Foto – Rei Vegeta III.
E com vocês, a oitava parte da série de artigos Freeza e Rei
Vegeta, com uma resposta minha ao último vídeo publicado por Lilia Schwarcz no
canal do You Tube dela.
Recentemente, mais precisamente no dia 23 de abril de 2022, a
historiadora Lilia Schwarcz (a mesma Lilia Schwarcz que há dois anos foi
cancelada por tecer comentários nada elogiosos a um clipe da Beyoncé e que em
2019 postou um vídeo em seu canal endossando certos malabarismos linguísticos
no português sob o pretexto de combate ao racismo) postou em seu canal no You
Tube um vídeo de três minutos e seis segundos de duração para lá de pavoroso, a
respeito da descoberta do Brasil (no ano passado, ela postou um vídeo de
conteúdo similar sobre o mesmo tema).
Vamos começar com o conceito de descobrimento. Segundo o
Dicionário Online de Português, entre os significados do verbo descobrir
inclui-se: 1 – tirar o que cobre, protege; 2 – abrir, destampar; 3 – Encontrar
o que era desconhecido, que estava escondido, achar; 4 – Divulgar algo nunca
divulgado, denunciar, revelar; 5 – Passar a conhecer alguma coisa, constatar.
Levando em consideração os significados da palavra acima
listados, fica bem claro e evidente que a historiadora não procura entender a
palavra, o termo descobrimento dentro da perspectiva europeia da época. Dessa
forma, pode-se dizer que ela cometeu um anacronismo ao atribuir uma visão de
algo ocorrido no século XV segundo os valores e princípios atuais.
Ademais, a questão do descobrimento da América não é uma
questão de quem teriam sido os pioneiros, se foi os indígenas ou os europeus, e
sim de que os portugueses e espanhóis, à época, desbravaram terras até então
desconhecidas a eles e o mais importante de tudo: as colocaram no mapa do mundo
por meio do processo de expansão marítima deles.
Pioneiro por pioneiro, cabe aqui lembrar que os primeiros
europeus que aportaram na América não foram os espanhóis ou os portugueses, e
sim os escandinavos, nos séculos X e XI, que sob a liderança de navegadores
como Erik o Vermelho e seu filho Leif Erikson estabeleceram colônias na
Groenlândia e no atual Canadá (Vinland). Só que como o empreendimento nórdico
em Vinland, por uma série de fatores (entre eles a hostilidade por parte dos
povos indígenas locais, chamados nas sagas nórdicas de skraelinger), teve vida curta e no fim das contas foi uma aventura
sem grandes consequências macrohistóricas, não se diz que Leif Erikson foi o
descobridor da América, e sim Cristóvão Colombo. A tal ponto que durante muito
tempo acreditou-se que as histórias contadas pelas sagas nórdicas sobre Vinland
não eram mais que histórias, até a descoberta em 1960 do sítio arqueológico de
L’Anse aux Meadows na Terra Nova.
Da mesma forma que, por exemplo, para os navegadores nórdicos
nos séculos IX a XI foi uma descoberta a chegada a terras como as ilhas Faroe,
a Islândia, a Groenlândia e a Terra Nova (diga-se de passagem, a expansão
viking foi a primeira grande expansão marítima europeia), para os espanhóis e
portugueses nos séculos XV e XVI igualmente foi uma descoberta a chegada à
América e a outras regiões do globo até então eram desconhecidas a eles. E da
mesmíssima forma que para os astecas ou os incas seria um descobrimento eles
chegarem à Europa ou à África. Do ponto de vista deles, obviamente.
É como você, quando começar a jogar um jogo como
Civilization ou Rise of Nations, se vê diante de um grande mapa todo escuro e
com um único ponto claro. Que é o ponto no qual o teu jogo começa. Na medida em
que o jogo progride e tuas unidades vão avançando por terrenos até então
desconhecidos e começam a fundar cidades, povoados e fortalezas você começa a
mapear o que até então estava oculto por uma tela negra. Você está descobrindo
o que até então lhe era desconhecido, em outras palavras.
Segundo, ela alega que a chegada dos portugueses ao Brasil
atual não foi um descobrimento ou o achamento, e sim uma invasão. Como podemos
falar que os portugueses invadiram o Brasil, sendo que o Brasil, como nós o
conhecemos hoje em dia, não existia? Sendo que à época o que havia na costa
brasileira eram várias tribos que praticavam um estilo de vida caçador-coletor
(similar ao que os ancestrais dos atuais alemães e escandinavos levavam na
Antiguidade e em grande parte da Idade Média), que constantemente viviam em
conflitos umas com as outras e que ao contrário dos maias, dos astecas ou dos
incas nunca formaram nenhuma grande civilização?
Fazendo uma analogia, isso seria a mesma coisa que dizer que
o Império Romano invadiu a Alemanha, a Áustria, a Hungria, a Bulgária ou a
Romênia nos primeiros séculos da Era Cristã, que o Império Árabe-Islâmico
invadiu o Egito, a Líbia, a Argélia, a Tunísia, o Marrocos, Portugal e Espanha
nos séculos VII e VIII, que o Império Mongol invadiu o Iraque, a Síria, a
Turquia, o Paquistão ou a Romênia nos séculos XIII e XIV, ou que o Império
Russo conquistou a Ucrânia e Belarus durante as partilhas da Polônia no final
do século XVIII, durante o reinado de Catarina a Grande (1762 – 1796).
Terceiro, ela alega que os portugueses massacraram milhões
de indígenas durante o processo de colonização daquilo que mais tarde veio a se
constituir como o Brasil e que houve um genocídio à época da colonização.
Foto – Lilia Moritz Schwarcz.
Sim, de fato, houve o despovoamento das Américas durante o
referido processo, por conta de diversos motivos (tais como guerras e epidemias
trazidas pelos europeus, contra as quais o organismo ameríndio não tinha defesa
imunológica). Entretanto, a fala dela durante o vídeo me passa a impressão de
que ela pensa que antes de 1500 não havia conflitos entre os povos indígenas que
aqui viviam e que havia a mais completa e total harmonia entre eles.
Como será que a Lilia Schwarcz pensa que grupos indígenas
como os tupis se expandiram pelo interior e pela costa brasileira nos séculos X
e XI? Distribuindo flores aos grupos indígenas que até então estavam
estabelecidos por essas bandas? Ou foi desalojando tribos rivais, os vencendo
em combate e eventualmente os absorvendo (ao menos parcialmente)? Óbvio que foi
a segunda opção. Nisso, muito sangue de tribos indígenas rivais (entre eles os
tapuias) foi derramado. Parece que para ela os indígenas que aqui viviam antes
de 1500 nunca tiveram passado de conquistadores, verdadeiros bons selvagens à
imagem e semelhança das ideias de pensadores europeus dos séculos XVI a XVIII,
como Erasmo de Roterdã, Tomas Morus e Jean Jacques Rousseau.
Quarto, que houveram de fato levantes e motins contra a
colonização portuguesa, mas ao mesmo tempo ela omite o outro lado da história
(não sei se por ignorância ou má fé): de que durante o mesmo processo colonizador
não foram poucos os casos de tribos indígenas que se aliaram aos portugueses. Nos
quais determinados grupos indígenas buscavam o auxílio lusitano contra grupos
indígenas rivais. Vide o episódio da França Antártica, no qual os portugueses
contaram com o apoio dos tupiniquins e guaianás, enquanto que os franceses se
aliaram aos tupinambás e goitacazes. E como se, por exemplo, não houvesse uma
forte presença indígena entre os bandeirantes (diga-se de passagem, a expressão
bandeira veio do costume tupiniquim de levantar bandeiras em sinal de guerra).
A fala dela passa a impressão de que tais interações entre
indígenas e portugueses nunca existiram. Parece que ela analisa as relações inter-raciais
do período colonial brasileiro segundo o parâmetro das relações inter-raciais
dos Estados Unidos (onde não houve o mesmo grau de miscigenação que houve nas
Américas Portuguesa e Espanhola).
Nessas alianças entre portugueses e indígenas, era comum chefes tribais indígenas fornecerem suas filhas aos colonizadores, por meio da
prática do cunhadismo. Que era uma antiga prática indígena que consistia de
incorporar estranhos à comunidade através do casamento com mulheres de uma
tribo. Graças a tais casamentos entre portugueses e mulheres indígenas, surgiu
um extrato mestiço na América Portuguesa (futuro Brasil). Parem e pensem: no
começo da colonização portuguesa, o português que veio para cá era de um número
bem reduzido em comparação com os indígenas. Sem costurar tais alianças com
certas tribos indígenas, seria impossível para a colonização portuguesa vingar
e dar origem ao Brasil que nós conhecemos.
O discurso de Lilia Schwarcz é, a meu ver, bem perigoso. Pode
não ser a intenção dela, mas é um discurso que ao ficar remoendo todos esses
episódios sem levar em conta as diversas nuances das relações entre
portugueses, indígenas e negros, legitima coisas como, por exemplo, depredações
e incêndios de estátuas de figuras como Pedro Álvares Cabral, Borba Gato e
outras figuras importantes para a construção do Brasil como nós o conhecemos.
E, como se trata de uma historiadora renomada na academia
brasileira, famosa por ter publicado obras sobre o Período Imperial Brasileiro (1822
– 1889) e sobre a Primeira República (1889 – 1930), tratar o período de uma
forma bem maniqueísta como se a história do Brasil colônia fosse uma mera
sucessão de massacres contra indígenas (e nisso repetindo feito um papagaio
lendas negras como aquela que os ingleses e os holandeses criaram em torno da
história da colonização espanhola da América) e negros, sem levar em conta que
estes também foram parte ativa da construção do Brasil, ao ouvir o que ela
disse no último vídeo dela senti-me no dever de escrever essa resposta a ela.
Para fechar, uma pergunta retórica a você, Lilia, com todo o respeito: você há
dois anos foi cancelada nas redes sociais por ter dito em coluna na Folha de
São Paulo comentários nada elogios sobre um clipe da Beyoncé. Não acha que está
mais que na hora de parar de endossar as pautas desses justiceiros sociais,
antes que eles te piquem de novo?
Por que para os zelotes desses movimentos de justiceiros
sociais não existem certas pautas moderadas ou pela metade. E isso é o que você
parece não entender. É por causa de pessoas como você, que bate palma para
certos malabarismos linguísticos sob o pretexto de combater o racismo, que hoje
há uma galera que fala em linguagem neutra (ou não binária) e um dia será
errado (e até crime passível de prisão) você falar o português corretamente.
Em outras palavras, a linguagem neutra nada mais é que o
escalonamento natural e inexorável do fato de que lá atrás vieram com um papo
de que favela tem que ser chamada de comunidade, negro de afrodescendente,
índio de povo originário, é errado usar palavras e expressões como denegrir e a
“coisa está preta”, entre outros malabarismos linguísticos. Essa história de
linguagem neutra não começou ontem e não irá parar nesse ponto. Vai escalonar
cada vez mais.
Foto – Freeza, pouco antes de destruir o Planeta Vegeta.
Fontes:
Aula | Descobrimento do Brasil? Disponível em: Aula | Descobrimento do
Brasil? - YouTube
Aula | O Brasil foi descoberto? Disponível em: Aula | O Brasil foi mesmo
descoberto? - YouTube
16 termos racistas para abolir do seu vocabulário.
Disponível em: 16 termos
racistas pra abolir do seu vocabulário - YouTube
História do Brasil: os 500 anos do país em uma obra
completa, ilustrada e atualizada. São Paulo: Folha de São Paulo, 1997.
Significado de descobrir. Disponível em: Descobrir - Dicio, Dicionário Online
de Português
Tupis. Disponível em: Tupis – Wikipédia, a enciclopédia
livre (wikipedia.org)
O que acha de fazer um artigo falando sobre a hipocrisia da advogada feminista Gabriela Prioli, que se diz contra o racismo, mas é uma racista de mão cheia? Esta semana que passou, ela sambou num desfile de carnaval fora de época, toda cheia de pompa, e deixando bem claro o quão preconceituosa é.
ResponderExcluirFica para um próximo artigo. Já ouvi falar muito a respeito dela.
ExcluirEu já assisti vários vídeos dela no Youtube, e quase vomitei com todos. É de dar náuseas.
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