Por Marcus Valerio XR
(com adaptações)
Não é de hoje que
conservadores tem apontado o financiamento de projetos de esquerda por parte de
elites bilionárias. Tais atos não são secretos e são facilmente localizáveis na
internet, sendo difícil negar sua ocorrência.
Exemplos:
FUNDAÇÃO FORD, criada pelos Ford,
que se proclama uma instituição com interesses filantrópicos a fim de ajudar a
combater a desigualdade em redor do mundo. Mas é sabidamente uma fachada de
operações da CIA, financiadas e gerida por banqueiros e associada aos
Rockefeller.
GEORGE SOROS NETWORK, que entre
muitas organizações, financia várias instituições nos EUA associada aos
Democratas, em especial grupos feministas e de imigrantes.
BILL & MELINDA GATES
FOUDATION, que possui uma lista variada de mais de mil órgãos financiados ao
redor do mundo, em geral focados no combate à pobreza e liberdade de expressão,
bem como desenvolvimento agrícola e planejamento familiar.
Obs: É de se notar uma grande
ênfase em movimentos pelo aborto, por minorias raciais, mulheres, homossexuais,
imigração e outros temas relevantes, mas uma ausência praticamente total de
auxílio à entidade sindicais de base, exceto em alguns casos relativas a
questões indigenistas ou de áreas rurais isoladas. Ou seja, não há qualquer
financiamento a iniciativas que tenham por foco a luta de classes ou a
emancipação da classe trabalhadora como um todo.
Tais denúncias
pretendem desqualificar todo o movimento progressista, em especial por mostrar
que tais financiamentos se direcionam sempre para políticas que afetam a
tradição, costumes, a família ou os valores morais.
E o que tais
plutocracias têm a ganhar com tais iniciativas? As explicações tradicionais
sugerem a desestabilização propositada da sociedade, corrupção das tradições,
especialmente a cristã, construção de um Metacapitalismo global ou de uma Nova
Ordem Mundial, um governo de alcance planetário quase sempre associado ao
Anticristo.
Mas há uma explicação
muitíssimo mais clara e provável do que qualquer uma das anteriores, que não
precisa apelar a seitas místicas secretas com objetivos incognoscíveis,
conspirações hollywoodianas ao estilo Arquivo-X, ou profecias apocalípticas
arcaicas que já falharam há muito tempo sobrevivendo somente por curiosos
artifícios teológicos. É simples:
As revoluções dos
últimos séculos, sempre de esquerda, deixaram a clara lição de que não é
possível, nem mesmo às mais poderosas elites do mundo, bater aberto e de frente
contra a classe trabalhadora. A maioria populacional pode ser manipulada,
corrompida, confundida ou ludibriada. Mas qualquer tentativa de oprimi-la num
nível além do tolerável só pode ter como resultado uma revolta de massas
devastadora, capaz de destruir em questão de dias impérios erguidos há séculos.
Assim, ocorre a esses
setores elitistas a solução óbvia de se infiltrar nesse processo histórico, de
modo a minimizar seu impacto, conter os extremismos e, participando de seu
desenrolar, manter seus privilégios intocados. Para isso lançam mão da mais
elementar lição da Arte da Guerra.
DIVIDIR PARA CONQUISTAR!
Considero aqui como
pertencente à Classe Trabalhadora qualquer pessoa que tenha que trabalhar para
viver, ao invés de poder viver somente à base de Ativos Econômicos. Isto é, o
trabalhador precisa produzir, sustentar ou servir à alguma coisa, e não apenas
manipular valores na especulação financeira.
E como dividir a
massa trabalhadora?
Simplesmente
fornecendo privilégios para uns, tentando empurrá-los uma parte contra a outra
e fazendo-os gastar demasiado tempo com questões parcialmente relevantes, mas
que têm como principal objetivo apenas confundir e enfraquecer. Sendo a
humanidade heterogênea, sempre é possível encontrar nichos com especificidades,
e então explorando essas diferenças, incitar animosidades e subdivisões,
realizando o nunca pronunciado, mas axiomático ditado: “A Desunião Faz
A Fraqueza”.
Divididos por raças,
religião, preferência sexual ou meramente sexo, espera-se que os trabalhadores
briguem entre si, prestem menos atenção às questões realmente primordiais sem
as quais o mundo jamais deixará de manter o modelo “minoria numericamente
ínfima detendo a maioria economicamente imensa dos recursos”.
Vejamos essa citação,
que já data de mais de meio século antevendo este problema.
“Se os empregadores
acolheram com interesse as mulheres por causa dos baixos salários que elas
aceitavam, o mesmo fato provocou resistências entre os trabalhadores
masculinos. Entre a causa do proletariado e a das mulheres, não houve uma
solidariedade tão imediata quanto o pretendiam Bebel e Engels. O problema
apresentou-se mais ou menos da mesma maneira que o da mão-de-obra negra nos
Estados Unidos. As minorias mais oprimidas de uma sociedade são, amiúde,
utilizadas pelos opressores como arma contra o conjunto da classe a que
pertencem. Em consequência, elas são consideradas inicialmente inimigas e é
preciso uma consciência mais profunda da situação para que os interesses dos
negros e dos brancos, das operárias e dos operários se coliguem, em vez de se
oporem uns aos outros. Compreende-se que os trabalhadores masculinos tenham,
primeiramente, visto nesta concorrência uma temível ameaça e se tenham mostrado
hostis. Somente quando as mulheres se integraram na vida sindical, é que
puderam defender seus próprios interesses e deixar de pôr em perigo os da
classe operária em seu conjunto. ” [ Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo Livro
I, Capítulo III, Parte V.]
NOVOS SATÂS
Todas essas
iniciativas têm em comum a construção de fantasmagóricos inimigos que precisam
ser combatidos a todo custo, mas tal esforço de combate, nada podendo fazer
contra meras abstrações, só pode afetar os segmentos populacionais que são
relacionados a tais fantasmas. Ataca-se o mito, fere-se as pessoas, e o mito
continua intocado, apenas podendo mudar de aparência.
Inevitavelmente não
pode haver outro resultado do que a divisão dos trabalhadores por meio de
categorias que no fundo elas não representam realmente, mas que fatalmente as
levará a alguma forma de retaliação, dando início a um clico revanchista, que
move humanos reais numa tragédia samsariana girando em torno de miragens.
Com elas, inventou-se
posturas perspectivas que veem na pura e simples inércia social, e no fato
puramente físico de que melhorar é sempre mais difícil e lento do que piorar,
um tipo de conspiração oculta com o objetivo de manter as desigualdades
intrínsecas entre os trabalhadores como são. Como se o fato evidente de que os
descendentes de etnias mais abastadas ainda carreguem vantagens socioeconômicas
por mais que essas venham histórica e comprovadamente diminuindo, seja na
verdade implementada por artifícios deliberados que fazem com que qualquer
regularidade tola seja um ato consciente e deliberado de manutenção ativa de
privilégios, demandando em, contrapartida, ações afirmativas que beneficiam um
grupo em detrimento de outros que não necessariamente estão de fato em situação
melhor.
Também se criou novas
fobias e misonias que fazem com que a estranheza natural das pessoas para com
os comportamentos menos comuns seja vista como uma atitude ativa de discriminação
e ódio, ligando-as aos casos isolados de ataques reais contra minorias ou
segmentos mais fragilizados, e fazendo com que se veja uma conspiração de
maiorias ativamente trabalhando na repressão de condutas privadas ou
libertárias.
Nenhum desses 'satãs'
é criado do nada. Todos eles apontam para entes reais que indicam problemas que
merecem ser enfrentados, mas todos, TAMBÉM são hiperdimensionados ao ponto de
se tornarem não apenas males, mas o maior dos males, e são frequentemente
redefinidos para que, mesmo quando as condições históricas esvaziem por
completo sua credibilidade, mudem de forma passando a encarnar novas
aparências, mantendo-se perpetuamente como um alvo a ser combatido.
O MICRO PELO MACRO
Assim, o foco da
exploração da classe trabalhadora, que é a esmagadora maioria da humanidade,
por uma elite minoritária e indiscutivelmente privilegiada em todos os níveis,
é deslocado para elementos secundários. O problema deixa de ser a exploração
dos trabalhadores pelos poderosos para ser dos negros pelos brancos, das
mulheres pelos homens, de uma nação pela outra e até de homossexuais por
heterossexuais.
Se isso não for uma
ofensiva de uma mega elite bilionária, ao menos funciona muito bem como uma
estratégia reativa da direita popular, que com a colaboração espetacular de neoesquerdistas,
consegue esvaziar a imagem da defesa da classe trabalhadora e substituí-la por
lutas progressistas mais diversas e pitorescas.
No Brasil, as últimas
décadas de governo foram bem-sucedidas em melhorar as condições da vida da
maioria esmagadora da população, e sem prejudicar significativamente as
minorias privilegiadas. Por esse serviço prestado, a Situação dificilmente
poderia, ou deveria deixar de ser agraciada com a perpetuação. Não existe
compra de apoio mais eficiente do que beneficiar efetivamente as vidas dos que
mantém a sociedade funcionando.
Se esse estado de
coisas, ou projetos similares, vierem a perder para projetos mais tradicionais
que colocam a defesa incondicional do privilégio das elites acima de qualquer
coisa, o será não apenas por ter deixado de atender aos trabalhadores, mas
sobretudo por desviar-se disso para atender privilégios de minorias, ou
maiorias, em detrimento de outras.
A receita certa para
o fracasso da esquerda é que ela deixe de ser considerada como a defesa dos
trabalhadores, que são a maioria esmagadora, para ser reduzida a defensora do
Aborto, da Parada Gay, da Marcha das Vadias ou da Marcha da Maconha.
Texto
original em:
Vídeo
da palestra:
https://www.youtube.com/watch?v=-Q0mfpvrFf4
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