Foto - A hidra.
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Em associação com a mídia venal (Globo à frente), a Lava Jato forma uma frente
extraparlamentar nas ruas formada basicamente pela classe média branca e
estabelecida, retirando qualquer possibilidade de continuação do governo eleito
nas urnas, que já se via às voltas com as pautas-bomba (vindas de parlamentares
como Eduardo Cunha e Aécio Neves) destinadas a tornar inviável seu governo
(página 171).
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Com a Lava Jato, cria-se um clima de um crescente sentimento de que todo o
processo era conduzido segundo um complô elitista contra os interesses da
população e à revelia do voto popular que esgarça o consenso democrático
construído a duras penas a partir de 1985 (página 172).
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A Lava Jato opera uma ofensiva que criminaliza não só o PT, mas a própria
classe política enquanto tal. O aparato jurídico-policial atua no sentido de estigmatizar
toda a atividade política para ocupar o vácuo de poder em seu benefício, ao
passo que o interesse da elite era defenestrar o PT do poder para colocar seus
representantes orgânicos no poder (página 172).
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A ideia era primeiro exercer o poder sem a necessidade do voto para em seguida
montar um fundo partidário com o saque da Petrobrás e da Odebrecht. Para isso,
valendo-se do falso moralismo do combate à corrupção (página 172).
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A Lava Jato avança e se torna fiadora de todo um arranjo de poder viável,
valendo-se de expedientes como chantagens, extorsões e intrigas que contamina
toda a atividade política. Que por sua vez conta não apenas com a blindagem da
grande mídia, como também apoio do Departamento de Estado norte-americano
(páginas 172-173).
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A Lava Jato começa a almejar sua perpetuação e institucionalização duradoura
por meio de dossiês e ameaças mais ou menos veladas a todas as instâncias de
poder estatal e do dinheiro proveniente do acordo com os ianques. Ao que tudo
indica, os termos desse “acordo” envolveram a destruição do setor de engenharia
civil de ponta brasileiro e a entrega da Petrobrás, do mercado de petróleo, gás
e gasolina e sua capacidade de refino via criminalização e estigmatização das
empresas brasileiras. Em troca de dinheiro e “parceria técnica” para o projeto
privado de poder de Moro, Dallagnol, Palludo e companhia limitada (página 173).
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A Lava Jato tentou colocar o PSDB, partido orgânico da elite brasileira, de
volta ao poder. O antipetismo reinante na mídia hegemônica almejou localizar o
descontentamento só no PT, intentando mata-lo de vez. Só que a caixa de Pandora
foi aberta, e o público passou a desconfiar de todos os políticos e de toda a
política. Assim, os brasileiros chegam à eleição de 2018 com ódio da política,
que, para eles, é a causa de sua pobreza crescente e falta de esperança (página
174).
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Assim se dá o pulo do gato Lava Jato-Bolsonaro. Dado o desgaste dos políticos
da direita tradicional, Bolsonaro, até então um Deputado Federal do baixo clero
inexpressivo e ligado a milicianos cariocas, se mantem como o único candidato
capaz de fazer frente ao Partido dos Trabalhadores. Com Lula convenientemente
preso para não disputar a eleição, Bozo desponta como a única opção do campo
conservador para tentar vencer Fernando Haddad (página 174).
Reflexão
XIII – A meu ver, toda essa ofensiva da Lava Jato contra o sistema político
brasileiro também foi possível em grande medida não apenas pela blindagem da
grande mídia, como também o desconhecimento a respeito do Moro de antes da Lava
Jato, quando foi convivente com a corrupção tucano em episódios como a Operação
Maringá e o caso Banestado e suas ligações um tanto nebulosas de longa data com
doleiros tais como Dario Messer (o rei dos doleiros), Nelson Belotti e Alberto
Yousseff (cujos nomes apareceram tanto no Banestado quanto na Lava Jato). Assim
como o silêncio em torno do caso Tacla Duran, envolvendo o submundo da
indústria das delações premiadas e da própria Operação Lava Jato. Caso esse que agora Augusto Aras, atual
Procurador-Geral da República, tirou da gaveta. Assim Moro pode criar a imagem
de paladino da honestidade e da moralidade que veio passar o país a limpo e
acabar com o flagelo da corrupção. Vide o caso de José Padilha, diretor dos
dois filmes Tropas de Elite e do seriado do Netflix “O mecanismo”, que até Moro
virar ministro de Bolsonaro achava que ele era uma espécie de samurai ronin
(algo que ele nunca foi, visto que no Japão pré-moderno ronin era o termo usado
para samurais que não serviam a senhor feudal algum, sendo que Moro sempre foi
ligado aos tucanos do Paraná desde que se tornou juiz).
Reflexão
XIV – Hoje muito se fala do gabinete do ódio do governo Bolsonaro, comandado
pelo 02 e pelo 03 e que agora, visto que o barco bolsonarista está afundando,
gradativamente migra para o cirismo (quem será o Carluxo e o Allan dos Santos
do cirismo?). E o que foi a Lava Jato, que acusou Lula de ser o chefe supremo
dos esquemas de corrupção do país por meio do procurador da República Deltan
“Mister Power Point” Dallagnol, divulgou ilegalmente grampos de uma conversa de
Dilma com Lula na imprensa, ajudou a derrubar a Dilma, matou a Dona Marisa indiretamente,
prendeu Lula sem provas com claro intento politiqueiro e atuou como juiz ladrão
nas eleições 2018, se não a predecessora direta do gabinete do ódio dos filhos
mafiosos do Presidente e indireta do gabinete do ódio dos ciristas? A esquerda
precisa abir o olho a respeito do novo aspirante a Bolsonaro, o Cirão da Massa.
Reflexão
XV – E a própria Lava Jato, nesses anos todos, atuou como se fosse uma espécie
de milícia jurídico-policial. Primeiro criando uma ordem jurídica paralela,
literalmente rasgando a Constituição de 1988, algo visível principalmente no
processo politiqueiro que levou à prisão de Lula. Depois usando métodos
análogos aos que milicianos cariocas usam, como chantagens e extorsões. Agiu
como uma espécie de poder paralelo, tal qual as milícias na periferia da antiga
capital federal hoje em dia. Não é de se surpreender que tenham não apenas
ajudado, como também se imiscuído com um miliciano, a despeito do posterior
rompimento entre os dois blocos de poder.
Reflexão
XVI – E quem acha que o Sérgio Moro não ia agir como juiz ladrão (parafraseando
o deputado psolista Gláuber Braga) em um eventual segundo turno entre Ciro e
Bolsonaro igualmente muito iludido está. Certamente puxaria algum podre
pregresso do pedetista para desmoralizá-lo e favorecer Bolsonaro (incluindo o dinheiro que o político sobralense teria recebido de Marcos Valério, sobre o qual o DCM recentemente noticiou). Afinal, ele
não conspirou dia e noite a partir de 2014 para que um esquerdista volte ao
poder pela via eleitoral e execute uma agenda diferente daquela dos golpistas
que derrubaram a Dilma em 2016. Caiu assim por terra o argumento cirista de que
o Cirão da Massa era o candidato mais indicado para enfrentar o miliciano
carioca no segundo turno das eleições 2018 por causa do antipetismo.
Reflexão
XVII – O que os ciristas não percebem é que o tal do sentimento antipetista de
que eles falam é uma meia-verdade. Na verdade, o que houve nas eleições de 2018
é um sentimento de ódio e repulsa não apenas ao PT, como também a todos os
políticos e siglas partidárias, inoculado na população pelas intrigas da
Operação Lava Jato. Algo evidente quando vemos que os políticos da direita
tradicional não apenas foram repudiados em manifestações a favor do impeachment
de Dilma (vide a manifestação de 2016 em São Paulo na Avenida Paulista, na qual
Alckmin e Aécio Neves foram xingados e hostilizados pelos manifestantes), como
também nenhum deles emplacou e foi ao segundo turno das eleições 2018.
Políticos esses que a Lava Jato e a elite brasileira originalmente queriam
colocar no poder e que foram os verdadeiros perdedores de 2018 (diga-se de passagem, os ciristas se prendem muito ao resultado do segundo turno e se esquecem do desempenho pífio dos políticos da direita tradicional no primeiro turno). Bolsonaro
simplesmente capitalizou tal situação em seu favor, surfou na onda da Lava Jato
e criou para si uma imagem de forasteiro do sistema que veio moralizar a coisa
toda (isso e mais a ajuda da facada e da assessoria de Steve Bannon e do
esquema de comunicação Cambridge Analytica).
Reflexão
XVIII – Nildo Ouriques diz que a ascensão de Bolsonaro se deu por causa do
desgaste do sistema petucano. Mas o que foi o desgaste do sistema petucano de
que fala, se não a terra arrasada da Operação Lava Jato sobre o sistema
político brasileiro e assim reproduzindo aqui o desastre político que a
Operação Mãos Limpas legou à Itália nos anos 1990? Mais precisamente, uma
consequência do jogo politiqueiro da Lava Jato em conluio com a mídia venal?
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