Foto – Tarcísio de
Freitas, atual governador do Estado de São Paulo.
Em 30 de outubro do presente ano, a lei 17.817/2023, de
autoria do ex-deputado Heni Ozi Cukier (Novo) e do deputado federal Gilmaci
Santos (Republicanos), foi aprovada pela Alesp (Assembléia Legislativa do
Estado de São Paulo) e em seguida sancionada pelo governador do Estado de São
Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Em sua ementa, a lei institui “a proibição do ensino ou
abordagem disciplinar do Holocausto sob os prismas do negacionismo ou
revisionismo histórico, no âmbito do Sistema Estadual de Educação Básica do
Estado de São Paulo”. A lei foi sancionada e aprovada por Tarcísio de Freitas,
tendo sido publicada no Diário Oficial em 30 de outubro do presente ano.
A proposta também obriga o estado a munir os alunos “com as
ferramentas necessárias para a identificação de discursos de ódio em nossa vida
contemporânea, de modo a estarem mais preparados para exercer responsavelmente
sua cidadania”. O texto vale para as escolas públicas do Estado de São Paulo,
mas não para a rede particular.
E essa iniciativa não é a única: no Rio Grande do Sul o
deputado Rodrigo Lorenzoni (Partido Liberal), apresentou um projeto similar no
dia 1º do presente mês na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Segundo
a proposta de Lorenzoni, o holocausto e o sionismo, dentro do currículo
educacional, não poderão ser ensinados ou ter abordagem disciplinar sob os
prismas do negacionismo ou do revisionismo histórico.
Ambas as leis surgem dentro do contexto do que vem se
passando na Faixa de Gaza desde os ataques do grupo Hamas a Israel em sete de
outubro do presente ano. Segundo Lorenzoni, o holocausto é um evento inegável
que não deve ser interpretado de maneira distorcida. Nas palavras dele, “Temos
acompanhado estarrecidos manifestações da esquerda que igualam os recentes
ataques premeditados do grupo terrorista Hamas à ação militar do exército
israelense. Assim como no Holocausto, não há relativização possível para o que
está acontecendo. Essa régua que iguala terrorista que ataca para matar – com
uma crueldade insana – e quem se defende para não morrer já está chegando às
salas de aula. Esse projeto é um freio à tentativa de doutrinação dos alunos”.
O que podemos dizer a respeito dessas leis? Para quem acha que
esse tipo de lei é algo positivo e que irá eventualmente colocar filonazistas
na cadeia por questionar narrativas sobre o Holocausto ou sobre o Sionismo,
sinto muito, mas pode tirar o cavalinho da chuva. Ainda mais quem é de esquerda
e aplaude esse tipo de coisa. Quem é de esquerda e aplaude esse tipo de coisa
está é assinando um atestado de estupidez.
Primeiro de tudo: assim como no caso das leis contra as
famigeradas notícias falsas, quem vai definir o que é ou não é discurso de ódio
ou negacionismo, segundo a nova lei? E o mais importante: QUEM IRÁ DEFINIR o
que é ou não é discurso de ódio?
Porque esse tipo de lei nada mais é que um balão de ensaio.
Um balão de ensaio para depois a corda esticar e a coisa ser estendida para
outros temas e assuntos, como veremos mais abaixo. E tudo sob o pretexto do
combate ao negacionismo do Holocausto e daquilo que eles chamam de “discurso de
ódio”.
Também se pode dizer que se trata de uma censura, uma
mordaça, de modo que certos detalhes a respeito do próprio Holocausto nazista
não possam ser discutidos em sala de aula. E um desses detalhes é sobre a
colaboração judaica com o regime nazista no período de 1933 a 1945.
É sabido e muito bem documentado que da mesma forma que o
Japão Imperial teve seus colaboradores chineses e coreanos (os quais ganharam as
alcunhas pejorativas de handzian e činilpa, respectivamente), na Europa ocupada
os nazistas tiveram vários colaboradores, das mais diversas nacionalidades. Esses
colaboradores chegaram a formar divisões especiais dentro da própria Waffen SS,
tais como a divisão Carlos Magno (franceses e belgas), Wiking (escandinavos,
belgas, suíços e holandeses), Handžar (bósnios, albaneses e croatas) e Galícia
(ucranianos). Também havia divisões de voluntários que serviam diretamente ao
Exército Alemão, entre elas a Divisão Azul (voluntários espanhóis que lutaram
no front oriental) e o Exército Russo de Libertação (voluntários russos). Geralmente,
eram estes elementos que sujavam as mãos nas matanças e limpezas étnicas, e não
os próprios alemães. Regimes fantoches, entre eles o regime de Vichy sob a
liderança do general Pétain, o regime de Vidkun Quisling na Noruega, a Rada
Central Bielorrussa em Belarus e a República de Lokot na Rússia, foram
instalados em diversas partes da Europa.
E a coisa não para por ai: os nazistas também tiveram seus
colaboradores judaicos. Sim, é isso do que estou falando. Começa pelo fato de
que no próprio exército alemão houve soldados de origem de judaica, os chamados
mischling (mestiços) e que, da mesma
forma que os aliciadores de imigrantes da fronteira entre EUA e México
geralmente são latinos (os chamados coiotes) e no Brasil colônia não raro
negros alforriados adquiriam escravos e até se tornavam eles mesmos traficantes
de escravos na África, os kapos dos campos de concentração geralmente eram
judeus (e que estes formavam uma força policial para controle de levantes
dentro dos mesmos, forças essas organizadas por conselhos judaicos locais).
Foto – Frente e verso de uma moeda prateada nazi-sionista (cerca de 1934).
Como isso tudo vai ficar na equação? Será que não vão usar a
nova lei como ratoeira para apanhar professores que eventualmente tratarem
desses temas (ainda que pelo alto) sob o pretexto do combate ao negacionismo e
ao discurso de ódio? Será que estamos diante de mais uma lei de mordaça e a
esquerda não se dá conta disso?
E no caso em particular da história do movimento sionista
como no caso da lei gaúcha, como ficará, por exemplo, todo o histórico de colaboração dos sionistas com a fina flor do anti-semitismo europeu desde a aurora do movimento? Como ficarão, por exemplo, Theodor Herzl e Plehve
(ministro do interior da Rússia entre 1902 a 1904, um dos principais
incitadores de pogroms da Rússia Imperial tardia)? Žabotinskij (sionista
revisionista, do qual o partido Likud é herdeiro ideológico direto) e Petljura
(que à frente da República Popular da Ucrânia perpetrou terríveis pogroms
contra judeus na Ucrânia – e ele mesmo assassinado em Paris pelo anarquista
judeu Samuel Schwartzbard, no ano de 1926)? Será que sob o mesmo pretexto
também serão apanhados na ratoeira os professores que tratarem (ainda que pelo alto)
sobre o histórico de colaboração dos sionistas com a fina flor do
anti-semitismo europeu?
E a coisa não para por ai: Recentemente, saiu uma matéria no
DCO (Diário da Causa Operária), ligado ao PCO (Partido da Causa Operária),
falando a respeito de ligações entre partidos de extrema direita da Europa,
alguns dos quais abertamente anti-semitas, entre eles o AUR da Romênia e o AfD
da Alemanha, com o Estado de Israel. O último chegou ao ponto de lançar
campanha entusiástica para que Jerusalém fosse reconhecida como capital de
Israel em abril de 2018. Isso para não falar das relações de Israel com o
regime ucraniano advindo do golpe do Euromaidan de 2014. Como isso vai ficar na
equação?
Além disso, como já dito em artigos anteriores, na reação de
muitos direitistas aos eventos que vem acontecendo na Faixa de Gaza desde o
último sete de outubro, o que me chama mais a atenção é o fato de que eles
falam muito em terrorismo do Hamas e de outros grupos afins (além de encher a
boca a respeito do passado da ex-presidente Dilma e outros petistas de quando
eram membros de grupos de luta armada no período da ditadura civil-militar
brasileira), e em momento falam que ANTES da fundação do Estado de Israel, os
sionistas também tiveram seus dias de terroristas, tendo se organizado em
grupos como o Haganah, o Irgun, o Stern, o Lehi e o Palmach. Estes grupos
estiveram envolvidos em terríveis atentados como o do Hotel King David e em
massacres e limpezas étnicas como o de Deir Yassin. Inclusive graças a tais
grupos que foi introduzido no Mundo Islâmico o conceito de guerra urbana por
meio de atentados e atividades de grupos terroristas.
E de cereja do bolo, quadros egressos desses grupos se
tornaram políticos eminentes e até mesmo premiês de Israel, entre eles David
Ben Gurion (ex-Haganah), Itzhak Šamir (ex-Lehi) e Menachem Begin (ex-Irgun). É
um processo que Mansur Peixoto, do site “História Islâmica”, chama de
“transformação de terroristas em políticos oficiais”. Como que isso vai ficar
na equação? Será que o professor que resolver tocar nesses assuntos ao tratar
do tema sionismo e da questão palestina, mesmo que por cima, também vai sofrer
sanções legais sob o pretexto de disseminação de discurso de ódio?
Por esse prisma, pode-se dizer que HOC, Gilmaci Santos e
Tarcísio nada mais fazem que trazer para o estado de São Paulo uma lei similar àquela
existente na Polônia desde 2018. Uma lei aprovada no Senado polonês e sancionada
pelo presidente Andrzej Duda, segundo a qual todo aquele que ao falar do
Holocausto ouse tocar no tema da participação de colaboradores poloneses no Holocausto
sofrerá sanções penais. Uma lei que, no fim das contas, acoberta e protege os
colaboradores poloneses dos nazistas ao mesmo tempo em que os nazistas são
feitos de bois de piranha.
Mas a coisa não para por ai. Como dito antes, essa é uma
ratoeira que visa em última instância apanhar não eventuais filonazistas, e sim
esquerdistas, além de fazer valer as narrativas da direita neocon brasileira (à
qual não apenas Tarcísio de Freitas, como também o professor HOC são ligados) sobre
determinados fatos históricos. E dessa forma direcionar o debate a respeito
desses temas na direção por eles desejada.
Sob o mesmo pretexto do combate ao que eles chamam de
discurso de ódio e negacionismo, a corda inevitavelmente será esticada e também
serão penalizados sob os mesmos pretextos professores de esquerda que
eventualmente, ao tratar do tema da crise de fome ocorrida na Ucrânia nos anos
de 1932 e 1933, resolvam questionar a narrativa do Holodomor, de que a União
Soviética, sob a liderança de Stalin, teria empreendido uma fome-genocídio com
vistas a promover um genocídio do povo ucraniano.
No chamado Holodomor fotos de fomes anteriores, entre elas a
fome do Volga de 1921 (ocorrida dentro do contexto da Guerra Civil Russa),
foram atribuídas como sendo da fome ucraniana de 1932 e 1933. Em 1932 e 1933 também
foram afetadas pela crise de fome outras regiões da União Soviética tais como a
bacia do rio Volga, o sul de Belarus, o norte do Cáucaso e o Cazaquistão. E a
fome (fruto de fatores naturais como secas e epidemias de tifo, colheitas
ruins, mais a reorganização do campo decorrente das políticas de coletivização
da URSS e sabotagens por parte dos kulaks)
não ficou restrita à União Soviética, visto que afetou até mesmo países como
Polônia e Romênia. Mesmo nos EUA, desastres climáticos como secas severas foram
observados nessa mesma época em regiões como o baixo Mississipi e o Oeste.
Foto – Capa de jornal de Hearst sobre a “fome soviética” na Ucrânia.
E mais paradoxal de tudo é que essa narrativa da
fome-genocídio do poder soviético sobre o povo ucraniano durante nos anos de
1932 e 1933 é uma narrativa de origem nazista. Uma narrativa que foi
originalmente promovida pela imprensa nazista (com vistas a preparar o terreno
para a conquista das regiões ao norte do Mar Negro por parte da Alemanha
hitlerista e justificar as ações ulteriores da mesma) e pelo magnata da
imprensa marrom William Randolph Hearst, um dos muitos bacanas do mundo dos
negócios americano que no período de 1933 a 1945 fez negócios com os nazistas.
Depois da guerra, a diáspora ucraniana no Ocidente (em
especial no Canadá), composta pelos filhos e netos daqueles que colaboraram com
os nazistas na Segunda Guerra Mundial, retomaram essa narrativa dentro do
contexto da Guerra Fria. Em 1987 foi produzido o filme “Colheita do desespero”,
sobre os eventos da fome na Ucrânia de 1932/1933. O filme em questão foi
financiado por nacionalistas ucranianos, principalmente do Canadá. Na mesma
época, a diáspora colaboracionista ucraniana também tentou incluir no currículo
canadense de história para o ensino médio a narrativa da fome-genocídio. A
fraude foi logo exposta por Douglas Tottle, por meio do livro “Fraud, Famine and Fascism”.
E a coisa não para por ai. Mesmo com o fim da União
Soviética, a narrativa do Holodomor continua viva e desde a independência da
Ucrânia em 1991 vem sendo usada por determinados grupos políticos para justificar
políticas de aproximação da Ucrânia com o Ocidente e até de hostilidades contra
a Rússia. Dessa forma, pode-se dizer que na Ucrânia atual há uma indústria do
assim chamado Holodomor similar à do Holocausto. Como também de que a narrativa
da fome-genocídio sobre o povo ucraniano é uma das principais alimentadoras do
sentimento anti-Rússia mundo afora, algo que a Operação Militar Especial deixou
bem evidente.
Algo digno de nota é que no Brasil, na trilha da Operação
Militar Especial da Rússia na Ucrânia, surgiram algumas iniciativas de
políticos como Álvaro Dias (Podemos – PR), que lançou um projeto de lei, o PL
423/2022, que propõe instituir no Brasil o dia de memória do Holodomor. Disso
para se proibir por lei o questionamento da narrativa criada nos anos 1930
pelos nazistas, por Hearst e depois requentada pelo governo Reagan, por Robert
Conquest e pela diáspora colaboracionista ucraniana no Canadá (e mais
recentemente pelo Thiago Braga nos vídeos dele no You Tube) é praticamente que
um pulo.
Foto – William Randolph Hearst, magnata da imprensa marrom dos EUA, ao lado de oficiais nazistas.
E depois disso, será que esse tipo de coisa não será estendido
a professores que resolvam questionar narrativas como a de que, por exemplo, o
Saddam Hussein não apenas massacrava curdos e xiitas, como também durante a
guerra Irã-Iraque, teria supostamente gaseado os curdos no episódio de
Halabdža?
A verdade dos fatos é que o próprio Saddam Hussein (à época
o homem-forte do regime iraquiano) em 1970 não apenas reconheceu uma das
línguas curdas como idioma oficial do Iraque, como também a bi-nacionalidade
árabe-curda do Estado iraquiano. Com isso, os curdos ganharam parlamento
próprio e ministros em Bagdá.
Que fique bem claro uma coisa: é verdade que em determinados
momentos Saddam Hussein utilizou-se da força não apenas contra insurgências
encabeçadas por facções xiitas e curdas, da mesma forma que a União Soviética
utilizou-se do mesmo expediente para eliminar o nacionalismo ucraniano
(incluindo até mesmo enviar agentes ao exterior para eliminar as principais
lideranças do mesmo, entre eles Evgenij Konovalec, Lev Rebet e Stepan Bandera).
O que é preciso ter em mente é o seguinte: que os enfrentamentos que o regime
baathista iraquiano teve para com os curdos e os xiitas (incluindo os que
tiveram lugar em 1991 após a Primeira Guerra do Golfo, no norte e no sul do
Iraque), assim como os da União Soviética contra a OUN-UPA na Ucrânia ocidental
no pós-guerra, não foi de natureza sectária, e sim política, com vistas ao
esmagamento de movimentos separatistas que ameaçassem a integridade territorial
de ambos os estados e a impedir o surgimento de estados reacionários baseados
no sectarismo étnico-religioso.
Segundo o professor Ramez Maalouf, o que aconteceu em
Halabdža foi o seguinte: na verdade o ataque em questão foi feito não pelo
Iraque, e sim pelo Irã, o qual por sua vez cometeu um erro durante a batalha
pela cidade de Halabdža, onde ambos os lados da contenda usavam armas químicas.
A população local foi atingida por uma onda de gás cianeto, o gás usado pelo
Irã na guerra, e não o gás que o Iraque usava. No caso o gás mostarda.
O primeiro a acusar Saddam Hussein de utilizar armas
químicas contra os curdos foi o então secretário de Estado dos EUA George
Schultz. Com base nessa acusação, o Senado dos EUA aprovou sanções contra o
Iraque de forma unânime. Entretanto, essa mesma acusação foi desmascarada pelo
ex-analista da CIA Stephen Pelletiere por meio de um artigo desmentindo as
acusações de Schultz.
A CIA averiguou o fato, e como as provas apresentadas por
Pelletiere eram irrefutáveis os grandes veículos de mídia ocidentais
literalmente o jogaram para debaixo do tapete e passaram a ignorá-lo. Ao passo
que a acusação de Schultz foi aceita até mesma por setores de esquerda como uma
verdade incontestável de que o regime baathista do Iraque oprimia os curdos.
O fato é que a acusação de Schultz contra o Iraque serviu de
base para que o Iraque fosse destruído. Segundo Ramez Maalouf, “a acusação de
Schultz contra Saddam Hussein foi brandida como a grande prova incomensurável
da brutalidade, sadismo e selvageria de como o líder iraquiano tratava sua
própria população. Ela serviu como o mais forte pretexto para as invasões
ianques do Iraque em 1991 e até mesmo em 2003”.
Podemos muito bem dizer que a lorota de Schultz foi o ponto
zero, o momento no qual o ovo da serpente foi chocado. Mas não foi a única
dessas, e outras lorotas ainda estavam por vir. Para justificar a primeira operação
militar da dinastia Bush sobre o Iraque, outras mentiras foram ventiladas e utilizadas
que ajudaram a jogar ainda mais lenha na fogueira (e aceitas de forma acrítica
até por esquerdistas).
Quando o Iraque lançou a invasão ao Kuwait ainda em 1990,
surgiu nos noticiários uma garota de 15 anos chamada Nayirah. Esta, com lágrimas
nos olhos, lançou um testemunho em um comitê de Direitos Humanos do Congresso
dos Estados Unidos, em 14 de outubro de 1990, no qual alegou que o exército
iraquiano, entre outras coisas, invadia hospitais, arrancava bebês de suas
famílias ainda nas incubadoras e os deixava para morrer no chão frio. O
testemunho dela foi retransmitido em todo o território estadunidense.
Foto – Nayirah, a garota mentirosa do Kuwait cujo depoimento ajudou a empurrar os Estados Unidos para a Guerra do Golfo.
Posteriormente, revelou-se tratar-se de uma grande farsa. Revelou-se
que seu sobrenome era Al-Sabah e que ela era filha do embaixador do Kuwait em
Washington, Saud Nasser al-Sabah (o qual estava presente na audiência da filha).
E mais do que isso: segundo algumas fontes, ela foi treinada por Michael
Deaver, ex-assessor de comunicação do governo Reagan. E que a associação Citizens for a Free Kuwait, ligada ao
governo do Kuwait no exílio, encomendou esta campanha à empresa de relações
públicas Hill & Knowlton, no
valor de cerca de US$ 10 milhões.
Com o tempo, revelou-se que as declarações da jovem garota
eram um amontoado de lorotas, visto que não foram confirmadas por nenhum grupo
de direitos humanos ou meios de comunicação. Mas, no fim das contas, o estrago
já estava feito. Três meses após o depoimento de Nayirah, Bush I primeiro
lançou a invasão ao Iraque. E ainda por cima usando como justificativa para sua
aventura militar o testemunho de Nayirah.
E se acham que a coisa acabou com o falso testemunho de Nayirah,
ai é que vocês se enganam. Anos mais tarde outras lorotas surgiram. Mais
precisamente, as lorotas que justificaram a invasão do Iraque de 2003, agora
sob o comando de George W. Bush, o Bush II. Como a de que o Iraque esteve
envolvido nos atentados do 11/09/2001 (sendo que dos sequestradores desses
atentados nenhum deles era iraquiano), das armas de destruição em massa e a de
que o Iraque, segundo Bush II, formava um eixo do mal junto de Irã e Coréia do
Norte (sendo que depois de 1979 Irã e Iraque nunca se entenderam, e após a
queda de Saddam Hussein o Irã estabeleceu uma espécie de condomínio com os EUA
na nação mesopotâmica), ainda em 2002, antes mesmo de a guerra ser iniciada.
Algo também digno de nota é o fato de que antes mesmo de
Bush II tornar-se Presidente dos EUA, ainda durante o governo Clinton nos EUA,
Madeleine Albright, então secretária de Estado dos EUA, disse em entrevista que
as mortes decorrentes das sanções impostas ao Iraque à época valiam a pena em
nome de uma eventual mudança de regime em Bagdá.
No fim das contas, o Iraque, que um dia foi um dos países mais ricos e desenvolvidos do assim chamado Terceiro Mundo e erradicou de seu território mazelas como o analfabetismo e outras, depois de sobreviver a oito anos de guerra contra o Irã, invasão ianque de 1991 e anos seguidos de embargos e sanções econômicas, após a queda do regime baathista encabeçado por Saddam Hussein virou um estado falido. E é nesse contexto de falência estatal e guerras intestinas não só no Iraque como também na Síria, na Líbia e em outros países do mundo islâmico que o Estado Islâmico surgiu e se proliferou como erva daninha.
Diante desses fatos, uma pergunta: um queijinho está sendo
oferecido à esquerda, e este queijinho leva diretamente a uma ratoeira.
Entenderam esquerdistas, ou precisa desenhar? Com isso, narrativas como a da
fome-genocídio da União Soviética sobre a Ucrânia em 1932 e 1933, da opressão
do regime baathista iraquiano sobre os curdos e o gaseamento dos mesmos no
episódio de Halabdža, de que os sérvios provocaram o massacre de Srebrenica em
1992, de que na Líbia Kadaffi bombardeou a própria população em 2011 e de que
na Síria Bašar al-Assad utilizou armas contra o próprio povo em 2012, do
massacre russo em Buča, nada disso poderá ser questionado. E o mesmo valerá
para as lorotas das Nayirahs e Schultz da vida.
Em tempo: segundo notícia do Diário da Causa Operária,
ligado ao PCO (Partido da Causa Operária) datada do dia dois de novembro do
presente ano, de que um professor da rede privada de Porto Alegre (RS) está
sendo investigado por ter dito que o Hamas é um grupo político, e não um grupo
terrorista (e detalhe: o Hamas não é considerado grupo terrorista nem pelo
governo brasileiro e nem pela ONU).
Em tempo (parte II): há quem diga que os serviços de
inteligência de Israel tinham conhecimento do fato de que o Hamas estava para
fazer o ataque que fez, e que Netanyahu, às voltas com problemas políticos em
Israel e na iminência de ser preso, deixou que as coisas ocorressem da forma
como ocorreram para justificar o que ele vem fazendo em Gaza. Será que vão
querer censurar sob o pretexto do combate ao “negacionismo” e ao “discurso de
ódio” professores de esquerda que eventualmente resolvam questionar as
narrativas de Netanyahu e do partido Likud sobre o que vem ocorrendo em Gaza desde
o dia sete de outubro do presente ano?
E esse tipo de manobra não é nada de novo, diga-se de
passagem: ele está fazendo de Gaza o mesmo que Leopoldo Galtieri tentou fazer
ao lançar a desastrosa Guerra das Malvinas em 1982, como forma de afastar a crise
que se avolumava para o lado da junta militar argentina e que levou ao fim da
mesma um ano mais tarde. Resumindo a ópera, Gaza é as Malvinas de Netanyahu.
Fontes:
A influência BRASILEIRA na colonização da ÁFRICA PORTUGUESA.
Disponível em: A
influência BRASILEIRA na colonização da ÁFRICA PORTUGUESA - YouTube
La mentira de Nayirah, el montaje en el Congresso de EEUU
que sirvió para justificar la primera guerra de Irak (em espanhol). Disponível
em: La
mentira de Nayirah, el montaje en el Congreso de EEUU que sirvió para
justificar la primera guerra de Irak (eldiario.es)
Lei 17.817/2023. Disponível em: Lei
nº 17.817, de 27/10/2023 ( Lei 17817/2023 ) (al.sp.gov.br)
Os sete mitos criados pela mídia ocidental para destruir o
Iraque (2). Disponível em: Os
sete mitos criados pela mídia ocidental que ajudaram a destruir o Iraque (2)
(correiocidadania.com.br)
Os sete mitos criados pela mídia ocidental para destruir o
Iraque (3). Disponível em: Os
sete mitos criados pela mídia ocidental que ajudaram a destruir o Iraque (3)
(correiocidadania.com.br)
Polônia aprova polêmica lei que impede vincular o país aos
crimes do Holocausto. Disponível em: Polônia
aprova polêmica lei que impede vincular o país aos crimes do Holocausto |
Internacional | EL PAÍS Brasil (elpais.com)
Professor é perseguido por dizer que Hamas não é terrorista.
Disponível em: Professor
é perseguido por dizer que Hamas não é terrorista • Diário Causa Operária
(causaoperaria.org.br)
Rodrigo Lorenzoni apresenta projeto que veda revisionismo
histórico do Holocausto nas escolas. Disponível em: Rodrigo Lorenzoni apresenta
projeto que veda revisionismo histórico do Holocausto nas escolas | Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul
Silvered bronze medal, undated (1934) (em inglês).
Disponível em: Silvered
bronze medal, undated (1934) (kuenker.de)
Sionismo e nazismo: duas faces da mesma moeda do fascismo. Disponível
em: Sionismo
e nazismo: duas faces da mesma moeda do fascismo • Diário Causa Operária
(causaoperaria.org.br)
Tarcísio sanciona lei que proíbe professores de ensinarem
Holocausto de um ponto de vista negacionista. Disponível em: Tarcísio
sanciona lei que proíbe professores de ensinarem Holocausto de um ponto de
vista negacionista (terra.com.br)
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