sábado, 13 de outubro de 2018

A sexta coluna interna do PT, parte IV: a transformação verde-amarela.



Foto – O novo logo do PT.
Recentemente, o PT, em meio à campanha presidencial para o segundo turno das eleições presidenciais 2018, lançou um novo logo. Nesse novo logo vemos a troca da tradicional cor vermelha petista por um novo logo verde e amarelo. Junto com o novo logo também veio uma nova foto de campanha onde não se vê a figura do ex-presidente Lula e sem os dizeres “Haddad é Lula 13”. Agora é só Haddad e Manuela d'Ávila e nada mais. O que falar a esse respeito?
No mínimo, preocupante. Será isso uma manobra da parte do próprio PT querendo fazer agrado ao eleitorado reacionário ao adotar o verde-amarelo dos patos amarelos (verde amarelo esse que nada mais é que a defesa do Brasil do 1% mais rico. Ou seja, do Brasil da Casa Grande e Senzala)? Só falta daqui a pouco anexar um “meu partido é o Brasil” nesse mesmo logo em futuras propagandas. Pois se for isso, uma coisa é certa: o PT está muito iludido se acha que vestindo a camisa dos patos amarelos e fazendo acordos com os Bolsonaros chiques (ou seja, PSDB, PMDB, DEM e partidos afins) vai vencer o Bolsonaro bruto e assim conquistar o voto de ao menos parte do eleitorado do político carioca.
Ou será que isso em realidade vem confirmando o que o Duplo Expresso e o camarada Rui Costa Pimenta vêm falando há tempos a respeito da existência de uma sexta coluna (parafraseando Dugin) dentro do seio do próprio Partido dos Trabalhadores (e não duvido que essa ideia “genial” tenha saído da “brilhante” mente do José Eduardo Cardozo, o nosso querido e ilustre Zé da Justiça)? Assim sendo, a sexta coluna interna do PT, pelo visto, está começando a mostrar suas próprias garras e a que realmente veio. Ou seja, que podemos estar vendo o prenúncio de um golpe interno dentro do próprio PT.
Em meu entendimento, já está bem claro o que o PT jurídico almeja: rifar Lula, deixá-lo apodrecer na cadeia (e se eventualmente ele vir a morrer nas masmorras do Paraná cinicamente no máximo vão soltar uma nota de lamento pelo ocorrido), tomar conta do próprio PT e assim transformar o PT em um partido elitista, similar a PMDB, PSDB, PTB, DEM, PSL e outros tantos. Ou seja, expurgar o PT de seu histórico conteúdo popular-trabalhista. Dessa forma, o PT está fazendo uma grande guinada à direita e se tornando mais um partido dentro da política brasileira. Destino um tanto similar ao que teve o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) depois do fim da ditadura civil-militar (cuja sigla foi entregue à oportunista Ivete Vargas pelo general Golbery do Couto e Silva em detrimento do grupo de Brizola) aguarda o PT com isso.

Foto – O antes: Haddad é Lula 13.
Fala-se também que o PT está mudando. Discordo disso. Como o PT pretende retomar o espaço que vem perdendo desde 2012 abandonando suas raízes trabalhistas, sua militância e se tornando mais um partido dentro do sistema? E como Haddad pretende se eleger presidente sem, para começo de conversa, colocar a prisão ilegal do ex-presidente Lula no centro do debate político (a ponto de dizer que o problema de Lula era de natureza jurídica e não política e que não há conspiração contra Lula, mas tão somente erro jurídico. E assim dando legitimidade à condenação do ex-presidente e silenciando sobre a meganhagem de toga que ajudou a parir Bolsonaro)?
E o que é pior, Haddad, recentemente visitou Joaquim Barbosa (o mesmo Joaquim Barbosa que foi o algoz do PT no julgamento do mensalão há seis anos) sob a alegação de procurar os melhores quadros para combater a corrupção e em recente pronunciamento enalteceu o Estado Policial e prometeu fortalecer ainda mais o Estado Policial aqui estabelecido. A ponto de falar que continuam a Lava Jato (a mesma Lava Jato que além de arruinar economicamente o Brasil por meio da tábua rasa feita à empresas como a Odebrecht e a Petrobrás colocou a pecha de organização criminosa na testa do PT e que jogou nas masmorras de Curitiba a maior liderança popular brasileira), o apoio à Polícia Federal, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário continua no combate à corrupção (a corrupção dos tolos, obviamente). Desse jeito, só vai alimentar o monstro que cedo ou tarde irá lhe devorar (além de em muitas pessoas, a mim incluso, causar desânimo em querer nele votar), além de assinar um atestado de burrice. Mas o que esperar de alguém que olha a questão de forma similar a que olham pessoas como Deltan Dallagnol e Jair Bolsonaro (o que pode ser conferido no artigo publicado por ele na edição nº 129 da revista Piauí)?.
A meu ver, Haddad precisa para o ano passado ler o livro “A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato”, de Jessé Souza (entre outras obras do sociólogo potiguar). Ele, que tem como referenciais teóricos autores como Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro e que engole toda a mistificação da realidade (vide conceitos como patrimonialismo e homem cordial, onde apenas o Estado é visto como corrupto e o “mercado” como o espaço das virtudes por excelência) feita pelos expoentes do liberalismo conservador tupiniquim e que ao sistema vigente é bem conveniente.

Foto – E o depois: só Manuela D’Ávila e Fernando Haddad juntos.
Jessé Souza fala que um dos grandes problemas da esquerda brasileira é o fato de que ela não possui suas próprias narrativas e reproduz as narrativas da direita (sobre o qual já falamos anteriormente). E isso é o que a meu ver deu margem para em vida Brizola e Darcy Ribeiro classificarem o PT como “esquerda que a direita gosta” e “UDN de macacão”. Exemplo ilustrativo do problema da carência de narrativas próprias de expressivos setores da esquerda brasileira pode ser visto no tweet abaixo que eu achei navegando pela Internet:

Foto – Mensagem de Twitter comparando Hugo Chávez com Bolsonaro.
É por causa de uma esquerda como essa, que reproduz o discurso e as mentiras do sistema como se fosse um papagaio amestrado, que o imperialismo pode fazer as barbaridades que fez com países como o Iraque, a Líbia, a Síria, a Venezuela, o Irã, o Afeganistão, a Palestina, a ex-Iugoslávia, a Ucrânia e tantos outros. E é por causa de uma esquerda como essa que nunca que os militares do país deixarão de seguir e serem cooptados pela cartilha ideológica vinda da Nova Cartago e todo o pacote nela contido. E esse é um dos vários pontos onde pode ser visto o abismo qualitativo entre a esquerda no Brasil e na Venezuela.
Ao renunciar a seus símbolos em plena campanha eleitoral e vestir a camisa verde-amarela do adversário, a chapa Haddad-Manuela dá um atestado de frouxidão e mostrando que é o melhor cabo eleitoral que o político carioca jamais poderia sonhar em ter.
Fontes:
Fernando Haddad – “Vivi na pele o que aprendi nos livros: um encontro com o patrimonialismo brasileiro”. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/vivi-na-pele-o-que-aprendi-nos-livros/
Haddad diz esperar apoio de tucanos: “há social-democracia ainda no PSDB”. Disponível em: https://www.facebook.com/groups/1660530967346561/?multi_permalinks=1983802965019358&notif_id=1539403764482028&notif_t=group_highlights
O “verde amarelismo” não derrota o fascismo – colunistas da COTV, por Natália Pimenta. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WdBYAcnomr0&t=106s&ab_channel=CausaOperariaTV
Por que Haddad não defende Lula? Disponível em: https://duploexpresso.com/?p=99910
PT diminui Lula e a cor vermelha nos materiais de campanha de Haddad. Disponível em: https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/eleicoes/2018/10/10/haddad-lula-manuela-campanha-cores-logotipo-pt-vermelho.htm

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