Foto – Museu da Língua Portuguesa
reinaugurado.
Recentemente, saiu uma notícia de que o
Museu da Língua Portuguesa (um dos primeiros museus totalmente dedicados a um
idioma e uma das principais instituições culturais do país), depois de passar
cinco anos e meio fechado por conta de um incêndio ocorrido em 2015, foi
reinaugurado em São Paulo após passar por reformas. A reinauguração, ocorrida
em 31 de julho de 2021, contou com a presença dos presidentes de Cabo Verde e
Portugal, além de outros representantes dos países lusófonos. A partir do dia
seguinte, foi reaberto ao público. Até ai tudo bem.
O problema é que o Museu está dando
abertura à famigerada linguagem neutra. Antes mesmo da reinauguração, no dia 12
de julho, houve uma postagem no perfil do Museu da Língua Portuguesa no
Twitter, em que se usa a palavra “todes”, sob a alegação de que “o Museu está
aberto a debater todas as questões relacionadas à língua portuguesa, incluindo
a linguagem neutra”. Além disso, a atual diretora do Museu da Língua
Portuguesa, a historiadora e museóloga Marília Bonas, ex-diretora do Museu da
Imigração, do Museu da Resistência e do Museu do Futebol (todos situados no
estado de São Paulo), é uma entusiasta dessa famigerada linguagem, a ponto de
usá-la em suas redes sociais particulares.
Entretanto, especialistas na Língua
Portuguesa, como é o caso das professoras de português Cíntia Chagas e Kátia
Simone Benedetti, criticam tal decisão. Segundo a professora Cíntia Chagas, a
assim chamada linguagem neutra marginaliza cegos e surdos e é um desrespeito ao
idioma. Já Kátia Simone Benedetti diz que a argumentação de que linguagem
neutra (também chamada de não-binária) advém da evolução natural do idioma é
equivocada, pois tais mudanças são artificiais e, dessa forma, inconsistentes
com a própria natureza estrutural do idioma.
Nós compartilhamos a posição das referidas
professoras a respeito da famigerada linguagem neutra. E aqui, trarei alguns
apontamentos sobre a famigerada linguagem neutra que certas militâncias (que
contam com vultosos investimentos vindos do estrangeiro por parte de
bilionários como George Soros – a esquerda soropositiva, diga-se de passagem) tentam
impor na língua portuguesa sob o pretexto de inclusão e diversidade.
Para mim, olhando por uma perspectiva de
longa duração, essa brincadeira do gênero neutro começa a partir do momento em
que há alguns anos começaram a chamar favela de comunidade, negro de
afrodescendente, índio de povo originário, entre outras empulhações
linguísticas. Em outras palavras, a partir do momento em que o politicamente
correto começa a dar seus primeiros passos no âmbito da linguagem, visando
criar uma linguagem limpinha e cheirosinha (algo sobre o qual o professor José
Paulo Netto já se queixa em palestras de 2012). E, com parte significativa da
academia e dos meios culturais e midiáticos do país aceitando tais descalabros
linguísticos, sem questioná-los.
E agora os militantes politicamente
corretos, que vivem copiando as tendências que aparecem nos Estados Unidos, no
Canadá e na Europa ocidental como bons papagaios que são e influenciados pelas
modas vindas de partidos como o Partido Democrata dos EUA, o Partido
Trabalhista da Inglaterra e o Partido Socialdemocrata alemão, querem dobrar a
aposta com a inclusão de um gênero neutro inexistente no idioma português.
E ai eu pergunto: depois de implantarem um
gênero neutro inexistente no nosso idioma para atender aos caprichos de um
bando de militantes politicamente corretos, o que mais eles vão exigir no
futuro? Uma coisa é certa: sob o pretexto de combater o machismo e outras
mazelas na língua, eles vão dobrar, quiçá triplicar a aposta, e mutilar ainda
mais o nosso idioma para atender aos caprichos deles, a ponto de virar uma
espécie de quimera linguística irreconhecível. Xadrez psicológico básico: eles
começam querendo tua mão para lá na frente pegarem o teu pescoço.
No fim das contas, essa história do gênero
neutro no português, da maneira como essas militâncias querem introduzir, é a
mesma coisa que perfumar fezes. Muda-se o cheiro da substância, mas a essência putrefata
e fétida dela continua a mesma, inalterada.
Em outras palavras, isso não passa de uma
operação cosmética, uma luta contra moinhos de vento. Pois da mesma forma que o
fato de a favela ser chamada de comunidade não muda o fato de que as pessoas
que lá vivem moram em moradias precárias e ainda sob o tacão da polícia e da
milícia, implantar um gênero neutro no nosso idioma não irá, em hipótese
alguma, resolver mazelas como homofobia e outros problemas afins que afligem
tais setores da população. Talvez até os piore e os alimente ainda mais,
diga-se de passagem, já que esse tipo de coisa inevitavelmente causará
antipatia de amplos setores da população para com eles e que inevitavelmente
dará seus votos a políticos como Bolsonaro e outros afins que saibam explorar
essa questão em favor deles (ainda que de forma demagógica e com finalidade
eleitoreira).
Parafraseando o que o professor José Paulo Netto disse na palestra em questão de 2012, não contem conosco para o politicamente correto. Vamos continuar usando todas as palavras que não agradem às militâncias politicamente corretas, porque a nossa luta não é vocabulário.
Foto – A divisão dos Idiomas europeus segundo a estrutura de gênero que usam. Azul claro – sem distinção de gênero; Vermelho – gêneros masculino e feminino; Verde – Gêneros Animado e Inanimado; Amarelo – gêneros comum e neutro; Azul escuro – tripartição masculino/feminino/neutro (mapa tirado da Wikipédia em inglês).
Segundo que nos idiomas em que se usa
gênero neutro, a exemplo do russo, do alemão, do latim, do romeno, do tcheco,
do servo-croata, do norueguês e do polonês, o gênero neutro (em russo srednij
rod/средний род) geralmente é usado para se referir a coisas e objetos. Em
inglês temos três pronomes: o he (masculino), she (feminino) e o it (neutro),
sendo que o último também é usado para se referir a coisas e objetos.
E o que determina o gênero de uma palavra é
ou o artigo que a antecede (como ocorre em idiomas como o alemão, o francês, o
italiano, o português e o espanhol), ou a letra de terminação da palavra (como
no caso dos idiomas eslavos como o russo, o ucraniano e o bielorrusso). No
alemão, há o artigo neutro das e suas declinações, como em, por exemplo, Das
Rheingold (o ouro do Reno – título de uma famosa ópera de Richard Wagner, parte
da tetralogia do anel) e Das Kapital (O Capital – uma das principais obras de
Karl Marx, publicada em 1867).
Já no russo, um idioma que não utiliza
artigos, o gênero neutro é usado em palavras terminadas em o (о), je (е), jo
(ё), joe (ое) e mja (мя) no caso dos substantivos e oje (ое), ‘je (ье) e jeje
(ее) no caso dos adjetivos. Como é o caso de palavras como ružë/ружё (fuzil,
carabina), vremja/время (tempo), plat’ë/платьё (vestido), plamja/пламя (chama),
plemja/племя (tribo), oružije/оружие (arma), mlekopitajuŝee/млекопитающее
(mamífero), nasekomoe/насекомое (inseto), mjesto/место (lugar) e derjevo/дерево
(floresta, madeira). Na historiografia russa, encontramos termos como o Smutnoe
Vremja/Смутное Время (tempo de dificuldades), o período de transição dinástica
entre os Rjurikoviči e os Romanov, que dura de 1598 a 1613, um período muito
difícil na história russa por sinal, no qual a capital russa, Moscou, chegou a
ser invadida e ocupada pelos poloneses durante dois anos (1610 a 1612).
No fim das contas, o que essas militâncias
politicamente corretas estão fazendo com toda essa história da linguagem neutra
é algo paradoxal: em nome da inclusão e da diversidade, estão lutando para
serem chamados de coisa, e não de gente. Que depois eles não fiquem chateados
na hora em que as pessoas começarem a olhá-los e chama-lo de coisa ou algo
similar. Resumindo a ópera, estão é dando um tiro nos próprios pés, do alto da
estupidez deles.
Foto – Número de gêneros gramaticais nos diferentes idiomas do mundo. Em branco – sem gênero; Amarelo – dois gêneros; Laranja – três gêneros; Vermelho – quatro gêneros; Preto – mais de quatro gêneros (mapa tirado da Wikipédia em russo).
Fontes:
Grammatical gender (em inglês). Disponível
em: Grammatical
gender - Wikipedia
Museu da Língua Portuguesa é reinaugurado
após quase seis anos fechado em reforma por causa de incêndio. Disponível em: Museu
da Língua Portuguesa é reinaugurado após quase seis anos fechado em reforma por
causa de incêndio | São Paulo | G1 (globo.com)
Museu da língua portuguesa erra ao adotar
linguagem neutra. Disponível em: Museu da Língua Portuguesa
erra ao adotar linguagem neutra - YouTube
Род (лингвистика)
(em russo). Disponível em: Род (лингвистика) — Википедия (wikipedia.org)
Museu da Língua Portuguesa reabre sob “nova
fase” com defesa da linguagem neutra. Disponível em: Museu
da Língua Portuguesa é reaberto com defesa da linguagem neutra
(gazetadopovo.com.br)
Depois esses estúpidos politicamente corretos não sabem por que Bolsonaro e outros políticos neofascistas são eleitos, e continuam a ser ad eternum.
ResponderExcluirE o pior, é que desde muito antes desse milirritantes sequer sonharem com isso, eu já defendi a inclusão de um gênero neutro em nosso idioma por motivos totalmente diferentes. Esse tema é quase uma tragédia pessoal para mim. https://youtu.be/VNtCtoCrjr8
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