Foto – Bolsowyllys, as duas faces de
Janus contrapostas entre si: a unidade contraditória.
No
último fim de semana, vimos inúmeras manifestações Brasil afora de repúdio a
Bolsonaro através da campanha #elenão. Mas, como a campanha em questão não faz
a crítica a Bolsonaro pelos motivos certos e apenas por frivolidades como o que
ele pensa sobre gays, lésbicas, mulheres e negros, deixo a essa campanha a seguinte
hashtag: #nãocontemcomigo. Não contem comigo até que se comece a ser feitos os
verdadeiros questionamentos que devem ser feitos:
1
– O fenômeno Bolsonaro, antes de tudo, é fruto do conluio Lava Jato-Globo e de
todo o processo de criminalização da política dele decorrente feito em nome de
um suposto combate à corrupção. Algo análogo ao que se viu na Itália com a
Operação Mãos Limpas, que abriu o caminho para Silvio Berlusconi subir ao poder
na nação peninsular. Em outras palavras, Bolsonaro é um sintoma, e não a doença
do que se passa no Brasil no presente momento. E, enquanto direita e esquerda
ficam se degladiando por ai e trocando farpas entre si, meganhas de toga como
Luiz “peruca moradia” Fux (o mesmo Fux que restaurou o auxílio-moradia para juízes
abolido por Lula em 2005), Carmen Lúcia (vulgo Bento Carneiro), Rosa Weber (a
mesma Rosa Weber que condenou José Dirceu sem provas), Dias “fardão” Toffoli,
Gilmar Mendes, os desembagrinhos do TRF4, Marcelo “duplo auxílio moradia”
Bretas, Judge Murrow e Raquel Dodge (vulgo Raquel esquivar-se) continuam ai,
achando que são deuses na Terra, mandando e desmandando do alto de seus cargos
vitalícios e salários muito acima do teto permitido por lei e fazendo suas
chantagens em busca de vantagens corporativas contra os políticos em conluio
com a imprensa venal (e de brinde ainda rindo da cara dos otários, incluindo os
otários que acham que essa gente está combatendo a corrupção e os aplaudem). Togados
esses que, diga-se de passagem, podem muito bem se voltar contra Bolsonaro, tal
qual aconteceu com Eduardo Cunha anteriormente. Bem provavelmente, usarão
Bolsonaro como cão raivoso contra a esquerda se aproveitando da histeria
hidrofóbica anticomunista dele até o momento em que o político carioca não mais
ter serventia a eles. E, diga-se de passagem, não vejo esses mesmos que tanto
falam “#elenão” escrever mensagens similares de repúdio à meganhagem de toga da
Lava Jato. Não acham que tão importante quanto conter o Bolsonaro é colocar um
ponto final em toda a palhaçada do esquema Lama Jato e todo o mal que tem
causado ao país desde que se iniciou há quatro anos? A meu ver, o fim da
meganhagem de toga e de farda é algo bem mais importante. Sem que seja colocado
um freio à meganhagem de toga, esse processo se repetirá como se fosse um ciclo
vicioso ad eternum.
2
– E, como Marilena Chauí falou em recente palestra, a atual situação de meganhagem
togada na política brasileira nada mais é que uma consequência do
neoliberalismo, que trata o Estado (ou seja, a coisa pública) como se fosse uma
empresa privada. Em outras palavras, advoga um agigantamento do setor privado e
toda sua lógica econômica e um encolhimento do setor público. Como já dito
anteriormente, essa história de ameaça fascista nada mais é que um espantalho
para desviar a atenção da verdadeira ameaça que paira no ar, que atende pelo
velho neoliberalismo de Reagan, Thatcher, Pinochet, FHC, Carlos Menem, Carlos
Andrés Peréz, Boris Jel’cin, Alberto Fujimori, Bill Clinton, Tony Blair e
tantos outros. O mesmo neoliberalismo que é a ideologia oficial do mundo das
finanças de Wall Street e da City londrina e que o próprio Jair Bolsonaro advoga
em sua política econômica junto com seu Posto Ipiranga, Paulo Guedes.
3
– Também não podemos deixar de lado a crescente ingerência dos militares na
política brasileira. A ponto de no presente momento termos um ministro do STF,
Dias Toffoli, que é um serviçal dos fardados (a ponto de fazer revisionismo
sobre o período civil-militar), e de um regime político cada vez mais tutelado
pelos militares, com eles agindo de forma análoga a que agiram a Guarda
Pretoriana agiu em diversos momentos da história do Império Romano, o general de
origem visigótica Ricimero nos últimos anos de existência do Império Romano do
Ocidente e os generais Nogaj (o mesmo Nogaj que foi um dos líderes das
malfadadas campanhas contra a Hungria em 1285/1286 e contra a Polônia em
1287/1288), Mamaj (o mesmo Mamaj que foi vencido por Dmitrij Donskoj na batalha
do campo de Kulikovo, em 1380) e Edigej (comandante do ataque à Moscou em 1408)
na Horda Dourada (o primeiro no final do século XIII, o segundo em meados do
século XIV e o terceiro e último na virada do século XIV para o XV): como o
poder por trás do trono que dita as regras e depõe e entrona
soberanos-fantoches conforme seus desígnios. Assim, enquanto esquerda e direita
ficam nesse circo interminável, o general Etchegoyen continua sendo o
homem-forte do governo Temer e exercendo seu papel de eminência parda e outros
meganhas de farda continuam mandando e desmandando por trás das cortinas. E assim
como os meganhas de toga rindo das caras dos otários (entre eles os otários que
foram às ruas nas manifestações pela queda de Dilma pedir intervenção militar).
E assim, independente de quem ganhe as farsescas eleições 2018, terá ao seu
lado um general mandando por trás das cortinas e lhe chantageando sempre que o
presidente em questão sair da linha. Caso Bolsonaro se eleja presidente, bem
provavelmente será um joguete nas mãos deles.
4
– Bolsonaro não apenas é o filho bastardo do conluio Lama Jato-Globo como
também fruto do crescimento da esquerda lacradora nesses últimos anos. Esquerda
essa que prioriza muito mais pautas como direitos GLBT, ideologia de gênero e
liberação das drogas e que deixa de segundo plano para baixo os reais dilemas
que afligem a maior parte da população. E que ao contrário do que os histéricos
bolsonaristas pensam, essa new left
ideologicamente muito mais próxima se encontra do Partido Democrata dos EUA que
do velho marxismo soviético. Ou seja, o burro democrata é bem mais condizente a
essa esquerda que a foice e o martelo do marxismo soviético. E o mais grave de
tudo: essa esquerda, que foi chamada carinhosamente de “esquerda chave de
cadeia” pelo PCO, acha que vai resolver problemas como o racismo, a misoginia e
a homofobia dando mais poder para delegados da PF como Igor Romário de Paula (o
mesmo Igor Romário que em 2014 fez postagens ofensivas à Dilma Rousseff e
elogiosas a Aécio Neves no Facebook), para juízes como Sérgio Moro e Marcelo
Bretas e procuradores como Deltan Dallagnol e Rodrigo Janot, que cedo ou tarde
irão usar os mesmos dispositivos legais para coloca-los em suas masmorras (a PF
que é um órgão com alta infiltração bolsonarista e reacionária até a medula,
diga-se de passagem). No fim terão destino análogo ao que tiveram em Dragon
Ball o Doutor Maki Gero teve nas mãos dos mesmos androides que ele criou para
matar Goku e seus amigos, que o mago Babidi teve nas mãos do Mažin Buu gordo e
que o Doutor Mjuu teve nas mãos de Baby: atacados, presos e/ou mortos pelos
mesmos cachorros raivosos que eles criaram e alimentaram para morder terceiros.
E para Bolsonaro, Alckmin ou qualquer outro político de sua laia colocar essa
gente toda nas cadeias superlotadas de pobres e negros do Brasil vai ser a
coisa mais fácil do mundo, graças ao conjunto de leis punitivistas que a banda
podre do PT, o famigerado PT jurídico (o mesmo PT jurídico que segundo o Duplo
Expresso sequestrou o partido de Lula e vem o rifando esse tempo todo) criou
nesses anos todos. Entre eles a lei da ficha limpa que no presente momento está
sendo usada para impugnar a candidatura de Lula.
Foto – O fim do Doutor Maki Gero (Androide nº 20) nas mãos de uma de suas criações, o Androide nº 17. Esse é o destino que
aguarda a esquerda chave de cadeia caso leve adiante seus anseios punitivistas.
5
– Igualmente não se questiona a crescente americanização do pensamento político
brasileiro, onde temos uma esquerda lacradora que veste o figurino do Partido
Democrata e uma direita que veste o figurino do Partido Republicano. Em outras
palavras, a passos largos o Brasil caminha para se tornar uma cópia mal acabada
da metrópole norte-americana e assim perder a nossa identidade e a capacidade
de entender nosso lugar na história. Tanto uma quanto a outra importam da
gringolândia questões que aqui não têm a mesma relevância que lá. A esquerda do
figurino do Partido Democrata, por exemplo, discute “racismo” em um país em que
quase não há brancos ou negros, e sim uma massa de mestiços inclassificáveis
racialmente falando. Além de ao falar em temas como ideologia de gênero (vulgo
ideologia da sodomia) causar repulsa na maior parte da população e assim os
jogando no colo do discurso demagógico dos Bolsonaros, dos Malafaias, dos MBLs,
dos Felicianos e dos Magnos Maltas da vida (incluindo moradores das regiões
periféricas das cidades). E a direita do figurino do Partido Republicano, além
de querer armar o povo brasileiro sem levar em consideração que aqui o povo não
tem o mesmo grau de instrução que há em países como os EUA e a Suíça (no que
invariavelmente fará com que se multipliquem Brasil afora casos como o que
ceifou a vida do empresário Marcos Kitano Matsunaga em 2012), defende “menos Estado”
em um país com um histórico problema de infraestrutura precária, onde são
comuns lugares com ausência de saneamento básico.
6
– E sem esquecer, obviamente, da pilhagem de recursos naturais da qual o Brasil
está sendo objeto no presente momento (pré-sal e Aquífero Guarani inclusos). E
assim, tal qual os meganhas de toga e de farda, os gringos igualmente rindo das
nossas caras estão e faturando rios de dinheiro com a liquidação do país sob os
auspícios do governo Temer (governo esse que Bolsonaro pretende dar
continuidade com sua política econômica neoliberal, diga-se de passagem). Os
gringos igualmente só têm a agradecer com essa rinha de galo interminável entre
esquerda e direita.
7
– Que luta contra o fascismo é essa que essa esquerda lacradora quer conduzir na
base de micaretas, carnavais, bundaços, beijaços e palhaçadas afins, e não os
enfrentando nas ruas? Esquerda essa que faz micareta contra o Bolsonaro por
suas abomináveis posições contra certos grupos minoritários, mas não se
solidariza (ou não defende com tanta gana) quando, por exemplo, sob a cobertura
da Polícia Federal grupos de Extrema Direita pró-Bolsonaro atacam o acampamento
Marisa Letícia em Curitiba. E não tem a mesma gana para lutar pela bandeira da
liberdade de Lula (mas para defender beijo GLBT em novela da Rede Globo, em
desenho da Disney, em animes e mangás do gênero yaoi ou em sitcom do Netflix
essa gente tem e de sobra, não tenha dúvida). Bem provavelmente, boa parte desses
elementos estavam do lado da Disney quando o pastor Silas Malafaia condenou o
monopólio estadunidense por causa da presença de uma cena de um beijo gay em um
de seus desenhos recentes. Com uma esquerda dessas, quem precisa de Malafaia,
Feliciano, Bolsonaro, Moro, Edir Macedo, Dallagnol, MBL, Bretas, Fux, Magno
Malta, Carlos Fernando dos Santos Lima, Alckmin, Serra, Dória, FHC, Aecim do pó
branco, general Mourão, família Marinho e companhia limitada?
8
– Mas o que esperar de uma esquerda que após a morte de Marielle Franco
praticamente só ficou batendo na tecla de palavras de ordem como misigionia e
não se deu conta de que o assassinato da política carioca do PSOL foi sintomático
do fato de que o país caminha a passos largos para se tornar um novo México ou
uma nova Colômbia? É por causa de uma esquerda dessas, que muito mais
interessada está em lacrar e que quando critica Bolsonaro o critica por certas
frivolidades e não pelo essencial, que mais cedo ou mais tarde teremos um
neocon da laia do político carioca eleito presidente do Brasil. Pois foi com o
mesmo discurso de Bolsonaro que combina neoliberalismo no plano econômico e
neoconservadorismo no plano social que Ronald Reagan chegou ao poder nos EUA. E
assim a política brasileira caminha a passos largos para sua transformação em
manicômio a céu aberto.
9
– Uma palavra sobre política externa: algo bem curioso é que no que tange à
política exterior tanto a direita dos valores sem a esquerda do trabalho quanto
a esquerda lacradora (incluindo partidos como o PSTU e o PSOL) estão de acordo.
Ambas na prática apoiam as ações do imperialismo das nações hegemônicas sobre
nações mais fracas (incluindo na Líbia, na Síria, na Venezuela e outras). Uma
mais ostensivamente, outra mais veladamente. A tal ponto que vemos tanto Jair
Bolsonaro quanto o ex-BBB Jean Wyllys, um dos ícones dessa esquerda e que tanto
ajudou a impulsionar a popularidade de Bolsonaro por meio de pautas como o kit
gay, abominarem e pedirem pela queda da Venezuela bolivariana e serem a favor
de Israel.
10
– Criticar Bolsonaro por causa, por exemplo, por ter votado a favor das
maldades do governo Temer, do impeachment fraudulento de Dilma Rousseff, a
favor da entrega do pré-sal aos gringos, por seu plano de governo voltado ao 1%
mais rico do país, por sua omissão em questões como a auditoria da dívida
pública e a regulação dos meios de comunicação, de sua política econômica
neoliberal e política externa de atrelamento para com as grandes potências (em
especial EUA e Israel – e nisso ele, diga-se de passagem, apenas repete o
discurso proferido pelo Serra em 2016, quando o político paulista foi empossado
no Itamaraty na sequência do fraudulento impeachment de Dilma Rousseff) é
legítimo. Mais do que isso: são os motivos certos pelos quais o político
carioca pode e deve ser criticado. Já criticá-lo só por causa de certas
frivolidades simplesmente não dá. Nunca que o fenômeno Bolsonaro, que é um
sintoma da ferida que o conluio Globo-Lama Jato está legando ao país, será
contido só batendo na tecla do machismo, da misoginia, da homofobia, transfobia
e porretes linguísticos afins. Pelo contrário, vai ficar nessa rinha de galo, com os dois lados se retroalimentando
entre si ad eternum. Por isso que é
imperativo tanto à esquerda quanto à direita tupiniquim abandonarem seus respectivos
figurinos gringos.
Fontes:
As
forças que golpearam Dilma Rousseff e a eleição de 2018. Disponível em: https://duploexpresso.com/?p=99685
Coiso
x Coisa? O debate é sobre pré-sal, Eletrobrás, CLT, 13º salário, aposentadoria,
democracia... Disponível em: https://duploexpresso.com/?p=99639
Marilena
Chauí explica o ódio no Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GsuQIAwImsU&ab_channel=TV247
Quem
botou a cabeça do Bolsonaro para fora? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=V9e3YkFCIy8&ab_channel=ConversaAfiadacomPauloHenriqueAmorim
Pr.
Silas Malafaia: Protesto! Disney quer erotizar as crianças! Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kcMd91V5gEk&ab_channel=SilasMalafaiaOficial
PSTU
e a esquerda chave de cadeia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=n387256JC-8&ab_channel=CausaOperariaTV
Muito bom. essa esquerda "moderninha" esqueceu-se do que é mais importante: a soberania do país e o bem estar do povo. Ficam aí batendo cabeça com essa direita conservadora, com discussões intermináveis de cunho moral (não é que não deva ser discutido, mas são coisas irrelevantes perto de outros problemas que temos) e esquecem-se de fazer a lição de casa, aquilo que transformou a esquerda em força política e levou o PT a ganhar 4 eleições seguidas.
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