segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A ideologia de gênero é o terraplanismo da esquerda identitária.

Foto – A famosa frase de Chesterton.

“Nós logo estaremos em um mundo no qual um homem pode ser silenciado por dizer que dois mais dois são quatro, no qual os gritos de um grupo furioso serão erguidos contra qualquer um que dizer as vacas têm chifres, no qual as pessoas irão perseguir a heresia de dizer que o triângulo é uma figura de três lados, e enforcar um homem por enlouquecer uma multidão com a notícia de que a grama é verde” – G. K. Chesterton.

O pensador, ensaísta e escritor britânico católico Gilbert Keith Chesterton (1874 – 1936) já não está mais neste mundo há oito décadas e meia, e é incrível ver como o que ele disse no ensaio “On Modern Controversy”, publicado no “Illustrated London News” em 14 de agosto de 1926 se tornou realidade no mundo distópico de pós-verdade em que vivemos, no qual o mais importante não é o que a coisa é de fato, e sim o que determinados indivíduos acham que é. A atualidade de Chesterton é tamanha que ele, com quase um século de antecedência, previu a cultura de cancelamento que hoje vemos e que vitimou recentemente personalidades como a J. K. Rowling e a Lilia Schwarcz (depois que essa teceu críticas ao novo disco de Beyoncé).

Para o dia dos pais 2020, a empresa Natura resolveu escolher como garoto-propaganda do ano a Thammy Gretchen. Algo no mínimo de deixar qualquer um de cabelo em pé, visto que muito embora a filha de Gretchen tenha feito a famigerada cirurgia de mudança de sexo, por dentro ainda ela é uma mulher. Lembremo-nos da famosa frase de Brizola sobre o jacaré: “Se algo tem rabo de jacaré, couro de jacaré, boca de jacaré, pé de jacaré, olho de jacaré, corpo de jacaré e cabeça de jacaré, como é que não é jacaré?”. É uma frase que pode muito bem ser aplicada à Thammy Gretchen. Muito embora por fora a filha de Gretchen se pareça com um homem, por dentro tem ovário, sua fisiologia é feminina, o genótipo dela ainda é XX (ou seja, feminino) e antes de fazer cirurgia tinha seios e útero. E só foi capaz de desenvolver barba depois de ter tomado altas doses de hormônio masculino. Como é que ela não é mulher? Pois da mesma forma que o Michael Jackson não deixou de ser um negro pelo fato de ter clareado a pele em decorrência do vitiligo, a filha da Gretchen não deixou de ser uma mulher só por ter feito a cirurgia de mudança de sexo. Precisa desenhar?

A repercussão em torno do caso foi no mínimo muito interessante e ao mesmo tempo um tanto previsível. De um lado, houve aqueles que se indignaram com isso, dizendo que tal homenagem era inapropriada pelo fato de que a filha de Gretchen é uma mulher mutilada e não um verdadeiro homem. Do outro lado, também houve aqueles que argumentaram no sentido contrário e apoiaram tal decisão alegando que pai é aquele cuida da criança independente do parentesco sanguíneo (entre eles o garoto colorido). E é sobre isso que quero falar na presente coluna.

Foto – A lista de todos os gêneros. Preserve para não esquecer (em russo).

A respeito de minha opinião sobre o ocorrido em si: eu particularmente não gostei nem um pouco dessa homenagem. Hoje homenageamos uma mulher barbada mutilada, que só é homem por fora e, portanto, incapaz de engravidar uma mulher. E amanhã, o que veremos? O Tiffany sendo homenageado em um futuro dia das mães depois de eventualmente adotar uma criança? Isso abre um precedente para que futuramente vejamos coisas ainda piores e mais bizarras. Como por exemplo, uma Barbie humana ou um homem-dragão da vida, que se encheu de tatuagens que lembram escamas e que chegou ao ponto de colocar garras nos dedos da mão, bifurcar a língua, desfigurar o rosto por completo e colocar chifres na testa (além de se achar um animal preso a um corpo humano), ser homenageado. E ai daqueles malditos preconceituosos que não entendem o sofrimento do dito cujo que eventualmente não gostarem dessa homenagem. Serão cancelados sem dó nem piedade. E no momento em que a robótica e a inteligência artificial estiverem em um patamar ainda mais adiantado, veremos humanos que se transformaram em ciborgues e criaturas artificiais criadas em laboratórios (e, portanto incapazes de gerarem descendência por meios naturais) sendo homenageados. Ou seja, nessa brincadeira toda poderiam ser homenageados como pais até mesmo os androides 16, 19 e 20 de Dragon Ball Z (que diferente dos androides 17 e 18 e do Cell são seres puramente mecânicos). Ou quem sabe um ser humano que foi reconstruído como um monstro mutante, quando a engenharia genética e a biotecnologia estiverem em patamares mais avançados. E isso os lacradores de plantão, em sua ânsia por justiça social, não enxergam.

A miopia de lacradores de plantão como o Felipe Neto é tamanha que eles não se dão conta do mundo que eles estão ajudando a parir. Que vai muito além de um mundo no qual é errado você ser branco, heterossexual, cis e anti-lacração (parafraseando o que o próprio garoto colorido disse em 2010 no vídeo sobre as bandas coloridas que na época faziam sucesso entre a juventude brasileira). Estão abrindo os portões do inferno para um futuro de distopia tecnológica transhumanista, no qual a coisa mais normal do mundo será você se transformar em um ciborgue ou em um monstro mutante geneticamente aprimorado.

Se hoje começamos a ver como normais coisas como transexualismo e brincadeira de lincantropia (como a que o finado Dennis Avner, o homem-tigre, fez em vida), então no futuro teremos que engolir pessoas se transformando em seres cibernéticos, como fez o Doutor Man em Bioman (Seriado Super Sentai de 1984, inédito no Brasil e que fez muito sucesso na França nos anos 1980 – sucede a Dynaman e antecede a Changeman), o Doutor Hinelar em Megaranger (Super Sentai de 1997, também inédito no Brasil e que foi adaptado nos EUA como Power Rangers no Espaço – sucede a Carranger e antecede a Gingaman), o Doutor Maki Gero em Dragon Ball Z e a Frost no Mortal Kombat 11, ou se reconstruindo como monstros mutantes, como o Doutor Kuromatsu queria fazer em Kamen Rider Black. Ou seja, ajudarão a tornar realidade um mundo de terra arrasada como o visto em O Exterminador do Futuro e nos futuros do Cell e do Trunks na saga Cell de Dragon Ball Z (saga essa cuja trama foi claramente inspirada no Exterminador do Futuro). Ou mesmo o futuro que os Gorgom tinham em mente para a Terra em Kamen Rider Black, no qual a civilização humana seria destruída e o Planeta tomado de assalto por uma horda de monstros mutantes.

Será que chegaremos a uma paradoxal e irônica situação na qual todos esses vilões e organizações e impérios malignos do mundo fictício como o Novo Império Gear (império maligno de Bioman) do já citado Doutor Man, o Império Gozma do rei Bazoo, o Império dos monstros de Satan Goss, o Cruzador Imperial Mess do Monarca La Deus, o Império Water da Rainha Pandora, o Império Subterrâneo Tube do rei Zeba, a Destrap do Barão Kageyama, o Exército Armado Cerebral Volt (império maligno de Liveman, o sentai de 1988) do grande Professor Bias, os Gorgom e o Crisis perderam nas páginas de revistas e telas, mas tornaram-se vitoriosos no mundo real? E no momento em que a situação chegar a tal ponto, será que teremos que criar máquinas do tempo para consertar o estrago feito, como visto tanto no Exterminador do Futuro quanto na saga Cell de Dragon Ball Z (e assim correndo o risco de bagunçar a linha do tempo da história da humanidade)?

Foto – Doutor Man (originalmente Doutor Hideo Kageyama), o vilão-mor de Bioman e líder do Novo Império Gear, que em determinado momento da vida dele se transformou em um ciborgue. Interpretado pelo finado Munemaru Kōda e por Takaya Haši (forma jovem, apenas no episódio 26).

Com razão, a esquerda se queixa do fato de que entre os partidários de Bolsonaro há pessoas que acreditam em bizarrices como design inteligente (que nada mais é que uma tentativa de dar um verniz científico ao criacionismo cristão) e terraplanismo. Só que um desses setores da esquerda, a chamada esquerda identitária, também não fica atrás nesse quesito ao advogar bizarrices anti-científicas como a ideologia de gênero. Afinal, que diferença há entre quem nega a esfericidade da Terra e quem diz que existem centenas de gêneros e que os sexos são meras construções sociais? Em essência, nenhuma. Ambos negam o conhecimento científico para moldá-lo segundo as conveniências político-ideológicas deles.

E que moral aqueles que advogam ideologia de gênero, uma ideologia que além de postular que os sexos são construções sociais, inventar milhares de gêneros biologicamente inexistentes e que prega que para a pessoa o que importa não é o que ela é, mas o que ela acha que é (ou seja, a fantasia subjetiva do indivíduo está acima da realidade, e não o contrário), e assim promovendo aquilo que o Professor José Paulo Netto chama de “semiologização da realidade”, tem em dizer que os partidários do Bolsonaro que acreditam em terra plana e design inteligente são uns obscurantistas que odeiam a ciência? Nenhuma. Pois essa gente vive diariamente dando tapas na cara em áreas da ciência tais como fisiologia humana e anatomia. Pode-se dizer inclusive que esses lacradores de plantão são ainda piores, pois além de acusarem hipocritamente certas pessoas de fazerem o mesmo que eles mesmos fazem, vivem dando bofetadas na cara da ciência e do bom senso sob o pretexto de combater o preconceito e outras fraseologias coloridas típicas deles.

Diga-se de passagem, é a ideologia de gênero que ao semiologizar a realidade quem abre o caminho para o terraplanismo, além de legitimá-lo. Afinal, se segundo a minha fantasia subjetiva eu sou um dragão preso a um corpo humano ou então um transformer, então eu posso muito bem achar, também de acordo com a minha fantasia subjetiva, que o Planeta Terra é plano e não esférico. Como também posso achar, por exemplo, que o céu é dourado e não azul, que a Lua é quadrada e não esférica, que a bola quadrada do Kiko existe, que o Sol é uma grande esfera de gelo, que a grama é prateada e não verde, que a nota de R$ 10,00 vale R$ 1000,00, que os carros que passam pela estrada são ideias moventes, entre tantas outras bizarrices.

Esse mundo de distopia high-tech começa com a realidade sendo semiologizada para atender aos caprichos de determinados grupos. Esse foi o primeiro passo, o surgimento da pós-verdade, onde as fantasias subjetivas de determinados indivíduos se sobrepõe à realidade. Dessa semiologização da realidade surge a cultura do cancelamento. Isso Chesterton previu há um século. Na medida em que a tecnologia foi tornando-se cada vez mais avançada e aprimorada, chegamos ao segundo estágio: tornar tais fantasias “realidade”, quer seja por meio de brincadeira de mudança de sexo, quer seja por meio de brincadeira de licantropia. Em nome do combate ao preconceito e da lacração, aceitam esse tipo de coisa e acham bonito verem homens transexuais jogando em ligas esportivas femininas ao lado de mulheres. Nesse caso, que a ciência se lasque, segundo os lacradores de plantão. Chega-se a um ponto em que você pertencer a determinados grupos minoritários é uma verdadeira carteirada (algo que fica evidente nesse caso envolvendo a filha de Gretchen, em que as pessoas se esquecem de que a dita cuja é uma reacionária que prestou apoio a Moro e a Bolsonaro). Posso fazer quantas m* forem que pelo fato de eu pertencer a tais grupos sou incriticável.

Foto – Thammy “in Moro we trust” Gretchen.

Chegamos a um ponto em que já não podemos tratar mais tais indivíduos como Napoleões e Josefinas de hospício. O estrago já está feito e a passagem para o terceiro estágio é praticamente um pulo. Torna-se apenas uma questão de tempo até que a robótica, a inteligência artificial, a engenharia genética e a biotecnologia alcancem um patamar ainda mais elevado. É a consumação do transhumanismo, tanto em sua vertente cibernética quanto em sua vertente biotecnológica. E assim personagens como o Doutor Man, o Doutor Hinelar, as máquinas assassinas do Exterminador do Futuro, os soldados genéticos do M. Bison que aparecem no malfadado filme Street Fighter – a batalha final (1994), os monstros do Doutor Keflen, a Frost, o Sektor e os androides do Dragon Ball (incluindo o Cell e o Super 17) sairão das páginas de livros e HQs e das telas televisivas para o mundo real. Uma vez concebidas, essas monstruosidades cibernéticas e biotecnológicas começam a se achar discriminadas pelos humanos normais, passado certo tempo conquistam alguns direitos e chega uma hora em que alguns desses começam a jogar em ligas esportivas ao lado de humanos normais. E ai que moral nós teremos para dizermos não a tais reivindicações, com o precedente que hoje está sendo dado com a entrada de atletas transexuais em competições esportivas femininas? Nenhuma. E dai para o quarto estágio, um mundo de terra arrasada como aqueles vistos em O Exterminador do Futuro e nos futuros do Trunks e do Cell na saga Cell de Dragon Ball Z nos quais os seres humanos são sistematicamente perseguidos e mortos perante monstruosidades cibernéticas e biotecnológicas é mais um pulo. Até enfim chegarmos ao quinto e último estágio: o fim total da humanidade. Se um dia chegarmos a esse ponto, uma coisa é certa: a esquerda identitária terá uma culpa imensa no cartório e terá que se ver diante dos tribunais da história.

Foto – Será que um dia isso se tornará realidade?

Alguém poderia dizer a mim que estou paranoico por ter visto muitos filmes e desenhos animados com cenários apocalíticos que apresentam mundos de terra arrasada. Ai é que vocês se enganam, meus caros. Hoje vemos empresas como a Tesla (a mesma Tesla que deu o golpe na Bolívia para se apoderar das reservas de lítio da nação andina – sem o lítio, carros elétricos não funcionam) desenvolvendo e apresentando seus robôs em feiras e exposições científicas. Alguns deles já são capazes de se locomover sozinhos, reconhecer rostos e se comunicar sem qualquer ajuda externa. E amanhã, do que mais serão capazes? Será que algum dia tais criaturas criadas em laboratório serão capazes de se voltarem contra os seres humanos e exterminá-los impiedosamente? Um dia, robôs, androides e ciborgues foram máquinas que só existiam em livros de autores como Issac Asimov e desenhos, filmes, jogos de videogame e seriados tais como Jetsons, Kikaider, Super Vicky, Inspetor Bugiganga, Os Centurions, Transformers, O Exterminador do Futuro, Robocop, Jaspion, Spielvan, Metalder, Jiraya, Jiban, Winspector, Solbrain, Exceedraft, animes do gênero Gundam (entre eles Gundam Wing, o único exibido na TV brasileira), seriados tokusatsu dos gêneros Super Sentai (entre eles Changeman, Flashman e Power Rangers, os mais famosos aqui no Brasil) e Kamen Rider (entre eles Kamen Rider Black e Kamen Rider Black RX), Mortal Kombat, Tekken, Dragon Ball, Futurama e tantos outros. Hoje, estão se tornando realidade.

No fim, é como já disse várias vezes: esquerda identitária e direita bolsonarista são como o yin e o yang do taoísmo, as faces de Janus na mitologia romana e os personagens Piccolo e Kami Sama da franquia Dragon Ball – duas faces de uma mesma moeda (ou se preferirem, uma unidade contraditória) que se completam um ao outro, na medida em que um justifica a existência do outro e vice-versa. E até na questão do anti-cientificismo ambos se complementam um ao outro.


Foto – O jacaré de Brizola.

Fontes:

Os pós-modernos e a semiologização da realidade – Prof. José Paulo Netto. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jmAv65ilwwE

Robôs-taxi autônomos podem ser a nova tecnologia de mobilidade para 2020. Disponível em: https://domtotal.com/noticia/1350709/2019/04/robos-taxis-autonomos-podem-ser-a-nova-tecnologia-de-mobilidade-para-2020/

Um comentário:

  1. Muito interessante! Aliás, cada dia que passa, mais eu tenho certeza que esta pandemia, além de ser castigo Divino contra a humanidade - o que ainda é pouco, por sinal - é também a oportunidade perfeita para que esses tiranos ponham em prática seus planos macabros. Mas eles que se cuidem, pois cedo ou tarde, chorarão lágrimas de SANGUE! O ovo da serpente está sendo chocado, e quando chocar totalmente, aguentem suas mordidas.

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