Foto - Dudu Bananinha e Steve Bannon juntos.
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A relação da família Bolsonaro com Steve Bannon e sua turma é envolta em
mistérios. Conhecem-se desde no mínimo 2017, quando o lobista Gerald Brandt
convidou os Bolsonaro para um tour de apresentação à extrema direita dos EUA.
Em agosto de 2018, 03 confirmou a participação de Bannon na campanha do pai,
admitindo seu papel como “conselheiro” e que “nada de financeiro” houve
(páginas 174-175).
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Para a extrema direita dos EUA, que já faz algum tempo se preparava para uma
expansão internacional, Bolsonaro representava a figura ideal de exportação
para o sul global, tal qual o Brexit representou sua inserção na Europa (página
175).
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A campanha bolsonarista foi um perfeito exemplo das táticas de Bannon, antes
usadas na eleição de Trump e no Brexit, só que aplicada às colônias. No Brasil
não se podia falar em ameaça islâmica e nem em orgulho nacional de potências
imperialistas que se olham como racialmente superiores. A ênfase teria que
estar nos costumes e na segurança pública, ao passo que o nacionalismo teria
que entrar como bandeira vazia, mera alusão a símbolos nacionais sem qualquer
significado econômico (páginas 175-176).
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Tanto nos EUA quanto no Brasil, a emancipação de minorias do progressismo
neoliberal é elegida como o inimigo comum da vez (página 176-177).
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Do mesmo modo que os valores do neoliberalismo progressista defende nos EUA
foram transformados nos culpados pela pobreza e pelo desemprego americano, a defesa
de minorias perseguidas foi criminalizada pelo bolsonarismo. A partir disso,
todos os ressentimentos privados e todos os desejos reprimidos do eleitorado
puderam ganhar expressão política (páginas 180-181).
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Como forma de ameaçar e chantagear a elite brasileira e sua imprensa, Bolsonaro
usa outra tática de Bannon e Olavo de Carvalho (vulgo Sidi Muhammad Ibrahim
Isa): posa-se perante a população como o lutador contra o “sistema”, abstrato e
nunca definido exatamente para ganhar o rosto do inimigo da vez (páginas
186-187).
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O WhatsApp possui uma lógica distinta de outras redes sociais: as conversas são
privadas, restritas a grupos de amigos e familiares. Como a fonte das notícias
é desconhecida, a credibilidade de cada notícia é atestada por quem a enviou
primeiro para o grupo, geralmente um parente de confiança (página 190).
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O segredo da eficácia dessas redes é o anonimato das fontes. Assim, torna-se
possível opor a credibilidade da imprensa tradicional ou de fontes alternativas
à credibilidade familiar, do pastor da Igreja ou dos amigos mais próximos. Foi
nessas redes que a vitória eleitoral (fraudada previamente de várias maneiras)
do miliciano carioca foi obtida. É por meio delas que as bolhas de
contrainformação de Igrejas e milícias blindam grupos sociais inteiros contra
qualquer reflexão crítica (páginas 190-191).
Reflexão
XIX – Como já dito na introdução, Nildo Ouriques diz que a ascensão de
Bolsonaro ao poder nada teve haver com Bannon e o sistema de comunicação
Cambridge Analytica. Mas, só para começo de conversa, como Bolsonaro, que foi
um Deputado inexpressivo do baixo clero durante 27 anos chegaria à Presidência
da República sem um massivo sistema de comunicação nas redes sociais, em
especial o Facebook, o WhatsApp e o YouTube? Segundo Thiago dos Reis, do canal
do YouTube “Plantão Brasil”, o sistema de comunicação o Bolsonaro atua da
seguinte maneira: pega as narrativas que a imprensa tradicional veicula em seus
telejornais, e em seguida a distorce criando a própria narrativa. Exemplo claro
dessa forma de distorção da realidade pode ser visto nos eventos das
manifestações do “Ele não”, ainda em 2018, na qual o sistema de comunicação de
Bolsonaro nas redes sociais utilizou-se de fotos de manifestações ocorridas em
outros lugares como forma de desmoralizar as mulheres que saíram às ruas para
protestar contra a possibilidade do miliciano carioca tornar-se Presidente da
República. E é graças a tal sistema que Bolsonaro ainda se mantem no poder,
embora precariamente. E isso sem contar com o gabinete do ódio dos filhos
mafiosos do Presidente, que exerce o papel de destruir a reputação dos rivais
políticos e ex-aliados do Presidente nas redes sociais (vide o finado Bebbiano,
Dória, Joice Hasselmann e Moro). Sem toda essa estrutura de comunicação (que agora
está migrando para o cirismo) que Bolsonaro adquiriu por meio da assessoria
recebeu de Bannon, o miliciano carioca jamais sairia do ponto em que estava até
então.
Reflexão
XX – Além disso, Nildo Ouriques parece subestimar Steve Bannon, que comanda ao lado
do belga Mischael Modrikamen um movimento de Extrema Direita mundial, o The
Movement, espécie de Internacional fascista dos dias de hoje, que atua
principalmente na América do Norte e na Europa. Bannon não apenas ajudou Trump
a se eleger presidente dos EUA (com os dois rompendo posteriormente), como
também alavancou o Brexit na Inglaterra e políticos como o húngaro Viktor
Órban, o italiano Matteo Salvini (ao qual o Evo Morales entregou o Cesare
Battisti), o holandês Geert Wilders e assessorou Marine Le Pen na última
eleição francesa. Além disso, Bolsonaro tentou indicar seu terceiro filho, o
Dudu Bananinha, como embaixador em Washington não por mera questão de nepotismo
(típico da familícia Bolsonaro), mas para uma criar uma ponte de comunicação
direta com a extrema direita norte-americana, com Bannon e Olavo de Carvalho
(vulgo Sidi Muhammad Ibrahim Isa). Ele, que foi indicado pelo próprio Bannon
como o embaixador do The Movement na América Latina.
Reflexão
XXI – Falando em América Latina, Nildo Ouriques, Waldir Rampinelli e outras
figuras do IELA (Instituto de Estudos latino-americanos), que com razão
criticam o eurocentrismo (que, diga-se de passagem, mesmo em termos de Europa é
bem excludente, na medida em que privilegia muito a parte ocidental do Velho Continente
e marginaliza as demais) no ensino de ciências humanas no Brasil, parecem
padecer de certo latinoamericanocentrismo. Haja vista que o Presidente do IELA
já chegou a dizer que não há uma ascensão de governos de direita. Se ele desse
uma olhada a leste do Atlântico, veria a ascensão dos populistas de direita na
Europa como Matteo Salvini na Itália, Viktor Órban na Hungria, Adrzej Duda na
Polônia, Marine Le Pen na França, Boris Johnson na Inglaterra e Geert Wilders
na Holanda. Na Alemanha, o AfD tornando-se a segunda força política do país de
Goethe, Nietzsche e Wagner e ocupando o lugar antes ocupado pelo SPD, o partido
político alemão mais antigo em atividade e fora do poder desde 2005. E mais o
golpe de Estado que levou à queda de Viktor Janukovyč na Ucrânia em 2014 que a
Sara Winter quer trazer para o Brasil. Na Ásia, governos como o de Rodrigo
Duterte nas Filipinas e de Narendra Modi na Índia. No mundo muçulmano, queda de
Muammar al-Kaddafi na Líbia em 2011, sucessivos golpes de Estado no Egito a
partir de 2011, guerra civil síria a partir de 2011, Estado Islâmico em países
como Iraque, Síria, Líbia e Nigéria, Boko Haram na Nigéria. Como não dizer que
há uma onda reacionária em várias partes do mundo?