Foto – Tweet da
professora Roksana sobre o caso.
Nos últimos dias, temos visto alguns eventos no mínimo
preocupantes, decorrentes da invasão russa à Ucrânia. Mais precisamente, uma
escalada de russofobia varrendo o mundo.
No Brasil, tivemos o caso da professa Roksana Valeeva Rosa,
casada com um brasileiro e que ministrava aulas de russo no interior paulista,
resolveu sair do Brasil depois que passou a sofrer ataques russofóbicos após o
início das operações militares da Rússia na Ucrânia. Em maio, o casal irá morar
na Rússia.
Ataques a Igrejas ortodoxas ligadas ao Patriarcado de Moscou
também foram observados: em Buenos Aires, capital da Argentina, a Catedral da
Anunciação, principal templo ortodoxo russo portenho, foram feitas no dia dois
de abril pichações comparando Putin a Stalin e os chamando de genocidas. Uma
comparação que faz alusão ao famigerado Holodomor, ocorrido em 1932 e que
segundo os nacionalistas ucranianos teria ceifado cerca de quatro milhões de vidas
ucranianas à época. O Holodomor que, a propósito, nos últimos anos vem sendo
utilizado pela Ucrânia pós-independência de uma forma similar a que o estado de
Israel vem usando o Holocausto desde 1948 (assunto sobre o qual falaremos em um
próximo artigo).
Foto – Pichações na Catedral da Anunciação, principal templo ortodoxo da Argentina, em Buenos Aires.
E antes mesmo desse evento, a presidente das associações de
entidades russas na Argentina, Silvana Jarmoluk, esteve denunciando outras
manifestações de hostilidade à Rússia e aos russos.
Desde que as operações militares na Ucrânia, para além de
sanções econômicas levantadas pelos países ocidentais, viu-se uma escalada
massiva de cancelamento da nação eslava. No âmbito esportivo, a FIFA excluiu a
Rússia da repescagem das eliminatórias da Copa do Mundo (na qual ia enfrentar a
Polônia, que por sua vez acabou ficando com a vaga) e os times russos foram
barrados das principais competições europeias de clubes (entre eles o Spartak
de Moscou, um dos principais e mais tradicionais times russos, que ia jogar
contra o RB Leipzig pelas oitavas-de-final da Liga Europa [antiga Copa da UEFA]).
O Grande Prêmio da Rússia, que ocorre em Soči desde 2014, foi limado do
calendário da Fórmula 1 desse ano. Ainda na Fórmula 1, Nikita Mazepin foi
despedido de sua equipe, a Haas.
Na área cultural, a 59ª Bienal de Veneza o pavilhão da Rússia
ficará fechado e o evento não contará com a presença de Aleksandra Sukhareva e
Kirill Savčenkov, os dois artistas escolhidos para representar a Rússia. Na
semana de moda de Paris, a participação do estilista russo Valentin Judaškin
foi cancelada por ele não ter se posicionado quanto aos acontecimentos na
Ucrânia.
A música russa foi proibida na Polônia, e gatos de origem
russa foram proibidos de participar de competições por ordem da Federação
Felina Internacional.
Na Alemanha, tivemos o caso do maestro russo Valerij
Georgiev, apoiador de Putin que foi demitido do cargo de condutor chefe da
Orquestra Filarmônica de Munique por se recusar a condenar a ofensiva russa na
Ucrânia. O mesmo aconteceu com a soprano russa Anna Netrebko, também apoiadora
de Putin, que foi afastada de encanções de peças pelo Metropolitan Opera de
Nova York.
A Universidade de Milão cancelou um curso sobre Fëdor
Dostoevskij, um dos maiores nomes da literatura mundial. Também na Itália, mas
em Genova, um festival de teatro também dedicado a Dostoevskij foi cancelado.
Na França as delegações russas foram banidas do Festival de cinema de Cannes,
exceto aquelas que se declarem contra o presidente Putin. A participação russa
foi vetada do Eurovision.
E o mais gozado dessa situação toda é que quando a Alemanha
incitou e provocou a guerra na Iugoslávia no começo dos anos 1990 ao reconhecer
as independências da Croácia e da Eslovênia (a Alemanha recém-reunificada, sob
a liderança de Helmut Kohl, inclusive armou os croatas e os eslovenos com armas
até então armazenadas em depósitos militares da antiga Alemanha Oriental),
ninguém cancelou a Nina Hagen, o Ivan Rebroff ou qualquer outro músico alemão.
Quando houve a guerra das Malvinas, em 1982, ninguém
cancelou o Paul MacCartney, o Sting, o Freddy Mercury ou qualquer outro cantor
ou músico inglês.
Quando a França invadiu a Líbia em 2011 (junto com os
Estados Unidos e a Inglaterra) e o Mali em 2013, ninguém cancelou a Zaz, o Manu Chao ou
qualquer outro músico francês. A França pode participar tranquilamente da Copa
de 2014, assim como os times franceses das competições europeias de futebol à
época.
E quando os Estados Unidos invadiram o Iraque em 1991 e
depois em 2003, ninguém cancelou o Michael Jackson, a Madonna ou o Isaac Hayes.
Dois pesos, duas medidas. Uns podem mais que outros.
Fontes:
Artistas, pilotos, autores e gatos. A onda de cancelamentos
aos russos depois da invasão ordenada por Putin. Disponível em: ObjetivaCast
WebRadio - Artistas, pilotos, autores e gatos. A onda de cancelamentos aos
russos depois da invasão ordenada por Putin – Observador
Gatos russos são banidos de competições pela Federação
Felina Internacional. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2022/03/4991478-gatos-russos-sao-banidos-de-competicoes-pela-federacao-felina-internacional.html
Não se pode cancelar uma cultura inteira ou prejudicar os
russos só por serem russos. Disponível em: Não
se pode cancelar uma cultura inteira ou prejudicar os russos só por serem
russos - CartaCapital
Nomes da música erudita são “cancelados” por serem russos.
Disponível em: Nomes
da música erudita são “cancelados” por serem russos - Diário Causa Operária
(causaoperaria.org.br)
Professora russa desiste de viver no Brasil. Disponível em: Professora
Russa desiste de viver no Brasil por Russofobia - Diário Causa Operária
(causaoperaria.org.br)
Rusofobia:
vandalizan la principal iglesia ortodoxa del país y denuncian discriminación
(em espanhol). Disponível em: Rusofobia: vandalizan la
principal iglesia ortodoxa del país y denuncian discriminación - El Argentino
Diario
Vandalizaron
la principal iglesia ortodoxa rusa del país (em espanhol). Disponível em: Vandalizaron la principal
iglesia ortodoxa rusa del país - Diario El Sol. Mendoza, Argentina.
Situação quase semelhante a casos de artistas que interpretam vilões em filmes ou novelas, que muitas vezes são hostilizados na rua pelos telespectadores. Só que esse caso dos russos é ainda pior, pois envolve xenofobia. E esses canceladores de plantão deviam saber muito bem que xenofobia é crime. E do jeito que as coisas estão transcorrendo, não duvido nada que logo irão vandalizar paróquias ortodoxas russas, clubes, escolas de idiomas, dentre outros estabelecimentos propriedade de russos viventes no Brasil.
ResponderExcluirQuem sabe até professores e estudantes de russo (como é o meu caso)...
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