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– Omar Mir Seddique Mateen (16/11/1986 – 12/06/2016), o atirador de Orlando.
Na madrugada de 12 de
junho de 2016, um hediondo atentado teve lugar na Pulse Nightclub, uma boate
gay de Orlando. Saldo: 49 pessoas morreram em decorrência do ataque e outras 53
ficaram feridas. O massacre foi perpetrado por um atirador chamado Omar Mir
Seddique Mateen, 29 anos, nativo da cidade de Porto Saint Lucie (Flórida) e
filho de imigrantes afegãos. Segundo informes da NBC News, Mateen, que
trabalhava como guarda de segurança e era cidadão americano, jurou aliança ao
Estado Islâmico (que, por sua vez, assumiu para si posteriormente a autoria do
atentado) pouco antes de começar a atirar, e fez referência aos irmãos Dzhokhar[1] e Tamerlan Tsarnaev, os
perpetradores do atentado à maratona de Boston em 15 de abril de 2013. Ele, que
já fora investigado pelo FBI duas vezes, foi morto por volta das 5h00 do mesmo
dia devido a um tiroteio travado com forças policiais e estava armado com um
rifle de assalto e uma pistola, e chegou a fazer reféns entre as mais de 300
pessoas que estavam dentro da boate (onde havia apenas um segurança armado). Para
chegar até Orlando, Mateen alugou um carro e viajou 200 quilômetros para
cometer a atrocidade, que aconteceu em uma “gun free zone” (local onde o uso e
a entrada de armas é proibida). O pai do garoto, Mir Seddique, disse à NBC que
seu filho começou a odiar homossexuais há alguns meses, quando viu dois deles
se beijando em Miami.
O que falar a respeito
desse atentado? Uma única palavra: abominável. Nós do RTM repudiamos esse
atentado e nos compadecemos de suas vítimas. Entretanto, nós, por outro lado,
não recairemos no moralismo tacanho e rasteiro em que tanto os elementos de
direita quanto os de esquerda recaem quando reagem a eventos como esses,
tratando-os por vezes como uma mera questão de direitos humanos, de ódio aos
diferentes e retóricas afins. O problema está muito mais embaixo do que pode
parecer à primeira vista, e histórias como a de que o sujeito era homossexual,
que ele fez isso por homofobia e afins estão para desviar a atenção do que está
realmente por trás dessa tragédia.
E, como era de esperar,
os ativistas de movimentos GLBT se aproveitam do evento em questão para
levantar suas bandeiras contra o que eles chamam de “homofobia” (termo esse que
eles muitas vezes utilizam como porrete linguístico para calar seus críticos.
Ou seja, é um espantalho retórico similar ao uso dos termos comunismo e
bolivariano feito pela direita reacionária brasileira em periódicas
manifestações contra o PT e a esquerda como um todo), e os elementos
reacionários de direita igualmente levantam as suas bandeiras, acusando mais
uma vez o Islã de ser uma religião que incita à violência e ao ódio e a
levantar a discussão a respeito da liberação do porte de armas.
Como já dito
anteriormente, países como os Estados Unidos, Inglaterra e França tem todo um
histórico de apoio ao terrorismo fundamentalista islâmico de matiz wahhabita
direcionado contra os governos do Mundo Islâmico que não comungam com seus
interesses (assunto sobre o qual debruçamos em “As imprecisões de Nando Moura,parte 2 – A Europa e o Islã, Políticos e Banqueiros”). Certamente, trata-se de
mais uma operação de falsa bandeira, tal como foram, por exemplo, os ataques ao
World Trade Center em Nova York e ao Pentágono em Washington no dia 11/09/2001,
o atentado à maratona de Boston em abril de 2013, o ataque à redação do Charlie
Hebdo em janeiro de 2015, o ataque ao Le Bataclan em novembro de 2015 e o
atentado ao aeroporto de Bruxelas em março de 2016, de forma a justificar
políticas como um recrudescimento da tal “guerra ao terrorismo” que os EUA
promove no Mundo Islâmico desde 2001.
Foto
– “Infelizmente: sim, ele pode”. As mazelas dos oito anos de governo Obama (vulgo
Uncle Tom[2])
nos Estados Unidos.
Entretanto, a respeito
desse recente ocorrido em Orlando, existem algumas coisas que precisam ser ditas
ao público. Primeiro, a respeito de Omar Mateen. Inicialmente, foi dito que tal
atentado teria sido perpetrado por algum partidário dos republicanos e de seu
atual candidato à corrida presidencial, Donald Trump. Entretanto, posteriormente
descobriu-se que ele era filiado ao Partido Democrata. Grande ironia do
destino, diga-se de passagem, já que ele era filiado ao mesmo partido que sob
sua administração legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo para todo o
território estadunidense. E não só isso: trata-se do mesmo Partido Democrata ao
qual o discurso da esquerda liberal brasileira e de grandes veículos da mídia
nacional como a Rede Globo e a Veja é afinado. Também surgiram histórias de que
Mateen em verdade era homossexual. Segundo Sitora Yusufiy, sua antiga esposa,
ele, além de homossexual levava uma vida dupla, frequentava a discoteca desde
2013 e era conhecido de drag queens que trabalhavam no local e usava os
aplicativos Grindr e Jack’d para conversar com outros homens. Soube-se também que
ele trabalhou durante muitos anos para a empresa multinacional G4S, uma empresa
transnacional israelo-britânica que presta serviços de segurança em aeroportos
da Europa e dos Estados Unidos e que foi acusada de torturas a presos
palestinos em prisões israelenses sob sua jurisdição.
E, como era de se
esperar, as repercussões que o atentado trouxe foram das mais variadas. A página do Facebook “Meu professor de
História” postou a imagem abaixo:
Foto
– Imagem postada pela página do Facebook “Meu professor de História”, que
insinua que caso Omar Mateen fosse brasileiro ele seria eleitor de Jair Bolsonaro,
sendo que Mateen em realidade era filiado ao Partido Democrata.
Como já foi aqui dito em
algumas ocasiões, no plano político-ideológico Jair Bolsonaro, assim como
outras figuras da nova direita brasileira como Marco Feliciano, está muito mais
próximo dos Republicanos que dos Democratas. De modo geral, o Partido Democrata
demonstra muito mais abertura a pautas tidas como progressistas tais como implantação
da ideologia de gênero, liberação de direitos para minorias específicas, de
drogas e de aborto que o Partido Republicano. Isso já desmonta completamente a
fala da página em questão, assim como a mensagem postada por Lindbergh Farias
em sua página no Facebook às 14h32 de 12 de junho de 2016 dizendo que o
atentado em questão teve motivação de cunho homofóbico e ainda dizendo que
gente como Donald Trump e Jair Bolsonaro são cúmplices do crime por
supostamente serem porta-vozes do ódio.
E, como de se esperar,
Jean Wyllys se manifestou sobre esse incidente em sua página no Facebook. No
dia do atentado, o ex-BBB e político do PSOL postou uma mensagem se queixando
do fato de que existem pessoas que se incomodam com coisas como a expressão
pública de afeto homossexual, que não querem que seus filhos vejam cenas de
beijo gay, que são contra o kit gay que ele almeja implantar (e que ajudou a
levar Jair Bolsonaro ao estrelato político), afirmando que o ataque teve
motivação homofóbica, que o Estado Islâmico é um grupo que advoga a homofobia,
atacando aquilo que ele chama de fundamentalistas religiosos e dizendo que a
boate não foi escolhida por acaso (pelo visto o ex-BBB acha que o beijo gay em uma
novela da Rede Globo é mais importante que, por exemplo, a miséria no Nordeste,
a violência urbana no Rio de Janeiro ou o montante de dinheiro que o país perde
todo ano através dos pagamentos dos altíssimos juros e encargos do serviço da
dívida para bancos nacionais e internacionais [aquilo que em vida Brizola
chamava de “perdas internacionais”]. Desse jeito, a esquerda que está ai apenas
vai ficar sendo passada para trás pela direita).
Marco Feliciano, por seu
turno, postou várias mensagens sobre o ocorrido em sua conta no Twitter. Na
primeira, afirmou que os grupos de ativismo GLBT estavam tentando usar a
tragédia para se promoverem. Na segunda, disse que esses mesmos ativistas se
calam quanto a outros atentados e fala de um suposto apoio de partidos de
esquerda para a Palestina em detrimento de Israel. Na terceira, acusa a
esquerda radical de ser a líder do terrorismo global e de ter apoio de governos
por ele tido como totalitários. Na quarta, se queixa do fato da indiferença das
pessoas quanto às matanças promovidas pelo Estado Islâmico (que como já dito
anteriormente é apoiado pelo Ocidente “livre e democrático” que essa gente
tanto defende) contra os cristãos da Síria e do Iraque. E na quinta acusou o
Estado de São Paulo (que é comumente tido como parte do PIG [Partido da
Imprensa Golpista] por seus detratores) de ser um jornal de esquerda e de
personalidades como José de Abreu, Rafinha Bastos, Felipe Neto e Jean Wyllys de
serem fiéis ao Estado Islâmico.
Mas o mais patético de
tudo, além do fato de que a mídia de massa ocidental ter dado pouca ou nenhuma
atenção a respeito de tragédias como os 700 imigrantes africanos que morreram em
naufrágios nos últimos dias tentando atravessar o Mediterrâneo rumo à França, é
a ferramenta que o Facebook lançou em solidariedade às vítimas do ataque (como
se não bastasse o que foi feito anteriormente na época da aprovação do
casamento gay para todo o território estadunidense em que coloria o avatar da
pessoa com as cores da bandeira arco-íris e depois o que foi feito na época do
ataque ao Le Bataclan, onde criou uma ferramenta em que coloria o avatar da
pessoa com as cores da bandeira francesa).
Foto
– “We are Orlando” (Nós somos Orlando). Ferramenta lançada pelo Facebook em
homenagem às vítimas do ataque à boate Pulse.
Mas eu não mudei meu
avatar em solidariedade às vítimas do ataque recente em Orlando, assim como não
colori meu avatar tanto na época da aprovação do casamento gay para todo o
território estadunidense quanto na época do ataque ao Le Bataclan. Não agi como
se fosse parte de um rebanho acéfalo que não sabe o que está comendo como
muitos agiram, até pelo fato de ver toda a patifaria e o circo midiático em que
isso está envolto. Uma pessoa, quando coloca a bandeira GLBT e o letreiro “We
Are Orlando” em sua foto no Facebook e adere à campanha da GLAAD, automaticamente
também está comendo, entre outras coisas, manobras da politicalha norte-americana
para desviar a atenção do povo quanto aos problemas do país (entre eles os
crescentes índices de pobreza e concentração de renda nas mãos de uma elite
numericamente bem restrita), ações do imperialismo norte-americano no Mundo
Islâmico, ataques de falsa bandeira para justificar ações militares
norte-americanas em países como a Síria e a Irã e um maior recrudescimento de
tensões com a Rússia e a China, relações escusas entre os Estados Unidos e o
terrorismo wahhabita-takfirista, estratégia de caos e tensão da parte das
elites globais, entre outras coisas.
E o mais importante de
tudo: há mais uma coisa que deve ser dita a respeito desse último ocorrido,
tendo vista o alegado motivo do atentado e o seu alvo (e que para variar não
vejo ninguém falando uma única palavra a esse respeito). E isso não é se o pai
de Mateen também é homofóbico e transmitiu isso para seu filho, se o país tem
que liberar ou restringir o acesso a armas para toda a população, se o Islã é
ou não é uma religião intolerante e belicosa ou algo do tipo (discussões essas
que apenas desviam o foco da atenção das pessoas quanto às questões realmente importantes
e da qual a mídia de massa se aproveita), e sim outra coisa totalmente
diferente. Vamos tocar na ferida do problema. O atentado na boate Night é o
retrato do tipo de país que os Estados Unidos, no plano social, ideológico e
moral, hoje são.
Por um lado, é um país
com grande concentração de fundamentalistas religiosos, geralmente de matiz
ideológico neoconservador e favoráveis ao Partido Republicano. São os mesmos
que vivem tentando impor o ensino de criacionismo nas escolas e fazendo mil e
uma artimanhas para refutar a teoria da evolução de Charles Darwin. É também o
país dos rednecks, os brancos conservadores sulistas que são a massa de manobra
do Partido Republicano (ao passo que minorias como gays, negros e latinos são
usadas de forma análoga pelo Partido Democrata). Mas, ao mesmo tempo em que há
esses elementos neoconservadores e puritanos no país, o país também está repleto
de liberais e tem um grande antro liberal chamado Hollywood, além do fato de
ser governado por um grupo político, o Partido Democrata, que advoga o mesmo
liberalismo de esquerda que advoga partidos como o PSOL aqui no Brasil, o
Partido Socialista na França (partido do atual presidente François Hollande[3]) e o Frente Ampla no
Uruguai (partido do ex-presidente José Mujica[4] e do atual presidente
Tabaré Vázquez), entre outros. Muitos artistas de grande penetração popular demonstram
simpatia a essas pautas tidas como “progressistas”, entre eles Madonna, Katy
Perry, Lady Gaga, Demi Lovato (a qual em um show na Parada do Orgulho Gay de
Nova York do ano retrasado promoveu um beijo entre dois dançarinos seus, e um
deles segurava uma máscara do presidente russo Vladimir Putin na cueca, pelo
simples fato de Putin ter proibido paradas gays na Rússia por mais de 100 anos.
Essa atitude por parte da cantora estadunidense causou muita irritação entre os
russos, até mesmo entre fãs russos da cantora), Christina Aguilera, Jessica
Alba, Miley Cyrus, Bruce Springsteen, Barbra Streisand, Cindy Lauper, Ricky
Martin e tantos outros artistas e personalidades do meio que são favoráveis a
causa GLBT.
Muitos desses artistas,
após o atentado em Orlando, participaram de vigílias e postaram mensagens de
solidariedade às vítimas do atentado em redes sociais como o Twitter, o
Instragam e o Facebook, como por exemplo, a mensagem postada por Madonna onde
ela postou a foto do beijo com Britney Spears no Video Music Awards de 2003 com
uma legenda abaixo com o letreiro “Parem com o ódio, parem com a violência
#RevoluçãodoAmor” e intitulada “Gay ou hétero, sem ódio”. No Instagram, Lady
Gaga postou uma mensagem onde disse “Mantenha o seu orgulho firme, ele pertence
à você. Amor é o oposto de ódio. Meu sincero luto aos LGBTQ que estão sofrendo
hoje. Eu rezo pelo controle das armas e por uma revolução cultural de
gentileza. Para todas as pessoas. Não podemos nos dividir diante do mal,
devemos permanecer juntos e curar uns aos outros. Somos irmãos e irmãs”. Johnny
Massaro disse na mesma rede social “Lá, aqui, já passou da hora... vamo lá,
minha gente! Para frente, com AMOR. E sempre bom lembrar: TCHAU Bolsonarxs,
Felicianxs e agregadxs. Levem com vocês o ódio, a intolerância e toda essa
ignorância. NINGUÉM precisa do que vocês têm a oferecer”. Ariana Grande, em sua
conta no Twitter, se pergunta “Como como como como alguém pode ter tanto
ódio??? Meu coração... está partido. Estou rezando pelas famílias das vítimas
de Orlando. Estou muito triste”. Nas falas desses artistas e de outros, que
praticamente só sabem falar de amor, ódio, homofobia, intolerância, ignorância
e palavras afins, vemos o quanto elas são alienantes da realidade e das
questões cruciais nele envolvidas, e nisso elas se igualam a fala de alguém
como Marco Feliciano. É o típico ativismo de gente famosa não toca nas mazelas
do sistema e que tem o efeito prático de endossar o circo que a grande mídia
cria em torno de eventos como esses.
E o pior é que esse é o
país em que pessoas como Olavo de Carvalho (vulgo Sidi Muhammad Ibrahim) olham
como o mais cristão do mundo (o qual certamente recebeu uma grande bofetada na
cara com a aprovação do casamento GLBT em todo o território ianque). Sendo que em
realidade o conservadorismo social que gente como Olavo de Carvalho, Marco
Feliciano e Jair Bolsonaro tanto pregam é, ironicamente, mais forte não nos Estados
Unidos, na União Europeia e no Israel que eles tanto defendem, e sim em países
que eles acham a escória do mundo como a Rússia, o Irã, a China, a Coréia do
Norte, a Venezuela, a Síria e a Líbia durante a era Kadaffi, entre outros. Até
por que como chamar de cristão um país que aprova o casamento gay para todo o
seu território e que é o quartel general do liberalismo no mundo (e dai
exportando suas mazelas para os quatro cantos do globo)? Parece que para essa
gente os Estados Unidos ainda vive no final do século XVIII e começo do século
XIX.
E o que será que esses
dois lados em questão tem em comum? Diferente do que possa aparentar à primeira
vista, a direita neoconservadora e a esquerda progressista, não são
diametralmente opostas entre si. Muito pelo contrário. Elas são como o Yin e o
Yang[5] no taoísmo, as duas faces
do deus Janus[6]
na mitologia romana e os personagens Piccolo e Kami Sama em Dragon Ball: dois
elementos opostos entre si, mas que ao mesmo tempo se completam entre si
formando uma unidade contraditória, a ponto de um não existir sem o outro e
vice-versa. Entre os dois polos, há uma retroalimentação em que um deles puxa
votos para o outro e vice-versa, como se fosse um cachorro correndo
continuamente atrás de seu próprio rabo. A direita de matiz puritana
neoconservadora se arvora de ser a “guardiã da moral e dos bons costumes ante a
pouca vergonha que ai está”. E a esquerda liberal progressista, por sua vez,
fica se gabando de ser “a protetora dos direitos das minorias ante a
truculência da direita neoconservadora”. E não é de hoje que essa
complementariedade entre os dois lados foi percebida: em um trecho de sua obra
“Humanismo Proletário” (1934), o escritor russo Maksim Gorkiï disse “Уничтожьте
гомосексуализм – Фашизм исчезнет! (em português “Destruam o homossexualismo[7] – fascismo desaparece!”). Aplicando
essa frase para o Brasil atual, poderíamos dizer “Уничтожьте Жана Уиллиса –
Жаир Болсонаро исчезнет!”(“Destruam o Jean Wyllys – Jair Bolsonaro desaparecerá!”).
Ou para o contexto dos Estados Unidos de hoje, poderíamos dizer “Уничтожьте
Мадонну – Сара Пэйлин исчезнет!”(“Destruam a Madonna – Sarah Palin
desaparecerá!”). E quando falo nessas figuras patéticas, não falo apenas nelas
em si, e sim em tudo o que elas representam política e ideologicamente. E o que
Gorkiï quis dizer com isso? Que da mesma
forma com que em Dragon Ball quando Piccolo morreu na luta contra Nappa e
Vegeta Kami Sama também morreu, se um dos lados vier a ser
destruído o outro também desaparecerá. E é justamente por causa dessa
complementariedade e retroalimentação entre os dois lados que eles podem
coexistir sem se destruírem mutuamente.
Foto
– “Unichtozhte[8]
gomoseksualizm – fashizm inscheznet! (Destrua o homossexualismo – o fascismo
desaparecerá)”, Maksim Gorkiï em um trecho de sua obra “Humanismo Proletário”,
de 1934.
Com seu discurso que
privilegia a luta de grupos minoritários em detrimento da luta do povo como uma
totalidade, a esquerda liberal universitária aliena grande parte do povo com
pautas como liberar aborto, drogas e empoderamento de minorias. E assim cria um
vácuo do qual a direita neoconservadora se aproveita e ocupa, atraindo para si
esse mesmo povo através de seu canto da sereia. Entretanto, essa mesma direita
também produz um vácuo na medida em que ao mesmo tempo em que ataca o maconhista
ou o abortista que está na mídia ou na universidade não ataca o grande
capitalista que apoia esses grupos por trás das cortinas (ou seja, mata a cobra
que está no jardim da sua casa, mas não destrói o ninho da mesma que está no
mato). É aquilo que eu, parafraseando Alain Soral, chamo de “a direita dos
valores sem a esquerda do trabalho”. E é a graças a esse vácuo que a direita
neocon produz através de sua retórica rasteira, tacanha e tão ou mais alienante
das massas que a esquerda liberal universitária floresce.
Aliás, falando em
puritanismo, que diferença há do ponto de vista ideológico entre o wahabismo
que grupos como a Al Qaeda e o Estado Islâmico professam e o fundamentalismo
dessas Igrejas neopentecostais e o uso que eles fazem do criacionismo como uma
ideologia de negação da teoria da evolução (ao ponto de quererem dar ao
criacionismo um verniz científico, que eles dão o nome de design inteligente)?
A meu ver, nenhuma, tirando o fato de que os primeiros tem um maior
envolvimento com grupos terroristas na atualidade. Os dois se igualam no
reacionarismo, no puritanismo e no mais rasteiro e tacanho moralismo.
E isso não é tudo:
muitas dessas celeumas todas from United
States estão sendo exportadas para o Brasil, entre elas a questão da
polêmica entre evolucionismo e criacionismo, liberação de direitos específicos
de minorias, ações afirmativas, cotas raciais, as teorias conspiratórias trazidas
por Olavo de Carvalho, o tal marxismo cultural e outras. No Brasil, temos visto
o crescimento de uma nova direita que ideologicamente se aproxima muito mais do
Partido Republicano e que tem entre seus principais gurus figuras como Jair
Bolsonaro e Marco Feliciano. Do outro lado, há uma esquerda que tem exportado
essas pautas do Partido Democrata, e que entre seus principais gurus estão
figuras como o ex-BBB Jean Wyllys e a ex-petista Luciana Genro. Os dois lados
se igualam tanto na importação dessas celeumas vindas do norte quanto na
importação de discursos vindos dos principais partidos da ordem burguesa dos
Estados Unidos, assim como o uso de um figurino ianque (parafraseando Nildo
Ouriques) e a desvinculação em relação à realidade nacional e seus reais
problemas. E isso é no mínimo muito interessante para as classes dominantes
nacionais, tal qual para as classes dominantes dos Estados Unidos é
interessante o eterno cabo de guerra entre os Republicanos e os Democratas.
Afinal, em uma esquerda como essa, muito mais preocupada em empoderar minorias que
com a fome que aflige o povo ou com o Bolsa Banqueiro, será que surgirá um novo
Brizola? E de uma direita como essa, muito mais preocupada em bater boca com
seus adversários políticos, surgirá um novo Enéas? A resposta para as duas
perguntas é não.
Foto
– As duas faces de Janus contrapostas entre si: Jean Wyllys e o Pastor Marco
Feliciano, dois grandes expoentes da esquerda liberal e da direita
neoconservadora no Brasil na atualidade. Reparem que ambos se igualam no
discurso da tolerância.
Fontes:
Atirador de Orlando é
suspeito de aliança com o Daesh. Disponível em: http://br.sputniknews.com/mundo/20160612/5054540/atirador-orlando-tiroteio-mortes.html
Atirador era gay e usava
apps de paquera LGBT, diz ex-esposa. Disponível em: https://www.noticiasaominuto.com.br/mundo/238331/atirador-era-gay-e-usava-apps-de-paquera-lgbt-diz-ex-exposa
Artistas manifestam
apoio às vítimas do massacre de Orlando. Disponível em: http://oglobo.globo.com/cultura/artistas-manifestam-apoio-vitimas-do-massacre-de-orlando-19490820
Beijo de Madonna em
Britney contra massacre em Orlando causa polêmica. Disponível em: http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2016/06/15/internas_viver,650501/madonna-causa-polemica-ao-postar-meme-de-beijaco-para-protestar-contra.shtml
Demi Lovato promove
beijo gay com máscara de Vladimir Putin e irrita russos. Disponível em:
Estado Islâmico assume
autoria do ataque em Orlando. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/12/internacional/1465757788_103808.html
Imprensa culpa
Feliciano, Malafaia, Macedo e Bolsonaro por massacre em boate gay. Disponível
em: https://noticias.gospelprime.com.br/imprensa-feliciano-malafaia-massacre-boate-gay/
LGBT rights activists in
USA (em Inglês). Disponível em:
Madona, Beyoncé, Kim
Kardashian e outros famosos lamentam atentado em Orlando. Disponível em: http://gente.ig.com.br/2016-06-13/madonna-beyonce-kim-kardashian-e-outros-famosos-lamentam-atentado-em-orlando.html
Marco Feliciano faz
comentários constrangedores sobre o massacre em Orlando. Disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/06/marco-feliciano-faz-comentarios-constrangedores-sobre-o-massacre-em-orlando.html
Matanza de homosexuales
en los Estados Unidos (em espanhol). Disponível em: http://katehon.com/es/agenda/matanza-de-homosexuales-en-los-estados-unidos
Naufrágios no
Mediterrâneo deixam 700 migrantes mortos em uma semana. Disponível em: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2016/05/naufragios-no-mediterraneo-deixam-700-migrantes-mortos-em-uma-semana-5820045.html
Pai de suposto atirador
diz que filho tinha ódio contra gays. Disponível em: http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2016/06/12/pai-de-suposto-atirador-diz-que-filho-tinha-odio-contra-gays.htm
Primeros elementos
sospechos de la matanza de Orlando (em espanhol). Disponível em: https://elrobotpescador.com/2016/06/13/primeros-elementos-sospechosos-de-la-matanza-de-orlando/
Terrorista de Orlando
referiu irmãos Tsarnaev durante o ataque. Disponível em: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/604625/terrorista-de-orlando-referiu-irmaos-tsarnaev-durante-ataque
Terrorista responsável por
massacre na Flórida era correligionário de Obama e Hillary. Disponível em: http://www.sulconnection.com.br/noticias/3453/terrorista-responsvel-por-massacre-na-flrida-era-correligionrio-de-obama-e-hillary
“Уничтожьте гомосексуалисм – Фашизм исчезнет” (em Russo). Disponível
em:
NOTAS:
[1] Leia-se “Djorrar”, pois no russo as
partículas zh (cirílico ж) e kh (cirílico х) tem valor de j e r aspirado, respectivamente.
[2] Termo comumente utilizado de forma
pejorativa pelos negros norte-americanos para se referir a pessoas negras por
elas vistas como subservientes aos brancos.
[4] Leia-se “Rrosê Murrica”, pois no
espanhol a partícula é se lê como o ê no português e o j tem o mesmo valor do h
no inglês, do ch no alemão e do kh no russo: r aspirado.
[5] Leia-se “Yan”. No mandarim, assim como
no francês, quando uma palavra termina em consoante, a última é sempre muda.
[6]
Leia-se “Ianus”. No latim, assim
como em idiomas como o alemão, o holandês, o húngaro, o polonês, o
servo-croata, as línguas escandinavas e bálticas, o tcheco, o eslovaco e outros
tantos, a partícula j tem valor de i.
[7] Aqui, quando Gorkiï fala sobre
homossexualismo, ele está falando a respeito do ativismo GLBT, e não sobre os
homossexuais enquanto indivíduos.
[8] Leia-se “Unitchojte”, pois no russo
as partículas ch (cirílico Ч) e zh (cirílico Ж) tem valor de tch e j,
respectivamente.
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