sexta-feira, 28 de junho de 2024

Resposta a texto de Eduardo Guimarães (blog da Cidadania)

 

Foto – Eduardo Guimarães.

No dia 10 do presente mês, Eduardo Guimarães, do blog da Cidadania, postou o seguinte texto, o qual será reproduzido abaixo:

“Lute!

Eduardo Guimarães

A parcela da humanidade civilizada e com capacidade cerebral suficiente para não transformar urnas eleitorais em vasos sanitários é minoria. Às vezes, a necessidade de não usar a urna como depositária de excrementos cerebrais forma maiorias eleitorais sensatas, mas essa é a exceção à regra.

No fim de semana, a Europa deu um passo gigantesco para jogar a humanidade nos círculos do inferno fascista, onde jazem todos os déspotas cruéis que já pisotearam este planeta. A extrema-direita também assombra o Império norte-americano, enviando-nos um aviso que já venho dando há pelo menos oito anos.

Em 15 de novembro de 2016, cerca de sete meses após o golpe parlamentar contra Dilma Rousseff e dois anos antes do golpe judiciário que encarcerou Lula e colocou Jair Bolsonaro no poder, o site do Partido dos Trabalhadores publicou um texto de minha lavra intitulado ‘Trump pode nos causar um Bolsonaro?’.

Reproduzo um trecho:

‘As coincidências entre Donald Trump e Jair Bolsonaro podem parecer muitas ou poucas, a depender do ângulo que se olhe. É muito difícil, porém, desprezar as coincidências, porque, à exceção da grana, são muitas. E não se resumem aos topetes esquisitos.

De qualquer forma, se a história recente nos ensina alguma coisa sobre geopolítica é que continentes encerram ondas político-ideológicas em direção similar. (...)

Em princípio, apesar de Bolsonaro aparecer com intenções de voto significativas em simulações da disputa presidencial de 2018 (sondagens recentes mostraram-no com até 8% de intenções de voto), há um desses consensos que me assustam que diz que, assim como diziam de Trump, “não há risco” de o gorila brasileiro se eleger.

O fato de Trump e Bolsonaro serem ridículos e politicamente incorretos em uma atividade como a política, em que ser cuidadoso com o que se diz seria mais lógico, não impediu o norte-americano de contradizer todas as minimizações do risco de se eleger.

Ora, dizer barbaridades é a principal semelhança entre o boquirroto tupiniquim e o ianque, mas está longe de ser a única. A visão de mundo dos dois é extremamente parecida.

E as chances? Bem, o que elegeu Trump não foi a sua fortuna, de modo que Bolsonaro não ser bilionário não o impede de se beneficiar do fenômeno norte-americano. Na verdade, pode até facilitar um pouco a vida do nosso obtuso candidato a déspota.

A história está repleta de exemplos de figuras folclóricas como Trump ou Bolsonaro que ascenderam ao poder por não terem sido levadas a sério. Hitler é só a face mais visível desse fenômeno.

O ditador nazista ou o candidato a ditador ianque poderiam ter sido contidos se tivessem sido levados a sério quando tentaram voos mais altos. Os conceitos do alemão e do norte-americano sobre inferioridade “racial” e cultural os unem indelevelmente a Bolsonaro’ https://redept.org/artigos/Eduardo-Gu...

O meu texto foi um dos avisos sobre Jair Bolsonaro que foram sumariamente ignorados. Porém, aqui é o Brasil e temos uma diferença marcante dos EUA e da Europa: muita pobreza.

Ah, mas que diferença positiva a pobreza que esmaga o Brasil pode fazer, Eduardo? No caso de um país votar por capricho, como fizeram os europeus no fim de semana, muita diferença.

Não elegemos Bolsonaro por capricho, elegemos porque a mídia corporativa se aliou a Sérgio Moro e Deltan Dallagnol para dar um golpe e tirar o PT do Poder. A Lava Jato derrubou a economia e, como o brasileiro vota com o bolso, o eleitorado foi convencido enterrar a era PT após 13 anos de melhora na vida dos brasileiros.

O povo, porém, se arrependeu. Michel Temer e Jair Bolsonaro esmagaram o país sob os interesses dos milionários e bilionários que controlam a mídia corporativa, o Legislativo e parcela gigantesca do Judiciário -- mas não todo ele.

Bolsonaro gastou quase 5% do PIB para comprar seitas pseudoevangélicas e seus rebanhos drogados com fanatismo religioso e para despejar recursos na economia de forma a aquecê-la artificialmente por alguns meses. Chegou ao ponto de criar programas sociais gastadores que seriam encerrados logo após a eleição.

Mas não foi suficiente. A população estava convencida de que Bolsonaro tinha sido um erro e ele só não perdeu por mais votos porque entre as suas trapaças eleitorais chegou a barrar eleitores de Lula no Nordeste, usando a Polícia Rodoviária Federal -- fato que vai voltar à tona em breve...

Mas qual é a diferença entre o Brasil e a América Latina e o mundo rico? É que nós não podemos nos dar ao luxo de votar por capricho. O bolso do eleitor vai pesar muito mais por aqui do que pesa por lá, pois os povos latino-americanos, ao contrário de europeus e norte-americanos, não têm o mínimo garantido.

Mas a parcela progressista da sociedade precisa lutar e só o que se ouve são lamúrias. Enquanto isso, a extrema-direita, que perdeu a eleição de 2022 e que está vendo seus próceres marcharem para o xilindró, age como se estivesse vencendo de goleada.

É preciso que este país se una contra o neofascismo que se alevanta contra a humanidade. E a esquerda, em especial, precisa parar de disputar concursos de quem é mais esquerdista e se unir em prol de um futuro, qualquer futuro, porque se a extrema-direita retomar o poder no Brasil, não haverá futuro nenhum”.

Vi todo tipo de análises sobre o avanço de partidos de direita nas eleições parlamentares europeias. Tanto à esquerda quanto à direita. A maioria delas pavorosas. De um lado, análises que batem na tecla da tal ameaça fascista, como o presente texto, como em locais como o TV 247 e o blog da Cidadania. E de outro, análises que batem na tecla do recuo do comunismo (?) na Europa, como visto em canais como o do Marcelo Andrade e do IPCO (instituto Plinio Correa de Oliveira). Mas essa de Eduardo Guimarães (a quem prestamos solidariedade há sete anos) é, a meu ver, uma das análises mais pavorosas que vi.

Certa vez, o famoso escritor português José Saramago, laureado pelo prêmio Nobel de Literatura em 1998, disse o seguinte: que tudo se discute neste mundo, menos uma única coisa – a democracia.

Segundo as palavras do escritor português (finado em 2010 aos 87 anos de idade), “A democracia está ai, como se fosse uma espécie de santa de altar de quem já não se espera milagres, mas que está ai como uma referência, e não repara que a democracia em que vivemos é uma democracia é uma democracia sequestrada, condicionada, amputada”. Uma fala dita há mais de 15 anos, e que continua bem atual, ainda mais quando vemos o cenário geopolítico hodierno.

Deixe eu lhe fazer uma pergunta básica, Eduardo Guimarães: você se mostra espantado e até estarrecido com o avanço de partidos de ultradireita em várias partes do globo tais como o AfD (Alternative fur Deutschland) na Alemanha, o Fidesz na Hungria e o Rassemblent National (antigo Front National) na França e a ameaça que tal avanço supostamente representa à democracia. Mas, parafraseando Saramago, já parou para pensar que democracia é esta pela qual você e tantos outros choram?

No filme “O ditador”, estrelado por Sacha Baron Cohen, há uma cena na qual o ditador Aladeen de Wadiya profere um discurso por meio do qual ele cita as vantagens que um país como os Estados Unidos teria caso fosse uma ditadura aberta. Poderia fazer uma série de coisas tais como mentir sobre o motivo pelo qual o país entra em uma guerra, lotação das prisões com um único grupo racial e os meios de comunicação ser controlados por um seleto grupo de pessoas e que ninguém se queixaria disso. Ou seja, coisas que já acontecem sob as asas do regime democrático. Uma cena que, diga-se de passagem, é uma daquelas que vale por todo um filme. E que mostra muito bem que tipo de democracia é essa em que vivemos. Uma democracia que no fim das contas é o biombo que mascara o poder dos donos do poder mundial.

Enquanto isso, na superfície, vemos partidos políticos se digladiarem para ver quem é o mordomo da mansão da vez. O fato é que entra governo e sai governo e os senhores da mesma mansão continuam os mesmos. Trata-se daquilo que Nildo Ouriques, dentro do contexto brasileiro, chama de o consórcio petucano, que nada mais é que a administração da ordem burguesa por parte de petistas e tucanos. Na qual no essencial os dois bandos estão de acordo, com pequenas diferenças aqui e acolá. Em outras palavras, é a política burguesa à moda brasileira.

E isso não passou despercebido á época. O finado Doutor Enéas já falava sobre isso em 2004, ainda no segundo ano do primeiro governo Lula.

Dois anos depois Plínio de Arruda Sampaio, então candidato do PSOL ao governo do estado de São Paulo, chama a atenção em resposta ao candidato petista Aloísio Mercadante sobre o fato de que os petistas na verdade vinham continuando com muito do que os tucanos já faziam anteriormente.

Trocou-se o governo, mas a lógica econômica que FHC deu início ainda na segunda metade dos anos 1990 (marcada, entre outras coisas, por um brutal e crescente endividamento estatal, crescente financeirização da economia em detrimento do setor produtivo e políticas de austeridade fiscal) não foi rompida. Pelo contrário, o PT deu continuidade e ainda por cima a aprofundou nos anos seguintes. E, além disso, muitos dos esquemas de corrupção que se tornaram célebres durante os governos petistas surgiram ainda sob o governo FHC, como é o caso do mensalão.

E isso, obviamente, não é uma jabuticaba exclusiva do Brasil. Ou vocês acham que os políticos que se alternam no poder em países como os EUA, a França, a Inglaterra, a Holanda, o Canadá, os países nórdicos, a Alemanha, a Coreia do Sul e o Japão também não estão de acordo no essencial, discutindo apenas as quinquilharias?

Foto – Petucanismo: a política burguesa à moda brasileira, segundo Nildo Ouriques.

Essa não é outra se não a democracia que essa mesma esquerda não tem o menor pudor em defender sob o pretexto da tal “ameaça fascista”. Uma ameaça fascista sem fascismo, em nada diferente da “ameaça comunista” que certos setores de direita vendem e que de comunismo nada tem.

E digo mais: em minha humilde opinião, o crescimento dessas forças de ultradireita diz muito mais não sobre estes partidos em questão e a ideologia que eles professam, e sim sobre que tipo de sistema político-partidário há hoje no mundo, o que este sistema oferece às pessoas e o mais importante de tudo: que este sistema está apodrecido até as raízes e mostrando suas vísceras fétidas a nós.

Diante da situação advinda principalmente da crise de 2007/2008, o campo da direita, bem ou mal, dá a sua resposta e aponta um caminho. E ela que, diante da crise presente, de alguma forma, capta a insatisfação da população para com a ordem vigente e a capitaliza em seu favor. E enquanto isso, o que faz partidos de esquerda como o PT aqui no Brasil? Comporta-se como a fiadora de um sistema político em estado adiantado de putrefação.

E o que a democracia que pessoas como o Eduardo Guimarães e outros defendem tem oferecido nos últimos anos ao cidadão comum, seja aqui no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos e em outras partes do globo? Em outras palavras, o que figuras como Sarkozy, Hollande e Macron na França, Merkel e Scholz na Alemanha, Obama e Biden nos Estados Unidos, Trudeau no Canadá, Alberto Fernández na Argentina e outros dessa mesma estirpe têm oferecido ao cidadão comum nos últimos anos?

Foto – Diagrama de Venn: no que Democratas e Republicanos estão de acordo, no contexto da política americana.

A resposta é bem simples: apenas as mazelas do sistema e nada mais. Mazelas essas que incluem Agenda 2030, Grande Reset, promoção de agenda abortista (vide o recente caso da França), constantes ataques aos valores das pessoas por meio da promoção de certas agendas coloridas, imigração descontrolada que se traduz no aumento da criminalidade nas cidades e o surgimento de guetos nos quais por vezes não pode entrar o habitante nativo, a agenda verde que no ano retrasado fez com que os agricultores europeus protestassem em massa contra a implantação da mesma, entre tantas outras que podemos listar.

Aliás, vale lembrar que sob o pretexto da luta imaginária contra o fascismo, Lula apoiou Emanuel Macron nas eleições francesas do ano retrasado contra a candidata do Rassemblent National, Marine Le Pen.

Foto – Lulacron: Lula e Macron. Aliança com o que há de pior e mais execrável na política europeia hodierna em nome do “combate ao fascismo”.

Para jogar ainda mais lenha na fogueira, essa mesma esquerda, também sob o pretexto do combate ao que eles chamam de fascismo, não tem o menor pudor em se juntar e tirar fotos ao lado de figuras execráveis e moralmente putrefatas tais como Deolane Bezerra e Felipe Neto (vulgo Blaze Boy).

Trata-se do mesmo Felipe Neto que lá atrás, nos idos de 2014, disse que em hipótese alguma votaria no Lula sob a alegação de que ele é um corrupto e até chegou ao ponto de ofender a ex-presidente Dilma Rousseff.

E que em 2010, ainda na época do “Não faz Sentido”, disse que o Vida de Garoto era “um pornô para crianças”, mas que atualmente não tem o menor pudor em submeter crianças a conteúdos nem um pouco apropriados a elas e que chegou ao ponto de no livrão dele (também destinado ao público infantil) colocar uma brincadeira para lá de indecente e citar o Kid Bengala, um ator de filmes pornográficos. E a coisa não para por ai: na pandemia agiu como se fosse o fiscal da quarentena e depois se descobriu que ele vivia furando a mesma para jogar futebol com amigos. E mais recentemente esteve envolvido no esquema da Blaze. E ainda por cima, divulgou a mesma Blaze em vídeos destinados ao público infanto-juvenil..

Foto – Lula e Felipe "Blaze Boy" Neto. Aliança com o que há de pior em matéria de influenciadores digitais em nome do combate ao “fascismo”.

E que, ainda por cima, na esfera religiosa, essa mesma esquerda em nome do combate ao fascismo, chega ao ponto de achar lindo e aplaudir a zombaria da fé cristã que a Madonna faz nos shows dela, assim como o Porta dos Fundos (Diga-se de passagem, o que o Porta dos Fundos faz aqui no Brasil é reproduzir a zombaria que artistas decadentes como a Madonna e a Lady Gaga e pasquins de quinta categoria como o Charlie Hebdo fazem da fé cristã lá fora).

E ainda por cima é associada a figuras como o Padre Júlio Lancelotti. Sobre o qual pairam muitas histórias nebulosas, incluindo o escândalo mais recente dele. É por causa de uma esquerda como essa que o fiel católico no Brasil é jogado no colo de grupos conservadores da extrema direita católica tais como o Centro Dom Bosco e o IPCO (Instituto Plínio Correa de Oliveira) e de figuras como Lucas Lancaster, Padre Paulo Ricardo, Bernardo Küster e Marcelo Andrade.

Não se iludam: dentro da Igreja Católica Apostólica Romana, Júlio Lancelotti e Paulo Ricardo são na verdade duas faces de uma mesma moeda. Um justifica a existência do outro e vice-versa. Trata-se da mesma relação dialética que há entre Jean Wyllys e Bolsonaro. O primeiro, ao querer transformar a Igreja em uma espécie de braço religioso do PSOL e advogar uma Igreja que na prática aceita o pecado do outro, e não converte. E o segundo, cuja pregação reacionária justifica o discurso de tipos como Lancelotti, ajudando este a se justificar perante a população como o protetor das minorias diante da pregação ideológica do primeiro. O alfa e o ômega, o yin e o yang, Kami Sama e Piccolo Daimaō. As duas faces de Janus contrapostas entre si.

Foto – Lula e Júlio Lancelotti.

Também ajuda a jogar a população no colo não só da extrema direita católica e de políticos demagogos da direta bolsonarista tais como Nikolas Ferreira, Júlia Zanatta e outros políticos dessa estirpe atos como a invasão da missa perpetrada pelo vereador petista de Curitiba Renato Freitas, ocorrida no dia 5 de fevereiro de 2022 na Paróquia Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na qual se chegou ao ponto de sob o pretexto de protestar contra o racismo chamar os fiéis que lá rezavam de fascistas.

Também ajuda a jogar a população no colo da extrema direita católica e de políticos demagogos como Nikolas Ferreira e Júlia Zanatta a maneira como os principais partidos de esquerda (PT e PSOL à frente, obviamente) vêm lidando com a questão do aborto trazida por meio do PL 1904. Ao fazerem coro com em favor do aborto sob alegações de que se trata de uma questão de saúde pública e desculpas afins, tais partidos e organizações de esquerda no fim das contas se mostram do mesmo lado da barricada de grandes grupos eugenistas internacionais tais como Planned Parenthood, Fundação Ford, Fundação Rockefeller, Fundação McArthur e outros tantos (e parecem não se dar conta disso, a propósito).

E, de cereja do bolo, alguns políticos dessa mesma esquerda, em nome da inclusão e, acham lindo criança trans e afins e até apoiam repasses de altas quantias de dinheiro a ONGs desse tipo, como é o caso da psolista Sâmia Bomfim.

E essa mesma esquerda por vezes chega ao ponto de dizer que, por exemplo, criticar o Felipe Neto é coisa de “direita fascista”. Desde quando que criticar o Blaze Boy é sinônimo de ser um direitista fascistóide, para começo de conversa (já vi esse tipo de conversa na Internet, em locais como o Facebook e o You Tube)? É o tipo da atitude infantil e torpe que precisamente abre a lacuna para essa mesma direita avançar com sua pauta reacionária e demagógica. Como se apenas a direita mais radical tivesse o monopólio da crítica a um moleque moralmente putrefato e que nada de bom vem trazendo à juventude brasileira.

Por fim, gostaria de fechar o presente texto lembrando o exemplo do comandante Hugo Chávez na Venezuela. Ao contrário do que vemos hoje no Brasil, na Argentina, Europa e em outras partes do globo, Hugo Chávez tocava nas feridas do apodrecido sistema venezuelano advindo do pacto de Punto Fijo, a finada Quarta República Venezuelana da qual a oposição venezuelana a Maduro é saudosista.

Por meio dessa plataforma ele foi eleito em 1998 e uma das primeiras coisas que ele fez ao se tornar presidente da nação caribenha foi precisamente sepultar a Quarta República Venezuelana e no lugar fundar uma nova República, a República Bolivariana da Venezuela. Junto com a Quarta República Venezuelana, Chávez também sepultou com o sistema bicameral até então existente na nação caribenha e em seu lugar instituiu um sistema unicameral através da fusão do Senado com a Câmara dos Deputados.

Pelo que vejo se Lula e os petistas estivessem na Venezuela da segunda metade dos anos 1990 eles, em nome do combate ao “fascismo” e da defesa da democracia, estariam defendendo o regime cleptocrático que havia na Venezuela até a ascensão de Chávez ao poder. A Venezuela do Caracazo e das políticas neoliberais de governos como Carlos Andrés Peres, na qual havia um sistema de alternância de poder similar ao petucanismo no Brasil e que só trouxeram miséria à maioria dos venezuelanos.

Foto – Políticas de austeridade e arrocho fiscal sob Temer e Dilma. Imagem essa que pode muito bem se aplicar aos governos Bolsonaro e Lula 3.

Fontes:

Lula declara apoio a Macron para “derrotar extrema direita e discurso de ódio”. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2022/04/22/lula-declara-apoio-a-macron-para-derrotar-extrema-direita-e-discurso-de-odio

Minha criança trans – Sâmia Bomfim faz governo dar R$ 120 mil a ONG. Disponível em: https://causaoperaria.org.br/2024/minha-crianca-trans-samia-bomfim-faz-governo-dar-r120-mil-a-ong/

segunda-feira, 24 de junho de 2024

A carta do futuro primeiro-ministro de Israel para Hitler (texto da página História Islâmica + comentários meus)

 

“Em 1941, Yitzhak Shamir (que viria a ser o sétimo primeiro-ministro de Israel) cometeu ‘um crime imperdoável do ponto de vista moral: ele pregou uma aliança com H17l3r, com a Alemanha N4z1st4, contra a Grã-Bretanha’. Enquanto ainda se consideravam parte do Irgun, os Sternistas (membros do Lehi) enviaram uma proposta de aliança aos n4zist4s.

‘O estabelecimento do histórico estado judeu numa base nacional e totalitária, e vinculado por um tratado com o Reich Alemão’, o documento dos sternistas dizia, ‘oferece ser parte ativa na guerra pelo lado Alemão’. E adiciona que o NMO [Irgun] é intimamente ligado aos movimentos totalitários da Europa em sua ideologia e estrutura (“The Stern Gang: Ideology, Politics, and Terror 1940-1949” por Joseph Heller, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém).

Yitzhak Yzernitsky – que mais tarde se chamaria de Yitzhak Shamir, um dos primeiros-ministros que mais longevos no cargo do Estado de Israel, se tornou o comandante das operações da Gangue Stern após Avraham Stern ser morto pelo Exército Britânico em fevereiro de 1942. Sob a liderança de Shamir, foram tentados 14 assassinatos contra oficiais britânicos, com 2 deles sendo bem-sucedidos, a do Lorde Moyne, o Ministro Britânico residente no Oriente Médio, que estava no Cairo, e o representante da ONU para a Palestina, Conde Folke Bernadotte, que levou três tiros no coração de acordo com as ordens do comandante de operações da Gangue Stern, Yitzhak Shamir.

O Conde Folke Bernadotte reconhecia direitos humanos universais e defendia o direito palestino de retornar às suas terras e propriedades das quais foram despossuídos e etnicamente limpos pelos sionistas naquela época.

No início de 1948, forças paramilitares judias começaram a sitiar mais terras na Palestina. Ao fim de julho, mais de 400 mil palestinos já tinham sido obrigados a deixar suas casas, e sua situação como refugiados apenas começava.

Em maio daquele ano, o diplomata sueco Conde Folke Bernadotte foi escolhido como mediador da ONU na Palestina. Sua missão era chegar a um acordo pacífico. O Conde pesquisou aldeias palestinas devastadas e visitou campos de refugiados na Palestina e na Jordânia. A escala o desastre humanitário se tornou evidente quando testemunhou as péssimas condições de vida, longas filas para obter alimentos básicos e escassa ajuda médica.

O Conde Bernadotte não era estranho ao desastre humano; com a Cruz Vermelha, resgatou mais de 30 mil prisioneiros de guerra dos campos de concentração n4z1st4s. Agora, ele defendia o direito dos palestinos de voltar para suas casas.

No primeiro Relatório de Progresso de 16 de setembro de 1948, apresentado pelo Mediador para a Palestina nomeado pela ONU, Conde Folke Bernadotte, reconheceu-se o direito de regresso como a chave para a resolução do conflito na Palestina. Bernadotte escreveu:

‘Nenhum acordo pode ser justo e completo se o reconhecimento não for do direito do refugiado árabe de retornar ao seu lar do qual foi despejado. Seria uma ofensa contra os princípios da justiça elementar que estas vítimas inocentes do conflito fossem negadas do Direito de Retorno às suas casas enquanto os imigrantes judeus fluem para a Palestina, e, de fato, ao menos oferecem a ameaça da substituição permanente dos refugiados árabes que se enraizaram a terra por séculos’.

A primeira proposta do Conde pedia por fronteiras fixas através da negociação, uma união econômica entre os dois estados e o retorno dos refugiados palestinos – a proposta foi negada.

Em 17 de setembro, um dia depois de seu relatório para a ONU, a carreata do Conde Bernadotte foi emboscada em Jerusalém. Ele foi alvejado e liquidado pelos terroristas da Gangue Stern. O assassinato foi aprovado pelos três homens ‘centrais’ do Lehi: Yitzhak Yezernitsky (o futuro primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Shamir), Nathan Friedmann (também chamado de Natan Yellin-Mor) e Yisrael Eldad (também conhecido Scheib). Menachem Begin, fundador do Likud, o sexto primeiro-ministro de Israel e um dos líderes do grupo terrorista sionista, o Irgun, honrou Stern ao colocar seu retrato num selo postal. A Carta da Gangue Stern, ou, mais apropriadamente, os princípios promulgados por Stern, incluíam o estabelecimento de um Estado Judeu do ‘Nilo ao Eufrates’, a "transferência dos árabes palestinos para regiões fora do Estado Judeu, e a construção do Terceiro Templo de Jerusalém". Eles mantinham escritórios fora do Oriente Médio, incluindo Varsóvia, Paris, Londres e Nova Iorque, esta última chefiada por Benzion Netanyahu, pai de Benjamin Netanyahu.

Stern é reverenciado em Israel até hoje, e há um assentamento nomeado em sua honra, bem como um selo postal.

Quando Yitzhak Shamir, o futuro primeiro-ministro de Israel na década de 1980 foi questionado sobre sua colaboração com os fascistas, ele disse: ‘O inimigo do meu inimigo é meu amigo.’ (Tom Segev, One Palestine Complete, p. 464).

Jabotinsky colaborou com o fascista italiano Benito Mussolini e ambos apoiaram a ideologia do outro. De fato, uma academia naval na Itália Fascista foi estabelecida para treinar milícias sionistas. Foi a Academia Naval de Betar, e foi construída e operada com as bênçãos dos fascistas. Muitos dos futuros comandantes da marinha israelense treinaram neste lugar, sob supervisão fascista. Os cadetes nesta academia apoiavam o regime de Mussolini, além de apoiar as guerras coloniais de expansão italiana na África, sobretudo a Segunda Guerra Ítalo-Etíope.

Referências:

HELLER, Joseph. The Stern Gang: Ideology, Politics, and Terror 1940-1949. Psychology Press, 1995.

VADASARIA, Shaira. 1948 to 1951: The racial politics of humanitarianism and return in Palestine. Oñati Socio-Legal Series, [s. l.], v. 10, ed. 6, p. 1242–1269, 2018”.

Fonte: https://www.youtube.com/post/UgkxUQ7YtSSB8lGhhKGFVYknyKFmv-Zd1f8j

MEUS COMENTÁRIOS:

Este é mais um texto do canal do You Tube da página História Islâmica que trago para cá a respeito da questão do passado terrorista de altos figurões da política israelense. No ano passado, trouxe alguns destes textos para cá, adicionados de comentários meus. Abaixo, os links:

A tragédia e a farsa - quem chocou o ovo da serpente chamada Hamas?

A reabilitação do terrorismo em Israel

Também trouxe em 2018 textos que eu trouxe do site Radio Islam, a respeito do histórico de conchavos e colaboração dos sionistas com a fina flor do antissemitismo europeu, desde os tempos do caso Dreyfus e dos pogroms da Rússia Imperial tardia. Nazistas inclusos, obviamente.

A história dos líderes do terrorismo sionista-israelense - o que se sabe sobre os líderes israelenses?

Sionismo e antissemitismo: uma estranha aliança ao longo da história

Sionismo e Terceiro Reich

Para não ficar repetitivo, mas resumindo a ópera: Bolsonaro pai, assim como os filhos e partidários dele, são uns leões para falar do passado do italiano Cesare Battisti no tempo em que este foi membro do grupo PAC (Proletari Armati per el Comunismo, na  sigla em italiano), durante os anos de chumbo da Itália (anos 1970 e 1980). Também volta e meia falam do passado de altos figurões do Partido dos Trabalhadores e outros partidos da esquerda brasileira durante a ditadura-civil brasileira, tais como José Dirceu, José Genoíno, Carlos Minc, Diógenes do PT e Dilma Rousseff, por conta da atuação deles em grupos como o VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), Colina (Comando de Libertação Nacional), o VAR-Palmares, e mais a atuação em episódios como a guerrilha do Araguaia (tanto que em 2005, quando José Genoíno foi depor na CPI do mensalão, Bolsonaro pai trouxe à audiência o coronel Lício Maciel, captor de Genoíno no Araguaia, com claro fim de constrangimento do petista). Também chegou a falar em alguns momento a respeito do tal dinheiro que Leonel Brizola teria recebido de Fidel Castro para financiar guerrilha na serra do Caparaó, no Rio Grande do Sul, contra a ditadura civil-militar da qual Bolsonaro é apoiador.

Na arena internacional, eles também enchem a boca para falar em terrorismo de grupos como o Hamas e o Hezbollah, e do alto da verborragia e demagogia tão típica deles, ainda por cima tentam ligar os grupos em questão ao PT em particular e à esquerda de modo geral. E só irmos às redes dos filhos de Bolsonaro e mesmo de aliados deles para vermos postagens com esse tom de verborragia.

Primeiro que, como Mansur Peixoto muito bem pontua em um dos textos sobre o assunto, foi precisamente a vanguarda sionista que introduziu e difundiu no Oriente Médio o conceito de guerra urbana via atentados terroristas e até mesmo de grupos terroristas paramilitares.

E segundo e mais importante de fato: o mesmo Bolsonaro se cala a respeito de passado análogo das primeiras lideranças israelenses. Os filhos dele igualmente se calam a esse respeito. Há uma foto de dois dos filhos de Jair Bolsonaro, Carlos (vulgo 02) e Eduardo (vulgo 03), desfilando pelas ruas de Israel com camisetas do Mossad e da IDF (Israel Defense Force, na sigla em inglês), respectivamente. Os quais surgiram precisamente a partir dos grupos paramilitares sionistas que atuavam na Palestina sob o mandato britânico. Em outras palavras, estamos falando de uma época da qual o PT nem ao menos sonhava em nascer.

Foto – 02 e 03 desfilando pelas ruas de Israel com camisetas dos órgãos de inteligência israelenses.

E penso eu que se formos pesquisar, por exemplo, os políticos de escalão mais baixo e os ministros dos gabinetes dos premiês de Israel, encontraremos mais gente envolvida com tais grupos paramilitares. Para não ficarmos presos apenas aos premiês de Israel com passado de atuação em grupos de terrorismo paramilitar como o Irgun, o Haganah e o Stern.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Homenagem - 20 anos sem Leonel de Moura Brizola

 

Hoje, dia 21 de junho de 2024, completam-se 20 anos do falecimento daquele que foi certamente um dos maiores homens públicos que o Brasil já produziu e o único a governar dois estados diferentes em toda a história brasileira. Trata-se de Leonel de Moura Brizola, nascido no município gaúcho de Carazinho no dia 22 de janeiro de 1922 e dotado de uma inconfundível retórica inflamada e exaltada.

Oriundo de uma família humilde, Brizola, graças a Getúlio Vargas, iniciou sua carreira política com sua entrada no PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). Foi prefeito de Porto Alegre entre 1º de janeiro de 1956 até 29 de dezembro de 1958. No ano seguinte tornou-se governador do Estado do Rio Grande do Sul, cargo esse que manteve até 25 de março de 1963. Dias mais tarde após o fim de seu mandato como governador do Rio Grande do Sul, tornou-se deputado pelo estado da Guanabara no dia 14 de maio, cargo esse que manteve até 14 de maio de 1967.

Durante o seu governo no Rio Grande do Sul, notabilizou-se por, entre outras coisas, fazer uma ampla reforma agrária, nacionalizar duas multinacionais estrangeiras que atuavam em solo gaúcho (Bond & Share e ITT – que anos antes esteve envolvida em negócios com os nazistas e apoiou o golpe contra Allende no Chile) e em 1961 ter liderado ao lado do general José Machado Lopes a campanha da legalidade que colocou João Goulart, o vice de Jânio Quadros, na presidência do país, afastando assim temporariamente o fantasma do golpismo no Brasil por parte de setores militares e conservadores. Com Jango no poder, pressionou para que seu cunhado (a esposa de Brizola, Neusa, era irmã de Jango) colocasse em prática as reformas de base. Reformas essas que enfureceram as mesmas elites que tentaram dar o golpe três anos antes, e estas, vendo-se ameaçadas em seus privilégios e acusando Jango de ser comunista por causa de sua visita à China, apoiaram os militares golpistas e a deposição de Jango em 1964.

 Durante os tenebrosos anos do Regime Civil-Militar (1964 – 1985), Brizola foi um dos principais opositores dos fardados instalados em Brasília. Foi um dos primeiros a ter seus direitos políticos cassados, isso já no AI-1, junto com nomes como Jango, Luís Carlos Prestes, Jânio Quadros, Darcy Ribeiro, Miguel Arraes, Nelson Werneck Sodré e outros. Em 1965 se exilou no Uruguai e de lá tentou montar movimentos de resistência aos militares em locais como o Rio Grande do Sul e a Serra do Caparaó no Espírito Santo, mas essa iniciativa acabou não tendo sucesso.

Depois de passagens por Estados Unidos e Portugal, Brizola pode voltar ao Brasil em 1979 com a anistia feita pelo então presidente Ernesto Geisel. Três anos mais tarde, elegeu-se governador do Estado de Janeiro, eleição essa que foi marcado pelo escândalo Proconsult, que consistia de transferir votos brancos e nulos para Moreira Franco. Mas, graças à denúncia de tal esquema por parte do Jornal do Brasil, esse esquema foi desbaratado e Brizola se elegeu governador do Rio de Janeiro. Ao lado de Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, Brizola deu início ao projeto dos CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública, também conhecidos como Brizolões), em que consistia de escolas públicas nas quais os alunos permaneciam das 7 da manhã até as 5 da tarde, assim fazendo com que muitas crianças saíssem das ruas.

Infelizmente, após o fim dos dois mandatos de Brizola, os CIEPs foram abandonados por seus opositores, os quais acusavam tal projeto de serem de manutenção custosa e de Brizola usá-los com intenções eleitoreiras. Também se notabilizou pela construção do Sambódromo Marquês do Sapucaí em 1983, da Linha Vermelha e da Universidade Estadual do Norte Fluminense, assim como foi em seu governo que o Rio de Janeiro sediou a Eco 92.

Suas passagens pelo governo do estado do Rio de Janeiro (a primeira entre 1983 a 1987 e a segunda entre 1990 a 1994) também foram marcadas por atritos com a Rede Globo. Isso a ponto de em 1984 ter quebrado o monopólio da emissora do clã Marinho nas transmissões do carnaval e no dia 15 de março de 1994 no próprio Jornal Nacional, após Roberto Marinho ter chamado Brizola de “senil”, ter sido lida um direito de resposta do próprio Brizola, onde ele fala, entre outras coisas, sobre a relação da emissora de Roberto Marinho com o Regime Civil-Militar. Já os governos petistas, por sua vez, não mostraram o mesmo peito que Brizola mostrou para com a Rede Globo, ou mesmo Hugo Chávez na Venezuela para com emissoras como a RCTV.

Brizola também se candidatou a presidência da República, em 1989 e em 1994. Ambas perdidas, a primeira para Fernando Collor de Mello e a segunda para Fernando Henrique Cardoso. Em 1998 foi o vice de Lula, mas este mais uma vez foi vencido nas urnas por FHC, e em 2002 apoiou Ciro Gomes. Em seus últimos anos de vida, Brizola mostrou-se crítico às políticas neoliberais adotadas por Collor, Itamar e Fernando Henrique Cardoso, como também inicialmente apoiou o governo Lula, mas em dezembro de 2003 rompeu com Lula ao ver que seu antigo aliado continuou com a política econômica de seu antecessor e suas alianças espúrias com nomes que antes os próprios petistas tanto criticavam, a exemplo de José Sarney e Renan Calheiros. Um homem como Brizola sem sombra de dúvida faz uma falta imensa ao nosso país, tão carente de homens de peito e fibra como ele. E o Brasil sem dúvida perdeu muito com a morte de Brizola.

LEONEL DE MOURA BRIZOLA, PRESENTE!