Por Aleksandr Dugin
Tradução por Lucas Novaes
Primeiramente, a própria
existência do referendum é
importante. A União Europeia foi fundada sem a consulta dos europeus comuns.
Foi uma decisão das elites europeias apoiadas por Washington e por um clube de
globalistas fanáticos tais como George Soros. Ninguém consultou a opinião do
povo e isso foi decidido sem sua vontade. Na época, havia a União Soviética,
então a integração europeia foi feita com o objetivo de ir contra nosso estado
e o bloco do leste europeu. Entretanto, a União Soviética colapsou mais rápido
do que o esperado, e a União Europeia teve de ser completada sob condições
completamente diferentes das quais foi fundada.
No início dos anos 1990,
a Europa Unida estava perto de surpreender os americanos. Sem mais inimigos no
Leste, as elites nacionais francesas e alemães miraram a criação de um sistema
de segurança independente, suas próprias forças armadas, as EuroCorps, com a
visão de sair do controle da OTAN ou, pelo menos, do controle dos Estados
Unidos. Logicamente, considerando que Moscou dissolveu o pacto de Varsóvia, era
tempo de dissolver a aliança do Atlântico Norte também. A Europa era capaz de
se tornar uma jogadora geopolítica independente, mesmo que não pró-russa, ao
menos claramente não pró-americana.
Então, o Reino Unido
entrou no estágio como o principal parceiro dos Estados Unidos no Velho
Continente. Os americanos já foram uma colônia britânica, mas no século XX, os
papeis se inverteram, e agora em termos políticos e estratégicos, a Inglaterra
se tornou vassala dos EUA. Essas são as realidades duras da geopolítica; o
centro do atlantismo se mudou ainda mais para o Ocidente. Então, a Grã-Bretanha
criticou todas as iniciativas de Berlim e Paris e seus objetivos de criar uma
Europa real, uma Europa europeia e não americana ou atlantista. E o Reino Unido
preencheu esse papel com sucesso. Não interveio nos negócios da União Europeia,
porém sempre que as potências continentais declaravam sua posição de ser
diferente dos americanos, os britânicos se prostravam em defesa de Washington.
Seu papel de vassalos requeria isso.
Esse foi o caso durante
a Guerra do Iraque. Os britânicos, nem mesmo aceitando o euro (continuaram com
a Libra), pareciam que estavam mesmo fora da Europa. Mas logo que os países
europeus conceberam algo diferente, algo realmente europeu, Londres
imediatamente se tornou ativa, geralmente se posicionando ao lado dos
“europeus” mais estrangeiros, aqueles majoritariamente dos países do Báltico e
do Leste europeu que rapidamente trocaram um mestre (USSR) pelo outro (EUA) e
que começaram a se rebelar contra o velho mestre. A agenda gritante era, claro,
decidida em Washington, mas o Albion Nevoento[1] contribuiu com um jogo
anglo-saxão e anti-europeu bastante desagradável velado em um estilo altamente
arrogante e fora de moda.
Mas agora, os britânicos
decidiram sair. Brexit. Entretanto, depois de tudo, as pessoas não foram
perguntadas quando entraram na Europa em primeiro lugar e, sendo honesto, os
ingleses perderam pouco por estarem na União Europeia. Meras ninharias. A questão
é outra. Quem ainda precisa da União Europeia? Os partidos eurocépticos, tanto
da direita como da esquerda, estão vencendo em mais e mais países, então a
tendência principal é claramente o fim da União Europeia.
Uma coisa é clara;
Brexit significa que as mesmas forças que criaram a União Europeia, o mesmo
velho clube globalista, agora estão dissolvendo-a para seus próprios
propósitos, tendo ficado desapontadas ou procurando por uma estratégia
diferente. De qualquer forma, isso claramente irá levar ao caos. Tal caos tem
existido no Oriente Médio e no mundo árabe por um longo tempo, mas agora é a
vez da Europa. E tudo está preparado para isso. Os britânicos devem estar, de
alguma forma, simplesmente saindo do navio que está afundando. Mas isso não
quer dizer que eles estão a salvo. A horda de imigrantes passando pelo Mar
Mediterrâneo e Canal da Mancha ainda devem ser lidados por duas frentes. No
túnel e na água. Isso os ensinará uma lição.
Se os britânicos
decidirem ficar, isso significa que os estrategistas de Washington ainda vão
temer que a Europa fique fora de controle, e que sob a ameaça de uma crise
fatal eles podem aceitar a aliança proposta com a Rússia, por exemplo. Além
disso, Moscou tem sublinhado isso, em qualquer caso, a oferta de amizade ainda
está de pé.
A democracia europeia
não é mais o mandamento do povo, mas o mandamento das elites. Portanto, o povo
não decide nada. Uma sociedade puramente do espetáculo. Qualquer democracia é
apenas uma fachada para o poder das elites. Hoje, isso se tornou óbvio para
todos.
Texto
retirado de:
http://katehon.com/article/brexit-nothing-personal
[1] “Albion Nevoento”, do inglês “Foggy
Albion” é o mais velho nome conhecido dado à ilha da Grã-Bretanha.
Primeiramente gostaria de parabenizar os autores do blog. O conteúdo é excelente e vai até o cerne das questões, deixando de lado a superficialidade vista nos sites brasileiros mais conhecidos tanto de "direita" quanto de "esquerda" .
ResponderExcluirQueria pedir, se fosse possível, indicação de livros, documentos, sites, que posso utilizar para entender melhor as questões geopolíticas atuais, o papel do Brasil nestas próximas décadas, as mudanças no cenário político brasileiro, além, claro, de alguma teoria sobre um projeto de desenvolvimento nacional próprio, que abandone a submissão americana.
Seria até mesmo interressante, fazer uma postagem no blog com estas indicações, para pessoas que como eu não tem quase nenhum conhecimento nestes assuntos.