Foto – Sacerdotisa Kikjou (versão
animada).
Entre
os mangás até hoje publicados no Brasil, Inujaša, de autoria de Rumiko Takahaši
(mesma autora de obras como Ranma ½, Maison Ikkoku e outras), é o mais longo,
com seus 112 volumes (56 volumes no original japonês) e 558 capítulos originalmente
publicados no Japão entre 1996 a 2008 pela editora Weekly Šonen Sunday e no
Brasil entre 2002 a 2009 pela editora JBC. Entre 2000 a 2004 a obra de Rumiko
Takahaši foi animada pelo estúdio Sunrise. 167 episódios foram produzidos ao todo,
os quais foram dublados no Brasil pelo extinto estúdio Parisi Vídeo (que foi
uma espécie de Gota Mágica da primeira metade dos anos 2000) e exibidos pelo
Cartoon Network entre 2002 a 2007 e brevemente pela Rede Globo em 2005. Por ter
alcançado a história do mangá o anime original foi cancelado e retomado do
ponto onde parou em 2009 com os 26 episódios finais, que perfazem o arco Kankecu-hen
(até hoje inéditos no Brasil).
Em
relação a animes mais famosos no Brasil tais como Dragon Ball e Cavaleiros do
Zodíaco, os quais possuem várias sagas com seu vilão principal respectivo cada
uma, Inujaša, cuja trama se passa no período Sengoku (c. 1467 – 1600) da
história japonesa (notório pela ausência de uma autoridade central,
fragmentação política, constantes conflitos internos, intrigas políticas e
agitação social), se distingue por ter tido ao longo de toda a sua história apenas
um único vilão central, Naraku (na dublagem brasileira Narak – talvez seu nome foi
modificado para evitar que fosse objeto de certos trocadilhos).
Ardiloso,
cruel e traiçoeiro, Naraku (cujo nome em japonês significa inferno) não se
importa em utilizar os mais sórdidos expedientes para alcançar seus intentos (a
ponto de não raro terceirizar o serviço sujo para suas crias). Naraku se
originou do bandido Onigumo, o qual após um incêndio ficou com a sua pele toda queimada
e imóvel, mas milagrosamente sobreviveu. Ele foi acolhido pela sacerdotisa
Kikjou, a protetora da joia de quatro almas. Kikjou o levou a uma caverna e
passou a cuidar dele junto com sua irmã mais nova, Kaede. Onigumo se afeiçoou
por Kikjou a tal ponto que desenvolveu fortes sentimentos pela jovem sacerdotisa,
que na mesma época tinha uma relação amorosa com o meio-jokai Inujaša. Ao
descobrir que na verdade Kikjou amava o meio-jokai e não ele, Onigumo inflamou-se
de ódio e ofereceu seu corpo e sua alma em sacrifício para ser devorado por uma
horda de milhares jokais famintos, e dessa fusão surgiu uma nova entidade,
Naraku. Naraku ambicionava corromper a joia de quatro almas, e para isso se
passou por Inujaša e emboscou a sacerdotisa sorrateiramente. Kikjou foi
mortalmente ferida e com as últimas forças que ainda lhe restavam selou Inujaša
com uma de suas flechas em uma árvore e morreu, com seu corpo incinerado junto
com a joia de quatro almas.
Ai
vocês me perguntam: “aonde você quer chegar citando essa passagem de um anime
que passou no Cartoon Network há mais de um decênio?”. Nas lambanças daquilo
que o professor e jurista Luiz Moreira chama de o “PT jurídico” que levaram o
Partido dos Trabalhadores a estar na situação calamitosa que se encontra no
presente momento, sob a mira dos togados e dos fardados que não fizeram o que
fizeram para depois entregar o poder de mão beijada aos petistas. E escolhi falar
nesse artigo de Inujaša ao invés, por exemplo, de Dragon Ball (onde temos o
caso de três personagens que morreram em situações semelhantes às de Kikjou: o
Doutor Maki Gero na saga Cell, o mago Babidi na saga Buu e o Doutor Mjuu na
saga Baby) pelo fato de a obra de Rumiko Takahaši não estar tão em evidência no
presente momento tal qual a obra de Akira Torijama (que como todos nós sabemos
dentro em breve terá mais um filme lançado e bem provavelmente depois disso
teremos a sequência do Super).
Foto – Naraku e Kikjou em cima, Kagome (Agome na dublagem brasileira – seu nome foi modificado por razões óbvias) e Inujaša
em baixo.
Também
quero aqui deixar Bolsonaro um pouco de lado e falar a respeito da banda podre
do PT, o chamado PT jurídico, e suas lambanças ao largo desses anos todos. Pois
diante da euforia de parte significativa da esquerda brasileira quanto à
possibilidade de Fernando Haddad vencer a eleição presidencial de 2018 vejo as
pessoas, além de não se darem conta de que este é um grande jogo de cartas
marcadas e uma grande farsa para legitimar o golpe de 2016, não dando a real
atenção quanto à seriedade do problema, muito menos a respeito dessa divisão
interna no seio do Partido dos Trabalhadores que em parte ajuda a explicar a
paralisia que tem acometido a esquerda brasileira diante dos ataques dos
golpistas, a ponto de termos visto Lula, a principal liderança popular do país
e quiçá de toda a América Latina, sendo preso (e de onde bem provavelmente
talvez só saia deitado em um caixão de madeira), em situação similar à que
passaram o sérvio Slobodan Miloševiċ e o iraquiano Saddam Hussein (os quais também
foram julgados por tribunais canguru[1]).
Segundo
o professor e jurista Luiz Moreira, foi o que ele chama de petismo jurídico que
criou o terreno propício para que proliferasse como erva daninha não apenas a
Operação Lava Jato como também a onda de punitivismo direitista a que o Brasil
assiste (que por sua vez em grande medida também foi estimulado por programas
televisivos policiais tais como Datena, Ratinho e afins e que encontra terreno
fértil por causa da herança da escravidão). Pois foi sob o petismo jurídico que
a Polícia Federal, o Ministério Público e o TCU (Tribunal de contas da União)
foram treinados para interditar governos de esquerda e qualquer projeto de
justiça social. Não apenas isso, como também foram criações do famigerado PT
jurídico o PGR todo poderoso, o diretor da PF intocável, a dicotomia entre
gestão e controle, a relação entre Globo e Justiça, a transformação do combate
à corrupção em luta ideológica (e assim criando as condições para que os
poderes políticos sejam subordinados sejam subordinados ao sistema de justiça).
Foto – Professor Luíz Moreira.
Como
também o fato de que foi nos governos petistas (especialmente sob Dilma
Rousseff) que a agenda do petismo jurídico foi gestada nos Ministérios da
Justiça e da Casa Civil, com repercussão e engajamento no Congresso. Isso para
não falar do fomento à todas as pretensões punitivistas da PGR, da compra do sistema
de monitoramento “Guardião”, o estabelecimento da ENCCLA, do INOVARE, a criação
da Súmula Vinculante, cooperações internacionais entre PGR e governos estrangeiros
sem cooperação do Itamaraty, e a aprovação da lei da ficha limpa em 2010 (que
na época de sua aprovação apenas o PCO teve a ousadia de fazer a devida crítica
e que no presente momento está sendo usada para impugnar Lula e coloca-lo fora
do páreo), entre outras dignas de um Bolsonaro ou de um Alckmin. O próprio Luiz
Moreira, em texto publicado no TV247 em 9 de abril de 2018, diz o seguinte a
respeito da questão do PT jurídico e o papel por ele desempenhado nos últimos
anos:
“De
minha parte, a conclusão que chego é que o petismo jurídico corroeu por dentro
a grande expressão popular das esquerdas e, além disso, desestruturou
politicamente o PT, comprometendo-o com causas punitivistas e com legislações
que submetem a política aos tribunais.
O
projeto do petismo jurídico resultou tanto na criminalização das lideranças que
construíram o PT quanto na criação de uma estrutura persecutória incompatível
com as garantias constitucionais presentes na Carta de 1988, transfigurada,
pelos equívocos conceituais, em submissa à jurisdição constitucional, isto é, a
constituição passou a ser o que o STF diz que ela é, nos submetendo a
decisionismo judicial pleno”.
Como
dito anteriormente, achar que o imperialismo anglo-americano, em seu esforço de
guerra híbrida contra o Brasil, cooptou apenas os juízes e procuradores da Lama
Jato é ser no mínimo muito ingênuo. Pelo contrário, isso foi um plano
meticulosamente articulado e planejado durante anos de tal forma a não deixar
ponta solta alguma. Bem provavelmente, apenas com a carta Lama Jato na manga
eles não teriam logrado o sucesso que conseguiram nesse esforço de guerra
híbrida. E talvez seja por causa da cobertura propiciada pelas outras cartas
(entre elas as cartas chamadas militares, ministros do STF e imprensa golpista)
que o Judge Murrow pode fazer o que quiser que nada a ele acontece. E é ai que
entra o PT jurídico entra na história.
Em
recente artigo no site Duplo Expresso, foi dito que o próprio Duplo Expresso
soube que quadros da ala esquerda do PT tiveram acesso a relatos de
inteligência estrangeira que dão conta do tamanho e da duração da infiltração
dentro do próprio PT e de como ela foi parte fundamental da conspiração para
alimentar a Lama Jato e levar Lula para as masmorras do Paraná. No que vem a
corroborar a hipótese aventada em artigo anterior sobre o mesmo assunto de que
o imperialismo não agiu apenas em uma frente, mas em várias simultaneamente,
usando a Lama Jato como quinta coluna e o PT jurídico como sexta coluna.
O
PT jurídico/Mensagem ao Partido é formado pelo corpo jurídico e burocrático do
Partido dos Trabalhadores. Em outras palavras, por pessoas como o infame José
Eduardo Cardozo (vulgo Zé da justiça) e Aloísio Mercadante. Em outras palavras,
é a elite social do PT, formada por pessoas originárias de classes abastadas e
que, portanto, a despeito de serem membros de um partido de esquerda como
Partido dos Trabalhadores, carregam os mesmos ranços de classe que os juízes e
procuradores da Lama Jato carregam e que talvez tal qual Moro, Dallagnol,
Marcelo Bretas, Carlos Fernando dos Santos Lima e companhia limitada tiveram o
mesmo orgulho ferido ao ver um sujeito vindo da miséria e ex-torneiro mecânico
como o Lula se tornar presidente. Com a diferença que enquanto o Judge Murrow e
sua camarilha são mais abertos em seu ódio classista, os membros do PT jurídico
nesse ponto são mais discretos e dissimulados. E isso é o que a meu ver torna o
PT jurídico ainda mais perigoso e insidioso que a própria Lama Jato. Não nos
esqueçamos de que o PT jurídico atuou como costa quente do regime golpista ao
salvar o STF das pressões da ONU.
Antes
que venham aqui me apedrejar por estar citando o Duplo Expresso (que conta com
certeza antipatia dos mesmos que estão eufóricos com a possibilidade de Haddad
ser eleito), saibam de uma coisa: o Duplo Expresso não é o único que nesses
anos tem falado a respeito da atuação no mínimo desastrosa e no máximo
colaboracionista dessa ala podre do PT encabeçada pelo Zé da justiça e pelo
Mercadante. Rui Costa Pimenta, Luís Nassif e Paulo Henrique Amorim, entre
outros, também fizeram críticas à atuação dessas figuras. E, no próprio site do
TV247 há um artigo de autoria de Luiz Moreira onde ele fala a respeito dessa
atuação do PT jurídico. A atuação do Zé da justiça foi tão desastrosa que ele
fez uma péssima defesa da ex-presidente Dilma e deixou a PF, teoricamente sob
seu comando, fazer o que bem entendia.
Haveria
uma ligação entre o PT jurídico e a Lama Jato, a tal ponto de os dois
trabalharem em conjunto em seus intentos golpistas (a ponto de o PT jurídico
ser uma das costas quentes da qual o Judge Murrow desfruta)? Não sei e no
presente nem tenho como responder, isso é algo que talvez apenas só seja
respondido em 30, 40 anos quando foram liberados nos EUA os arquivos dos
serviços de inteligência sobre o se passa hoje no Brasil e na América Latina.
Mas não seria nenhuma surpresa se isso fosse verdade.
Por
fim, mais uma vez chamo a atenção da esquerda brasileira de modo geral quanto
ao problema das narrativas, especialmente no que tange à maneira como a
esquerda lida com o Estado quando chega ao poder e tem de lidar com as
instituições e os elementos nelas presentes.
Quando
salvou Onigumo da morte certa, Kikjou certamente não imaginava que a situação
fosse chegar ao ponto de Onigumo por ela não só se apaixonar como também se
transformar em Naraku e mata-la se passando por Inujaša. E o PT jurídico, com
essas manobras todas, será que eles imaginaram que a situação ia chegar até esse
ponto, ou isso é o que eles sempre quiseram esse tempo todo, desde no mínimo os
tempos do mensalão? Talvez, os “ptminions” que estão empolgados com Haddad, que
certamente acham que tudo vai transcorrer normalmente e que os meganhas de toga
e de farda vão deixar o PT voltar ao poder na boa só venham a acordar da
realidade quando for tarde demais.
Foto – Onigumo antes de se transformar
em Naraku (veja a semelhança dele não apenas com certo antagonista mumificado
de Kenšin Himura como também com o inimigo principal do Lion-O em Thundercats
que salta aos olhos).
Fontes:
Advogado
José Eduardo Cardozo: aliado ou sabotador do PT? Análise Rui Costa Pimenta do
PCO. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=oyFShutz5HY&ab_channel=FelipeLacerda
Cardozo:
o maior mistério da era Dilma. Disponível em: https://jornalggn.com.br/noticia/cardozo-o-maior-misterio-da-era-dilma
Exclusivo:
Lula recusa encarnar cabo eleitoral “fake” e golpe salva “PT jurídico” calando
ex-presidente. Disponível em: https://duploexpresso.com/?p=99563
Lula
e o petismo jurídico. Disponível em: https://www.brasil247.com/pt/blog/luizmoreirajunior/350566/Lula-e-o-petismo-jur%C3%ADdico.htm
Mercadante
e Zé Cardozo derrubaram a Dilma. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PbwbqVOrhAQ&ab_channel=ConversaAfiadacomPauloHenriqueAmorim
O
“petismo jurídico” e o próximo presidente da República. Disponível em: https://duploexpresso.com/?p=96152
Os
oito anos do governo Lula: o PT ressuscita o PMDB. Disponível em: https://ruicostapimenta.com/page/81/
[1] Termo utilizado no direito para
designar quando o julgador do caso é manifestamente autoritário e/ou parcial,
decididamente desde o início a beneficiar ou prejudicar uma das partes, à
revelia do conjunto de provas.
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