segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Freeza e Rei Vegeta, parte IV

 

Foto – Freeza e Rei Vegeta (foto do episódio 78 de Dragon Ball Z).

“Somos, pois, não só filhos legítimos dos descobridores e conquistadores, mas herdeiros de sua gesta e da chama de eternidade que eles transportaram por sobre os mares” – Evita Perón (1919 – 1952).

E agora com vocês, a quarta parte da série Freeza e Rei Vegeta. Algumas páginas do capítulo 75 do mangá de Dragon Ball Super já saíram, e elas mostram Vegeta (com a nova transformação) surrando Granola. Mas o foco agora aqui é outro.

Dessa vez irei falar a respeito de um artigo que encontrei no site do IELA (Instituto de Estudos Latino-Americanos), assinado pelo professor Waldir Rampinelli sob o título “Estátuas que caem, outras tantas vão cair” e publicado em dois de agosto de 2021. Essa será a minha resposta a tal artigo.

De tempos em tempos, acompanho o que o pessoal do IELA produz e posta na Internet, tanto no blog quanto no site e no canal do You Tube da Instituição de Estudos de Santa Catarina. E o artigo em questão me deixou com algumas pulgas atrás da orelha. Em especial o título e as palavras finais: “Então, que venham as estátuas”.

Nessa questão envolvendo as estátuas, compartilho da opinião de Rui Costa Pimenta, dirigente do PCO (Partido da Causa Operária), de que o que ativistas como aqueles que incendiaram a estátua de Borba Gato fizeram (assim como aqueles que derrubaram estátuas durante as manifestações no Chile de 2019 e depois nas manifestações ocorridas após a morte de George Floyd) foi combater moinhos de vento. Ou, segundo as minhas próprias palavras, brincar de Caça Fantasmas.

E digo mais: em certo sentido, comparo isso com certos descalabros que vêm sendo feitos na língua portuguesa de uns tempos para cá por parte de certos setores que acham que vão resolver certos problemas mudando nomes. Como, por exemplo, essa história de querer chamar favela de comunidade e mais recentemente a tentativa de querer introduzir um gênero neutro na língua portuguesa (sendo que o gênero neutro, nos idiomas que o usam – tais como o russo, o alemão, o polonês, o servo-croata, o latim, o romeno e o tcheco – é usado para se referir a coisas e objetos). São operações cosméticas que não resolvem situação concreta alguma. É a mesma coisa que perfumar fezes: o cheiro ruim é eliminado, mas isso não muda o fato de que aquilo se trata de uma matéria podre e fétida.

Pelo que eu entendi do texto em questão, seria errado homenagearmos figuras históricas controversas como os bandeirantes e os conquistadores espanhóis que viveram entre os séculos XVI a XVIII porque eles teriam matado e oprimido muitos indígenas e negros nesse processo. Só que eu não vejo a situação dessa forma.

E nisso o professor Rampinelli incorre no erro infantil de analisar a história de forma maniqueísta, dentro de uma lógica oprimido/opressor, explorado/explorador, que não serve para compreender o processo de descobrimento, conquista e colonização do continente americano pelos conquistadores e descobridores ibéricos e toda sua complexidade. Como se a relação entre europeus, indígenas e negros na Ibero-América tenha seguido o mesmo padrão e a mesma lógica daquela existente nos Estados Unidos, onde houve coisas como Ku Klux Klan e leis Jim Crown (muito comuns no sul dos EUA até meados do século XX).

O texto em questão afirma que nos dias de hoje ocorre uma apropriação de nomes de cidades, praças, edifícios e outros logradouros públicos, de forma a que a paisagem geográfica não coincide com a paisagem histórica, no que gera uma sensação de irrealidade e sem contato entre o passado e o presente. Mas não seria a citada apropriação citada e a decorrente sensação de irrealidade na verdade o resultado de décadas, ou mesmo séculos, de produção ideológica que faz as pessoas acreditarem em mitos tais como lenda negra (um mito criado por potências inimigas da Espanha como a Holanda e a Inglaterra, com o intuito óbvio de denegrir a nação ibérica ao mesmo tempo em que justificava moralmente as pretensões coloniais anglo-batavas) e noções de que teria sido melhor para o Brasil ter sido colonizado pela Holanda ou pela Inglaterra (sem levar em conta que ambos os países deixaram para trás muitos países miseráveis), comumente difundidas nos meios acadêmicos e até mesmo midiáticos?

Eu gostaria de fazer algumas indagações e apontamentos ao pessoal do IELA, em especial ao senhor Rampinelli, que pelo visto acham que é errado homenagearmos bandeirantes, conquistadores espanhóis e outros por conta de uma lógica de direitos humanos inexistente à época da colonização das nações ibero-americanas por suas respectivas metrópoles.

1 – Se vocês acham errado que bandeirantes, conquistadores espanhóis e outras figuras controversas do período colonial das nações ibero-americanas sejam homenageados por meio de estátuas e monumentos, ou mesmo como nomes de logradouros públicos (pelo que as falas de vocês me transparecem) por causa do que eles aprontaram em vida, então, indo por essa lógica, talvez seja tão ou mais errado homenagear os povos indígenas que aqui viviam antes da colonização, já que eles também tiveram seu passado de conquistadores, constantemente viviam em conflitos entre si e também se expandiram à custa de outros povos (vide o caso dos tupis na costa brasileira na virada do século X para o XI).

Foto – Estátua equestre de Čingis Khan em Conžin Boldog, Ulan-Bator. A maior estátua equestre do mundo.

2 – Sabiam que na Mongólia existem estátuas dedicadas a Čingis Khan, o fundador do Império Mongol, incluindo uma estátua equestre de 40 metros em uma área próxima a Ulan-Bator? E que no Uzbequistão existem monumentos dedicados a Tamerlão em cidades como Taşkent e Samarkand (que era a capital do Império Timúrida e onde o grande conquistador se encontra enterrado)? Tanto Čingis Khan e seus descendentes quanto Tamerlão empilharam muitos cadáveres e jorraram muito sangue em suas respectivas marchas conquistadoras, que se estenderam desde Novgorod no norte da Rússia a Java e da ilha Sakhalin no atual Extremo Oriente Russo às cercanias de Viena e Veneza no curso dos séculos XIII a XV.

Então, quer dizer que pela lógica de vocês é errado os mongóis homenagearem Čingis Khan ou os uzbeques homenagearem Tamerlão por causa dessa questão de oprimidos e opressores e todo esse discurso de direitos humanos inexistente no período em que eles viveram? Uma coisa é certa: mongóis e uzbeques não iam gostar nem um pouco de ouvir esse tipo de conversa e defenderiam a manutenção dessas estátuas dedicadas aos homens que levaram seus respectivos povos à grandeza imperial.

Foto – Estátua equestre de Tamerlão em Taşkent.

3 – E não é só isso: sabiam que em Cuba há estátuas dedicadas a Cristóvão Colombo, incluindo na capital Havana? O que me dizem disso? Diga-se de passagem, é bem curioso que enquanto que nos Estados Unidos e nos países capitalistas da Ibero-América derrubam e decapitam estátuas de Cristóvão Colombo e outros personagens controversos do período colonial, em Cuba não se faz o mesmo. Estranho, não?

Foto – Estátua de Cristóvão Colombo em Havana.

Portanto, já que é para homenagearmos aqueles que foram oprimidos, que tal também homenagear, por exemplo, aqueles que os povos indígenas que aqui viviam antes da chegada dos europeus também oprimiram? O que aqui quero mostrar é a esparrela, a arapuca, em que vocês e todos que acreditam nesses contos e lendas negras na qual vocês estão caindo. E uma vez feito o trabalho sujo, muito difícil será colocar as peças em seus devidos lugares.

Por fim, gostaria de dizer as seguintes palavras ao autor do texto em questão e outros que pensam da mesma maneira: isso, fiquem lançando palavras de ordem do tipo “que venham abaixo as estátuas”, que a hora em que o pessoal de Extrema Direita começar a pichar murais e derrubar monumentos dedicados a figuras como Marielle Franco, Zumbi dos Palmares, Carlos Marighella, Lamarca e outros não ficarem chateados, e nem chorarem por eles.

Houve um caso dessa natureza no Chile no ano retrasado, bem ilustrativo por sinal. O caso do busto da mulher diaguita Milanka, na cidade chilena de La Serena: o busto de Milanka (muito cafona por sinal) retratava uma mulher diaguita e foi lá colocada no mesmo local onde antes houve uma estátua dedicada ao conquistador espanhol Francisco de Aguirre, em 2019. Não muito tempo depois, um grupo de desconhecidos queimou a Milanka. É isso que vocês querem, uma guerra de monumentos e estátuas no qual um determinado grupo queima ou derruba uma estátua e depois outro grupo, politicamente rival do outro, em retaliação faz o mesmo, e assim sucessivamente? Eu não quero esse círculo vicioso.

Foto – Milanka queimada, 2019 (La Serena, Chile).

E não só isso: a hora em que certos ativistas começarem a ficar cada vez mais ousados e atrevidos e começarem a incendiar edificações públicas como Igrejas e outras sob a alegação de que são marcas do colonialismo e da opressão, também não fiquem chateados. Por isso que devemos repudiar a derrubada de monumentos aqui e agora, por mais controversas que tais figuras tenham sido em vida. Antes que entremos em um caminho sem volta, do qual para se sair será muito complicado (no mínimo).

Pelo que vejo, o latino-americanismo do pessoal do IELA tem sérias limitações, a começar pelo fato de que eles parecem renegar a contribuição dos colonizadores portugueses e espanhóis à formação das nações ibero-americanas e que eles são tão ou mais importantes quanto indígenas e negras. Pois sem o espanhol e o português atravessando os mares depois de longas viagens e conquistando terras no além-mar, não haveria Brasil, nem Argentina, nem México, nem Bolívia, nem Venezuela ou qualquer outra das nações ibero-americanas que nós conhecemos hoje.

Finalizando esse artigo, Em minha humilde visão o que deve cair não são as estátuas que nem é proposto no texto em questão, e sim contos da carochinha tais como lendas negras, mitos tais como bom selvagem e ideias como a de que o Brasil teria tido um melhor desenvolvimento caso fosse colônia da Holanda, da França ou da Inglaterra. Do que adiantará derrubar estátuas se as mazelas que afligem a América Ibérica há séculos continuarem de pé e intactas? Nada, absolutamente nada.

Fontes:

A Lenda Negra da Conquista Espanhola: ingrediente do Imperialismo cultural anglo-americano. Disponível em: A Lenda Negra da Conquista Espanhola: Ingrediente do Imperialismo Cultural Anglo-Americano | Nova Resistência (novaresistencia.org)

Desconocidos quemam “Mujer Diaguita” en La Serena (em espanhol). Disponível em: Desconocidos queman “Mujer Diaguita” en La Serena | Diario El Día217483 (diarioeldia.cl)

Estátuas que caem... outras tantas vão cair. Disponível em: Estátuas que caem... outras tantas vão cair | IELA - Instituto de Estudos Latino-Americanos (ufsc.br)

Nova Veneza na contramão da história. Disponível em: Nova Veneza na contramão da história - YouTube

 

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