segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A sexta coluna dentro do PT, parte III: as lambanças do PT jurídico e a história de Kikjou e Naraku.



Foto – Sacerdotisa Kikjou (versão animada).
Entre os mangás até hoje publicados no Brasil, Inujaša, de autoria de Rumiko Takahaši (mesma autora de obras como Ranma ½, Maison Ikkoku e outras), é o mais longo, com seus 112 volumes (56 volumes no original japonês) e 558 capítulos originalmente publicados no Japão entre 1996 a 2008 pela editora Weekly Šonen Sunday e no Brasil entre 2002 a 2009 pela editora JBC. Entre 2000 a 2004 a obra de Rumiko Takahaši foi animada pelo estúdio Sunrise. 167 episódios foram produzidos ao todo, os quais foram dublados no Brasil pelo extinto estúdio Parisi Vídeo (que foi uma espécie de Gota Mágica da primeira metade dos anos 2000) e exibidos pelo Cartoon Network entre 2002 a 2007 e brevemente pela Rede Globo em 2005. Por ter alcançado a história do mangá o anime original foi cancelado e retomado do ponto onde parou em 2009 com os 26 episódios finais, que perfazem o arco Kankecu-hen (até hoje inéditos no Brasil).
Em relação a animes mais famosos no Brasil tais como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, os quais possuem várias sagas com seu vilão principal respectivo cada uma, Inujaša, cuja trama se passa no período Sengoku (c. 1467 – 1600) da história japonesa (notório pela ausência de uma autoridade central, fragmentação política, constantes conflitos internos, intrigas políticas e agitação social), se distingue por ter tido ao longo de toda a sua história apenas um único vilão central, Naraku (na dublagem brasileira Narak – talvez seu nome foi modificado para evitar que fosse objeto de certos trocadilhos).
Ardiloso, cruel e traiçoeiro, Naraku (cujo nome em japonês significa inferno) não se importa em utilizar os mais sórdidos expedientes para alcançar seus intentos (a ponto de não raro terceirizar o serviço sujo para suas crias). Naraku se originou do bandido Onigumo, o qual após um incêndio ficou com a sua pele toda queimada e imóvel, mas milagrosamente sobreviveu. Ele foi acolhido pela sacerdotisa Kikjou, a protetora da joia de quatro almas. Kikjou o levou a uma caverna e passou a cuidar dele junto com sua irmã mais nova, Kaede. Onigumo se afeiçoou por Kikjou a tal ponto que desenvolveu fortes sentimentos pela jovem sacerdotisa, que na mesma época tinha uma relação amorosa com o meio-jokai Inujaša. Ao descobrir que na verdade Kikjou amava o meio-jokai e não ele, Onigumo inflamou-se de ódio e ofereceu seu corpo e sua alma em sacrifício para ser devorado por uma horda de milhares jokais famintos, e dessa fusão surgiu uma nova entidade, Naraku. Naraku ambicionava corromper a joia de quatro almas, e para isso se passou por Inujaša e emboscou a sacerdotisa sorrateiramente. Kikjou foi mortalmente ferida e com as últimas forças que ainda lhe restavam selou Inujaša com uma de suas flechas em uma árvore e morreu, com seu corpo incinerado junto com a joia de quatro almas.
Ai vocês me perguntam: “aonde você quer chegar citando essa passagem de um anime que passou no Cartoon Network há mais de um decênio?”. Nas lambanças daquilo que o professor e jurista Luiz Moreira chama de o “PT jurídico” que levaram o Partido dos Trabalhadores a estar na situação calamitosa que se encontra no presente momento, sob a mira dos togados e dos fardados que não fizeram o que fizeram para depois entregar o poder de mão beijada aos petistas. E escolhi falar nesse artigo de Inujaša ao invés, por exemplo, de Dragon Ball (onde temos o caso de três personagens que morreram em situações semelhantes às de Kikjou: o Doutor Maki Gero na saga Cell, o mago Babidi na saga Buu e o Doutor Mjuu na saga Baby) pelo fato de a obra de Rumiko Takahaši não estar tão em evidência no presente momento tal qual a obra de Akira Torijama (que como todos nós sabemos dentro em breve terá mais um filme lançado e bem provavelmente depois disso teremos a sequência do Super).

Foto – Naraku e Kikjou em cima, Kagome (Agome na dublagem brasileira – seu nome foi modificado por razões óbvias) e Inujaša em baixo.
Também quero aqui deixar Bolsonaro um pouco de lado e falar a respeito da banda podre do PT, o chamado PT jurídico, e suas lambanças ao largo desses anos todos. Pois diante da euforia de parte significativa da esquerda brasileira quanto à possibilidade de Fernando Haddad vencer a eleição presidencial de 2018 vejo as pessoas, além de não se darem conta de que este é um grande jogo de cartas marcadas e uma grande farsa para legitimar o golpe de 2016, não dando a real atenção quanto à seriedade do problema, muito menos a respeito dessa divisão interna no seio do Partido dos Trabalhadores que em parte ajuda a explicar a paralisia que tem acometido a esquerda brasileira diante dos ataques dos golpistas, a ponto de termos visto Lula, a principal liderança popular do país e quiçá de toda a América Latina, sendo preso (e de onde bem provavelmente talvez só saia deitado em um caixão de madeira), em situação similar à que passaram o sérvio Slobodan Miloševiċ e o iraquiano Saddam Hussein (os quais também foram julgados por tribunais canguru[1]).
Segundo o professor e jurista Luiz Moreira, foi o que ele chama de petismo jurídico que criou o terreno propício para que proliferasse como erva daninha não apenas a Operação Lava Jato como também a onda de punitivismo direitista a que o Brasil assiste (que por sua vez em grande medida também foi estimulado por programas televisivos policiais tais como Datena, Ratinho e afins e que encontra terreno fértil por causa da herança da escravidão). Pois foi sob o petismo jurídico que a Polícia Federal, o Ministério Público e o TCU (Tribunal de contas da União) foram treinados para interditar governos de esquerda e qualquer projeto de justiça social. Não apenas isso, como também foram criações do famigerado PT jurídico o PGR todo poderoso, o diretor da PF intocável, a dicotomia entre gestão e controle, a relação entre Globo e Justiça, a transformação do combate à corrupção em luta ideológica (e assim criando as condições para que os poderes políticos sejam subordinados sejam subordinados ao sistema de justiça).

Foto – Professor Luíz Moreira.
Como também o fato de que foi nos governos petistas (especialmente sob Dilma Rousseff) que a agenda do petismo jurídico foi gestada nos Ministérios da Justiça e da Casa Civil, com repercussão e engajamento no Congresso. Isso para não falar do fomento à todas as pretensões punitivistas da PGR, da compra do sistema de monitoramento “Guardião”, o estabelecimento da ENCCLA, do INOVARE, a criação da Súmula Vinculante, cooperações internacionais entre PGR e governos estrangeiros sem cooperação do Itamaraty, e a aprovação da lei da ficha limpa em 2010 (que na época de sua aprovação apenas o PCO teve a ousadia de fazer a devida crítica e que no presente momento está sendo usada para impugnar Lula e coloca-lo fora do páreo), entre outras dignas de um Bolsonaro ou de um Alckmin. O próprio Luiz Moreira, em texto publicado no TV247 em 9 de abril de 2018, diz o seguinte a respeito da questão do PT jurídico e o papel por ele desempenhado nos últimos anos:
“De minha parte, a conclusão que chego é que o petismo jurídico corroeu por dentro a grande expressão popular das esquerdas e, além disso, desestruturou politicamente o PT, comprometendo-o com causas punitivistas e com legislações que submetem a política aos tribunais.
O projeto do petismo jurídico resultou tanto na criminalização das lideranças que construíram o PT quanto na criação de uma estrutura persecutória incompatível com as garantias constitucionais presentes na Carta de 1988, transfigurada, pelos equívocos conceituais, em submissa à jurisdição constitucional, isto é, a constituição passou a ser o que o STF diz que ela é, nos submetendo a decisionismo judicial pleno”.
Como dito anteriormente, achar que o imperialismo anglo-americano, em seu esforço de guerra híbrida contra o Brasil, cooptou apenas os juízes e procuradores da Lama Jato é ser no mínimo muito ingênuo. Pelo contrário, isso foi um plano meticulosamente articulado e planejado durante anos de tal forma a não deixar ponta solta alguma. Bem provavelmente, apenas com a carta Lama Jato na manga eles não teriam logrado o sucesso que conseguiram nesse esforço de guerra híbrida. E talvez seja por causa da cobertura propiciada pelas outras cartas (entre elas as cartas chamadas militares, ministros do STF e imprensa golpista) que o Judge Murrow pode fazer o que quiser que nada a ele acontece. E é ai que entra o PT jurídico entra na história.
Em recente artigo no site Duplo Expresso, foi dito que o próprio Duplo Expresso soube que quadros da ala esquerda do PT tiveram acesso a relatos de inteligência estrangeira que dão conta do tamanho e da duração da infiltração dentro do próprio PT e de como ela foi parte fundamental da conspiração para alimentar a Lama Jato e levar Lula para as masmorras do Paraná. No que vem a corroborar a hipótese aventada em artigo anterior sobre o mesmo assunto de que o imperialismo não agiu apenas em uma frente, mas em várias simultaneamente, usando a Lama Jato como quinta coluna e o PT jurídico como sexta coluna.
O PT jurídico/Mensagem ao Partido é formado pelo corpo jurídico e burocrático do Partido dos Trabalhadores. Em outras palavras, por pessoas como o infame José Eduardo Cardozo (vulgo Zé da justiça) e Aloísio Mercadante. Em outras palavras, é a elite social do PT, formada por pessoas originárias de classes abastadas e que, portanto, a despeito de serem membros de um partido de esquerda como Partido dos Trabalhadores, carregam os mesmos ranços de classe que os juízes e procuradores da Lama Jato carregam e que talvez tal qual Moro, Dallagnol, Marcelo Bretas, Carlos Fernando dos Santos Lima e companhia limitada tiveram o mesmo orgulho ferido ao ver um sujeito vindo da miséria e ex-torneiro mecânico como o Lula se tornar presidente. Com a diferença que enquanto o Judge Murrow e sua camarilha são mais abertos em seu ódio classista, os membros do PT jurídico nesse ponto são mais discretos e dissimulados. E isso é o que a meu ver torna o PT jurídico ainda mais perigoso e insidioso que a própria Lama Jato. Não nos esqueçamos de que o PT jurídico atuou como costa quente do regime golpista ao salvar o STF das pressões da ONU.
Antes que venham aqui me apedrejar por estar citando o Duplo Expresso (que conta com certeza antipatia dos mesmos que estão eufóricos com a possibilidade de Haddad ser eleito), saibam de uma coisa: o Duplo Expresso não é o único que nesses anos tem falado a respeito da atuação no mínimo desastrosa e no máximo colaboracionista dessa ala podre do PT encabeçada pelo Zé da justiça e pelo Mercadante. Rui Costa Pimenta, Luís Nassif e Paulo Henrique Amorim, entre outros, também fizeram críticas à atuação dessas figuras. E, no próprio site do TV247 há um artigo de autoria de Luiz Moreira onde ele fala a respeito dessa atuação do PT jurídico. A atuação do Zé da justiça foi tão desastrosa que ele fez uma péssima defesa da ex-presidente Dilma e deixou a PF, teoricamente sob seu comando, fazer o que bem entendia.
Haveria uma ligação entre o PT jurídico e a Lama Jato, a tal ponto de os dois trabalharem em conjunto em seus intentos golpistas (a ponto de o PT jurídico ser uma das costas quentes da qual o Judge Murrow desfruta)? Não sei e no presente nem tenho como responder, isso é algo que talvez apenas só seja respondido em 30, 40 anos quando foram liberados nos EUA os arquivos dos serviços de inteligência sobre o se passa hoje no Brasil e na América Latina. Mas não seria nenhuma surpresa se isso fosse verdade.
Por fim, mais uma vez chamo a atenção da esquerda brasileira de modo geral quanto ao problema das narrativas, especialmente no que tange à maneira como a esquerda lida com o Estado quando chega ao poder e tem de lidar com as instituições e os elementos nelas presentes.
Quando salvou Onigumo da morte certa, Kikjou certamente não imaginava que a situação fosse chegar ao ponto de Onigumo por ela não só se apaixonar como também se transformar em Naraku e mata-la se passando por Inujaša. E o PT jurídico, com essas manobras todas, será que eles imaginaram que a situação ia chegar até esse ponto, ou isso é o que eles sempre quiseram esse tempo todo, desde no mínimo os tempos do mensalão? Talvez, os “ptminions” que estão empolgados com Haddad, que certamente acham que tudo vai transcorrer normalmente e que os meganhas de toga e de farda vão deixar o PT voltar ao poder na boa só venham a acordar da realidade quando for tarde demais.

Foto – Onigumo antes de se transformar em Naraku (veja a semelhança dele não apenas com certo antagonista mumificado de Kenšin Himura como também com o inimigo principal do Lion-O em Thundercats que salta aos olhos).
Fontes:
Advogado José Eduardo Cardozo: aliado ou sabotador do PT? Análise Rui Costa Pimenta do PCO. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=oyFShutz5HY&ab_channel=FelipeLacerda
Cardozo: o maior mistério da era Dilma. Disponível em: https://jornalggn.com.br/noticia/cardozo-o-maior-misterio-da-era-dilma
Exclusivo: Lula recusa encarnar cabo eleitoral “fake” e golpe salva “PT jurídico” calando ex-presidente. Disponível em: https://duploexpresso.com/?p=99563
Mercadante e Zé Cardozo derrubaram a Dilma. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PbwbqVOrhAQ&ab_channel=ConversaAfiadacomPauloHenriqueAmorim
Naraku (em inglês). Disponível em: http://inuyasha.wikia.com/wiki/Naraku
O “petismo jurídico” e o próximo presidente da República. Disponível em: https://duploexpresso.com/?p=96152
Os oito anos do governo Lula: o PT ressuscita o PMDB. Disponível em: https://ruicostapimenta.com/page/81/
Tribunal Canguru. Disponível em: https://pt.wiktionary.org/wiki/tribunal_canguru



[1] Termo utilizado no direito para designar quando o julgador do caso é manifestamente autoritário e/ou parcial, decididamente desde o início a beneficiar ou prejudicar uma das partes, à revelia do conjunto de provas.

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