sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A nova cara do velho: a genealogia de João Amoedo.



Foto – João Amoedo.

Segundo postagem do professor Ricardo Costa de Oliveira em seu perfil no Facebook feita em 25 de agosto de 2018, essa é a genealogia de João Amoedo, candidato a presidência da República pelo partido NOVO, o partido do banco Itaú:
“Novo que é velhíssimo - Novamente oligarquias velhas ocultas! Genealogia política dentro do Estado do candidato neoliberal João Dionisio Filgueira Barreto Amoedo, filho de Armando Rocha Amoedo, médico radiologista pediátrico e funcionário público federal, do Pará, radicado no Rio de Janeiro e de Maria Elisa Souto Filgueira Barreto Amoedo, família citada nas conexões plutocráticas do Panama Papers e das principais oligarquias políticas familiares do Rio Grande do Norte. O casamento de Armando Amoedo e de Maria Elisa foi no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, em 1961, tendo o ex-Presidente e senador Juscelino Kubitschek de Oliveira e sua esposa, como padrinhos da noiva. João Amoedo é neto materno de Ciro Barreto de Paiva, advogado, grande empresário nos ramos da hotelaria, construção civil e investimentos no RN e no RJ e de Maria Luiza Souto Filgueira Barreto. Ciro Barreto também foi funcionário público e começou a sua escalada quando foi presidente da Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Servidores Públicos no Rio Grande do Norte. Ciro Barreto de Paiva era filho do Desembargador Horácio Barreto de Paiva Cavalcanti, presidente do Tribunal de Justiça do RN e de Ubaldina Diógenes Barreto, neto do Cel. João Bernardino de Paiva Cavalcanti, deputado estadual e de Inácia de Albuquerque Barreto de Paiva, das mais antigas oligarquias familiares do Nordeste. O candidato presidencial João Dionisio Filgueira Barreto Amoedo é bisneto (o pai da avó materna) do também Desembargador João Dionísio Filgueira, de quem herda o nome, ex-presidente do tribunal de Justiça do RN, ex-deputado estadual, vice-governador do RN, assumiu o governo várias vezes e de Eliza Souto, ambos também das antigas oligarquias políticas da região. O irmãos da mãe, tios maternos, todos importantes na política regional: Luiz Sérgio Souto Filgueira Barreto foi presidente da CIDA (Companhia integrada de Desenvolvimento Agropecuário) e casou com Aldanira Ramalho Pereira, filha do Governador do RN, Radir Pereira. Alvaro Alberto Souto Filgueira Barreto foi presidente da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança, suplente do senador Agripino Maia. Depois na Companhia Hipotecária Brasileira. Elias Antonio Souto Filgueira Barreto casou com Luciana Pessoa Queiroz, da família do ex-presidente da República Velha, Epitácio Pessoa. Uma das lojas mais luxuosas e caras em Natal é de Tereza e de Maria Isabel Tinoco Souto Filgueira Barreto, a Bebel, da loja Tereza Tinoco, esposa de Mario Roberto Souto Filgueira Barreto. Como podemos analisar por esta breve análise genealógico-política, trata-se de mais uma das típicas famílias brasileiras do poder regional incrustadas historicamente no Estado ao longo dos séculos, desde antepassados na grande propriedade rural escravista do Antigo Regime, fazendo política o tempo todo dentro do extrativismo estatal, sempre usando o Estado e os cargos públicos ao máximo para enriquecerem e concentrarem renda, cada vez mais ricos, como João Amoedo declarou patrimônio de 425 milhões de reais, cerca de 220 milhões em aplicações ou fundos de renda fixa, muitas vezes aplicando em fundos públicos ligados ao mesmo Estado que querem diminuir para os outros - tudo para pregarem o (Estado)mínimo para os trabalhadores pobres e as maiorias historicamente excluídas da cidadania, os sem educação, saúde, segurança, justamente pela ação dessas oligarquias políticas familiares do atraso político e do neoliberalismo promotor de desigualdades sociais”.
Ou seja, mais um caso de um individuo que perante o povo se posa como o novo, mas que na verdade nada mais é que o velho com verniz novo. É um Collor genérico, um Bolsonaro sem retórica truculenta, ou como disse uma vez Guilherme Boulos, mais um dos tons de Temer. E mais um exemplo de trajetória de vida que demole o conto da carochinha da meritocracia que muitos por ai advogam e da eterna relação de amor e ódio que os liberais nutrem em relação ao Estado que eles dizem tanto demonizar.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Haddad, o petucano: a esquerda brasileira e suas narrativas.



Foto – Fernando Haddad.
Recentemente, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, foi escolhido como vice-presidente da chapa petista junto com Manuela D’Ávila (e já se encontra sob a mira da justiça por causa de suposto mau feito enquanto foi prefeito de São Paulo a respeito das ciclovias [e eu particularmente, não duvido que a mão de Raquel Dodge, o poste do vampirão, esteja por trás disso]). Terá sido uma boa escolha?
Em suas obras (entre elas “A radiografia do golpe” e “A elite do atraso”), Jessé Souza menciona que um dos grandes problemas da esquerda no Brasil reside na falta de narrativas próprias: ela fala como se fosse direita ao pensar os problemas do país em conceitos como o de patrimonialismo, populismo (que, da maneira como é apresentado, nada mais faz que demonizar o Estado sempre que ele é ocupado por forças ligadas à partidos de corte popular) e homem cordial. Conceitos esses oriundos das obras de figuras como Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro, Francisco Weffort e Roberto da Matta, expoentes do pensamento liberal conservador cujas teorias conquistaram tamanho prestígio que pessoas das mais diversas colorações ideológicas pensam segundo tais linhas, conseguido pelo fato de a despeito do discurso reacionário e falseador da realidade se posar como crítica social. A tal ponto que segundo Jessé Souza a Operação Lava Jato é fruto dessa sociologia, assim como o governo FHC.
E, ao mesmo tempo em que Sérgio Buarque de Holanda e outros expoentes daquilo que Jessé Souza chamada de a “sociologia do vira-lata” alcançaram grande prestígio acadêmico (já que suas ideias mostraram-se interessantes e palatáveis a Casa Grande), houve um eclipse de figuras como Ruy Mauro Marini, Alberto Guerreiro Ramos, André Gunder Frank e outros não ligados ao pensamento uspiano (não custa lembrar que a USP foi criada em 1934 para criar uma intelectualidade liberal que servisse de contraponto ao nacionalismo varguista depois que a oligarquia cafeeira que mandava no país durante a República Velha foi vencida em 1930 e 1932).
E é sobre isso que gostaria de falar no presente artigo. Não para atacar Haddad ou coisa do tipo, mas para alertar sobre esse problema. Do contrário, os setores populares continuarão levando porrada e botinada da Casa Grande e do imperialismo ad eternum. Um dos motivos pelos quais a esquerda (excetuando-se o PCO e outros partidos de menor expressão) tem agido como uma barata tonta desde 2013 diante da ofensiva da direita capitaneada pela Operação Lava Jato e a Rede Globo reside justamente na ausência de uma narrativa alternativa que se contrapunha ao discurso que se contraponha ao discurso de seus algozes. Ou seja, um discurso que se contraponha à retórica da suposta luta contra a corrupção capitaneada pelos juízes e procuradores da Car Wash e que mostre o quão farsesco isso é. A tal ponto que se chegou ao ponto de vermos bizarrices como a Luciana Genro e outras figuras da esquerda brasileira defenderem uma operação policial comandada por pessoas muitas vezes ligadas às tradicionais oligarquias que mandam no país desde o século XVI por meio de laços de parentesco e matrimônio que usa o conto do combate à corrupção como subterfúgio para fazer a mais deslavada e baixa politicagem.
E Haddad, um representante daquilo que o sociólogo potiguar chama de a ala crítica da classe média, é um dos que assim pensam o Brasil e seus problemas. Isso o aproxima de figuras tão díspares ideologicamente dele tais como o ministro do STF Luís Roberto Barroso e a estrela da Lava Jato Deltan “Power Point da Convicção” Dallagnol. No que pode muito bem ser visto em um artigo de autoria do próprio Haddad publicado na edição nº129 da Revista Piauí, intitulado “vivi na pele o que aprendi nos livros: um encontro com o patrimonialismo brasileiro” e citado por Jessé Souza em “A elite do atraso”.
Mais recentemente, Haddad teceu comentários sobre a crise pela qual a Venezuela e a Nicarágua passam no presente momento em uma sabatina promovida pelo site Catraca Livre, na contramão da posição oficial de seu próprio partido sobre o que se passa nos dois países caribenhos. Lá Haddad foi entrevistado por Gilberto Dimenstein e quando perguntado sobre o fato de que os governos Lula e Dilma nunca fizeram uma crítica contundente aos dois países caribenhos e se o PT iria repensar esse tipo de coisa, Haddad responde que os governos petistas nunca tomaram partido em conflitos na região (o abrigo a Zelaya em 2009 foi o que então?), que essa é uma posição correta da chancelaria, que ambos os países se encontram à beira de uma guerra civil, que na Venezuela há uma tradição golpista em ambos os lados e a ausência de estabilidade institucional e que Hugo Chávez se manteve fechando o regime. Perguntado sobre se os dois países são ou não ditaduras, Haddad respondeu que em situações de conflito aberto um país não se pode ser caracterizado como democracia. Falou o que falou sem tocar no cerne da questão, que envolve a ingerência do imperialismo anglo-americano em ambos os países e seus interesses. Quando ouvi tais comentários, tive a impressão de que quem estava falando era ninguém menos que Jair Bolsonaro, só que sem a retórica truculenta do político carioca e cara-metade político-ideológica de Jean Wyllys.
Em muitos de seus artigos na Revista Caros Amigos, Gilberto Felisberto Vasconcellos cunhou a expressão “petucanismo”, posteriormente também empregada por Nildo Ouriques e outros. Segundo o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, a expressão petucanismo se refere às similaridades de cosmovisão entre o PT e o PSDB, a despeito de situarem-se em diferentes posições dentro do espectro político.

Foto – Gilberto Felisberto Vasconcellos.
Em meu entendimento, o petucanismo de que tanto o colunista da finada Caros Amigos quanto o presidente do IELA falam em realidade é um fenômeno de amplitude muito maior, decorrente do fato de que tanto a esquerda quanto a direita brasileira pensarem conforme as ideias dos já citados expoentes do conservadorismo liberal brasileiro (segundo os quais o grande problema do Brasil é o fato de que o Estado é sequestrado por uma elite política [tirando assim o “impoluto” mercado da reta] e que essa o privatiza em seu favor). Bem provavelmente, foi isso que deu margem para Leonel Brizola e Darcy Ribeiro em vida classificarem o PT como “galinha que cacareja para a esquerda e bota ovos para a direita” e “esquerda que a direita gosta”. Esquerda essa cuja existência em um primeiro momento foi interessante ao sistema vigente de forma a fazer um contraponto a propostas mais radicais de esquerda (não nos esqueçamos de que enquanto oposição o PT nutria certo ranço quanto a Getúlio Vargas e só posteriormente foi rever tal posicionamento).
E isso é algo que não está limitado apenas aos dois partidos específicos em questão, diga-se de passagem. Percebe-se, por exemplo, a influência das ideias de Raymundo Faoro em sua obra “Os donos do poder” no discurso do MBL quando Kim Kataguiri e Fernando Holiday advogam mais mercado e menos Estado, a ponto de olhar o segundo como o espaço das virtudes por excelência (sem se dar conta de que a corrupção na política e no setor privado andam juntas, a ponto de uma não existir sem a outra). Ou quando Jair Bolsonaro, em entrevista, afirmou que mais Estado é sinônimo de mais infelicidade na vida das pessoas. Mais recentemente, em alguns discursos e pronunciamentos nos debates, repetiu as mesmas ideias a esse respeito. Ele, que tem como guru econômico o banqueiro Paulo Guedes e que em seu programa de governo (como na política econômica e exterior) em sua essência repete a cartilha dos governos FHC e Temer. Diga-se de passagem, coisas como o fato de Jair Bolsonaro ser (parafraseando Guilherme Boulos) mais um dos tons de Temer (o tom sionista de Temer para ser mais exato), suas ligações com o Instituto Millenium (o qual é ligado à Atlas Network dos irmãos Koch, os patronos da direita ultraliberal da qual Bolsonaro faz parte) que Alex Solnik aventou em vídeo recente postado no TV247, as propostas descabidas para educação e a maneira como ele encara questões como a corrupção me preocupa muito mais que o que ele pensa em relação a minorias e certas pautas defendidas pela esquerda lacradora. Bolsonaro em realidade é um tucano de retórica truculenta e que veste o figurino do Partido Republicano. Um tucano Nutella, trocando em miúdos.
Mesmo que não sejam as influências diretas do discurso do MBL e de Jair Bolsonaro (que não é tão avesso à democracia como Gilberto Dimenstein pensa), isso não muda o fato de que as ideias de livros como “Raízes do Brasil” e “Os donos do poder” e o prestígio que elas detêm nos meios acadêmicos ajudam a criar o terreno propício para que as ideias neoliberais vindas de fora (como as da escola austríaca que o MBL tanto defende) e aqui defendidas por think thanks como o Instituto Millenium tenham o terreno fértil para que proliferem como ervas daninhas. E o mais importante de tudo a meu ver: que o discurso que adotam possui o mesmo conteúdo e essência do discurso dos expoentes do liberalismo conservador de matiz uspiana.
Igualmente pode-se perceber a influência dessas ideias dos expoentes do conservadorismo liberal brasileiro quando alguém como o Nando Moura fala que o PT é a maior quadrilha do país, sem levar em consideração que a boca de fumo da corrupção não está nos políticos que periodicamente aparecem nos escândalos noticiados pela imprensa, e sim na intermediação financeira (além do fato de os petistas, perto de empresas de mídia e partidos como o PSDB e o DEM, serem grandes trombadinhas – basta ver o montante de dinheiro que o mensalão petista moveu em comparação com casos como o Banestado, o trensalão tucano, a privataria tucana e a sonegação fiscal da Rede Globo). Ou mesmo em periódicas postagens de Deltan Dallagnol em seu perfil no Facebook (o qual por seu turno fala como se não fosse parte do mundo das elites corruptas e das autoridades públicas que fazem o que querem e não são punidas de que ele tanto fala nessas postagens. Logo ele, que é filho de um desembargador).
Marina Silva, o tom verde de Temer, igualmente trata o problema da corrupção como endêmico do Estado, nunca coloca o setor privado no meio e apresenta os políticos como os grandes chefões dos esquemas de corrupção (e assim transformando aviãozinho em chefão do tráfico, sintoma em doença). Ou seja, a mesma retórica criminalizadora do Estado e da política especialmente quando no poder não estão forças ligadas às velhas oligarquias, mas partidos de corte popular que pode ser vista tanto no discurso do PSDB quanto do MBL e de Bolsonaro. Ela, que tal qual Luciana Genro mostrou-se favorável à Farsa a Jato e que foi favorável ao impeachment de Dilma Rousseff. Mas o que esperar de alguém que tem como mecenas a Neca Setúbal do Itaú, o mesmo Itaú que recebeu do governo Temer uma isenção fiscal de R$ 25 bilhões (ou seja, o equivalente a quase 500 malas do Geddel em isenção fiscal)? Discursos similares podem ser vistos nos demais tons de Temer.
E, diga-se de passagem, não é apenas em questões ligadas à política interna brasileira que a esquerda repete as narrativas produzidas pela direita: recentemente, o PSTU fez coro com a Folha de São Paulo a respeito do se passa na Nicarágua no presente momento (como fez em vários episódios anteriores). Os ursinhos morenistas chegaram ao ponto de explicar ao jornalão que a Nicarágua é uma ditadura. Nisso de dividir da forma mais maniqueísta possível as nações entre democracias e ditaduras eles acabam repetindo o mesmo discurso de figuras como Bolsonaro quando ele ataca países como o Irã, a Venezuela, Cuba e Bolívia por supostamente serem ditaduras e fala que o Brasil precisa de uma política externa livre de direcionamentos ideológicos. Segundo Rui Pimenta Costa, com isso o PSTU está é absolvendo as nações imperialistas, dando-lhe um atestado de boa conduta.
Segundo Ramez Maalouf em um de seus artigos publicados no Correio da Cidadania, a dinastia Bush fez o que fez no Iraque em parte porque os mitos criados pela mídia ocidental a respeito do país mesopotâmico (incluindo os mitos de que o país era governado por uma brutal ditadura unipartidária sob a regência do partido Baath[1] e da opressão de uma minoria sunita sobre uma maioria xiita e os curdos) foram aceitos de forma acrítica e até hoje ecoados por amplos setores de esquerda.
Outro episódio digno de menção é a repercussão que a recente entrevista de Jair Bolsonaro no Jornal Nacional, concedida em 28 de agosto de 2018, teve nas redes sociais. Vi muita gente principalmente da esquerda lacradora batendo palmas para a jornalista Renata Vasconcellos por ela ter dito que não aceita receber menos que um homem que exerça a mesma função que uma mulher, entre outras coisas. Isso ao mesmo em que Bolsonaro teve a ousadia jogar na cara da Rede Globo em rede nacional alguns de seus podres (entre eles seu apoio ao golpe de 1964 e a menção aos investimentos que a emissora da família Marinho recebe do Estado há muitos anos após a jornalista insinuar que ela paga o salário de Bolsonaro por meio dos impostos). Algo de fazer Leonel Brizola revirar-se de seu túmulo.
Resumindo a ópera, os vários lados em questão podem discordar em aspectos secundários, mas no essencial estão de acordo: pensam o Brasil segundo os mesmos conceitos e ideias, embora possam chegar a conclusões com algumas divergências entre si. E bem provavelmente, a dimensão política que Nildo Ouriques atribui ao termo seja em realidade uma consequência da dimensão ideológica que Gilberto Vasconcellos atribui. Chego a essa conclusão obviamente tendo como base a minha leitura de obras como “Elite do atraso” e “Radiografia do golpe”, de Jessé Souza e ligando todos esses pontos entre si.

Foto – Petucanismo, as convergências de cosmovisão entre a esquerda e a direita brasileira.
Fontes:
Souza, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: LeYa, 2017.
BOLSONARO “A corrupção é um câncer na política brasileira”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MYUA7EZ1Z4w&ab_channel=CANALBOLSONARO2018
Bolsonaro é um títere do Millenium. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0_Epi3CGfe8&ab_channel=TV247
Darcy Ribeiro, na visão de Gilberto Vasconcellos: pensador rebelde e anti-imperialista. Disponível em: https://jornalggn.com.br/blog/roberto-bitencourt-da-silva/darcy-ribeiro-na-visao-de-gilberto-vasconcellos-pensador-rebelde-e-anti-imperialista
Haddad contraria PT e adota discurso da direita sobre Venezuela. Sobre os EUA? Nada diz. Disponível em: https://duploexpresso.com/?p=97307
Jair Bolsonaro Liberalismo Econômico. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=07cmQvXuONs&ab_channel=JohnReilly
Jair Bolsonaro| Melhores Momentos| Debate Rede TV (17/08/2018). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=L-m0RDIlkVU&ab_channel=Conservadorismo
Jair Bolsonaro no Jornal Nacional | Completo 28/08/2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-LaNZaes7ig&ab_channel=TubaldoVale
Marina Silva fala sobre escândalos de corrupção e plano de governo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Fbaf0kWHgxY&ab_channel=JornaldaRecord
Os sete mitos criados pela mídia ocidental que ajudaram a destruir o Iraque (1). Disponível em: http://www.correiocidadania.com.br/colunistas/ramez-philippe-maalouf/72-artigos/imagens-rolantes/10086-submanchete250914
PSTU e Folha de São Paulo contra a Nicarágua. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7RlHJkZTewU&ab_channel=CausaOperariaTV
“PTucano” (4): Haddad contraria PT e adota discurso da direita sobre Venezuela. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9hFZQowRNps&ab_channel=DuploExpresso
Rede Atlas: a força tarefa por trás dos “libertários de ultra-direita” por trás da ofensiva capitalista na América Latina. Disponível em: https://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FAntifascismo%2FRede-Atlas-a-forca-tarefa-dos-libertarios-de-ultradireita-por-tras-da-ofensiva-capitalista-na-America-Latina%2F47%2F41429#.W32yGh217L4.facebook
Vivi na pele o que aprendi nos livros: um encontro com o patrimonialismo brasileiro. Disponível em: http://piaui.folha.uol.com.br/materia/vivi-na-pele-o-que-aprendi-nos-livros/

NOTA:


[1] Leia-se “Baas”. No árabe o dígrafo th tem valor de s.

domingo, 26 de agosto de 2018

O Barão Vermelho da DERSA e a conexão tucana.



Foto – Os Richthofen em foto de família.
As eleições se aproximam, e junto com elas os debates eleitorais. E nesses tempos é comum ver políticos de partidos como o PSDB e o DEM exumarem o cadáver de Celso Daniel, morto em janeiro de 2002 em circunstâncias até hoje não devidamente esclarecidas, em debates eleitorais contra políticos do PT e assim submetê-los a verdadeiras saias justas. E, obviamente, usando o caso como arma eleitoreira contra seu adversário político. Entretanto os tucanos, do alto de seus periódicos ataques retóricos contra o PT, nunca esclareceram até hoje a respeito da ligação de Manfred Albert von Richthofen, morto junto com sua esposa Marísia von Richthofen no dia 31 de outubro do mesmo 2002, por sua filha Suzane von Richthofen em conluio com os irmãos Cravinhos, com o PSDB. Em vida o finado engenheiro teuto-brasileiro foi ou não foi operador de caixa 2 dos tucanos? Em outras palavras, teria sido ele o antecessor (ou um dos) de Paulo Preto?
Manfred Albert von Richthofen nasceu em Erbach[1], situada no estado de Baden-Württemberg, sudoeste da Alemanha, no dia 3 de fevereiro de 1953. Nasceu no seio de uma família nobre alemã, os von Richthofen, que remonta ao século XVII. Mudou-se para o Brasil em decorrência de convite de trabalho e aqui conheceu Marísia Abdalla, então estudante de medicina, nos anos 1970. Os dois se casaram e tiveram dois filhos: Suzane Louise von Richthofen e Andreas Albert von Richthofen.
Na época de seu falecimento, foi divulgado na imprensa que Manfred Albert von Richthofen era sobrinho-neto de Manfred Albrecht Freiherr von Richthofen (1892 – 1917), ás da aviação alemã da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) e que entrou na história com a alcunha de o Barão Vermelho (em alemão Der Rote Baron). Notabilizou-se por ter abatido 80 aviões inimigos antes de ser abatido e morto em combate.

Foto – Manfred Albrecht Freiherr von Richthofen (1892 – 1918), o Barão Vermelho (em alemão Der Rote Baron), ás da aviação alemã da Primeira Guerra Mundial.
No momento do crime, Suzane abriu uma maleta de seu pai que continha cerca de oito mil reais, seis mil euros e cinco mil dólares, além de algumas joias pertencentes ao casal, em vã tentativa de simular um latrocínio (que rapidamente foi descartada pelos investigadores do caso). Essa quantia foi entregue a Cristian Cravinhos como forma de pagamento por sua participação no plano e depois usada para comprar uma moto.
O que me interessa no caso Richthofen e o que me faz escrever sobre tal hediondo crime ocorrido há 16 anos não é o caso em si, e sim suas conexões políticas, em especial com o tucanato de São Paulo e seu jeito de fazer política, os quais ocupam o Palácio do Bandeirante há um quarto de século (e que obviamente pretendem se perpetuar no poder no estado mais importante do Brasil por mais um bom tempo no mínimo no melhor estilo PRI mexicano). Além de manter a memória do caso acesa para que não caia no esquecimento (algo que obviamente é muito interessante a certas forças políticas). Diga-se de passagem, vejo a dita esquerda excessivamente preocupada com Jair Bolsonaro e sua retórica truculenta e ao mesmo tempo não dando a devida atenção a Geraldo Alckmin (vulgo picolé de chuchu). Geraldo Alckmin, em realidade, é um Bolsonaro sem a retórica truculenta e com a pose de democrata que o político carioca não tem. Em outras palavras, enquanto que o primeiro é o cachorro que late, o segundo é o cachorro que morde e mata sem piedade.
Se tais fatos virem à tona no presente momento, com certeza vão cair como se fossem uma bomba atômica no colo dos tucanato paulista, em especial de políticos como Geraldo Alckmin (vulgo “Santo da Odebrecht”) e José Serra (vulgo Nosferatu). E assim destruir de uma vez por todas sua aura de santos que os tucanos desfrutam perante parcela significativa da população. Tão ou mais devastador quanto a hora que as denúncias de Rodrigo Tacla Duran sobre a prática de prevaricação e da indústria de delação premiada será para o cada vez mais decrescente prestígio que o Judge Murrow e a Operação Lava Jato ainda desfrutam. Seria literalmente o prego no caixão deles. Ainda mais tendo em vista o pleito eleitoral vindouro (se é que vai acontecer mesmo).

Foto – Brasão da família von Richthofen.
A explicação mais comum e difusa a respeito do que teria levado a jovem Suzane von Richthofen a cometer parricídio seria o fato de seus pais serem contra seu namoro com o então namorado, Daniel Cravinhos, que pertencia a uma classe social diferente da dela. Ou será que a verdadeira razão do parricídio em realidade é outra, tendo assim outras coisas em jogo e que até hoje não foi devida revelada às pessoas?
À época de sua morte, Manfred Albert von Richthofen trabalhava na Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.). Lá entrou em novembro de 1998. Em junho de 2002, tornou-se diretor de engenharia da mesma empresa. Como membro da DERSA, ele era um dos responsáveis pelo projeto de construção do Rodoanel Mário Covas em São Paulo, o qual contorna a cidade interligando várias rodovias. Originalmente, o trecho oeste do Rodoanel deveria custar R$ 339 milhões, segundo o orçamento dado pelo consórcio Queiroz Galvão/Constran, que venceu a licitação da obra em setembro de 1998. Mas consumiu R$ 1 bilhão em obras e indenizações por desapropriação. Ou seja, um aumento de custos de mais de 70% em relação ao custo original. Na empresa estatal Manfred recebia mensalmente R$ 11 mil, enquanto que sua esposa Marísia, que matinha um consultório psiquiátrico, ganhava em torno de R$ 20 mil. Entretanto, tinha uma fortuna estimada em cerca de R$ 2 milhões (11 milhões em valores atualizados). Para chegar a esse nível de riqueza só com o salário da Dersa, seria necessário que Manfred economizasse seu salário e nada gastasse por muitos e muitos anos. Em outras palavras, que vivesse em um regime de austeridade de gastos por muitos e muitos anos. Algo inviável para uma família que à época do crime vivia em uma mansão no Brooklin, um dos bairros mais nobres de São Paulo. E é ai que entra a conexão do caso Richthofen com o tucanato.
Na época do parricídio um promotor afirmou que o patriarca da família Richthofen não apenas operava por meio da obra do Rodoanel o caixa 2 tucano das eleições de 2002 de Geraldo Alckmin para governador de São Paulo e José Serra para presidente da República como também tinha contas milionárias na Suíça. E, como era de se esperar, a mídia hegemônica do nosso país silenciou a esse respeito. Uma década e meia se passou desde então e nada foi devidamente esclarecido.
Se Manfred Albert von Richthofen tivesse sido em vida operador de caixa 2 do PT, do PDT ou de qualquer outro partido de esquerda e se esse esquema de corrupção da Dersa/Alstom a algum desses partidos fosse ligado, uma coisa é certa: a imprensa hegemônica grande estardalhaço faria em cima do caso e o usaria da forma mais politiqueira possível para atacar o PT, falaria em “mar de lama” (como feito no segundo governo Vargas), que o país foi tomado por uma quadrilha de ladrões e cobraria providências a esse respeito, tal como fez em cima do mensalão, do petrolão e em toda sorte de escândalos no qual o partido de Lula, Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann, Paulo Bernardo, José Dirceu e José Genoíno esteve envolvido. Quem sabe até seriam feitos clamores para a abertura de um processo de impeachment com interesses politiqueiros no meio. Mas, como isso diz respeito ao impoluto tucanato de São Paulo, partido orgânico das elites locais por excelência e ao qual esses veículos de mídia de modo geral são mais simpáticos (não custa lembrar que no estado de São Paulo os tribunais, o Ministério Público, as polícias e a Assembleia Legislativa são aparelhados pelos tucanos), verdadeiro silêncio de cemitério sobre esse assunto paira tal como se faz com outros casos de corrupção envolvendo o tucanato tais como o Banestado, a Privataria Tucana, o Trensalão e tantos outros.
Assim sendo, essa história toda de que a jovem garota teria matado seus pais junto com os irmãos Cravinhos por sua família não aceitar seu namoro seria uma cortina de fumaça, um húmus para encobrir o real motivo do crime, relacionado com os trambiques nos quais seu pai teria supostamente se envolvido em vida? E não só isso, também seriam cortinas de fumaça essa história (independente da veracidade – uma coisa não exclui a outra) de que ela é uma psicopata, uma pessoa de má índole e histórias afins? E de onde Manfred von Richthofen arrumou todo aquele dinheiro que no momento de sua morte foi encontrado por sua filha (incluindo todos aqueles dólares e euros)? Uma coisa é certa: do nada é que ele não surgiu e certamente ele não chegou a tamanho nível de riqueza apenas com seu salário na Dersa, a ponto de permitir poder viver em um dos bairros mais nobres de São Paulo e em uma mansão com duas garagens (além de outras propriedades, incluindo um sítio). De algum lugar apareceu. Seria dinheiro extraído das contas da família na Suíça? E com que dinheiro as joias saqueadas foram compradas?
Há quatro anos, Suzane von Richthofen recebeu autorização judicial para cumprir o restante de sua pena em regime semiaberto, mas não apenas pediu a Justiça para continuar presa em regime fechado como também descartou seus advogados e seu então tutor Denivaldo Barni a despeito de todos os anos de dedicação. Haveria algo a mais em jogo nessa decisão da parte de Suzane? Comenta-se por toda parte e com claros e fortes indícios de veracidade que o cerco e a proteção que a envolvem desde o início é decorrente de uma forte ação de personagens ligados ao tucanato, cujo objetivo seria esconder o real móvel do crime: o dinheiro do caixa 2 tucano que estaria depositado em duas contas na Suíça no Discount Bank and Trust Company (DBTC), abertas em 1998.
Em 2006, o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público Estadual (MPE) fizeram investigações após descobrirem documentos sobre a movimentação de uma empresa de engenharia em São Paulo, de nome M.A.V.R. Engenharia, registrada no nome do patriarca da família Richthofen e com sede na Rua Barão de Suruí, Campo Belo, zona sul de São Paulo, próximo à antiga casa da família. A mesma documentação também trouxe dois números de contas com depósitos em dinheiro em bancos na Suíça. Investigações foram feitas para descobrir se Suzane e seu pai são os titulares dessas duas contas. Contas essas para as quais podem ter sido remetido dinheiro supostamente desviado de obras do Trecho Oeste do Rodoanel Mário Covas. Segundo matéria do jornal O Estado de São Paulo, as contas já haviam sido descobertas pela CPI do Banestado três anos antes, mas que a titularidade ainda não tinha sido comprovada. Como era de se esperar, tais investigações foram jogadas para debaixo do tapete.
Aliás, falando em Banestado, será que essas contas que estariam em nome do finado engenheiro teuto-brasileiro e de sua filha parricida também não passavam pelo crivo da lavanderia do Banestado em Nova York antes de ir à Suíça? Levando em consideração que a lavanderia do Banestado era usada para esquentar o dinheiro dos principais de corrupção do Brasil nos anos 1990, o montante de US$ 30 bilhões que foi movimentado por essa lavanderia entre 1996 a 1999 e o dinheiro que teria sido roubado das obras, não seria me surpreenderia nem pouco o senhor Richthofen tê-la usado para tal. E a roubalheira da Dersa por um acaso não teria relação não apenas com o Banestado, como também com outros escândalos de corrupção envolvendo o tucanato, entre eles o trensalão, a privataria tucana e tantos outros (e até mesmo a roubalheira nas APAEs do Paraná na qual a esposa do juiz Moro estaria envolvida)?
Levando em consideração tais fatos elencados, não é de surpreender que talvez Suzane mais segura no presídio se sinta que fora dele. Bem provavelmente, ela é um arquivo vivo que guarda muitas informações comprometedoras que dizem respeito a muitos bacanas da política (especialmente os tucanos que comandam o Estado mais rico da federação há um quarto de século) e de círculos empresariais e magistrados paulistanos (não custa lembrar que os esquemas de corrupção sempre se dão com a presença de agentes do “impoluto” mercado que os liberais defendem com tanto ardor). E talvez ela mesma consciência disso tenha. E que uma vez fora da prisão é bem possível que a matem da forma mais misteriosa e sorrateira possível em uma operação de queima de arquivo, tal como feito com PC Farias em 1996. É provável também que exista um acordo onde ela, em troca de sua vida e segurança, não abra a boca a respeito do que a levou realmente a cometer o hediondo crime. Afinal, estamos falando de uma gente que para fazer valer seus interesses e exercer seu poder não medem palavras e nem atos, bem ao contrário dos republicanos petistas. Muito menos de um falastrão de plantão como Jair Bolsonaro.
Como dito em artigos anteriores, uma das coisas que mais me enoja e me causa asco no caso da prisão de Lula é ver o homem sendo preso e condenado a mais de 10 anos de encarceramento ao mesmo em que os verdadeiros bandidos do país continuam soltos, rindo das nossas caras e bancando as vestais da moralidade perante nós. E entre os piratas que jogaram o homem ao mar para ser devorado pelos tubarões obviamente que o impoluto tucano (ao qual o juiz Moro é ideologicamente ligado) se inclui, junto com a Rede Globo do Fifagate, a Lava Jato da indústria da delação premiada, o juiz Moro que arquivou o caso Banestado (que não custa lembrar tinha Alberto Yousseff, o mesmo Yousseff que recentemente fez denúncias fajutas contra Gleisi Hoffmann, como doleiro), entre tantos outros.
As eleições 2018 estão se aproximando e espero que no momento em que forem indagados sobre Celso Daniel, espero que os petistas retruquem a respeito de Manfred von Richthofen e a eles digam o seguinte: “vocês querem tanto que o caso Celso Daniel seja resolvido? Ok, nós vamos resolver. Mas só se vocês primeiro nos esclarecerem a respeito das ligações de Manfred von Richthofen com vocês, tucanos”.

Foto – Ranking dos maiores casos de corrupção da história recente do Brasil. Note-se que perto dos tucanos, pemedebistas, demos e de empresas de mídia como a Rede Globo os petistas não passam de grandes trombadinhas. Também se percebe aqui o modus operandi do juiz Moro desde no mínimo os tempos do Banestado (a na maneira como ele procedeu na delação de Palocci é exemplo bem paradigmático disso): atacar os ladrões de galinha ao mesmo tempo em que protege e acoberta os verdadeiros bandidos. A mesma coisa que no xadrez você sacrificar um peão ou um bispo para fortalecer o rei ou a rainha.
Fontes:
Banestado em NY “lava” dinheiro de corrupção. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u45660.shtml
Bens dos Richthofen são investigados. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2707200612.htm
Caso Richthofen – DERSA/Rodoanel – corrupção e desvio de verba pública. Disponível em: https://blogdasandrapaulino.wordpress.com/2015/09/14/caso-richthofen-dersarodoanel-corrupcao-e-desvio-de-verba-publica/
[DVD – TV] – Investigação criminal: Suzane von Richthofen e irmãos Cravinhos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_RJf8Q04pjQ&ab_channel=RinaldoCortez
Engenheiro assassinado a mando da filha era homem-chave do Rodoanel. Disponível em: https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,engenheiro-assassinado-a-mando-da-filha-era-homem-chave-do-rodoanel,20021108p20949
Filha e namorado confessam ter matado casal em SP. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2002-nov-08/filha_namorado_confessam_matado_casal_sp
Há algo de podre no ninho dos tucanos. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/node/4130/
O caso Von Richthofen, o Rodoanel, Serra e Alckmin. Disponível em: https://limpinhoecheiroso.com/2015/03/02/o-caso-von-richthofen-o-rodoanel-serra-e-alckmin/
Richthofen (Adelsgeschlecht). Disponível em: https://de.wikipedia.org/wiki/Richthofen_(Adelsgeschlecht)
RouboAnel de São Paulo – a filha assassina que incomoda os tucanos. Disponível em: http://naotecalaseducador.blogspot.com/2013/11/rouboanel-de-sao-paulo-filha-assassina.html

NOTA:



[1] Leia-se “Erbarr”. No alemão, assim como em idiomas como o tcheco e o polonês, a partícula ch tem o mesmo som do kh no russo, árabe, persa e mongol, do j no espanhol e do h em idiomas como o húngaro e o inglês: r aspirado forte.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A hipocrisia e os impropérios de Jair Bolsonaro, parte 2 - A política externa do Brasil e do "mundo livre e democrático".

Foto – Mito para quem?
Como visto na primeira parte, há quatro anos, na carta endereçada ao embaixador de Israel Bolsonaro fez críticas à política externa que o Brasil adotou entre 2003 a 2016, durante os governos Lula e Dilma, em especial no que tange às relações do Itamaraty com países como Cuba, Venezuela, Irã, Bolívia e Coreia do Norte. Hoje, em sua campanha, Bolsonaro fala que o Brasil “precisa fazer comércio com o mundo inteiro independente de viés ideológico”. Como falar em viés ideológico, sendo que a política externa que o político carioca propõe, de alinhamento preferencial com o dito “mundo livre e democrático” (em especial EUA e Israel), igualmente tem seu colorido ideológico? E nesse ponto Bolsonaro adota o mesmo discurso que José Serra (vulgo Nosferatu) adotou quando foi empossado como ministro das relações exteriores do governo Temer. Ou seja, um ponto de convergência do dito “mito” para com os tucanos que hoje mandam no país em conluio com a quadrilha do governo Temer.
Com a política externa que Bolsonaro propõe, caso o político carioca e cara-metade político-ideológica de Jean Wyllys seja eleito, não será nenhuma surpresa vermos o Brasil se envolvendo em guerras a reboque dos Estados Unidos, endossando sanções comerciais contra países como Venezuela, Cuba, Nicarágua, Irã, China e Rússia e o país ganhando antipatia crescente mundo afora, principalmente no Mundo Islâmico. Cenas como queimas de bandeiras brasileiras e de bonecos do próprio Bolsonaro vão se tornar comuns nas ruas de cidades como Aleppo, Beirute, Cairo, Damasco, Istambul, Argel, Bagdá, Isfahan, Teerã, Širaz, Tripoli e Benghazi caso Bolsonaro resolva fechar a embaixada palestina e reconhecer Jerusalém como capital de Israel. E igualmente ganhando a antipatia da comunidade árabe aqui estabelecida desde o século XIX. Com uma política externa dessas, a tendência do Brasil é se tornar cada vez mais um anão diplomático (que já vem demonstrando ser desde o golpe de 2016).
Aproveito o momento para postar aqui no blog mais um dos textos que escrevi em 2014 e que postei nas notas do meu perfil do Facebook, com algumas alterações e adições em relação ao texto original. Há quatro anos, descobri bem por acaso o blog Friendly Dictators (cujo texto foi escrito em 1990), que fala a respeito das relações dos Estados Unidos com vários ditadores ao redor do mundo em tempos recentes, entre eles o chileno Augusto Pinochet, o taiwanês Čiang Kai-Šek, o filipino Ferdinando Marcos, o rodesiano Ian Smith, o grego George Papadopoulos, o paraguaio Alfredo Stroessner, o dominicano Rafael Trujillos e outros tantos. São 35 ditadores no total. Vamos falar de alguns deles.
Foto – Fulgencio Batista.
Cuba – Antes de Fidel Castro lá reinava Fulgencio Batista. Fulgencio tornou-se em 1933 o homem-forte de Cuba indicado por Franklin Delano Roosevelt para conter os esquerdistas que derrubaram Gerardo Machado. Batista entre 1933 a 1940 governou Cuba por trás das cortinas, exercendo por trás dos presidentes. Isso até que em 1940 tornou-se o presidente de Cuba, cargo esse que exerceu até 1944, depois voltando em 1952 derrubando através de um golpe o presidente eleito Carlos Prio Socorras. Durante os anos em que reinou em Cuba, Havana foi transformada em um entreposto internacional de drogas, onde americanos ricos e famosos se encontravam com mafiosos locais, a exemplo de Meyer Lansky. Entretanto, as desigualdades sociais em Cuba eram cada vez mais crescentes. Em 1953 Fidel Castro liderou um grupo armado de rebeldes no fracasso assalto ao quartel de Moncada, fugindo em seguida para o México. O governo Batista se tornou cada vez mais repressor, a ponto de despedir de seus empregos professores, advogados e oficiais públicos tidos como “subversivos”, e esquadrões da morte mataram milhares de pessoas tidas como “comunistas”. Até sua deposição final na Revolução de 1959 Batista era um amigo fiel de Washington.
Foto – Cena do Caracazo, 1989.
Venezuela – antes da subida de Hugo Chávez ao poder em 1999 (e lembremos que Chávez foi eleito quatro vezes democraticamente), o país sofreu com as políticas neoliberais (com direito a privatizações do patrimônio nacional) em governos como o de Carlos Andrés Pérez e o de Rafael Caldera. Tais políticas em 1989 levaram aos eventos que desembocaram no Caracazo, uma grande manifestação popular contra as políticas neoliberais que vinham sendo adotadas e que acabou em grande banho de sangue. Estima-se que entre 300 a 2000 pessoas morreram no Caracazo.
Chávez (o qual em 1992 tentou assumir o poder através de um golpe militar) assumiu o poder em um momento que a Venezuela vivenciou um contexto de crise nos níveis institucional e econômico-financeira. E, além disso, havia na Venezuela uma elite para lá de corrupta que se locupletava com os lucros do petróleo (a grande riqueza do país) e muitas vezes mandava o dinheiro para o exterior. Diga-se de passagem, é a mesma elite que durante o governo Chávez fez tentativas de golpe como em 2002 e que mais recentemente, principalmente durante os distúrbios desse ano, fazem coisas como sumir com os produtos das prateleiras dos supermercados e depois culpar falsamente o governo por esses problemas, de forma similar a feita contra Allende durante o golpe Civil-Militar do Chile. E foi justamente com Chávez que essa desigualdade social toda pode ser reduzida. Para se ter ideia, antes de Chávez a Venezuela tinha 70% de sua população abaixo da pobreza e 40% na pobreza extrema. Índices esses que foram reduzidos para 21% e 7,3% em 2010, respectivamente. Como não poderia deixar de ser, os oligarcas da mídia nacional e internacional difamaram Chávez em vida e agora fazem o mesmo com Maduro. O que as elites venezuelanas que tanto conspiraram contra Chávez e Maduro nada mais querem é que a Venezuela volte a ser o mesmo país desigual e corrupto que era antes da ascensão de Chávez ao poder.
Foto – Hugo Banzer.
Bolívia – A Bolívia, governada desde 2006 por Evo Morales, também sofreu com o neoliberalismo e suas políticas no decorrer das décadas de 1990 e 2000. Um dos governantes que a Bolívia teve nesse período foi Hugo Banzer. Hugo Banzer governou a Bolívia de 1971 a 1978 e de 1997 a 2001. Banzer assumiu o poder ao derrubar o general Juan José Torres Gonzáles em um golpe de estado. Torres nacionalizou o petróleo boliviano, assim como as minas de estanho um ano antes. Não só isso como também queria estabelecer relações amigáveis com a União Soviética e Cuba. Uma vez alçado ao poder, Hugo Banzer instalou sua própria ditadura, com direito ao banimento de partidos de oposição, fechamento de escolas tidas como potenciais ameaças a nova ordem, fechamento da embaixada soviética e um empréstimo para ressarcir a empresa norte-americana Gulf Oil. Saldo da brincadeira: em apenas dois anos, 2 mil pessoas foram presas e torturas sem julgamento.
Banzer ainda tentou promover uma política de branqueamento na Bolívia, e para isso seduziu dezenas de milhares de imigrantes brancos da África do Sul (que a época vivia sob o regime do Apartheid) para povoarem as terras até então pertencentes aos povos indígenas. O clero católico boliviano tentou ajudar os índios, e o regime banzerista respondeu com ataques terroristas contra eles com apoio da CIA. Em 1978 Banzer foi derrubado por Juan Pereda Asbún, mas isso não significou o seu fim na política boliviana. Em 1997 Hugo Banzer volta ao poder através de eleição direta. Assim como no mandato anterior exerceu um governo acusado de corrupção e em 8 de abril de 2000 decretou estado de sítio, com o intuito de debelar as ondas de protestos sociais e trabalhistas. Medida essa que não teve sucesso. Em 7 de agosto de 2001 renunciou por motivos de saúde (pois sofria de câncer) e passou o cargo para Jorge Quiroga Ramírez. No dia 5 de maio do ano seguinte veio a falecer, com 84 anos. Hugo Banzer foi brevemente sucedido por Jorge Quiroga e depois por Sanchez de Lozada. Este último teve que fugir para os EUA sob os gritos de “assassino” por ter, entre outras coisas, chegado ao ponto de privatizar os recursos hídricos do país para multinacionais dos EUA e da França. Apenas com a ascensão de Evo Morales ao poder que toda essa instabilidade política na Bolívia chegou ao fim.
Foto – Xá Reza Pahlevi.
Irã – Sobre o Irã e Mahmoud Ahmadinežad, lembremos que o Irã, durante o reinado do xá Reza Pahlevi, foi um dos mais fortes aliados do Ocidente na região do Oriente Médio. Em 1942, com a abdicação de seu pai, Reza Pahlevi tornou-se o xá do Irã. Em 1951, o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh, nacionalizou o petróleo iraniano, até então explorado por companhias americanas e britânicas. Dois anos mais tarde, Mossadegh foi derrubado na infame Operação Ajax, organizado pela CIA e pelo MI6. O xá ganhou poderes totais com a derrubada de Mossadegh, o qual foi condenado a três anos de prisão. Muitos dos partidários de Mossadegh também tiveram destinos similares. Nos anos subsequentes, mais precisamente em 1957, foi instituída uma polícia, a SAVAK, cujos métodos de tortura incluíam choques elétricos, açoitamento, inserção de vidros quebrados e extração de dentes e unhas, entre outros.
Em 1971, o xá celebrou os 2500 anos de fundação da Monarquia Iraniana (festa essa que segundo o New York Times custou 100 milhões de dólares) e nas proximidades das ruínas de Persépolis o xá ordenou a construção de uma cidade-tenda com 160 acres de extensão. Isto tornou-se um escândalo enorme diante do contraste entre as pompas e os luxos da celebração e a miséria das vilas próximas. O xá justificou tais gastos alegando que isso poderia melhorar as relações do Irã com outros países e dar um maior reconhecimento externo à nação persa. O Irã sob o xá era um dos mais devotos aliados dos EUA, a ponto de sua fronteira norte ser base de operações de espionagem contra a União Soviética.
Esses e outros escândalos foram tornando a figura do xá cada vez mais impopular perante a população iraniana, a ponto de em 1979 ter sido derrubado do Trono do Pavão pela Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Khomeini. A monarquia milenar iraniana foi abolida e em seu lugar proclamada uma República Islâmica, que até hoje governa o Irã. E a política iraniana em relação aos EUA, por sua vez, mudou da água para o vinho, a ponto de naquele mesmo ano a embaixada dos EUA em Teerã ter sido palco de um sequestro e de em 2002 o presidente Bush ter colocado o Irã, junto com o Iraque e a Coreia do Norte, como membros do “Eixo do Mal”. Entre outras coisas.
Foto – À esquerda, Park Čung Hee em uniforme japonês; À direita, sua filha Park Geun Hye, primeira presidente mulher da Coréia do Sul, recentemente deposta em processo de impeachment.
As duas Coreias – A Coréia do Norte muitas vezes ela é pintada pela grande mídia internacional como uma terrível ditadura stalinista repressora. Mas pelo visto poucos lembram que a Coreia do Sul, que é vista como um exemplo de democracia e de país moderno na região do Extremo Oriente, foi uma ditadura desde sua fundação em 1948 até 1987. Isso mesmo, uma ditadura. E um de seus mais notáveis líderes dessa época foi Park Čung-Hye, o qual governou a Coreia do Sul entre 1962 a 1979 e que é o pai da atual presidente da Coreia do Sul, Park Geun-Hye. Park Čung-Hye foi implacável com seus oponentes políticos, a ponto de submetê-los a torturas e execuções. E antes mesmo de se tornar líder da Coreia do Sul, Park Čung-Hee foi colaborador dos japoneses (os quais dominaram a Península Coreana entre 1910 a 1945 e impuseram um brutal domínio sobre as terras coreanas, a ponto de incentivar os coreanos a adotarem nomes japoneses e a reduzir muitas das mulheres coreanas a escravidão sexual) durante a Segunda Guerra Mundial. No artigo da Wikipedia em inglês sobre o líder sul-coreano tem até uma foto dele com uniforme japonês. Isso ao mesmo tempo em que Kim il-Sung, o fundador da Coreia do Norte e avô paterno de Kim Čong-Un, teve que fugir da Coreia para a China e depois para a União Soviética por causa da opressão que o Japão impunha as terras coreanas, só voltando para a Coreia em 1945 acompanhando as forças soviéticas que ajudaram a libertar o norte da Península Coreana do jugo nipônico.
Foto – Humberto Castelo Branco.
Brasil – Outro ditador listado no blog é Humberto Castelo Branco. É o mesmo Castelo Branco que derrubou o presidente João Goulart em 1964 e deu início ao Regime Civil-Militar que Bolsonaro tanto idolatra. Regime esse que em seus primeiros anos contou no plano interno com o apoio de vários setores da sociedade civil brasileiro, incluindo empresários (a exemplo do dano-brasileiro Henning Albert Boilesen) e alguns setores da Igreja Católica ligados à TFP (Tradição, Família e Propriedade), entre outros. Todos eles temerosos com as reformas de base que o presidente João Goulart propunha, a qual incluía reforma agrária, política, urbana, fiscal e educacional. Por causa disso, Jango foi chamado de “comunista” pelos partidários do golpe civil-militar. O regime de Castelo Branco deu proteção a traficantes de drogas (muitos dos quais eram oficiais do governo), por que eles mantinham os “interesses da segurança nacional”. Assim como proibiu sindicatos, baniu a liberdade de expressão, muitos opositores do regime foram presos e torturados e muitas terras indígenas foram roubadas. Castelo Branco ficou no poder até 1967, quanto deu lugar a Artur da Costa e Silva.
Foto – Augusto Pinochet e Margareth Thatcher.
Chile – Por fim dos ditadores listados no blog falaremos de Augusto Pinochet, o ditador militar chileno entre 1973 a 1990. Pinochet assumiu o poder no Chile em um golpe militar ocorrido no dia 11 de setembro de 1973 (embora antes mesmo do golpe já houvesse agitação golpista apoiada pela CIA). Golpe esse que custou a vida do ex-presidente Salvador Allende, morto no assalto ao Palácio Presidencial. O mesmo Allende que antes mesmo do golpe o colocou no comando do Exército, substituindo o general legalista Carlos Prats. Allende achou que fazendo algumas concessões os militares de direita golpistas acalmariam. Ledo engano. Essas atitudes custaram ao próprio Allende a sua vida. Pinochet e seus órgãos de repressão caçaram implacavelmente os opositores de seu regime, a ponto de ter se unido as demais ditaduras militares da América Latina através da Operação Condor e ter usado o estádio Nacional de Chile (o mesmo estádio onde o Brasil ganhou a Copa de 1962) nos primeiros dias do golpe como centro de detenção e tortura de opositores políticos. Em 1988 uma eleição foi feita e os chilenos demandaram em massa que ele saísse do poder, mas isso só foi acontecer em 1990. Ao longo de seu governo Pinochet foi um grande amigo dos Estados Unidos e da Inglaterra. Isso ao ponto de o próprio Chile ter sido o laboratório do neoliberalismo e em 1980 a premiê inglesa Margareth Thatcher ter desfeito o embargo de armas contra o ditador chileno, o qual dois anos mais tarde apoiou a Inglaterra na Guerra das Malvinas contra a Argentina. A partir de então, Pinochet e sua família todo ano faziam uma espécie de peregrinação privada para Londres onde as famílias Thatcher e Pinochet se encontravam com direito a refeições e whisky. E a amizade de Thatcher com Pinochet não parou por ai não: em 1998 sob ordens do juiz espanhol Baltasar Garzón, Pinochet, que se encontrava em Londres, recebeu um mandato de prisão. Nesse episódio, Thatcher mostrou-se solidária a Pinochet, a ponto de ter dito que foi ele que trouxe a democracia ao Chile.
Como o texto do blog foi escrito em 1990, ele não inclui tiranetes mais recentes. Mas mesmo assim falaremos de alguns desses não listados. No processo de desintegração da Iugoslávia, o dito “mundo livre” (em especial os EUA e a Alemanha) apoiou líderes como o neoustaše Franjo Tudjman na Croácia, o fanático islâmico Alija Izetbegović na Bósnia e mais recentemente Haşim Thaçi (o qual segundo um relatório do Conselho Europeu liderava um grupo mafioso albanês envolvido em atividades como tráfico de armas, de drogas e de órgãos humanos de sérvios mortos em conflitos como a guerra de Kosovo em 1999) em Kosovo (uma área que por direito é da Sérvia). O primeiro, na primeira audiência da União Democrática Croata perante a audiência de mais de 100 antigos membros da Ustaša ocorrida em 26 de janeiro de 1990, disse o seguinte descalabro: “O Estado Independente da Croácia não foi uma mera criação Quisling, mas também uma expressão das aspirações históricas do povo croata por um estado independente próprio e reconhecimento dos fatores internacionais – O governo da Alemanha de Hitler neste caso”. Com uma declaração dessas Tudjman simplesmente reabilitou a Ustaša na Croácia. E os países ocidentais nem ligaram para isso. Tudjman também em alguns momentos questionou o Holocausto, mas isso não causou a mesma celeuma que ocorreu quando o iraniano Mahmoud Ahmadinežad fez questionamento similar. Os líderes citados promoveram bestiais chacinas contra os sérvios que viviam em locais como o sul da Croácia (região de Krajina), na Bósnia e em Kosovo. E o pior de tudo é ver que estes líderes não foram julgados e condenados em Haia que nem o sérvio Slobodan Milošević (inocentado apenas postumamente), assim como o fato de que o mesmo tribunal inocentou nomes como os generais croatas Ante Gotovina e Mladen Markač ao mesmo tempo em que nomes como Radovan Karadžić e Ratko Mladić foram presos pelo mesmo tribunal. E, através do apoio a grandes agitações nacionalistas em várias partes do país, a Iugoslávia pode ser estilhaçada em várias partes. Isso para não falar da impunidade a lideranças do “mundo livre e democrático” como Helmut Kohl (falecido ano passado), Nicolas Sarkozy, Tony Blair, Bill Clinton, Bush II e tantos outros.
Mais a leste, o "mundo livre" se relaciona de forma espúria com gente como o georgiano Michail Sakašvilli e com as várias monarquias da região do Golfo Pérsico. E na América Latina se relacionam com líderes como o colombiano Álvaro Uribe, entre tantos outros exemplos. E hoje em dia o dito “mundo livre” que o Bolsonaro olha como exemplo de democracia apoia o atual presidente ucraniano, Petro Porošenko (o mesmo Porošenko que fez fortuna fazendo negócios com a Rússia), em seu esforço de guerra contra as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk e a limpeza étnica contra os russos étnicos que vivem no sul e no leste da Ucrânia. Como também apoia os países bálticos (Lituânia, Estônia e Letônia. Países esses que fazem parte da União Europeia e da OTAN) e sua russofobia (lembremos que na Letônia e na Estônia existe uma forte discriminação para com a minoria russa que lá vive), a ponto de fazer vistas grossas para os desfiles periódicos de colaboradores locais dos nazistas que periodicamente lá ocorrem.
Por fim, há um discurso do próprio Bolsonaro feito no dia 5 de maio de 2011 falando de um suposto dinheiro que o PT recebeu de Muammar al-Kadaffi, o ditador líbio de 1969 a 2011, durante a época do Regime Militar e que isso era algo que deveria ser apurado em uma comissão da verdade tida por ele como “verdadeira”. Se o PT recebeu dinheiro de Kadaffi, uma coisa é certa: ele não foi o único. Em 2014 na França estourou o escândalo do dinheiro que Nicolas Sarkozy teria recebido de Kadaffi durante a campanha eleitoral de 2007. Em seus últimos anos de governo na Líbia, Kadaffi se relacionou com várias lideranças ocidentais, a exemplo de Tony Blair, George W. Bush, Silvio Berlusconi (lembremos que no caso Battisti o Bolsonaro apoiou a iniciativa do governo italiano de deportá-lo, alegando a Itália se tratar de um estado democrático de direito), Obama, o próprio Sarkozy, David Cameron e o rei da Espanha Juan Carlos, entre outros. Fotos desses encontros abundam na Internet. Mas, na hora em que a situação apertou para o lado de Kadaffi, esses mesmos líderes foram os primeiros a apunhalar Kadaffi pelas costas, a ponto de mandar tropas para a Líbia com o intuito de derrubar o velho amigo deles.
Geralmente, quando a nossa imprensa venal fala em líderes como Hugo Chávez, Vladimir Putin, Evo Morales, Fidel Castro, Muammar al-Kadaffi, Rafael Correa e tantos outros, trata-os como pessoas que do nada surgiram e que fizeram as tais maldades que fizeram. Só que isso não corresponde com a realidade. Da mesma forma que não dá para entender Hitler e o nazismo sem entender o que foi o período de 1918 a 1933 para a Alemanha, não dá para entender Hugo Chávez e o chavismo sem entender o que era a Venezuela nos tempos da Quarta República, o que foi o neoliberalismo na Venezuela e o que foi o Caracazo. Também é impossível entender Putin sem entender o que para a Rússia foi o fim da União Soviética e os anos 1990, em que o país foi submetido às políticas neoliberais do bêbado Boris Jel’cin (incluindo a privataria em massa das empresas que até então pertenciam ao Estado soviético) e onde os conselheiros americanos do presidente é quem de fato mandavam no país. Ou entender Evo Morales sem entender o que era a Bolívia antes dele, nos tempos em que estava submetida às políticas neoliberais impostas pelo Consenso de Washington, aonde se chegou ao ponto de privatizar a água do país para uma empresa francesa. Entre tantos outros exemplos que aqui podem ser mencionados.
A meu ver o grande problema de um jumento como o Bolsonaro ficar fazendo umas declarações como essa é que elas dão a impressão de que as nações que a viúva-mor do Regime Civil-Militar Brasileiro olha como exemplos de democracia para o mundo só se relacionam com democracias. Quando na verdade não é bem assim. Elas mesmas, como apontado acima, tem seus relacionamentos espúrios com várias ditaduras mundo afora. Se ele quer julgar Lula e o PT por causa desses relacionamentos, que ele julgue também os relacionamentos que países como Estados Unidos, França, Inglaterra, Holanda, Japão, Israel, Suécia, Noruega e tantos outros tem com ditaduras mundo afora. E o que todos esses ditadores que mencionados acima tem em comum? Foram (pelo menos em determinado momento) amiguinhos do Ocidente “livre e democrático” (e esse é mais um ponto em que ele se iguala a figuras como José Serra, Fernando Henrique Cardoso e outros tucanos de alta plumagem). E se ele acha nomes como Mahmoud Ahmadinežad, Hugo Chávez, Kim Jong-Un, Fidel Castro, Evo Morales e outros como Aleksandr Lukašenko, Vladimir Putin, Muammar al-Kadaffi, Bašar al-Asad e Cristina Kirchner pessoas com as quais o Brasil não pode se relacionar, o que dizer de nomes como Park Čung-Hee, os monarcas do Golfo Pérsico, Hugo Banzer, Franjo Tudjman, Alija Izetbegović, Haşim Thaçi, Augusto Pinochet, Jorge Videla, Leopoldo Galtieri, Manuel Noriega, Anastacio Somoza, xá Reza Pahlevi, Mobutu Sese Seko, Ian Smith, Peter Botha, Haile Selassie, Fulgencio Batista, Petro Porošenko, a dinastia Bongo, Blaise Campaoré, Teodoro Obiang e outros tantos tiranetes com os quais o dito “mundo livre” se relacionou e se relaciona a se forma para lá de espúria? Se o Brasil não pode se relacionar com os primeiros por que são “gente do mal”, então o dito “mundo livre” também não pode se relacionar com os segundos pelo mesmo motivo.
Fontes:
Bolsonaro – Cesare Battisti. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IWs2wa362mQ
Bolsonaro elogia Israel e pede desculpas por posicionamento brasileiro. Disponível em:
Chávez é fruto da abjeta iniquidade social que vigorava na Venezuela. Disponível em:
Friendly Dictators. Disponível em: http://friendlydictators.blogspot.fr/
Lula foi à Líbia pegar dinheiro com Kadafi durante Regime Militar Brasileiro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bkCaceFApUU
Kosovo prime minister is head of a human organ and arms ring, Council of Europe reports. Disponível em:
Neruda, Pinochet and the Iron Lady. Disponível em: http://www.newyorker.com/news/daily-comment/neruda-pinochet-and-the-iron-lady
O apoio da OTAN a um regime nazista em plenos anos 90. Disponível em:
O dinheiro de Kadaffi assombra Sarkozy. Disponível em:
Park Chung-Hee. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Park_Chung-Hee
Paulino, Leopoldo. Tempo de Resistência. 4. ed. Ribeirão Preto: Corpo Editorial, 2002.

Serra assume Itamaraty e apresenta nova política externa brasileira. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/governo/2016/05/serra-assume-itamaraty-e-lanca-nova-politica-externa