Foto – Freeza e Rei
Vegeta (foto do episódio 78 de Dragon Ball Z).
“Somos, pois,
não só filhos legítimos dos descobridores e conquistadores, mas herdeiros de
sua gesta e da chama de eternidade que eles transportaram por sobre os mares” –
Evita Perón (1919 – 1952).
E agora com
vocês, a quarta parte da série Freeza e Rei Vegeta. Algumas páginas do capítulo
75 do mangá de Dragon Ball Super já saíram, e elas mostram Vegeta (com a nova
transformação) surrando Granola. Mas o foco agora aqui é outro.
Dessa vez irei
falar a respeito de um artigo que encontrei no site do IELA (Instituto de
Estudos Latino-Americanos), assinado pelo professor Waldir Rampinelli sob o
título “Estátuas que caem, outras tantas vão cair” e publicado em dois de
agosto de 2021. Essa será a minha resposta a tal artigo.
De tempos em
tempos, acompanho o que o pessoal do IELA produz e posta na Internet, tanto no
blog quanto no site e no canal do You Tube da Instituição de Estudos de Santa
Catarina. E o artigo em questão me deixou com algumas pulgas atrás da orelha.
Em especial o título e as palavras finais: “Então, que venham as estátuas”.
Nessa questão
envolvendo as estátuas, compartilho da opinião de Rui Costa Pimenta, dirigente
do PCO (Partido da Causa Operária), de que o que ativistas como aqueles que
incendiaram a estátua de Borba Gato fizeram (assim como aqueles que derrubaram
estátuas durante as manifestações no Chile de 2019 e depois nas manifestações
ocorridas após a morte de George Floyd) foi combater moinhos de vento. Ou,
segundo as minhas próprias palavras, brincar de Caça Fantasmas.
E digo mais:
em certo sentido, comparo isso com certos descalabros que vêm sendo feitos na
língua portuguesa de uns tempos para cá por parte de certos setores que acham
que vão resolver certos problemas mudando nomes. Como, por exemplo, essa
história de querer chamar favela de comunidade e mais recentemente a tentativa
de querer introduzir um gênero neutro na língua portuguesa (sendo que o gênero
neutro, nos idiomas que o usam – tais como o russo, o alemão, o polonês, o
servo-croata, o latim, o romeno e o tcheco – é usado para se referir a coisas e
objetos). São operações cosméticas que não resolvem situação concreta alguma. É
a mesma coisa que perfumar fezes: o cheiro ruim é eliminado, mas isso não muda
o fato de que aquilo se trata de uma matéria podre e fétida.
Pelo que eu
entendi do texto em questão, seria errado homenagearmos figuras históricas
controversas como os bandeirantes e os conquistadores espanhóis que viveram entre
os séculos XVI a XVIII porque eles teriam matado e oprimido muitos indígenas e
negros nesse processo. Só que eu não vejo a situação dessa forma.
E nisso o
professor Rampinelli incorre no erro infantil de analisar a história de forma
maniqueísta, dentro de uma lógica oprimido/opressor, explorado/explorador, que não
serve para compreender o processo de descobrimento, conquista e colonização do
continente americano pelos conquistadores e descobridores ibéricos e toda sua
complexidade. Como se a relação entre europeus, indígenas e negros na
Ibero-América tenha seguido o mesmo padrão e a mesma lógica daquela existente
nos Estados Unidos, onde houve coisas como Ku Klux Klan e leis Jim Crown (muito
comuns no sul dos EUA até meados do século XX).
O texto em questão
afirma que nos dias de hoje ocorre uma apropriação de nomes de cidades, praças,
edifícios e outros logradouros públicos, de forma a que a paisagem geográfica
não coincide com a paisagem histórica, no que gera uma sensação de irrealidade
e sem contato entre o passado e o presente. Mas não seria a citada apropriação
citada e a decorrente sensação de irrealidade na verdade o resultado de
décadas, ou mesmo séculos, de produção ideológica que faz as pessoas acreditarem
em mitos tais como lenda negra (um mito criado por potências inimigas da
Espanha como a Holanda e a Inglaterra, com o intuito óbvio de denegrir a nação
ibérica ao mesmo tempo em que justificava moralmente as pretensões coloniais
anglo-batavas) e noções de que teria sido melhor para o Brasil ter sido colonizado
pela Holanda ou pela Inglaterra (sem levar em conta que ambos os países
deixaram para trás muitos países miseráveis), comumente difundidas nos meios
acadêmicos e até mesmo midiáticos?
Eu gostaria
de fazer algumas indagações e apontamentos ao pessoal do IELA, em especial ao
senhor Rampinelli, que pelo visto acham que é errado homenagearmos
bandeirantes, conquistadores espanhóis e outros por conta de uma lógica de direitos
humanos inexistente à época da colonização das nações ibero-americanas por suas
respectivas metrópoles.
1 – Se vocês
acham errado que bandeirantes, conquistadores espanhóis e outras figuras
controversas do período colonial das nações ibero-americanas sejam homenageados
por meio de estátuas e monumentos, ou mesmo como nomes de logradouros públicos (pelo
que as falas de vocês me transparecem) por causa do que eles aprontaram em
vida, então, indo por essa lógica, talvez seja tão ou mais errado homenagear os
povos indígenas que aqui viviam antes da colonização, já que eles também
tiveram seu passado de conquistadores, constantemente viviam em conflitos entre
si e também se expandiram à custa de outros povos (vide o caso dos tupis na
costa brasileira na virada do século X para o XI).
Foto – Estátua equestre de Čingis Khan em Conžin Boldog, Ulan-Bator. A maior estátua equestre do mundo.
2 – Sabiam
que na Mongólia existem estátuas dedicadas a Čingis Khan, o fundador do Império
Mongol, incluindo uma estátua equestre de 40 metros em uma área próxima a
Ulan-Bator? E que no Uzbequistão existem monumentos dedicados a Tamerlão em
cidades como Taşkent e Samarkand (que era a capital do Império Timúrida e onde
o grande conquistador se encontra enterrado)? Tanto Čingis Khan e seus
descendentes quanto Tamerlão empilharam muitos cadáveres e jorraram muito
sangue em suas respectivas marchas conquistadoras, que se estenderam desde
Novgorod no norte da Rússia a Java e da ilha Sakhalin no atual Extremo Oriente
Russo às cercanias de Viena e Veneza no curso dos séculos XIII a XV.
Então, quer
dizer que pela lógica de vocês é errado os mongóis homenagearem Čingis Khan ou
os uzbeques homenagearem Tamerlão por causa dessa questão de oprimidos e
opressores e todo esse discurso de direitos humanos inexistente no período em
que eles viveram? Uma coisa é certa: mongóis e uzbeques não iam gostar nem um
pouco de ouvir esse tipo de conversa e defenderiam a manutenção dessas estátuas
dedicadas aos homens que levaram seus respectivos povos à grandeza imperial.
Foto – Estátua equestre de Tamerlão em Taşkent.
3 – E não é
só isso: sabiam que em Cuba há estátuas dedicadas a Cristóvão Colombo,
incluindo na capital Havana? O que me dizem disso? Diga-se de passagem, é bem
curioso que enquanto que nos Estados Unidos e nos países capitalistas da
Ibero-América derrubam e decapitam estátuas de Cristóvão Colombo e outros
personagens controversos do período colonial, em Cuba não se faz o mesmo.
Estranho, não?
Foto – Estátua de Cristóvão Colombo em Havana.
Portanto, já
que é para homenagearmos aqueles que foram oprimidos, que tal também
homenagear, por exemplo, aqueles que os povos indígenas que aqui viviam antes
da chegada dos europeus também oprimiram? O que aqui quero mostrar é a
esparrela, a arapuca, em que vocês e todos que acreditam nesses contos e lendas
negras na qual vocês estão caindo. E uma vez feito o trabalho sujo, muito
difícil será colocar as peças em seus devidos lugares.
Por fim,
gostaria de dizer as seguintes palavras ao autor do texto em questão e outros
que pensam da mesma maneira: isso, fiquem lançando palavras de ordem do tipo
“que venham abaixo as estátuas”, que a hora em que o pessoal de Extrema Direita
começar a pichar murais e derrubar monumentos dedicados a figuras como Marielle
Franco, Zumbi dos Palmares, Carlos Marighella, Lamarca e outros não ficarem
chateados, e nem chorarem por eles.
Houve um caso
dessa natureza no Chile no ano retrasado, bem ilustrativo por sinal. O caso do
busto da mulher diaguita Milanka, na cidade chilena de La Serena: o busto de
Milanka (muito cafona por sinal) retratava uma mulher diaguita e foi lá
colocada no mesmo local onde antes houve uma estátua dedicada ao conquistador
espanhol Francisco de Aguirre, em 2019. Não muito tempo depois, um grupo de
desconhecidos queimou a Milanka. É isso que vocês querem, uma guerra de
monumentos e estátuas no qual um determinado grupo queima ou derruba uma
estátua e depois outro grupo, politicamente rival do outro, em retaliação faz o
mesmo, e assim sucessivamente? Eu não quero esse círculo vicioso.
Foto – Milanka queimada, 2019 (La Serena, Chile).
E não só
isso: a hora em que certos ativistas começarem a ficar cada vez mais ousados e
atrevidos e começarem a incendiar edificações públicas como Igrejas e outras
sob a alegação de que são marcas do colonialismo e da opressão, também não
fiquem chateados. Por isso que devemos repudiar a derrubada de monumentos aqui
e agora, por mais controversas que tais figuras tenham sido em vida. Antes que
entremos em um caminho sem volta, do qual para se sair será muito complicado
(no mínimo).
Pelo que
vejo, o latino-americanismo do pessoal do IELA tem sérias limitações, a começar
pelo fato de que eles parecem renegar a contribuição dos colonizadores
portugueses e espanhóis à formação das nações ibero-americanas e que eles são
tão ou mais importantes quanto indígenas e negras. Pois sem o espanhol e o
português atravessando os mares depois de longas viagens e conquistando terras
no além-mar, não haveria Brasil, nem Argentina, nem México, nem Bolívia, nem
Venezuela ou qualquer outra das nações ibero-americanas que nós conhecemos
hoje.
Finalizando
esse artigo, Em minha humilde visão o que deve cair não são as estátuas que nem
é proposto no texto em questão, e sim contos da carochinha tais como lendas
negras, mitos tais como bom selvagem e ideias como a de que o Brasil teria tido
um melhor desenvolvimento caso fosse colônia da Holanda, da França ou da Inglaterra. Do
que adiantará derrubar estátuas se as mazelas que afligem a América Ibérica há
séculos continuarem de pé e intactas? Nada, absolutamente nada.
Fontes:
A Lenda Negra
da Conquista Espanhola: ingrediente do Imperialismo cultural anglo-americano.
Disponível em: A
Lenda Negra da Conquista Espanhola: Ingrediente do Imperialismo Cultural
Anglo-Americano | Nova Resistência (novaresistencia.org)
Desconocidos
quemam “Mujer Diaguita” en La Serena (em espanhol). Disponível em: Desconocidos queman “Mujer
Diaguita” en La Serena | Diario El Día217483 (diarioeldia.cl)
Estátuas que
caem... outras tantas vão cair. Disponível em: Estátuas
que caem... outras tantas vão cair | IELA - Instituto de Estudos
Latino-Americanos (ufsc.br)
Nova Veneza
na contramão da história. Disponível em: Nova Veneza na contramão da
história - YouTube
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