Figura 1 - Manifestante protesta e exibe cartaz durante matéria ao vivo
Por Lucas Novaes
É
bastante comum a exaltação de pensamentos contrários à emissora mais popular do
Brasil, a Rede Globo, proferidos por considerável parte do que nos convencionou
chamar de esquerda brasileira. Esse desprezo faz parte de um descontentamento
mais generalizado para com a grande mídia nacional (representada principalmente
pela emissora do finado Roberto Marinho). Dentre os “inimigos” da emissora
global estão muitos militantes petistas que denunciam a forma como o Jornal
Nacional tem sido bastante parcial em suas reportagens no tocante a corrupção:
matérias que denigrem os políticos do Partido dos Trabalhadores são mais comuns
e intensas do que as que denigrem os tucanos e peemedebistas. Levanta-se
também, com bastante frequência, a manipulação feita pela principal emissora do
país e que passou certa imagem de que a maioria significativa dos brasileiros seria
a favor do Impeachment de Dilma Rousseff, pouco sendo reportado em relação aos movimentos
contrários ao chamado Golpe direitista. Outra característica da emissora
carioca é a de se opor a democratização da mídia (e faz isso por motivos
óbvios; é um grande monopólio na televisão aberta e tem o que perder). Afinal,
qual é a ideologia da Rede Globo de televisão? Neste texto, vamos expor alguns
fatos que irão aprimorar e atualizar sua visão sobre o canal em questão. Primeiramente,
vamos recapitular algumas campanhas e posições diretas ou indiretas arquitetada
pela Globo e/ou seus artistas:
SOBRE O ESTATUTO DO
DESARMAMENTO:
Em
2005, quando houve o “referendo sobre a proibição da comercialização de armas
de fogo e munições”, a TV globo, por meio do seu canal, de vários editoriais e
alguns de seus artistas mais famosos em campanhas televisivas posicionou-se em
favor da tal proibição, estabelecendo-se do mesmo lado do PT e do PSDB na
ocasião. Como já explicamos anteriormente neste blog (ver referências no final
da página), a luta pelo armamento dos cidadãos pode ser tanto de esquerda
(quando é promovida por grupos revolucionários e/ou guerrilheiros visando o
enfraquecimento no poder do estado capitalista) como pode ser reacionária (caso
seja promovida por parte das forças do próprio estado para armar apenas parcela
limitada dos cidadãos, excluindo-se os pobres e favorecendo as classes mais
altas). Quanto à questão do desarmamento, é bastante óbvio que que os
principais grupos que se articulam pelo seu fim não são da esquerda
revolucionária, e sim dos setores direitistas ligados as próprias forças do
estado brasileiro (policiais militares e políticos conservadores). A globo se
posiciona contra esses grupos e adota o mesmo consenso da esquerda nacional e
internacional: é contra a tal posse.
SOBRE O LIBERALISMO
SOCIAL:
Quando
o assunto é a visão de mundo em relação aos costumes e valores tradicionais, não
há dúvidas de que a Globo de conservadora nada tem. Não há como associar as
pregações do deputado e pastor Marco Feliciano (maior expoente da direita
evangélica hoje) e seu aliado Jair Bolsonaro com o tipo de conteúdo cultural
progressista produzido pela emissora carioca. Os exemplos são tantos, incluindo
relacionamentos homossexuais abertos em novelas com o intuito de “chocar” os
telespectadores das classes mais baixas, como aconteceu em “Amor à Vida”, “Doce
de Mãe”, “Em Família”, “Império” e tantas outras produções artísticas. A globo
também possui em seu elenco de profissionais uma gama de defensores do aborto.
Vários desses artistas se reuniram recentemente em campanha que profere o mesmo
discurso “meu corpo, minhas regras” da nova esquerda pós-moderna. Alguns
quadros da emissora chegam até mesmo a zombar do estilo de vida dos evangélicos
caricaturado por ela mesma, como é o caso de “Crentes”, que parodia o seriado
famoso norte-americano intitulado “Friends”. Esses e tantos outros exemplos
refletem o fato de que, tratando-se do campo cultural e moral, a Globo gosta de
“quebrar tabus”. Faz isso em nome do lucro e do financiamento por ONGs de
direitos humanos? Certamente. Mas isso não muda o posicionamento da emissora
nesses assuntos.
Figura 2 - Artistas globais promovem campanha abortista em vídeo intitulado “Meu Corpo, Minhas Regras”.
POLÍTICA INTERNACIONAL:
Em
se tratando de relações internacionais, a Rede Globo possui um posicionamento
muito claro em favor do Ocidente em suas disputas geopolíticas. Os conflitos
internacionais são narrados com a mesma visão presente na grande mídia
primeiro-mundista. As reportagens de
2011 sobre a guerra na Líbia que culminou na morte de Muammar al-Gaddafi e no
fim de seu governo repleto de tendências socialistas, nacionalistas e
pan-africanas, além das duras críticas direcionadas a Bashar-al-Assad e seu
governo na Síria são ótimos exemplos disso. As forças militares estadunidenses e
europeias são tratadas de forma messiânica. São consideradas forças humanitárias
contra o “totalitarismo e o atraso” dos governos nacionalistas e estatizantes
do Oriente Médio. O viés sobre política internacional da emissora de Roberto
Marinho é tão descaradamente similar ao da mídia anglo-americana que até mesmo
suas preferências em relação a partidos e políticos nos países ocidentais são
similares aos dos mais importantes setores midiáticos de lá. A grande mídia
norte-americana, por exemplo, está, quase que por unanimidade, contra Donald
Trump e o difama de todas as formas possíveis. A globo reforça esses
preconceitos como sendo a “opinião do bom senso” que devemos ter. Aliás, sempre
apoiaram os candidatos democratas na corrida pela presidência dos Estados
Unidos. Sempre quando surge algum movimento considerado como sendo de
extrema-direita ou de extrema-esquerda e que desafie, de alguma forma, o domínio
liberal (caso do Front National na França e do SYRIZA na Grécia), a Globo o
condena com o mesmo discurso da grande mídia do país que originou tal movimento.
O próprio Jair Bolsonaro aqui no Brasil, apesar de ser um deputado que não
pretende fazer nada de novo, apenas implementar ou reforçar o que de pior há no
âmbito conservador, por ser considerado muito direitista, também sofre duras
críticas (fato que ocorreu recentemente no Jornal Nacional). Isso não é
surpresa alguma. Se alguém com visões similares as de Jair Bolsonaro surgisse
nos Estados Unidos ou na Europa, também seria rejeitado brutalmente ou
duramente boicotado pela grande imprensa. Podemos dizer que Jair Bolsonaro é a
versão “pobre” de Donald Trump.
E O ANTIPETISMO? NÃO SERIA
UMA REALIDADE?
É
verdade e não há como negar que houve viés pró-impeachment de Dilma Rousseff na
cobertura das manifestações que ocorreram pelo país no dia 17. Também é fato
que os escândalos de corrupção petistas recebem maior cobertura do que a
corrupção tucana. Mas esse “enviesamento” em favor dos tucanos ocorre de forma
bastante sútil e quase sempre com “ares” de imparcialidade. A própria Globo
está recheada de atores petistas e psolistas em sua lista de empregados. Tanto
é que houve uma campanha contra o golpe recentemente e realizada por atores
globais. Vale ressaltar ainda que o PT não é a única esquerda e muito menos
sinônimo de esquerda mundial. Existem vários tipos de esquerda hoje. A Globo é
dotada de uma linha ideológica que combina progressismo moral com o apoio a
políticas liberais capitalistas e defesa da visão de mundo ocidental. Ela
poderia ser considerada como “esquerda libertária e progressista” em muitas partes
do mundo. Os globais certamente não apoiam as experiências socialistas
realizadas em Cuba, Coréia do Norte e União Soviética. Mas eles admiram
bastante os governos da esquerda liberal do Barack Obama nos EUA (e,
interessantemente, muitos petistas também o admiram). O fato de que o maior
blog governista da internet (Brasil 247), em sua página oficial do Facebook,
tenha “curtido” a página de Barack Obama (que deu continuidade a política
imperialista de George Bush) é bastante preocupante.
CONCLUSÃO:
A
ideologia da Rede Globo é, primeiramente, o poder político e financeiro. Por
essa razão a emissora apoiou a Ditadura Militar quando esta se instaurou e era
dominante, mas agora que vivemos em um regime dito democrático no qual defender
regimes autoritários não é mais bem visto, mudaram de ideia. Aquele que detiver
mais poder econômico e político receberá coerção da família Marinho. O Partido
dos Trabalhadores possui grande poder político e enorme capacidade de mobilizar
massas, mas lhe falta o poder financeiro das elites nacionais, muitas vezes
contrárias a seus interesses. Existe, então, uma balança: a Globo tenta agradar
aos dois lados ao mesmo tempo. Paralelamente a isso, a Globo também adota as
agendas culturais globalistas das ONGs estrangeiras e dos países do primeiro
mundo. Ela poder fazer isso sem preocupações pois tanto o poder econômico das
grandes empresas e dos partidos da oposição como o poder político do PT
favorecem uma agenda progressista moral contrária ao conservadorismo. Nesse
ponto, assemelha-se até mesmo a “nova esquerda” hipster do PSOL. Para finalizar,
a Globo também é uma repetidora da visão de mundo da grande imprensa ocidental.
REFERÊNCIAS:
http://resistenciaterceiromundista.blogspot.com.br/2016/05/armamento-civil-pauta-da-direita-ou-da.html
https://apaginavermelha.blogspot.com.br/2015/11/sociedade-o-frenesi-dos-avatares.html
https://catracalivre.com.br/geral/leao-fuze/indicacao/relembre-7-beijos-gays-que-aconteceram-na-tv-brasileira/
http://casaprovidami.com.br/entenda-porque-os-atores-da-globo-estao-em-uma-campanha-a-favor-do-aborto/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Referendo_no_Brasil_em_2005
http://vejasp.abril.com.br/blogs/pop/2014/05/23/evangelicos-se-irritam-com-parodia-friends-crentes-marcelo-adnet/
https://www.youtube.com/watch?v=FCGayYVjY2E
https://www.youtube.com/watch?v=ZRLUIXur-HI
campanha desarmamento globo
E o pior é que se trata da mesma Globo que cortou cenas a rodo de animes como Samurai X e Inuyasha (o primeiro em 1999/2000 e o segundo em 2005).
ResponderExcluirPerfeito. Mas eu sintetizaria dizendo que a Globo é basicamente Liberal no sentido contemporâneo de Liberalismo, tanto Social quanto Econômico.
ResponderExcluirE com relação ao sionismo e a causa palestina? Não há uma ambiguidade na Globo? Me parece que eles fazem um certo jogo duplo nesse caso. Como explicaria isso?
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA globo pode ser chamada de liberal sim, mas ainda assim pode agir de forma flexível dependendo das forças políticas e econômicas em jogo. Quanto as visões globais sobre o conflito Israel-Palestina, confesso que não estou tão por dentro. Mas mesmo alguns componentes da grande mídia ocidental denunciam os abusos de ambos os lados. Não acredito que a Globo divirja muito desse padrão.
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