sexta-feira, 21 de agosto de 2020

A hipocrisia da esquerda identitária em quatro fases - assim nasce a cultura do cancelamento (imagem traduzida do russo).

 

De cima para baixo:

1 - Eu me posiciono a favor da liberdade de palavra e da liberdade de pensamentos.
2 - Cada homem tem o direito de se expressar como ele quiser e ninguém tem o direito de criticá-lo!
3 - Sim, eu sou um liberal! Mas e daí? Vivemos no século XXI.
4 - Mas acho as pessoas que não apoiam os LGBT e se posicionam a favor do modo de vida tradicional da família uns burros e grossos.

Meus comentários:

Primeiro de tudo, para evitar eventuais mal-entendidos: nós nada temos contra os homossexuais enquanto indivíduos. O que somos sim contra é a militância identitária LGBT e sua causa deletéria que no fim das contas apenas ajuda a alimentar os Bolsonaros, Felicianos e Malafaias da vida. Inclusive os homossexuais deveriam procurar se espelhar no finado Clodovil, que era um homem que respeitava a sociedade e que em vida dizia que não tinha orgulho da sexualidade dele, mas de quem ele era, e não em figuras desprezíveis como Luiz Mott e Jean Wyllys.

Sobre a imagem em questão, encontrei-a no grupo do VK Medved Gomofob/Медведь Гомофоб. Ela mostra muito bem quem são aqueles que militam a favor das chamadas causas identitárias, tais como liberação do aborto e de narcóticos e direitos LGBTQ. Ou seja, aqueles que nos EUA são chamados de Social Justice Warriors, os quais acham que vão resolver problemas como homofobia e racismo criando uma situação na qual é errado você ser heterossexual, branco e cis. São pessoas que tanto falam em liberdade de expressão e de pensamentos, mas ao mesmo tempo, paradoxalmente, cancelam todos aqueles que dizem coisas que os desagradem na primeira oportunidade.

Particularmente, acho que faltou na imagem acima mais uma fase, na qual o indivíduo em questão passa a ofender e a cancelar pessoas nas redes sociais quando alguém diz comentários que desagradam a certas militâncias politicamente corretas (vide os recentes ocorridos com a J. K. Rowling, a Lilia Schwarcz e a Marília Mendonça), pois isso é o que tais pessoas merecem por serem tão grossas e estúpidas, até que um dia aprendam a ser mais tolerantes e a não apenas tolerar as diferenças, como também estimulá-las e ai de quem questionar isso.

Assim, passam a tratar certos grupos como vacas sagradas que não podem ser criticados de forma alguma. A tal ponto que para eles transfóbico é todo aquele que, por exemplo, é contra que homens transexuais joguem ao lado de mulheres em competições esportivas, que só mulheres menstruam e que diga que o sexo biológico é realidade e apenas dois existem: o masculino e o feminino. E homofóbico é todo aquele que é contra as pautas do movimento LGBTQ, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e outras tantas, e contra a veiculação de cenas de teor homoerótico em HQs e desenhos destinados ao público infantil de empresas como a Disney, a Nickelodeon e outras.

Por essa linha de raciocínio, então se você é contra a Black Lives Matter por ela ser composta por um bando de supremacistas negros que não tem o menor pudor em vandalizar lojas e humilhar cidadãos brancos nas ruas (além de só sair das tocas deles em tempos de eleição), então você é um racista que odeia raivosamente os negros e que deseja que a Ku Klux Klan extermine todos os negros do mundo. Se você é anti-sionista, então você é um anti-semita inveterado que quer que Hitler saia da tumba dele e promova um novo Holocausto. Se você é contra o wahabismo, então você é um islamofóbico cretino que quer que haja uma nova e massiva Inquisição contra os muçulmanos do mundo todo, como aquela que os reis católicos da Espanha promoveram contra os muçulmanos espanhóis na virada do século XV para o XVI. Se você é contra a independência do Tibete e não vai com a cara do Dalai Lama, então você é um budistofóbico que quer fazer com os budistas de hoje o que foi feito aos budistas japoneses durante a Era Meidži (movimento Haibutsu Kišaku, citado em animes como Samurai X e outros) e derrubar todos os Budas do mundo, como o que o Taliban fez no Afeganistão em 2001 com os Budas de Bamiyan. Se você é contra o feminismo radical por ver que as representantes desse movimento são umas supremacistas que não querem direitos iguais, mas privilégios, e/ou a liberação do aborto por entender que isso é uma brincadeira que vai exacerbar ainda mais o hedonismo e a cultura do descartável hoje existente na nossa sociedade (afinal, a moça que engravida de um desconhecido na balada agora pode ir à clínica de aborto mais próxima que tudo está resolvido - e assim a situação se repete como um círculo vicioso ad aeternum. Ou seja, uma verdadeira ode à inconsequência e à irresponsabilidade), além de atentar para a questão da indústria do aborto, então você é um misógino maldito que odeia as mulheres, atenta contra os direitos reprodutivos delas e quer exterminá-las todas. Se você é contra a liberação da pedofilia, então você tem um ódio mortal de todas as crianças do mundo e quer acabar com todas elas. Se você é contra ONGs de direitos animais como o PETA e também contra a liberação da zoofilia, então você odeia animais e quer vê-los sendo todos extintos por meio de uma caçada monstruosa e impiedosa a todos eles. E por ai vai. Estão vendo o quão perigosa é essa linha de raciocínio dessa gente? Precisa desenhar?

O fato é que agora você pertencer a determinados grupos minoritários da sociedade virou uma verdadeira carteirada. Agora você pode muito bem ser repreendido por fazer algo de errado e usar questões como racismo, homofobia e transfobia para rebater e calar seus críticos, algo similar ao que o Felipe Neto hoje faz com aqueles que o criticam por expor as crianças (que é o atual público-alvo dele) a conteúdos inapropriados a elas (entre eles vídeos cheios de palavrões e alguns comentários de teor homoerótico, além de uma brincadeira de conteúdo sexual no livro dele) usando como carteirada a questão política (por isso que não podemos deixar que a direita bolsonarista monopolize a crítica ao garoto colorido e outros influenciadores digitais tão ou mais venais que ele). Dessa forma, por exemplo, um homem transexual que acha que é uma mulher ou mesmo um sujeito que acha que é um coelho preso a um corpo humano não serão mais tratados como Napoleões de hospício, já que agora ele tem a muleta perfeita para tal.

Mas, de onde será que surgiu a famigerada cultura do cancelamento? Nada surge do nada, e a cultura do cancelamento não é exceção. Em um ensaio publicado em 1926 em um jornal londrino, Chesterton previu esse fenômeno com um século de antecedência ao dizer o seguinte: “Nós logo estaremos em um mundo no qual um homem pode ser silenciado por dizer que dois mais dois são quatro, no qual os gritos de um grupo furioso serão erguidos contra qualquer um que disser que as vacas têm chifres, no qual as pessoas irão perseguir a heresia de dizer que o triângulo é uma figura de três lados e enforcar um homem por enlouquecer uma multidão com a notícia de que a grama é verde”. O ovo da serpente chamada cultura do cancelamento foi chocado por ninguém menos que o politicamente correto em voga nos últimos 30 anos ao criar uma situação na qual a menor crítica a determinados grupos já é estigmatizada com palavras como racismo, homofobia, transfobia e outras afins. E junte a isso na receita da poção o fenômeno da “semiologização da realidade” (apud José Paulo Netto), no qual para um indivíduo a fantasia subjetiva está acima da realidade e não o contrário, mais o surgimento das redes sociais e uma crescente agressividade das militâncias politicamente corretas e mexa bem que pronto, a receita do desastre já está pronta. Agora a serpente saiu do ovo e está à solta, picando quem quer que ela venha a encontrar no caminho dela.


E que diferença há entre esses militantes de Internet da esquerda identitária que recentemente cancelaram nas redes sociais figuras como a J. K. Rowling, a Lilia Schwarcz e a Marília Mendonça por dizerem coisas que lhes desagradaram e o gabinete do ódio comandado pelo 02 e pelo 03, que por meio das redes sociais destrói a reputação daqueles que se desentenderam com Bozo pai, como foi o caso de Joice Hasselmann, Alexandre Frota, o finado Bebbiano e outros, ou mesmo a estrutura de gabinete do ódio que o Ciro Gomes e os partidários do político cearense estão criando também nas redes sociais na qual eles destroem a reputação do Lula, do PT e dos outros partidos da esquerda brasileira (o mesmo Cirão da Massa que, diga-se de passagem, acusa hipocritamente veículos como o Brasil 247 e o DCM de serem o gabinete do ódio petista)? Em essência, nenhuma. Os fins são os mesmos e os meios, idem. Apenas o muda a polaridade ideológica. Ou seja, até nisso a direita bolsonarista e a esquerda identitária se completam.

Um comentário:

  1. Verdade. Tanto os militantes petistas quanto os bolsonaristas são completamente cegos e alienados, e só faltam cuspir marimbondos quando suas vacas sagradas - que são os políticos dos quais tanto babam o ovo - são criticadas, e suas verdadeiras faces mostradas ao mundo, sem máscaras.

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