes ao redor do mundo, mas se possuírem
uma mulher na liderança, devem ser vangloriados pelo seu progressismo de acordo
com a esquerda pós-moderna). Além de Hillary, os outros dois candidatos
apoiados pelo estabilishment político são Marco Rubio e Ted Cruz. O primeiro é
um neocon “robótico” tradicional no estilo de George Bush e o segundo é um
ultradireitista fundamentalista evangélico: o anticomunismo americano em
esteroides.
CONCLUSÃO:
A julgar pelo perfil
detestável de três dos candidatos (Hillary Clinton, Marco Rubio e Ted Cruz), só
no resta esperar que Bernie Sanders e Trump consigam a nominação em seus
respectivos partidos. Porém, ilusões não devem ser geradas. Mesmo que esses
candidatos forasteiros consigam a nominação em seus respectivos partidos, as
chances de eles serem cooptados pelo estabilishment de seus partidos e, mais
tarde, pelos interesses corporativos são enormes. O que vale a pena observar
nestas eleições é que mesmo o sistema ideológico dos Estados Unidos está
sujeito a crises e pode ter seu monopólio desafiado.
REFERÊNCIAS:
Nenhum comentário:
Postar um comentário