quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Freeza e Rei Vegeta, parte VII


Foto – Rei Vegeta sobre uma cidade tsufuriana devastada (Dragon Ball GT).

E agora com vocês a sétima parte da série de artigos “Freeza e Rei Vegeta”. Dessa vez, trago um artigo traduzido do espanhol que encontrei ao acaso na Internet a respeito do que venho tratando desde a primeira parte.

Tehuelches, o povo originário da Patagônia e a invasão mapuche (por Gustavo Cairo)

Domingo, 10 de outubro de 2021

A desmistificação da presumida “originalidade” mapuche nas terras da Patagônia. Gustavo Cairo, entusiasta da história e deputado provincial pelo PRO em Mendonza, deixa aqui seu testemunho a respeito.

Já faz alguns anos que vemos como na Patagônia argentina certos grupos mapuche que se autodenominam “originários” tomam terras e exercem atos de violência, invocando supostos direitos ancestrais sobre esses territórios.

Se há um povo que pode ser considerado originário da Patagônia é o tehuelche, que a habitou desde uns dez mil anos. Magalhães os chamou “patagões”, quando desembarcou na região que logo em sua honra se denominou Patagônia. Eles se chamavam a si mesmos “aóniken”, a denominação “tehuelche” os mapuche a deram muito tempo depois. Quem visitou a região no século XVII como o jesuíta Mascardi ou o marinheiro Villarino documentaram que nas margens do Nahuel Huapi ou ao sopé do vulcão Lanín viviam tribos tehuelches. Nomes como Esquel, Gaiman e Chaltén provêm de sua língua. A Caverna das Mãos em Santa Cruz apresenta restos arqueológicos tehuelches de milhares de anos de antiguidade.

Os mapuches são originários da Araucania chilena. Alguns grupos começaram a cruzar a cordilheira e instalar-se no atual território argentino a partir do século XVI, depois da chegada dos espanhóis, em um processo denominado “araucanização da Patagônia”.

Antropólogos e historiadores do Chile e da Argentina coincidem na origem chilena deste povo e sua chegada relativamente recente ao leste da cordilheira dos Andes. O reconhecido antropólogo chileno José Bengoa, autor de “História do povo Mapuche” expressa: “antes da chegada dos espanhóis ao Chile, os pampas argentinos estavam habitados por pequenos grupos indígenas não mapuches. Os mapuches não tinham relações com o pampa e se circunscreveram a seu território no lado chileno”. O argentino Antonio Serrano coincide: “Os araucanos não são oriundos do território argentino. Seu estabelecimento nele e a araucanização dos núcleos autóctones é relativamente recente. Os araucanos propriamente ditos ocupavam no momento da conquista do território chileno e eles se nomeavam mapuches”. Mlcíades Vignati da Academia Nacional de História escreveu: “Os indígenas de procedência chilena que invadiram o território na segunda metade do século XVIII, até lograr a hegemonia sobre as outras tribos... Estes elementos eram chilenos da raça araucana”. Por sua parte o historiador anarquista Alvaro Yunque em “Calfucurá, a conquista dos pampas” relata: “antes da raça vinda do Chile... as pampas foram habitadas por índios aborígenes delas, pampeanos autênticos. Lentamente foram substituídos, por eliminação ou absorção, pelas raças mais agressivas e inquietas de Arauco”.

Foi um choque de culturas. Os tehuelches eram amigáveis e acreditavam na convivência pacífica com os brancos. Diversos testemunhos dão conta disso: Musters, um viajante inglês que conviveu com eles mais de um ano desde 1870, disse em seu livro “Vida entre os Patagões”: “os tehuelches são bondosos, de bom caráter. Em minhas relações com eles me trataram sempre com lealdade e consideração, e dispensavam o maior cuidado a meus poucos pertences”. Ramon Lista escreveu em “Os tehuelches, uma raça que desaparece”: “o tehuelche é hospitaleiro, em seu lugar até o inimigo é inviolável”. Os araucanos, pelo contrário, traziam uma mentalidade guerreira, agressivas e eram muito superiores em número. As consequências foram trágicas para os tehuelches.

Os tehuelches chamavam os araucanos de chenna (guerreiros). Musters conta que “os mapuches tinham escravos tehuelches”, capturados nas batalhas das Ravinas Brancas sobre o rio Sengel e Geylum próxima de Nahuel Huapi. Em relação a essas lutas Ramón Lista nos diz: “começam as incursões vandálicas dos araucanos. Os toldos tehuelches são surpreendidos e assaltados ao amanhecer, se combate corpo a corpo, a lança, a flecha, a bola: os anciãos desarmados são estrangulados; as mulheres e as crianças fogem apavoradas; ao uivo de uns lhes responde o grito de vingança de outros; tudo é confusão, e o sangue umedece a terra. Os tehuelches quase desfeitos se reorganizam, estreitam suas filas, e depois de alguns momentos rechaçam a horda araucana que foge levando não poucas mulheres e crianças cativas. Estas razias se repetem de tempos em tempos”. Entras as mais sangrentas batalhas está a de Languiñeo, (“lugar dos mortos”), próximo da atual cidade de Tecka. Nela, no começo do século XIX os araucanos atacaram os tehuelches em um combate que durou três dias. O saldo foi de centenas de mortos aóniken. Entre os sobreviventes, as mulheres foram tomadas por araucanos e submetidas a seu arbítrio. As crianças, assimiladas. Foram encontradas no lugar numerosas sepulturas, armas e ossos dos vencidos. O cacique mapuche Chocory, quem comandava aos atacantes, tomou como uma de suas esposas a uma tehuelche, que eventualmente seria a mãe de Sayhueque, rei do “país das maçãs”.

O chileno Guillermo Cox que cruzou em missão exploratória ao território argentino em 1863 nos conta em seu livro “Viagem às regiões setentrionais da Patagônia” sobre a matança de Pedra Shotel, de 1820, onde o cacique araucano Paillacán atacou aos tehuelches com armas de fogo. O assalto aconteceu de surpresa ao amanhecer e durou várias horas. A derrota tehuelche foi sangrenta. Federico Escalada em “O complexo Tehuelche” entrevista a dona Augustina Quilchaman de Manquel, cujo bisavô foi tomado cativo, junto a sua mãe e quatro irmãs logo depois dessa sangrenta batalha em que entre tantos mataram a seu pai. Duas das irmãs foram tomadas como esposas pelo vencedor Paillacán. A mãe de seu bisavô também foi levada como esposa de um araucano, por direito de conquista. “As mães tehuelches jamais esqueceram a afronta sanguinária infligida a sua estirpe derrotada... nem a lembrança dos entes queridos massacrados nisso durante as noites insones do cativeiro”. Todas estas batalhas de extermínio sobre os tehuelches fazem pensar em um verdadeiro genocídio.

A atitude em relação aos cristãos também foi diametralmente oposta. Os tehuelches tinham uma excelente relação comercial com os espanhóis/argentinos de Carmen da Patagônia e os galeses de Chubut. Intercambiaram plumas de ema e peles por pão, tabaco, açúcar e aguardente. Em Chubut desde 1865 até a atualidade se comemora o encontro entre galeses e tehuelches. Em 1965, para o centenário desse evento, em Porto Madryn foram inaugurados dois monumentos, um à Mulher Galesa e outro ao Índio Tehuelche.

Dionísio Schoo Lastra em “O Índio do deserto” relata: “Casimirio (cacique tehuelche) levava sempre uma bandeira azul e branca, que fazia tremular em reuniões, festas e conselhos, com o propósito deliberado de significar que eles eram índios argentinos”.

Este cacique, na última etapa da Campanha do Deserto e ao ter conhecimento em 1881 da chegada vitoriosa da expedição do general Villegas ao lago Nahuel Huapi “se apresentou com seus índios ao acampamento argentino com a bandeira nacional à frente, e foi recebido com honras de um soldado”. Musters foi testemunha de um discurso pelo qual os tehuelches “concordaram em colocar às ordens de Casimiro com o conselho de defender Patagões em caso possível de uma invasão dos índios de Calfucurá... Porque se essa população fosse destruída, não haveria mercado para suas peles”.

Os mapuches, pelo contrário, traziam uma cultura de luta e ódio contra o “huinca”. O fim da Guerra de Independência no Chile com a batalha de Maipú em 1818 determinou que tribos mapuches inteiras, que em sua maioria apoiaram os realistas, cruzaram a cordilheira para instalar-se definitivamente em solo argentino. Entre elas os voroganos e os ranqueles, que inauguraram uma época de desolação entre as tribos tehuelches do pampa atacando-as sistematicamente. Sob a liderança dos caciques chilenos Calfucurá e Yanketruz, as sangrentas incursões marcaram toda época. Os campos e povoados de San Luís, Mendoza, Córdoba e Buenos Aires eram arrasados, com um saldo de milhares de mortos e cativos, o roubo de milhares de cabeças de gado e a pretensão de negociar de potência a potência com Argentina, desconhecendo a soberania nacional em toda a pampa e a Patagônia.

Os Pampas, que eram os tehuelches da região pampeira se puseram do lado das autoridades argentinas. Juan Catriel combateu junto a Rosas aos araucanos e foi um amigo inabalável dos cristãos. Seu filho Catriel o jovem, foi nomeado coronel do exército argentino e morreu luta contra quem denominava “índios chilenos invasores”. Seu neto Cipriano Catriel e suas lanças foram fundamentais para derrotar a Calfucurá na batalha de San Carlos em 1872.

As campanhas do deserto de Rosas de 1833 e de Roca de 1879, que resgataram milhares de cativas, foram contra essas tribos invasoras, nunca contra os tehuelches. A diferenciação era muito clara. Estanislao Zeballos escreveu em 1878: “Habitam a Patagônia os índios de outra nação acessível à civilização por sua índole pacífica e seus instintos humanitários, os Tehuelches... não são invasores, porque sua índole e seus costumes diferem radicalmente dos caráteres morais e elementos materiais dos araucanos. Os tehuelches são índios naturalmente preparados para a civilização”.

Federico Escalada nos passa uma imagem – já no século XX – de dois dos últimos caciques tehelches: “Keltchamn... é o último grande chefe tehuelche com mando efetivo da Patagônia. O registro deste nobre chefe ficou como um exemplo imutável da fidalguia, pureza e desinteresse de que foi capaz esta raça. O consenso dos antigos povoadores que o conheceram é unânime. Correto, verdadeiro e de magnanimidade superior. As autoridades constituídas o consideravam como polícia e juiz das comarcas que dominava. Os povoadores brancos encontraram nele um bom amigo. Seu segundo, Venancio, seguiu com seu legado e foi capaz de desfilar com bandeira e lança, junto aos escolares, e às Forças da Gendarmaria Nacional. Atuava nessas circunstâncias com a dignidade corresponde a sua posição e participava dos atos pátrios. Aos sessenta e tantos anos morreu de uma sincope. Tivemos a dolorosa sensação de assistir ao último ato da trágica epopeia tehuelche”.

Para concluir, diremos que a Argentina sempre foi uma nação aberta a todos os que quiseram habitá-la em paz e com fins fecundos. Também foi um exemplo mundial de integração social, sem problemas raciais ou religiosos. É inadmissível que um grupo de impostores pretenda invocar ilegítimos "direitos ancestrais”, para usurpar violentamente propriedades e atacar pessoas. Algum desvairado talvez pretenda reeditar os delírios do aventureiro francês Antoine de Tounens que em 1860 se autoproclamou “rei da Araucania e da Patagônia”, considerando a essas regiões isentas da soberania de nenhum país. Muito menos tolerável é que o atual governo argentino por ação ou omissão, os ampare e encoraje seus atos de terrorismo.

Fonte: Tehuelches, el pueblo originario de la Patagonia y la invasión mapuche - Noticias de Mendoza - Memo (em español)

Meus comentários:

É bem no mínimo bem comovente (e ao mesmo tempo estranha) a choradeira que certos setores da esquerda, os mesmos que se regozijam com queimas de livros e derrubadas de estátuas, fazem para com os povos indígenas americanos. Chegam ao ponto de justificar tais atos iconoclastas em nome deles, sendo que isso não passa de demagogia barata em nome deles. Além disso, como esse texto bem mostra tais povos também tiveram seus dias de conquistadores de outras terras e subjugadores de outros povos. Parece que eles acreditam em coisas como mito do bom selvagem e outros contos da carochinha dessa estirpe (com roupagens mais modernas, obviamente).

Mas mais preocupante ainda é ver que existem setores de esquerda que se dizem defensores de uma América Latina unida e ao mesmo tempo batem palmas para aberrações como separatismo mapuche contra a Argentina e o Chile. Sem levarem em consideração não apenas a violação da integridade territorial argentina e chilena, como também o que sairá de uma brincadeira dessas, e que mãos operam por trás disso. Portanto, nós nos posicionamos contrários não apenas ao separatismo mapuche, como também em relação ao separatismo catalão contra a Espanha e outros afins. No fim das contas, o que vejo nos setores de esquerda em questão (como o pessoal do IELA) é que o que eles advogam não é uma América Latina unida e coesa, e sim um indigenismo barato. Pois sem o legado luso-espanhol advindo dos descobrimentos dos séculos XV e XVI não existiria as nações ibero-americanas como nós a conhecemos.

sábado, 4 de dezembro de 2021

Homenagem - 10 anos sem Sócrates, o eterno Doutor da bola

Foto - Sócrates, nos tempos em que jogava no Sport Club Corinthians Paulista, após marcar um gol.

Hoje, quatro de dezembro de 2021, completa-se um decênio sem um dos grandes jogadores do Brasil dos anos 1970 e 1980: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o Doutor Sócrates. Também conhecido por seu apelido Magrão.

Nascido em Belém do Pará em 19 de fevereiro de 1954, Sócrates se estabeleceu junto com sua família em Ribeirão Preto e lá iniciou sua carreira no Botafogo, em 1972. Após formar-se em Medicina na USP, ele sai do Botafogo e vai jogar no Corinthians em 1978. No Corinthians, ele se destacou não apenas por seu futebol, como também por seu ativismo político, liderando junto com jogadores como Casagrande o movimento Democracia Corinthiana (o qual pleiteou mais liberdade e mais participação dos jogadores nos destinos do clube paulistano) e por ter participado das Diretas Já em 1984. Chegou a ser fichado pela Ditadura Civil-Militar, em seus dias de agonia.

Após a passagem pelo Corinthians, foi jogar na Itália, mais precisamente na Fiorentina (1984-1985). À Fiorentina seguiram-se passagens por clubes como Flamengo (1985 – 1987) e Santos (1988 – 1989), até encerrar a carreira no clube que o revelou, o Botafogo da cidade de Ribeirão Preto.

Na seleção brasileira, jogou as Copas do Mundo de 1982 e 1986, sob o comando do técnico Telê Santana. Muitos consideram as seleções das Copas de 1982 e 1986, a despeito do fato de não ter sido campeão, como o melhor selecionado que o Brasil teve depois de 1970. Lá estava Sócrates, junto com outros eminentes jogadores de seu tempo como Toninho Cerezo, Falcão, Careca, Roberto Dinamite, Casagrande, Zico e outros.

Infelizmente Sócrates nos deixou, exatamente há 10 anos, depois de uma longa luta contra o alcoolismo, e curiosamente bem no mesmo dia em que o Corinthians ganhou seu quinto título brasileiro. Infelizmente, não teve a honra de ver seu time de coração vencer a Libertadores e o Mundial de Clubes no ano seguinte.

Mas, porque lembrarmos e celebrarmos o Doutor Sócrates, alguns me perguntarão? Hoje em dia, no futebol, proliferam tipos como Neymar, que politicamente são um zero à esquerda, uns verdadeiros asnos políticos que estão muito mais interessados em aparecer em redes sociais e outras futilidades de uma vida ostentatória. Fazem muita falta jogadores como o Doutor Sócrates, que tiveram todo um ativismo dentro e fora dos campos. Ainda mais em um momento muito difícil em que o nosso país vive.

Doutor Sócrates (1954 – 2011), presente!


domingo, 12 de setembro de 2021

Freeza e Rei Vegeta, parte VI.

Foto – Rei Vegeta (esquerda) e Rei Cold (direita). Screenshot do jogo Dragon Ball Z Budokai Tenkaiči 3, lançado para as plataformas Playstation 2 e Nintendo Wii em 2007.

E com vocês, a sexta parte da série de artigos Freeza e Rei Vegeta. E o assunto da vez é sobre algo que aconteceu no Canadá faz algum tempo envolvendo o politicamente correto e a hipocrisia de seus arautos no que tange à questão indígena local.

Já faz algum tempo que isso ocorreu, mas só agora, passados dois anos do ocorrido, que o ocorrido veio a público, por meio da Radio Canadá, que teve acesso a um vídeo onde se vê uma cerimônia regada a fogo e chamas. Isso está dentro do contexto da campanha eleitoral federal canadense, na qual a pauta da reconciliação com os povos indígenas tem sido um elemento importante nos comícios e plataformas eleitorais (visto que em junho deste ano restos mortais de crianças indígenas foram encontrados em escolas católicas situadas dentro de comunidades indígenas).

Nessa brincadeira toda, foram removidos álbuns e livros de histórias como Asterix (mais especificamente, o álbum Asterix e os índios), Tintin (Tintin na América e o Templo do Sol), Lucky Luke, Pocahontas e outras em 30 escolas canadenses, sob a alegação de que estes apresentam uma imagem humilhante dos povos indígenas do Canadá. Também foram eliminados os exemplares que contêm os termos “índio” e “esquimó”, considerados pejorativos há muitos anos.

Ao todo, 4716 livros de 155 obras (que incluem quadrinhos, romances e enciclopédias) foram retirados por um conselho escolar canadense, segundo fontes da Radio Canada, entre eles histórias de personagens icônicos como o Asterix, o Tintin e o Lucky Lucke. A organização Catholique Conseil, da província de Ontário e que cuida de 30 escolas, decidiu estabelecer uma “cerimônia de purificação pelas chamas” em uma de suas instituições. De início, a queima de livros estava planejada para todas as outras escolas ligadas à organização, mas essa ideia foi abandonada em favor da reciclagem dos mesmos.

Foto – Obelix e uma garota indígena. Imagem do filme “Asterix conquista a América” (1994), baseado na HQ “Asterix et les Indiens” (Asterix e os índios).

Faremos algumas considerações a respeito desse caso que ocorreu no Canadá há dois anos.

Como um fã das histórias de Asterix e Obelix de longa data, que já comprou HQs dos personagens criados por Albert Uderzo e René Goscinny e já viu filmes deles, é um caso lamentável e que me enoja profundamente, perpetrado por gente burra e estúpida. E ainda por cima com aval de uma rede escolar que se diz católica.

Lendo sobre as notícias sobre o caso, algo que salta aos olhos é a linguagem usada pelos iconoclastas que perpetraram tal ato (sim, não há termo melhor para descrever essa gente que esse).

“Estamos a enterrar as cinzas do racismo, da discriminação e dos estereótipos na esperança de que cresçamos num país inclusivo onde todos possam viver de forma próspera e segura”, disse o Conselho Escolar em um vídeo para os seus alunos.

Vocês estão muito enganados em achar que vão resolver as mazelas que afligem os povos indígenas do Canadá por meio de medidas cosméticas e paliativas como essa.

“As pessoas entram em pânico com a queima de livros, mas estamos a falar de milhões de livros que têm imagens negativas de povos indígenas, que perpetuam estereótipos e que são realmente prejudiciais e perigosos”, disse Suzy Kies, co-presidente da Comissão dos Povos Indígenas do Partido Liberal do Canadá (o partido de Justin Trudeau) e autora do vídeo na Rádio Canadá.

Ou seja, só os indígenas importam para você, né dona Suzy Kies (você, que mentiu esse tempo todo sobre ter raízes indígenas)? E é assim que você justifica uma política de tábula rasa sobre toda a produção cultural produzida em tempos anteriores que não se adequa ao pensamento politicamente correto dos dias de hoje?  Ou seja, com uma iconoclastia em ao estilo 1984? Muito esquisito isso...

“Este é um gesto de reconciliação com as Primeiras Nações, e um gesto de abertura para as outras comunidades presentes na escola e na nossa sociedade”, disse Lyne Cossette, porta-voz do conselho, a Radio Canadá.

Primeiras Nações? De onde será que a dita cuja tirou isso? Será que as confederações tribais que os nórdicos encontraram em Vinland na virada do século X para o XI eram as mesmas que os franceses e os ingleses encontraram no Canadá a partir do século XVI? E se um romano ou um gaulês do tempo de César cruzasse o Atlântico e apartasse no atual Canadá e se aventurasse pelo interior, será que ele encontraria as mesmas confederações tribais e culturas que os nórdicos e depois os ingleses e franceses encontraram? Óbvio que também não. Eles adoram falar em Primeiras Nações, sem se dar conta de que outras nações indígenas podem ter existido antes delas.

Também salta aos olhos a maneira como o premiê do Canadá, Justin Trudeau reagiu ao ocorrido. De maneira tímida e um tanto evasiva, ele disse que nunca concordaria com a queima de livros, mas em seguida soltou a seguinte pérola:

“Não cabe a mim, não cabe aos não-indígenas dizer aos indígenas como se devem sentir ou como se deve agir para promover a reconciliação”, o político do Partido Liberal do Canadá acrescentou.

O típico discurso liberal do lugar de fala que poderia muito bem ter saído da boca de alguém como a Djamila Ribeiro, em que apenas o negro pode falar do negro, o índio pode falar do índio, a mulher pode falar da mulher e por ai vai. Verdadeiro “Indiansplaining” a la Kéfera, só que saído da boca do atual premiê do Canadá.

Também me chamou a atenção o fato de que termos como índio e esquimó serem considerados pejorativos e passíveis de eliminação de livros que estão no acervo de biblioteca. Exemplo paradigmático do fato de que para pessoas como Suzy Kies e Justin Trudeau o cerne da luta está no vocabulário, e não em ações concretas.

Gostaria de fazer uma pergunta a esses iconoclastas que queimaram os livros em questão: acaso queimar livros do Asterix, do Tintin de outros personagens icônicos sob a alegação de combater o racismo vai resolver os reais problemas que afligem os indígenas canadenses, como a falta de acesso à água e outros? E irá resolver o problema do racismo e da discriminação que eles enfrentam? A resposta para ambas as perguntas é não. Não irá resolver tais problemas sob hipótese alguma. Esse tipo de coisa é como chamar favela de comunidade, ou mesmo perfumar fezes: algo que não altera situação concreta alguma.

Além disso, trata-se de um ato de pura iconoclastia, de fazer inveja a grupos como o Estado Islâmico e o Taliban. Em nada diferente do que o Estado Islâmico fez a monumentos como o leão de Palmyra na Síria em 2015 e o Taliban fez aos Budas de Bamyan no Afeganistão em 2001.

No fim das contas, é um ato que diz respeito muito mais sobre quem são os arautos do progressismo politicamente correto que sobre os personagens criados por autores como Albert Uderzo, René Goscinny, Hergé e outros (ou mesmo os autores em questão).

E ai eu pergunto: depois dos livros e HQs dos personagens icônicos em questão, quais serão os próximos alvos desses iconoclastas canadenses? Quem não me garante, por exemplo, que eles não vão querer queimar exemplares das sagas nórdicas (como a Saga dos Islandeses e a Saga de Erik o Vermelho) que retratam o episódio em que os nórdicos estabeleceram a colônia de Vinland pelo fato de chamarem os nativos que eles encontraram de skraelinger (palavra que no islandês moderno significa bárbaro e no dinamarquês moderno significa fracote)? Precisa desenhar, ou entenderam aonde que essa brincadeira pode chegar?

Como é sabido por nós, o Canadá, sob o primeiro-ministro Justin Trudeau, tem se mostrado um dos grandes baluartes do assim chamado progressismo global e suas pautas. Tanto que no país dos pilotos Gilles e Jacques Villeneuve até cismaram de criar um pronome neutro destinado a pessoas ditas “não-binárias”, tais como ze e zie, e uma lei que proíbe o desrespeito à “identidade de gênero”, em 2016. Por conta de uma lei absurda como essa que existem casos como o do professor universitário da Universidade de Toronto, Jordan Peterson, que foi perseguido por recusar-se a utilizar tais aberrações linguísticas.

E alguns me dirão: isso é algo que aconteceu lá no Canadá, para que ficar se preocupando com isso? Você está no Brasil, meu caro.

Como é de conhecimento geral de nós, os setores mais mainstream tanto da esquerda quanto da direita brasileira adoram copiar os modismos vindos de fora, em especial aqueles vindos das grandes universidades e metrópoles da Europa ocidental e dos Estados Unidos. E ainda mais se for coisa que não presta, e esse é o caso do tipo de coisa que eles adoram copiar.

Vai que essa brincadeira que começa lá no Canadá daqui um tempo também chega aqui, impulsionada por partidos da esquerda do figurino do Partido Democrata como o PSOL e outros (a mesma esquerda que vive falando em queimar e derrubar monumentos a figuras da história brasileira como Cabral e Borba Gato e proibir tais homenagens por meio de uma lei inócua, o PL 5296/2020)? Ainda mais levando em conta que essa mesma esquerda vem há tempos falando em censurar autores como Monteiro Lobato, por motivos similares que levaram à queima dos já citados livros no Canadá.

Foto – Obelix, Tintin e Lucky Lucke sendo queimados por seus canceladores.

Fontes:

Asterix y Tintin, entre los más de 4700 libros infantiles destruidos en Canadá por “ofender” a los indígenas (em espanhol). Disponível em: Astérix y Tintín, entre los más de 4.700 libros infantiles destruidos en Canadá por “ofender” a los indígenas | Internacional | EL PAÍS (elpais.com)

Canadá aprova lei que proíbe desrespeito à identidade de gênero. Disponível em: Canadá aprova lei que proíbe desrespeito à identidade de gênero (uol.com.br)

Escolas canadenses fizeram queima de livros com estereótipos indígenas. Disponível em: queima de livros asterix - Bing

Escolas queimam livros do Asterix e do Tintin por ofensas a indígenas no Canadá. Disponível em: Visão | Escolas queimam livros do Astérix e do Tintin por ofensa a indígenas no Canadá (sapo.pt)

Livros de Tintin, Asterix e Lucky Luke queimados em escolas por serem discriminatórios. Disponível em: Livros de Tintin, Astérix e Lucky Luke queimados em escolas por serem discriminatórios. (centralcomics.com)


segunda-feira, 6 de setembro de 2021

A esquerda soropositiva.

 

Foto – George Soros (esquerda) e Fernando Haddad (direita).

É incrível e ao mesmo tempo patético ver que no afã de atacar Bolsonaro e outros políticos de sua estirpe certos setores da esquerda (tanto brasileira quanto internacional) são capazes de tudo. Até mesmo de defender um abutre das finanças internacionais como George Soros. E é sobre isso que falaremos agora.

A essa esquerda, que chega ao ponto de defender um megaespeculador como George Soros dos ataques da Extrema Direita (quando o que deveria fazer é afirmar a venalidade do megaespeculador ao mesmo tempo em que apresenta as imprecisões do discurso da direita), eu dou o carinhoso nome de esquerda soropositiva, bem ao estilo Paulo Henrique Amorim (que Deus o tenha em boas mãos).

Um bom exemplo disso que vos falo é um vídeo que encontrei no You Tube, do professor Michel Gherman, intitulado “Arquitetura do ódio”. Um vídeo para lá de pavoroso, em que o dito professor em momento algum fala quem é George Soros de fato e ainda o iguala a figuras como Paulo Freire e Gramsci. Dá se a impressão inclusive de que a antipatia em relação ao megaespeculador do nada surgiu e que nesse tempo todo ele não deu os mais variados motivos para que muitas pessoas, de diversas nacionalidades e tonalidades políticas, desenvolvessem antipatia por ele.

Ele chega ao ponto de dizer a seguinte pérola: de que a extrema direita condena um refugiado como um assassino. Como se o fato de ele ter sido um refugiado durante a juventude desse carta branca para fazer tudo o que ele fez depois que se tornou um megaespeculador. Pode-se dizer que o professor Gherman repetiu o que o Henry Bugalho (que por sua vez chega a dizer que o senhor Soros é alguém que luta pela democracia no mundo) disse no vídeo dele sobre o megaespeculador, publicado no ano passado.

Por mais reservas que podemos ter em relação a Gramsci, Janus Korczak ou Paulo Freire (que são intelectuais renomados, diga-se de passagem), tal comparação é, no mínimo, ridícula e descabida. Existem motivos de sobra (e válidos, diga-se de passagem) para que Soros atraia antipatia por pessoas que pertencem a diversos espectros ideológicos. No Brasil, desde o finado Doutor Enéas até Rui Costa Pimenta. No plano internacional, desde Órban, Trump e Putin até o pan-africanista Kemi Seba. Entre outros tantos exemplos.

Uma breve pesquisa sobre as atuações de Soros pelo mundo mostra todo o seu histórico de ações funestas pelo mundo.  Ele participou ativamente da debacle do bloco soviético ao financiar grupos como o sindicato Solidariedade na Polônia. Lucrou horrores com a desgraça dos povos da Europa Oriental após o fim da União Soviética. Em 1992, por meio de um ataque especulativo, ele “quebrou” o Banco da Inglaterra e faturou nessa brincadeira o equivalente a cerca de R$ 1 bilhão de libras. E depois disso teve envolvimento direto nas revoluções coloridas por meio de suas ONGs, entre elas a Open Society, entre elas o Euromaidan na Ucrânia (que teve consequências funestas para a nação eslava que outrora era parte do Império Russo e da União Soviética), além de financiar grupos como o Black Lives Matter (a milícia a serviço do Partido Democrata que como nós sabemos teve ativa participação no motim colorido contra Trump).

Para ver como hoje temos uma esquerda sem dentes para morder (parafraseando Nildo Ouriques) e que renunciou a praticamente todas as bandeiras que antes defendia, basta citarmos o seguinte exemplo: enquanto que nos anos 1990 a atuação do megaespeculador de origem húngara era objeto de denúncias por parte do finado Doutor Enéas (incluindo na negociata que levou à privatização da Vale do Rio Doce, em 1997 e na questão da liberação de narcóticos), hoje nós vemos políticos ditos de esquerda como o petista Fernando Haddad (o mesmo Haddad que no ano retrasado alfinetou a Gleisi Hoffmann depois que a política gaúcha compareceu à posse de Nicolás Maduro na Venezuela) defenderem o mesmo Soros, em especial quando a extrema direita lança seus ataques e teorias da conspiração.

O próprio Haddad, diga-se de passagem, conta que esteve em uma reunião ao lado não só do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como também do megaespeculador, em um evento ligado à ONG Open Society, uma das muitas ONGs que ele mantem por meio de seu dinheiro. É estarrecedora no vídeo em questão a maneira como que Haddad se refere a Soros: como se ele não fosse o tubarão do mundo das finanças que ele é e como se ele não tivesse tudo o que ele fez ao redor do globo ao longo desses anos todos.

Também participou de eventos ligados à ONG Open Society Manuela d’Ávila, candidata à Presidência da República em 2018 pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil). Tal evento teve lugar no Rio de Janeiro e teve como tema drogas e segurança pública. Tudo haver com a agenda da sociedade defendida por Soros.

E a coisa não para por ai: segundo Rui Costa Pimenta, dirigente do PCO, Anielle Franco, a irmã de Marielle Franco e diretora do instituto que carrega o nome da finada irmã, é uma funcionária de Soros no Brasil. Além dela, Soros possui outros tentáculos no Brasil, entre eles Armínio Fraga, Ilona Szabó, Paulo Guedes, entre outros.

Ainda segundo matéria publicada no Site Gazeta do Povo no dia seis de junho desse ano, a Open Society distribuiu cerca de US$ 32 milhões (o equivalente a cerca de R$ 117 milhões, dado o câmbio médio de cada ano) para 118 organizações. Entre elas ONGs e instituições como Sou da Paz, Instituto Igarapé, Baobá – Fundo para Equidade Racial, Quebrando o Tabu, Open Knowledge Brasil, Coletivo Papo Reto, Escola de Ativismo, Coletivo de Entidades Negras, Instituto Alana, Viva Rio, Grupo pela Vida, entre outros.

O maior de todos os beneficiados nesse período, segundo a matéria em questão, foi a Conecta – Associação Direitos Humanos em Rede, com uma polpuda verba de R$ 2,3 milhões. Seguido de perto de outras ONGs como o Instituo Sou da Paz (R$ 1,8 milhão), notório por sua defesa do desarmamento civil da população brasileira, e o Instituto Igarapé (R$ 1,5 milhão), instituição comandada por Ilona Szabó (a mesma Ilona Szabó que foi nomeada por Sérgio Moro como membro suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, mas que foi removida de seu cargo por ordem do presidente Bolsonaro) e que atua na defesa da descriminalização dos narcóticos.

Diga-se de passagem, eu particularmente vejo partidos e organizações de direita brasileiras abordando mais esse assunto que os partidos de esquerda (tirando o PCO e mais um ou outro nanico).

Em minha humildade opinião, lideranças como o russo Vladimir Putin e o húngaro Viktor Órban estão mais do que certos em tomar medidas para banir Soros e manter sua deletéria influência o mais longe possível de seus respectivos países. Medidas que incluem, entre outras coisas, o banimento de ONGs ligadas ao tubarão do mercado financeiro, tais como a Open Society e outras.

E ai eu fecho esse artigo com a seguinte pergunta: se certos setores da esquerda são capazes de defender um megaespeculador do mundo das finanças internacionais como o George Soros de ataques vindos da Extrema Direita, seria essa mesma esquerda capaz de defender pessoas tão ou mais venais quanto o senhor Soros, tais como Klaus Schwab e os arautos do Grande Reset que emana do Fórum de Davos? Para mim, não seria nenhuma surpresa se eu visse, dada a debilidade dessa esquerda. Que faz de tudo para merecer a denominação de esquerda soropositiva, dada a sua debilidade, fraqueza e pusilanimidade, em não ver que pessoas como Klaus Schwab, Bill Gates e George Soros são um mal muito maior que qualquer Bolsonaro da vida.

Foto – Klaus Schwab, arauto do Grande Reset e do mundo 4.0: “você não terá nada e será feliz sobre isso”.

Fontes:

Anielle Franco: funcionária de Soros. Disponível em: Anielle Franco: funcionária de George Soros - YouTube

Arquitetura do ódio| Michel Gherman| Fora de lugar. Disponível em: ARQUITETURA DO ÓDIO | Michel Gherman | Fora de Lugar - YouTube

Conheça a Open Society, a ONG que quer sua família refém de bandidos. Disponível em: Conheça a Open Society, a ONG que quer sua família refém de bandidos. - YouTube

Dr. Enéas Ferreira Carneiro/George Soros. Disponível em: Dr Enéas Ferreira Carneiro / George Soros. - YouTube

FHC, Quebrando o Tabu e juízes: quem George Soros financia no Brasil. Disponível em: Quem George Soros financia no Brasil: FHC, Quebrando o Tabu e juízes (gazetadopovo.com.br)

George Soros: saiba toda a verdade. Disponível em: GEORGE SOROS: SAIBA TODA A VERDADE! - YouTube

George Soros, um patrocinador da contrarrevolução mundial. Disponível em: George Soros, um patrocinador da contrarrevolução mundial • Diário Causa Operária (causaoperaria.org.br)

Haddad: “Não sei o que levou Gleisi a Caracas. É preciso cuidar do gesto, mas também da comunicação do gesto”. Disponível em: Haddad: “Não sei o que levou Gleisi a Caracas. É preciso cuidar do gesto, mas também da comunicação do gesto” | Brasil | EL PAÍS Brasil (elpais.com)

Manuela d’Ávila participa de evento promovido pela ONG do ultra-liberal e oligarca George Soros. Disponível em: Manuela D'Ávila participa de evento promovido pela ONG do ultra-liberal e oligarca George Soros: | Nova Resistência (novaresistencia.org)

O dono do mundo. Disponível em: O dono do mundo | VEJA (abril.com.br)

Quem é Haddad? Disponível em: Prometheo Liberto: Quem é Haddad? (libertoprometheo.blogspot.com)

Xavier Moreau – Soros e a Sociedade Aberta: Metapolítica do globalismo. Disponível em: LEGIO VICTRIX: Xavier Moreau – Soros e a Sociedade Aberta: Metapolítica do Globalismo (legio-victrix.blogspot.com)

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Freeza e Rei Vegeta, parte V

 

Foto – Freeza (esquerda) e Rei Vegeta (direita).

Setembro está chegando, e dentro em breve sairá o capítulo 76 do mangá de Dragon Ball Super. Será que Vegeta vencerá Granola? Ou o cerealiano ainda tem algumas cartas escondidas na manga? Veremos a hora em que sair o capítulo 76.

Depois do episódio envolvendo a estátua de Borba Gato, agora é a vez de Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil, arder nas chamas da ignorância, da estupidez e da bestialidade do politicamente correto e da cultura do cancelamento. Por parte de certas pessoas que não conhecem de fato a história de nosso país e que adoram copiar modismos ideológicos vindos de fora, em especial aqueles vindos dos Estados Unidos e da Europa Ocidental.

O ato de vandalismo em questão aconteceu em 24 de agosto de 2021 na zona sul do Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro da Glória, e teve como alvo um monumento dedicado a Pedro Álvares Cabral.

Tal ato foi reivindicado por um grupo chamado Coletivo Uruçu Mirim, sob a alegação em postagem do Twitter de que “mais um monumento escravocrata e genocida foi incendiado. Queimamos a estátua de Cabral para destruir tudo o que ele simboliza nos dias atuais, em protesto contra o Marco Temporal e o genocídio indígena continuado”. Mal eles sabem, por exemplo, que Cabral teve uma passagem bem breve pelo território que depois constituiu o Brasil. Após o ato de vandalismo, a conta do Uruçu Mirim foi bloqueada no Twitter.

Na base da estátua foram feitas pichações e uma mensagem foi escrita contra o Marco Temporal e o Projeto de Lei 490, que são objetos de críticas por parte de povos indígenas e ativistas do meio ambiente por favorecer ruralistas e que prevê que os povos indígenas só poderão reivindicar as terras que já ocupavam em 5 de outubro de 1988 (ou seja, de quando foi promulgada a atual constituição vigente no Brasil).

Como resultado da brincadeira, a Polícia Federal abriu um inquérito para apurar quem perpetrou tal ato de vandalismo sobre a estátua de Cabral (obra do escultor mexicano radicado no Brasil Rodolfo Bernardelli, inaugurada em 1900 para celebrar o quarto centenário da descoberta do Brasil).

Foto – Estátua de Pedro Álvares Cabral no Rio de Janeiro, antes de ser incendiada.

Mas o que mais me deixou estarrecido nesse episódio é o fato de que não foram poucos os políticos (ditos) de esquerda que apoiaram tal ato de vandalismo, como é o caso das psolistas Sâmia Bomfim e Talíria Petrone (basta uma visita nos perfis delas em redes sociais para ver). Políticos esses que estão propondo o projeto de lei 5296/2020 (sobre o qual falaremos em um próximo artigo), que prevê que monumentos de figuras históricas tidas por eles como escravistas e/ou racistas não poderão mais fazer parte da paisagem das ruas de nossas cidades. Se depender apenas da vontade deles, talvez seja questão de tempo apenas serem permitidas nas ruas brasileiras estátuas e monumentos dedicados a “desconstruídos iluminados” tais como Jean Wyllys, Márcia Tiburi, Sâmia Bomfim, Talíria Petrone e outros dessa estirpe. E mais algumas personalidades estrangeiras adoradas por eles, tais como George Floyd e Barack Obama.

Não tenhamos dúvidas de que após os vandalismos sobre as estátuas de Borba Gato e Cabral muitos outros virão (obviamente inspirados por vandalismos similares na Europa e nos Estados Unidos). Ou seja, que isso é apenas o começo de muitos atos de vandalismo em nada diferentes, por exemplo, daqueles que o Estado Islâmico fez com monumentos antigos na Síria e no Iraque como o leão de Palmyra, destruído em 2015 pelo grupo radical islâmico.

Igualmente impressiona-me a estupidez desse coletivo Uruçu Mirim. Ao coletivo em questão lanço a seguinte questão: os problemas que afligem e atormentam os indígenas do Brasil serão resolvidos em um passe de mágica por meio da queima e vandalismo de estátuas dedicadas a figuras históricas que já estão mortas há mais de 200 ou 300 anos? A resposta para essa pergunta é um rotundo não.

Vocês podem queimar quantos monumentos e estátuas quiserem que os índios continuarão sendo massacrados em conflitos diversos e a tendo suas terras tomadas pelos ruralistas do mesmo jeito. Não irá resolver problema algum e ainda de quebra vocês irão ajudar o Bolsonaro a estabelecer uma dinastia no Brasil, na medida em que nas próximas eleições inevitavelmente o político carioca utilizar-se-á dessa questão e outras (como a questão da famigerada linguagem neutra/não-binária) para desmoralizar a esquerda e mostrar à população que vocês não passam de um bando de vândalos e arruaceiros que não têm respeito algum pelo patrimônio público. Tal qual fez com a questão do kit gay em 2018.

Como eu já disse antes, essa história de queimar e derrubar estátuas de pessoas que morreram há mais de 200 ou 300 anos não passa de uma operação cosmética, tal qual chamar favela de comunidade e introduzir gênero neutro no português. É como um carro quando vai a um lava rápido: o carro é lavado por fora, mas não por dentro.

Foto – Tweet de Rui Costa Pimenta em resposta à Talíria Petrone sobre o ocorrido com a estátua de Cabral no Rio de Janeiro.

E então eu pergunto a esses políticos do PSOL: é isso que vocês querem? Que no nosso país haja uma guerra de monumentos, em que a extrema direita retalha pichando monumentos de figuras como Marielle e outras sempre que um monumento de uma figura da história colonial brasileira é vandalizado por vocês? Gostaria de lembrar a vocês sobre o destino que teve a Milanka, na cidade de La Serena, no Chile.

Em 2019, durante as manifestações contra Sebastián Piñera, várias estátuas e monumentos foram derrubados e/ou vandalizados, entre eles a estátua dedicada ao conquistador Francisco de Aguirre. No lugar, uma estátua bem cafona que representa uma mulher diaguita (povo indígena local), chamada La Milanka. Tempos depois a Milanka foi queimada por vândalos desconhecidos. É isso que vocês querem, psolistas e afins? Eu não quero guerra de monumentos por aqui. Ainda mais guerra de monumentos influenciada por movimentos estrangeiros, alienígenas ao Brasil e à realidade Ibero-Americana que pensam que as relações entre raças no Brasil e demais países ibero-americanos seguem a mesma dinâmica daquela existente nos Estados Unidos, como o Black Lives Matter.

E mais uma coisa: que tal vocês tirarem um pouco os olhos dos Estados Unidos e da Europa, pararem de copiar o que vem de cidades como São Francisco e Londres e darem uma olhada em Cuba? Mais precisamente, ao fato de que em Cuba pode-se observar pelas ruas de cidades como Havana estátuas de Cristóvão Colombo e outras figuras importantes de sua época. E que em Cuba, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos e outros países ibero-americanos, não houve os mesmos atos de vandalismo contra tais monumentos. E não só isso: um dos principais cemitérios de Havana carrega o nome do navegador de origem genovesa que viveu nos séculos XV e XVI. Tal cemitério foi declarado Monumento Nacional e é considerado um dos cemitérios arquitetônicos monumentais mais importantes do mundo.

Foto – Estátua de Cristóvão Colombo em Havana.

Por fim, gostaria de lhes dizer as seguintes palavras: vocês não são nem um pouco diferentes dos fanáticos religiosos do Estado Islâmico e do Taliban (que agora está voltando ao poder no Afeganistão depois de 20 anos) ao proporem leis como o PL 5296/2020 e almejar a retirada (ou mesmo derrubada) de tais estátuas e monumentos. Talvez sejam ainda piores e ainda mais traiçoeiros, já que mascaram a sua ignóbil iconoclastia com toda uma retórica colorida sobre direitos humanos, defesa de negros e indígenas e outras demagogias afins.

Enquanto que a direita representada pelo clã Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes ataca o Brasil destruindo os pilares econômicos da nação e deteriorando as condições de vida da maioria da população, esses iconoclastas que incendeiam monumentos e estátuas fazem tábula rasa da história e da cultura brasileira (e ainda por cima importando para cá concepções e ideias vindas de fora que em nada têm haver com a nossa realidade) e assim fazem seu ataque por meio da via cultural. Ou seja, até nisso os dois lados em questão se retroalimentam.

Foto – O leão de Palmyra antes de ser destruído pelo Estado Islâmico. Um testemunho do fato de que um dia houve leões na Síria e em outras partes do Oriente Médio.

Fontes:

Desconocidos queman “Mujer Diaguita” en La Serena (em espanhol). Disponível em: Desconocidos queman “Mujer Diaguita” en La Serena | Diario El Día217483 (diarioeldia.cl)

Manifestantes incendiam estátua de Pedro Álvares Cabral no RJ. Disponível em: Manifestantes incendeiam estátua de Pedro Álvares Cabral no RJ | Poder360

Monumento a Pedro Álvares Cabral. Disponível em: Monumento a Pedro Álvares Cabral em Rio de Janeiro: 1 opiniões e 3 fotos (minube.com.br)

Na minha rua, NÃO! Conheça nosso PL 5296/2020. Disponível em: Na minha rua, NÃO! Conheça nosso PL 5296/2020 - YouTube

Necrópolis de Cristóbal Colón. Disponível em: Necrópolis de Cristóbal Colón (turismoemcuba.com)

Pedro Álvares Cabral teve sua estátua incendiada por coletivo indígena em meio ao “julgamento do século”. Disponível em: Pedro Álvares Cabral tem estátua incendiada por coletivo indígena em meio ao ‘julgamento do século’ (msn.com)

PSOL E O FOGO NA ESTÁTUA DE CABRAL. Disponível em: PSOL E O FOGO NA ESTÁTUA DE PEDRO ÁLVARES CABRAL - YouTube

¿Sabías que la primera estatua erigida a Cristóbal Colón en América Latina está en Cuba? (em  espanhol). Disponível em: ¿Sabías que la primera estatua erigida a Cristóbal Colón en América Latina está en Cuba? - Todo Cuba

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Freeza e Rei Vegeta, parte IV

 

Foto – Freeza e Rei Vegeta (foto do episódio 78 de Dragon Ball Z).

“Somos, pois, não só filhos legítimos dos descobridores e conquistadores, mas herdeiros de sua gesta e da chama de eternidade que eles transportaram por sobre os mares” – Evita Perón (1919 – 1952).

E agora com vocês, a quarta parte da série Freeza e Rei Vegeta. Algumas páginas do capítulo 75 do mangá de Dragon Ball Super já saíram, e elas mostram Vegeta (com a nova transformação) surrando Granola. Mas o foco agora aqui é outro.

Dessa vez irei falar a respeito de um artigo que encontrei no site do IELA (Instituto de Estudos Latino-Americanos), assinado pelo professor Waldir Rampinelli sob o título “Estátuas que caem, outras tantas vão cair” e publicado em dois de agosto de 2021. Essa será a minha resposta a tal artigo.

De tempos em tempos, acompanho o que o pessoal do IELA produz e posta na Internet, tanto no blog quanto no site e no canal do You Tube da Instituição de Estudos de Santa Catarina. E o artigo em questão me deixou com algumas pulgas atrás da orelha. Em especial o título e as palavras finais: “Então, que venham as estátuas”.

Nessa questão envolvendo as estátuas, compartilho da opinião de Rui Costa Pimenta, dirigente do PCO (Partido da Causa Operária), de que o que ativistas como aqueles que incendiaram a estátua de Borba Gato fizeram (assim como aqueles que derrubaram estátuas durante as manifestações no Chile de 2019 e depois nas manifestações ocorridas após a morte de George Floyd) foi combater moinhos de vento. Ou, segundo as minhas próprias palavras, brincar de Caça Fantasmas.

E digo mais: em certo sentido, comparo isso com certos descalabros que vêm sendo feitos na língua portuguesa de uns tempos para cá por parte de certos setores que acham que vão resolver certos problemas mudando nomes. Como, por exemplo, essa história de querer chamar favela de comunidade e mais recentemente a tentativa de querer introduzir um gênero neutro na língua portuguesa (sendo que o gênero neutro, nos idiomas que o usam – tais como o russo, o alemão, o polonês, o servo-croata, o latim, o romeno e o tcheco – é usado para se referir a coisas e objetos). São operações cosméticas que não resolvem situação concreta alguma. É a mesma coisa que perfumar fezes: o cheiro ruim é eliminado, mas isso não muda o fato de que aquilo se trata de uma matéria podre e fétida.

Pelo que eu entendi do texto em questão, seria errado homenagearmos figuras históricas controversas como os bandeirantes e os conquistadores espanhóis que viveram entre os séculos XVI a XVIII porque eles teriam matado e oprimido muitos indígenas e negros nesse processo. Só que eu não vejo a situação dessa forma.

E nisso o professor Rampinelli incorre no erro infantil de analisar a história de forma maniqueísta, dentro de uma lógica oprimido/opressor, explorado/explorador, que não serve para compreender o processo de descobrimento, conquista e colonização do continente americano pelos conquistadores e descobridores ibéricos e toda sua complexidade. Como se a relação entre europeus, indígenas e negros na Ibero-América tenha seguido o mesmo padrão e a mesma lógica daquela existente nos Estados Unidos, onde houve coisas como Ku Klux Klan e leis Jim Crown (muito comuns no sul dos EUA até meados do século XX).

O texto em questão afirma que nos dias de hoje ocorre uma apropriação de nomes de cidades, praças, edifícios e outros logradouros públicos, de forma a que a paisagem geográfica não coincide com a paisagem histórica, no que gera uma sensação de irrealidade e sem contato entre o passado e o presente. Mas não seria a citada apropriação citada e a decorrente sensação de irrealidade na verdade o resultado de décadas, ou mesmo séculos, de produção ideológica que faz as pessoas acreditarem em mitos tais como lenda negra (um mito criado por potências inimigas da Espanha como a Holanda e a Inglaterra, com o intuito óbvio de denegrir a nação ibérica ao mesmo tempo em que justificava moralmente as pretensões coloniais anglo-batavas) e noções de que teria sido melhor para o Brasil ter sido colonizado pela Holanda ou pela Inglaterra (sem levar em conta que ambos os países deixaram para trás muitos países miseráveis), comumente difundidas nos meios acadêmicos e até mesmo midiáticos?

Eu gostaria de fazer algumas indagações e apontamentos ao pessoal do IELA, em especial ao senhor Rampinelli, que pelo visto acham que é errado homenagearmos bandeirantes, conquistadores espanhóis e outros por conta de uma lógica de direitos humanos inexistente à época da colonização das nações ibero-americanas por suas respectivas metrópoles.

1 – Se vocês acham errado que bandeirantes, conquistadores espanhóis e outras figuras controversas do período colonial das nações ibero-americanas sejam homenageados por meio de estátuas e monumentos, ou mesmo como nomes de logradouros públicos (pelo que as falas de vocês me transparecem) por causa do que eles aprontaram em vida, então, indo por essa lógica, talvez seja tão ou mais errado homenagear os povos indígenas que aqui viviam antes da colonização, já que eles também tiveram seu passado de conquistadores, constantemente viviam em conflitos entre si e também se expandiram à custa de outros povos (vide o caso dos tupis na costa brasileira na virada do século X para o XI).

Foto – Estátua equestre de Čingis Khan em Conžin Boldog, Ulan-Bator. A maior estátua equestre do mundo.

2 – Sabiam que na Mongólia existem estátuas dedicadas a Čingis Khan, o fundador do Império Mongol, incluindo uma estátua equestre de 40 metros em uma área próxima a Ulan-Bator? E que no Uzbequistão existem monumentos dedicados a Tamerlão em cidades como Taşkent e Samarkand (que era a capital do Império Timúrida e onde o grande conquistador se encontra enterrado)? Tanto Čingis Khan e seus descendentes quanto Tamerlão empilharam muitos cadáveres e jorraram muito sangue em suas respectivas marchas conquistadoras, que se estenderam desde Novgorod no norte da Rússia a Java e da ilha Sakhalin no atual Extremo Oriente Russo às cercanias de Viena e Veneza no curso dos séculos XIII a XV.

Então, quer dizer que pela lógica de vocês é errado os mongóis homenagearem Čingis Khan ou os uzbeques homenagearem Tamerlão por causa dessa questão de oprimidos e opressores e todo esse discurso de direitos humanos inexistente no período em que eles viveram? Uma coisa é certa: mongóis e uzbeques não iam gostar nem um pouco de ouvir esse tipo de conversa e defenderiam a manutenção dessas estátuas dedicadas aos homens que levaram seus respectivos povos à grandeza imperial.

Foto – Estátua equestre de Tamerlão em Taşkent.

3 – E não é só isso: sabiam que em Cuba há estátuas dedicadas a Cristóvão Colombo, incluindo na capital Havana? O que me dizem disso? Diga-se de passagem, é bem curioso que enquanto que nos Estados Unidos e nos países capitalistas da Ibero-América derrubam e decapitam estátuas de Cristóvão Colombo e outros personagens controversos do período colonial, em Cuba não se faz o mesmo. Estranho, não?

Foto – Estátua de Cristóvão Colombo em Havana.

Portanto, já que é para homenagearmos aqueles que foram oprimidos, que tal também homenagear, por exemplo, aqueles que os povos indígenas que aqui viviam antes da chegada dos europeus também oprimiram? O que aqui quero mostrar é a esparrela, a arapuca, em que vocês e todos que acreditam nesses contos e lendas negras na qual vocês estão caindo. E uma vez feito o trabalho sujo, muito difícil será colocar as peças em seus devidos lugares.

Por fim, gostaria de dizer as seguintes palavras ao autor do texto em questão e outros que pensam da mesma maneira: isso, fiquem lançando palavras de ordem do tipo “que venham abaixo as estátuas”, que a hora em que o pessoal de Extrema Direita começar a pichar murais e derrubar monumentos dedicados a figuras como Marielle Franco, Zumbi dos Palmares, Carlos Marighella, Lamarca e outros não ficarem chateados, e nem chorarem por eles.

Houve um caso dessa natureza no Chile no ano retrasado, bem ilustrativo por sinal. O caso do busto da mulher diaguita Milanka, na cidade chilena de La Serena: o busto de Milanka (muito cafona por sinal) retratava uma mulher diaguita e foi lá colocada no mesmo local onde antes houve uma estátua dedicada ao conquistador espanhol Francisco de Aguirre, em 2019. Não muito tempo depois, um grupo de desconhecidos queimou a Milanka. É isso que vocês querem, uma guerra de monumentos e estátuas no qual um determinado grupo queima ou derruba uma estátua e depois outro grupo, politicamente rival do outro, em retaliação faz o mesmo, e assim sucessivamente? Eu não quero esse círculo vicioso.

Foto – Milanka queimada, 2019 (La Serena, Chile).

E não só isso: a hora em que certos ativistas começarem a ficar cada vez mais ousados e atrevidos e começarem a incendiar edificações públicas como Igrejas e outras sob a alegação de que são marcas do colonialismo e da opressão, também não fiquem chateados. Por isso que devemos repudiar a derrubada de monumentos aqui e agora, por mais controversas que tais figuras tenham sido em vida. Antes que entremos em um caminho sem volta, do qual para se sair será muito complicado (no mínimo).

Pelo que vejo, o latino-americanismo do pessoal do IELA tem sérias limitações, a começar pelo fato de que eles parecem renegar a contribuição dos colonizadores portugueses e espanhóis à formação das nações ibero-americanas e que eles são tão ou mais importantes quanto indígenas e negras. Pois sem o espanhol e o português atravessando os mares depois de longas viagens e conquistando terras no além-mar, não haveria Brasil, nem Argentina, nem México, nem Bolívia, nem Venezuela ou qualquer outra das nações ibero-americanas que nós conhecemos hoje.

Finalizando esse artigo, Em minha humilde visão o que deve cair não são as estátuas que nem é proposto no texto em questão, e sim contos da carochinha tais como lendas negras, mitos tais como bom selvagem e ideias como a de que o Brasil teria tido um melhor desenvolvimento caso fosse colônia da Holanda, da França ou da Inglaterra. Do que adiantará derrubar estátuas se as mazelas que afligem a América Ibérica há séculos continuarem de pé e intactas? Nada, absolutamente nada.

Fontes:

A Lenda Negra da Conquista Espanhola: ingrediente do Imperialismo cultural anglo-americano. Disponível em: A Lenda Negra da Conquista Espanhola: Ingrediente do Imperialismo Cultural Anglo-Americano | Nova Resistência (novaresistencia.org)

Desconocidos quemam “Mujer Diaguita” en La Serena (em espanhol). Disponível em: Desconocidos queman “Mujer Diaguita” en La Serena | Diario El Día217483 (diarioeldia.cl)

Estátuas que caem... outras tantas vão cair. Disponível em: Estátuas que caem... outras tantas vão cair | IELA - Instituto de Estudos Latino-Americanos (ufsc.br)

Nova Veneza na contramão da história. Disponível em: Nova Veneza na contramão da história - YouTube

 

domingo, 15 de agosto de 2021

Alguns apontamentos sobre a famigerada linguagem neutra.

 

Foto – Museu da Língua Portuguesa reinaugurado.

Recentemente, saiu uma notícia de que o Museu da Língua Portuguesa (um dos primeiros museus totalmente dedicados a um idioma e uma das principais instituições culturais do país), depois de passar cinco anos e meio fechado por conta de um incêndio ocorrido em 2015, foi reinaugurado em São Paulo após passar por reformas. A reinauguração, ocorrida em 31 de julho de 2021, contou com a presença dos presidentes de Cabo Verde e Portugal, além de outros representantes dos países lusófonos. A partir do dia seguinte, foi reaberto ao público. Até ai tudo bem.

O problema é que o Museu está dando abertura à famigerada linguagem neutra. Antes mesmo da reinauguração, no dia 12 de julho, houve uma postagem no perfil do Museu da Língua Portuguesa no Twitter, em que se usa a palavra “todes”, sob a alegação de que “o Museu está aberto a debater todas as questões relacionadas à língua portuguesa, incluindo a linguagem neutra”. Além disso, a atual diretora do Museu da Língua Portuguesa, a historiadora e museóloga Marília Bonas, ex-diretora do Museu da Imigração, do Museu da Resistência e do Museu do Futebol (todos situados no estado de São Paulo), é uma entusiasta dessa famigerada linguagem, a ponto de usá-la em suas redes sociais particulares.

Entretanto, especialistas na Língua Portuguesa, como é o caso das professoras de português Cíntia Chagas e Kátia Simone Benedetti, criticam tal decisão. Segundo a professora Cíntia Chagas, a assim chamada linguagem neutra marginaliza cegos e surdos e é um desrespeito ao idioma. Já Kátia Simone Benedetti diz que a argumentação de que linguagem neutra (também chamada de não-binária) advém da evolução natural do idioma é equivocada, pois tais mudanças são artificiais e, dessa forma, inconsistentes com a própria natureza estrutural do idioma.

Nós compartilhamos a posição das referidas professoras a respeito da famigerada linguagem neutra. E aqui, trarei alguns apontamentos sobre a famigerada linguagem neutra que certas militâncias (que contam com vultosos investimentos vindos do estrangeiro por parte de bilionários como George Soros – a esquerda soropositiva, diga-se de passagem) tentam impor na língua portuguesa sob o pretexto de inclusão e diversidade.

Para mim, olhando por uma perspectiva de longa duração, essa brincadeira do gênero neutro começa a partir do momento em que há alguns anos começaram a chamar favela de comunidade, negro de afrodescendente, índio de povo originário, entre outras empulhações linguísticas. Em outras palavras, a partir do momento em que o politicamente correto começa a dar seus primeiros passos no âmbito da linguagem, visando criar uma linguagem limpinha e cheirosinha (algo sobre o qual o professor José Paulo Netto já se queixa em palestras de 2012). E, com parte significativa da academia e dos meios culturais e midiáticos do país aceitando tais descalabros linguísticos, sem questioná-los.

E agora os militantes politicamente corretos, que vivem copiando as tendências que aparecem nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa ocidental como bons papagaios que são e influenciados pelas modas vindas de partidos como o Partido Democrata dos EUA, o Partido Trabalhista da Inglaterra e o Partido Socialdemocrata alemão, querem dobrar a aposta com a inclusão de um gênero neutro inexistente no idioma português.

E ai eu pergunto: depois de implantarem um gênero neutro inexistente no nosso idioma para atender aos caprichos de um bando de militantes politicamente corretos, o que mais eles vão exigir no futuro? Uma coisa é certa: sob o pretexto de combater o machismo e outras mazelas na língua, eles vão dobrar, quiçá triplicar a aposta, e mutilar ainda mais o nosso idioma para atender aos caprichos deles, a ponto de virar uma espécie de quimera linguística irreconhecível. Xadrez psicológico básico: eles começam querendo tua mão para lá na frente pegarem o teu pescoço.

No fim das contas, essa história do gênero neutro no português, da maneira como essas militâncias querem introduzir, é a mesma coisa que perfumar fezes. Muda-se o cheiro da substância, mas a essência putrefata e fétida dela continua a mesma, inalterada.

Em outras palavras, isso não passa de uma operação cosmética, uma luta contra moinhos de vento. Pois da mesma forma que o fato de a favela ser chamada de comunidade não muda o fato de que as pessoas que lá vivem moram em moradias precárias e ainda sob o tacão da polícia e da milícia, implantar um gênero neutro no nosso idioma não irá, em hipótese alguma, resolver mazelas como homofobia e outros problemas afins que afligem tais setores da população. Talvez até os piore e os alimente ainda mais, diga-se de passagem, já que esse tipo de coisa inevitavelmente causará antipatia de amplos setores da população para com eles e que inevitavelmente dará seus votos a políticos como Bolsonaro e outros afins que saibam explorar essa questão em favor deles (ainda que de forma demagógica e com finalidade eleitoreira).

Parafraseando o que o professor José Paulo Netto disse na palestra em questão de 2012, não contem conosco para o politicamente correto. Vamos continuar usando todas as palavras que não agradem às militâncias politicamente corretas, porque a nossa luta não é vocabulário.

Foto – A divisão dos Idiomas europeus segundo a estrutura de gênero que usam. Azul claro – sem distinção de gênero; Vermelho – gêneros masculino e feminino; Verde – Gêneros Animado e Inanimado; Amarelo – gêneros comum e neutro; Azul escuro – tripartição masculino/feminino/neutro (mapa tirado da Wikipédia em inglês).

Segundo que nos idiomas em que se usa gênero neutro, a exemplo do russo, do alemão, do latim, do romeno, do tcheco, do servo-croata, do norueguês e do polonês, o gênero neutro (em russo srednij rod/средний род) geralmente é usado para se referir a coisas e objetos. Em inglês temos três pronomes: o he (masculino), she (feminino) e o it (neutro), sendo que o último também é usado para se referir a coisas e objetos.

E o que determina o gênero de uma palavra é ou o artigo que a antecede (como ocorre em idiomas como o alemão, o francês, o italiano, o português e o espanhol), ou a letra de terminação da palavra (como no caso dos idiomas eslavos como o russo, o ucraniano e o bielorrusso). No alemão, há o artigo neutro das e suas declinações, como em, por exemplo, Das Rheingold (o ouro do Reno – título de uma famosa ópera de Richard Wagner, parte da tetralogia do anel) e Das Kapital (O Capital – uma das principais obras de Karl Marx, publicada em 1867).

Já no russo, um idioma que não utiliza artigos, o gênero neutro é usado em palavras terminadas em o (о), je (е), jo (ё), joe (ое) e mja (мя) no caso dos substantivos e oje (ое), ‘je (ье) e jeje (ее) no caso dos adjetivos. Como é o caso de palavras como ružë/ружё (fuzil, carabina), vremja/время (tempo), plat’ë/платьё (vestido), plamja/пламя (chama), plemja/племя (tribo), oružije/оружие (arma), mlekopitajuŝee/млекопитающее (mamífero), nasekomoe/насекомое (inseto), mjesto/место (lugar) e derjevo/дерево (floresta, madeira). Na historiografia russa, encontramos termos como o Smutnoe Vremja/Смутное Время (tempo de dificuldades), o período de transição dinástica entre os Rjurikoviči e os Romanov, que dura de 1598 a 1613, um período muito difícil na história russa por sinal, no qual a capital russa, Moscou, chegou a ser invadida e ocupada pelos poloneses durante dois anos (1610 a 1612).

No fim das contas, o que essas militâncias politicamente corretas estão fazendo com toda essa história da linguagem neutra é algo paradoxal: em nome da inclusão e da diversidade, estão lutando para serem chamados de coisa, e não de gente. Que depois eles não fiquem chateados na hora em que as pessoas começarem a olhá-los e chama-lo de coisa ou algo similar. Resumindo a ópera, estão é dando um tiro nos próprios pés, do alto da estupidez deles.

Foto – Número de gêneros gramaticais nos diferentes idiomas do mundo. Em branco – sem gênero; Amarelo – dois gêneros; Laranja – três gêneros; Vermelho – quatro gêneros; Preto – mais de quatro gêneros (mapa tirado da Wikipédia em russo).

Fontes:

Grammatical gender (em inglês). Disponível em: Grammatical gender - Wikipedia

Museu da Língua Portuguesa é reinaugurado após quase seis anos fechado em reforma por causa de incêndio. Disponível em: Museu da Língua Portuguesa é reinaugurado após quase seis anos fechado em reforma por causa de incêndio | São Paulo | G1 (globo.com)

Museu da língua portuguesa erra ao adotar linguagem neutra. Disponível em: Museu da Língua Portuguesa erra ao adotar linguagem neutra - YouTube

Род (лингвистика) (em russo). Disponível em: Род (лингвистика) — Википедия (wikipedia.org)

Museu da Língua Portuguesa reabre sob “nova fase” com defesa da linguagem neutra. Disponível em: Museu da Língua Portuguesa é reaberto com defesa da linguagem neutra (gazetadopovo.com.br)