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– Olavo de Carvalho (vulgo Sidi Muhammad), Jair Bolsonaro, Alexandre Frota,
Silas Malafaia, Raquel Sheherazade, Marco Feliciano e companhia limitada: os
reacionários de hoje.
Na edição nº228 da Revista
Caros Amigos, Cynara Menezes publicou o artigo intitulado “A Revolução datou”.
Nesse artigo, a Socialista Morena (como ela mesma se autodenomina),
ingenuamente, disse, entre outras coisas, “Parece-me uma contradição em si
mesma que matar gente seja condição sine
qua non para se chegar ao paraíso. Só admito o uso da violência contra a
tirania”. Também diz que não aceita a ideia de pegar em armas para chegar ao
socialismo, tal como Darcy Ribeiro e Salvador Allende pensavam, repetindo assim
as sandices ditas anteriormente em seu próprio blog em artigo sobre a visita de
Fidel Castro ao Chile durante o governo Allende (1970 – 1973).
Em que mundo será que a
Socialista Morena vive para ter dito uma barbaridade dessas? A mesma Socialista
Morena que lançou um livro intitulado “Zen Socialismo”. Quando ouvimos as palavras
Zen (Chan na China e Sun na Coréia) e Budismo, as imagens que vêm para um
ocidental médio são de pessoas religiosas e pacíficas, adeptas da não-violência
total e irrestrita e que passam horas e horas meditando em um templo.
Entretanto, mal elas sabem (e certamente a Socialista Morena se enquadra entre
elas) que Buda pertencia à casta guerreira da sociedade da Índia Antiga
(chamada de Kshatriya), e como tal sabia manejar armas como arco e flecha e
lança. Além disso, o próprio fundador da filosofia Zen, Boddhidharma (também
conhecido na China como Ta Mo), o 28º patriarca do Budismo Mahayana, teria
sido, de acordo com o manuscrito Yi Jin Jing[1], aquele que criou e
ensinou o Kung Fu Shaolin aos monges do templo de mesmo nome para ajuda-los a
se defender de animais e de bandoleiros. Na China, o Kung Fu também é conhecido
como Wushu, ou em português a arte da guerra. E, na história do Japão, mais
precisamente entre os séculos X a XVIII, havia ordens como a dos Yamabushi e
dos Sohei, que eram compostas por monges guerreiros budistas e que manejavam
armas como a nagitana[2] (arma similar a uma
alabarda, composta de uma haste com uma lâmina recurvada em sua parte superior)
e a katana (espada nipônica com lâmina recurvada, onde apenas o lado da frente
é cortante). Esses guerreiros são comumente vistos como os equivalentes
nipônicos dos guerreiros pertencentes a ordens militares monásticas da Europa
Medieval como os Cavaleiros Templários e os Cavaleiros Teutônicos.
Socialista Morena, por
favor, fale essas tuas sandices pacifistas para Lenin, Stalin, Sükhbataar,
Getúlio Vargas, Mao Tsé Tung, Kim il-Sung, Enver Hoxha[3], Gamal Abdel Nasser, Fidel
Castro, Muammar al-Kadaffi, aiatolá Ruhollah Khomeini[4] e outros tantos líderes
revolucionários para ver o que eles vão pensar disso. Com toda certeza vão rir
da tua cara e te achar uma imbecil completa. Com esse comentário, ela
demonstrou uma tremenda falta de conhecimento a respeito da história dos processos
revolucionários da história da humanidade (entre eles o francês, o russo, o
brasileiro, o chinês, o norte-coreano, o egípcio, o cubano, o líbio e o
iraniano, entre outros). Mao Tsé Tung define a palavra revolução da seguinte
maneira: “A revolução não é o convite para um jantar, a composição de uma obra
literária, a pintura de um quadro ou a confecção de um bordado, ela não pode
ser assim tão refinada, calma e delicada, tão branda e tão afável e cortês,
comedida e generosa. A revolução é uma insurreição, é um ato de violência pelo
qual uma classe derruba a outra”. Sempre que a velha ordem em determinado país
é destruída e substituída por uma nova, os elementos da velha ordem invariavelmente
reagem e não raro tentam por meios violentos fazer o que for possível para manter
e/ou restaurar seu status quo. Assim,
para esmagar essas forças reacionárias, a força das armas se faz necessária. Ou
vocês acham que os elementos da velha ordem e seus aliados estrangeiros vão
ficar parados e de braços cruzados vendo seu status quo ruindo como se fosse um castelo de cartas?
Lembremos que no ocaso
do século XVIII, os franceses, após a revolução de 1789, tiveram que pegar em
armas para lutar contra as forças reacionárias que almejavam a restauração da
monarquia dos Bourbon[5] e que contaram com o apoio
de países como Áustria, Prússia, Inglaterra, Sacro-Império Romano-Germânico e
Rússia. Com a queda dos Bourbon na França, os reis e imperadores desses países
temiam que eles poderiam ser os próximos da lista a terem suas cabeças cortadas
na guilhotina tal como aconteceu com Maria Antonieta e Luís XVI. Para afastar o
espectro do fantasma da volta dos Bourbon ao poder, os franceses tiveram que
enfrentar guerras contra duas coalizações (a primeira entre 1792 a 1797 e a
segunda entre 1798 a 1802) contra as principais potências europeias (as quais
tinham do seu lado emigrados monarquistas franceses). Depois, sob Napoleão
Bonaparte, novas coalizações das principais potências europeias da época se
formaram contra a França, as quais culminaram com a derrota do general corso na
Batalha de Waterloo para o general inglês Wellington e o general prussiano
Blücher e o exílio final de Napoleão na ilha de Santa Helena.
No Japão de meados do
século XIX, para que a Restauração Meiji[6] se consolidasse, uma longa
e sangrenta guerra civil que se arrastou por 15 anos, conhecida na
historiografia nipônica como Bakumatsu
(fim do Shogunato, 1853 – 1868), teve que acontecer opondo os monarquistas (favoráveis
à centralização do poder nas mãos do imperador) e o decadente Shogunato e seus
partidários (entre eles o famoso grupo Shinsengumi, citado em vários animes e
mangás como Rurouni Kenshin [Samurai X no Ocidente] e Peace Maker Kurogane). Na
Rússia, após o sucesso da revolução de outubro de 1917, os bolcheviques, sob a
liderança de Lenin, tiveram que enfrentar a reação dos partidários da velha
ordem tzarista, e a invasão de 14 países ao território russo (entre eles Japão,
Inglaterra, França, Estados Unidos, Canadá, Polônia, Finlândia, Romênia,
Itália, Ucrânia e China) em apoio aos brancos. Antes que a ordem revolucionária
se consolidasse na Rússia, uma sangrenta guerra civil que durou cinco ao todo
(ou seja, quase todo o governo Lenin) opondo vermelhos de um lado e de outro os
brancos e a coalização invasora estrangeira teve lugar. Na Mongólia, Damdin
Sükhbaatar teve que vencer as tropas chinesas que ocuparam o país em 1919 e
1920 e logo em seguida o barão Roman Ungern von-Sternberg e seus partidários para
alcançar o poder. Aqui no Brasil, Getúlio Vargas assumiu o poder em 1930 e
apeou do poder a oligarquia cafeeira que até então reinava no país e tratava o
estado brasileiro como seu balcão de negócios particular. Dois anos depois,
essa mesma oligarquia cafeeira tentou retomar o poder através do levante
constitucionalista paulista, que no fim foi esmagado por Vargas e as tropas
federais. Essa oligarquia voltaria ao poder em 1964 com o golpe civil-militar
daquele ano.
Mao Tsé-Tung, antes de
chegar ao poder na China, teve que enfrentar seguidos confrontos contra o
Kuomitang de Chiang Kai-Shek e contra as tropas japonesas que ocupavam grande
parte das regiões leste e norte da China. Em decorrência da perseguição do
Kuomitang, em 1934/1935 Mao e seus partidários tiveram que fazer a Grande
Marcha, que percorreu 9600 quilômetros através do interior da China. Na Coréia
do Norte, Kim il-Sung teve que organizar movimentos de resistência contra o
ocupante nipônico e seus lacaios nativos, e por causa disso teve que se exilar
da Coréia ocupada para a Manchúria e para a União Soviética. Com a ajuda do
Exército Soviético, os ocupantes nipônicos nos meses finais da Segunda Guerra
Mundial foram enxotados da parte norte da Península Coreana e só assim que o
Presidente Eterno tornou-se o líder da Coréia do Norte. No Egito, Nasser botou
para correr o rei Faruk I e seus partidários e ainda teve que enfrentar a
reação anglo-franco-israelense na questão do Canal de Suez. Em Cuba, Fidel
Castro assumiu o poder após uma sangrenta guerra de guerrilha contra as tropas
leais a Fulgencio Batista e ainda teve que vencer a invasão a Baia dos Porcos
em 1961. Na Líbia, Kadaffi botou para correr o rei Idris I e seus partidários,
assim como muitas das petroleiras ocidentais que exploravam o petróleo líbio.
No Irã, Khomeini botou o xá e seus partidários para correr e depois disso
enfrentou uma guerra de oito anos contra o vizinho Iraque. Entre tantos outros
exemplos que aqui podem ser mencionados.
E ai eu pergunto a
Socialista Morena: é dando flores e lambendo as botas do opressor que se faz
revolução? Os revolucionários franceses e depois Napoleão assumiram o poder
lambendo as botas e comendo cassoulet junto com os Bourbon e as potências que
queriam riscar do mapa a França revolucionária? Os monarquistas assumiram o
poder e concentraram o poder nas mãos do imperador comendo sushi, temaki e yakissoba
junto com o Shogun e seus partidários durante o Bakumatsu? Lenin e os revolucionários russos assumiram o poder comendo
strogonoff e tomando vodka junto com os Romanov, os brancos e as potências imperialistas
que invadiram o país durante a Guerra Civil de 1918 a 1922? Vargas assumiu o
poder aqui no Brasil e depois esmagou a contrarrevolução de 1932 tomando café e
comendo pão de queijo junto com a oligarquia cafeeira? E a intentona integralista
de 1938, foi vencida dando-se flores e gritando anauê junto com Plínio Salgado
e sua turma? Mao Tsé Tung e os revolucionários chineses assumiram o poder
conchavando com o Kuomitang e os japoneses? Kim il-Sung e os revolucionários
norte-coreanos assumiram o poder tomando chá junto com o ocupante nipônico (que
promoveu uma política de niponificação da Coréia, onde se proibiu o uso do
idioma coreano e os próprios coreanos eram obrigados a niponificarem seus nomes
e sobrenomes) e seus lacaios coreanos? Nasser e os revolucionários egípcios
assumiram o poder fumando narguilé e comendo kafta junto com os colonialistas
franceses e britânicos e com o rei Faruk I e sua gangue? Fidel Castro, Che
Guevara, Camilo Cienfuegos e os revolucionários cubanos assumiram o poder
tomando rum e fumando charuto junto com Fulgencio Batista e a máfia cubana? Kadaffi
e os revolucionários líbios assumiram o poder lendo livros e comendo esfiha junto
com o rei Idris e sua patota? Khomeini e os revolucionários iranianos assumiram
o poder recitando poesias para o xá em um tapete persa? Na Síria, o presidente
Assad aguentou meia década de guerra civil e agora está se recuperando dando
flores para o Estado Islâmico, a Al Qaeda e outros grupos terroristas
wahhabitas? E no Donbass, Igor Strelkov, Motorola, Mozgovoï e companhia
limitada proclamaram as repúblicas de Donetsk e Lugansk e conseguiram várias
vezes vencer as tropas ucranianas no campo de batalha implorando favores feito
mendigos à junta russófoba estabelecida em Kiev? A resposta para todas essas
perguntas é um sonoro e retumbante não.
E, pelo visto, ela se esquece
de que o mesmo Brizola que ela no mesmo texto diz admirar na época do golpe
quis resistir aos golpistas junto com o Terceiro Exército baseado no Rio Grande
do Sul e que em 1966 e 1967 liderou um movimento de resistência guerrilheira ao
Regime Civil-Militar na Serra do Caparaó, baseado na experiência cubana. E ela,
que se diz bolivariana, pelo visto mal sabe que o finado Comandante Chávez
descrevia a sua revolução como “pacífica, porém armada”. Do contrário, ele
jamais teria vencido junto com o povo os golpistas que assumiram brevemente o
poder em 2002 e assim voltar ao poder. E não é agora que, sendo mole com os sabotadores
e golpistas que querem que a Venezuela volte a ser o país miserável que era nos
tempos da Quarta República que Maduro, aos trancos e barrancos, está
conseguindo manter-se no poder.
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– Salvador Allende (1908 – 1973), presidente do Chile entre 1970 a 1973.
O próprio Allende mencionado
por ela em seu texto também enfrentou agitações reacionárias em seus quatro
anos de governo no Chile. Entre essas forças reacionárias estavam o grupo paramilitar
de Extrema Direita Patria y Libertad,
fundado por Pablo Rodríguez Grez (o qual após a redemocratização do Chile foi
advogado de Pinochet), advogado de várias empresas multinacionais, entre elas a
estadunidense ITT[7]
(a mesma ITT que anos antes teve sua filial gaúcha estatizada por Leonel
Brizola). Esse grupo periodicamente fazia ataques de sabotagem e terrorismo e
apoiava greves de caminhoneiros. Como também houve as peruas dondocas da elite
chilena que periodicamente faziam panelaços por causa da falta de produtos nos
supermercados provocada pela mesma elite chilena em um esforço de guerra
econômica contra o governo central (o mesmo que hoje acontece na Venezuela). E,
o mais importante de tudo: o apoio dos EUA à agitação golpista, principalmente depois
que Allende nacionalizou a produção de cobre chilena, até então explorada pelas
empresas Kennecott Corporation e a Anaconda Copper Company. No já mencionado
artigo de seu blog, a Socialista Morena chega a dizer que a visita de Fidel
Castro ao Chile teria precipitado a queda de Allende e da via chilena ao
socialismo, por supostamente acirrar os ânimos das classes dominantes chilenas
contra o governo da Unidad Popular. E
o que é pior: ela em momento algum fala sobre o Patria y Libertad ou a ingerência dos Estados Unidos. No fim das
contas, Allende pagou o preço por seus conchavos com os golpistas (a ponto de
ter colocado Pinochet como comandante das forças armadas após o episódio do
Tanquetazo) e não ter armado o povo contra as forças reacionárias internas e
externas que conspiravam contra seu governo (o que grupos de esquerda como o
MIR[8] queriam).
Por outro lado, em
Belarus, antiga república soviética, Aleksandr Lukashenko, presidente do país
desde 1994, venceu em 2006 a Revolução Jeans não sendo condescendente com seus
opositores (os quais usavam como símbolo a mesma bandeira branca com uma faixa
vermelha no meio que o país usava antes de Lukashenko se tornar presidente).
Muito pelo contrário, se valendo da força da polícia e dos serviços de
inteligência, Lukashenko pode esmagar esse golpe, que tal como todas as
revoluções coloridas, são teleguiadas de fora através de ONGs estrangeiras e
financiamento pesado vindo de multimilionários como o narcotraficante George
Soros (o mesmo Soros que é o grande financiador da campanha mundial para a
liberação das drogas e que foi um dos grandes beneficiários da privataria[9] na América Latina nos anos
1990). Resumindo a ópera: a força das armas não é uma condição obrigatória para
se derrubar a velha ordem e erigir uma nova, mas a partir do momento em que a
nova ordem estiver ameaçada ante a ofensiva de forças reacionárias vindas tanto
de fora quanto de dentro, ela será necessária para a manutenção e sobrevivência
da revolução. Nem que para isso seja preciso matar, prender ou exilar os
conspiradores e sabotadores. Era a isso que Fidel queria alertar Allende quando
de sua visita ao Chile. Ou seja, que cedo ou tarde Allende teria que enfrentar
as forças reacionárias contrárias a seu governo. E a história mostrou que o
líder cubano estava certo em seu diagnóstico. O que ia acontecer com ou sem
visita de Fidel ao Chile, ainda mais dentro do contexto da Guerra Fria onde
havia o temor da parte dos Estados Unidos de que o exemplo cubano contagiasse o
resto da América Latina.
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– Como os reacionários brasileiros geralmente se definem (conservadorismo
político-moral combinado com liberalismo econômico e um patriotismo bem
demagógico, assim como uma raivosa retórica anticomunista).
O que o discurso tipicamente
menchevique da Socialista Morena (que pensa a socialdemocracia ser uma etapa para
a implantação do socialismo), que é um verdadeiro canto da sereia para todos
nós, transparece é que o socialismo do novo milênio será implantado só fazendo
justiça social nos marcos do capitalismo para os grupos minoritários da
sociedade e sem precisar destruir gente perniciosa como os clãs Rockefeller e
Rotschild (os mesmos Rotschild com os quais o Barão de Mauá era mancomunado no
século XIX), George Soros, JP Morgan, Rupert Murdoch, irmãos Koch (os mesmos
que financiam grupos como o Movimento Brasil Livre) e outros grandes tubarões das
finanças internacionais. O fim do capitalismo não acontecerá conchavando com
essa gente, e sim exterminando-os sem dó nem piedade. Esse foi o erro que o PT
cometeu aqui no Brasil nesses anos todos, ao ter feito um governo de
conciliação com as classes dominantes e não de enfrentamento tal como Chávez
fez na Venezuela com as classes dominantes de lá. Ao não enfrentar o poder da
classe dominante, o Partido dos Trabalhadores foi engolido pela política
burguesa e assim não pode fazer as reformas estruturais que o país há tempos
necessita. Conchavando com as classes dominantes, o máximo que o PT pode fazer foi
algumas políticas paliativas como o Bolsa Família (cujo gasto para os cofres da
nação é ínfimo). Enquanto que no Mundo Islâmico líderes como Nasser, Kadaffi,
Saddam Hussein e Khomeini foram capazes de fazer mudanças profundas em seus
respectivos países enfrentando o poder das grandes petroleiras ocidentais e de
seus lacaios locais (assim como investindo em infraestrutura, forças armadas e
educação e não construindo palácios suntuosos que nem os monarcas do Golfo
Pérsico fazem).
No meio do texto, ela
ainda fala sobre Bernie Sanders, o potencial candidato democrata ao pleito presidencial
dos EUA desse ano e se indaga sobre qual é o problema de ele ser socialdemocrata.
O fato é que, independentemente da corrente político-ideológica ao qual ele
alegue afiliação, isso não muda o fato de que Bernie Sanders, tal qual Barack
Obama, Bill Clinton, Bush pai, Bush filho, Reagan e todos aqueles que ocuparam
a Casa Branca nesses anos todos, não passa de um homem do sistema político norte-americano.
Nos EUA, apenas através de um processo revolucionário é que um homem de fora do
sistema assumirá o poder, nunca pela via eleitoral. Pois tal qual um leão
quando é desafiado por outro luta para manter sua posição de chefe de um bando
(e que terá sua prole morta caso seja vencido pelo rival), o poder por trás do
trono de tudo fará para a manutenção de seu status
quo. Nem que para isso tenha que recorrer a fraudes eleitorais, terrorismo
midiático e até mesmo a assassinatos e operações de falsa bandeira. E não vamos
esquecer que Bernie Sanders foi favorável, entre outras coisas, ao bombardeio
da OTAN à Iugoslávia em 1999 em apoio aos terroristas do Exército de Libertação
de Kosovo, a liberação de fundos para guerra ao Afeganistão em 2001 e ainda a
ajuda bilionária ao governo golpista na Ucrânia pós-Euromaidan. Uma coisa é
certa: caso Sanders chegue à Casa Branca, ele invariavelmente terá de dançar
conforme a música do sistema de poder norte-americano (formado pelo tripé
Pentágono, Wall Street e FED).
Ela justifica sua opção
pela socialdemocracia alegando que os países mais igualitários do mundo são socialdemocratas.
Por favor, sem ilusões baratas. Pelo visto ela ignora que esses países em
questão (tais como Noruega, Islândia, Suécia, Dinamarca e Finlândia) fazem
parte de blocos imperialistas como a OTAN e a União Européia. Na política da
Alemanha, o país central da União Européia e uma das principais economias capitalistas
do planeta, o Partido Social-Democrata, a agremiação a qual pertence o
ex-premiê Gerhard Schroeder, divide o bolo republicano germânico junto com a
democracia cristã de Merkel e Helmut Kohl. Na França, o partido que hoje ocupa
o palácio do Eliseu é o Partido Socialista, mas isso não mudou o fato de que a
França continua sendo um país capitalista e imperialista (haja a vista que foi
sob o governo Hollande que houve a intervenção francesa no Mali e o apoio ao
terrorismo wahhabita na Síria contra Assad). E o mesmo vale para a Inglaterra
quando esteve sob o comando do trabalhista Tony Blair (1997 – 2007), que
invadiu o Iraque em 2003 junto com os Estados Unidos. Ou seja, o partido pode
ter a sigla que for e os discursos mais bonitos possíveis, mas uma vez que
tenha um comprometimento de classe com o establishment que manda no país por
trás das cortinas, não passará de uma fraseologia barata e demagógica.
Cynara finaliza seu
texto com as seguintes palavras: “Por favor, velhos camaradas, não os espantem
com dogmatismo”. A ela, eu respondo com as seguintes palavras: Por favor,
Socialista Morena, não nos espante com sua ingenuidade e seu idealismo torpe e
infantil. O mundo em que vivemos não é o do grande arco-íris cor-de-rosa das
tuas fantasias pacifistas onde você acha que os elementos da velha ordem ficarão
quietos em seu canto vendo passivamente seu mundo ruir. Com elementos
reacionários não se brinca. Allende brincou com o Patria y Libertad e os militares golpistas e no fim pagou com sua
vida e o Chile teve que amargar uma sangrenta ditadura que perdurou por 17 anos.
No fim vemos que ela, que se diz bolivariana, está política e ideologicamente muito
mais próxima de figuras como Obama, Mujica e Hollande que de Brizola, de
Allende e do Comandante Chávez.
Foto
– Membros do grupo terrorista de Extrema Direita Patria y Libertad, ativos no Chile durante a era Allende: os
reacionários de ontem.
Fontes:
40 anos do golpe no
Chile – Fidel Castro: amigo ou muy amigo de Allende? Disponível em: http://www.socialistamorena.com.br/fidel-castro-amigo-ou-muy-amigo-de-allende/
A voz do comunismo:
Realidade x Puritanismo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NLaKgFLtErU
Bernie Sanders’ troubling history of supporting US Military violence
abroad (em inglês). Disponível
em: http://www.alternet.org/election-2016/bernie-sanders-troubling-history-supporting-us-military-violence-abroad
Boteco bolivariano: “A
revolução datou”, por Cynara Menezes. Disponível em: http://www.carosamigos.com.br/index.php/colunistas/191-cynara-menezes/6337-boteco-bolivariano-a-revolucao-datou-por-cynara-menezes
Chile: anatomia de um
golpe II. Disponível em: http://www.cut.org.br/noticias/chile-anatomia-de-um-golpe-ii-854f/
Há 40 anos o terrorismo
de direita chamava a derrubada do governo Chile. Disponível em: http://www.sul21.com.br/jornal/ha-40-anos-o-terrorismo-de-direita-chamava-a-derrubada-do-governo-no-chile/
Os monges guerreiros.
Disponível em: http://makaracaju.blogspot.com.br/2015/01/os-monges-guerreiros.html
Privatización y Privatería (em espanhol). Disponível em:
Quem são os irmãos Koch?
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/politica/quem-sao-os-irmaos-koch-2894.html
The Buddha as a
warrior (em inglês). Disponível em: http://www.wildmind.org/blogs/on-practice/the-buddha-as-warrior
NOTAS:
[1] Leia-se “Tzin”, pois no mandarim a
partícula j tem valor de tz e a consoante final de uma palavra, tal como no
francês, é muda.
[2] Leia-se “Naguinata”, pois no japonês,
assim como em idiomas como o russo, o alemão, o polonês e o mongol, o som da
partícula g não muda em função da vogal seguinte tal como nas línguas latinas e
no inglês.
[3] Leia-se “Rrodja”, pois no albanês a
partícula xh tem valor de dj.
[4] Leia-se “Rromeini”, pois no persa,
assim como em idiomas como o árabe, o russo e o mongol, a partícula kh
(cirílico х) tem o mesmo valor do ch no alemão e no polonês, do h no inglês e
do j e do g quando sucedido por e ou i no espanhol: r aspirado.
[5] Leia-se “Burbon”, pois no francês a
partícula ou tem valor de u.
[6] Leia-se “Medji”, pois no japonês,
assim como em idiomas como o inglês, o árabe e o farsi, a partícula j tem valor
de dj.
[7] International Telephone and Telegraph
(Telefone e Telegráfo Internacional em português).
[8] Movimiento de Izquierda
Revolucionária (em espanhol “Movimento de Esquerda Revolucionária).
[9] O termo privataria é um neologismo que
une as palavras “privatização” e pirataria. Foi criado pelo jornalista
brasileiro Hélio Gaspari e popularizado pelo também jornalista Amaury Ribeiro
Júnior (autor do livro “A Privataria Tucana”, sobre as falcatruas do processo
de privatização no Brasil durante o governo Fernando Henrique Cardoso [1995 –
2002]).
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