Foto – Rei Vegeta (esquerda) e Rei Cold (direita). Screenshot do jogo Dragon Ball Z Budokai Tenkaiči 3, lançado para as plataformas Playstation 2 e Nintendo Wii em 2007.
E com vocês,
a sexta parte da série de artigos Freeza e Rei Vegeta. E o assunto da vez é
sobre algo que aconteceu no Canadá faz algum tempo envolvendo o politicamente
correto e a hipocrisia de seus arautos no que tange à questão indígena local.
Já faz algum
tempo que isso ocorreu, mas só agora, passados dois anos do ocorrido, que o
ocorrido veio a público, por meio da Radio Canadá, que teve acesso a um vídeo
onde se vê uma cerimônia regada a fogo e chamas. Isso está dentro do contexto
da campanha eleitoral federal canadense, na qual a pauta da reconciliação com
os povos indígenas tem sido um elemento importante nos comícios e plataformas
eleitorais (visto que em junho deste ano restos mortais de crianças indígenas
foram encontrados em escolas católicas situadas dentro de comunidades
indígenas).
Nessa brincadeira
toda, foram removidos álbuns e livros de histórias como Asterix (mais
especificamente, o álbum Asterix e os índios), Tintin (Tintin na América e o
Templo do Sol), Lucky Luke, Pocahontas e outras em 30 escolas canadenses, sob a
alegação de que estes apresentam uma imagem humilhante dos povos indígenas do
Canadá. Também foram eliminados os exemplares que contêm os termos “índio” e “esquimó”,
considerados pejorativos há muitos anos.
Ao todo, 4716
livros de 155 obras (que incluem quadrinhos, romances e enciclopédias) foram
retirados por um conselho escolar canadense, segundo fontes da Radio Canada,
entre eles histórias de personagens icônicos como o Asterix, o Tintin e o Lucky
Lucke. A organização Catholique Conseil,
da província de Ontário e que cuida de 30 escolas, decidiu estabelecer uma
“cerimônia de purificação pelas chamas” em uma de suas instituições. De início,
a queima de livros estava planejada para todas as outras escolas ligadas à
organização, mas essa ideia foi abandonada em favor da reciclagem dos mesmos.
Foto – Obelix e uma garota indígena. Imagem do filme “Asterix conquista a América” (1994), baseado na HQ “Asterix et les Indiens” (Asterix e os índios).
Faremos
algumas considerações a respeito desse caso que ocorreu no Canadá há dois anos.
Como um fã
das histórias de Asterix e Obelix de longa data, que já comprou HQs dos
personagens criados por Albert Uderzo e René Goscinny e já viu filmes deles, é
um caso lamentável e que me enoja profundamente, perpetrado por gente burra e
estúpida. E ainda por cima com aval de uma rede escolar que se diz católica.
Lendo sobre as
notícias sobre o caso, algo que salta aos olhos é a linguagem usada pelos
iconoclastas que perpetraram tal ato (sim, não há termo melhor para descrever
essa gente que esse).
“Estamos a
enterrar as cinzas do racismo, da discriminação e dos estereótipos na esperança
de que cresçamos num país inclusivo onde todos possam viver de forma próspera e
segura”, disse o Conselho Escolar em um vídeo para os seus alunos.
Vocês estão
muito enganados em achar que vão resolver as mazelas que afligem os povos
indígenas do Canadá por meio de medidas cosméticas e paliativas como essa.
“As pessoas
entram em pânico com a queima de livros, mas estamos a falar de milhões de
livros que têm imagens negativas de povos indígenas, que perpetuam estereótipos
e que são realmente prejudiciais e perigosos”, disse Suzy Kies, co-presidente
da Comissão dos Povos Indígenas do Partido Liberal do Canadá (o partido de
Justin Trudeau) e autora do vídeo na Rádio Canadá.
Ou seja, só
os indígenas importam para você, né dona Suzy Kies (você, que mentiu esse tempo
todo sobre ter raízes indígenas)? E é assim que você justifica uma política de
tábula rasa sobre toda a produção cultural produzida em tempos anteriores que
não se adequa ao pensamento politicamente correto dos dias de hoje? Ou seja, com uma iconoclastia em ao estilo
1984? Muito esquisito isso...
“Este é um
gesto de reconciliação com as Primeiras Nações, e um gesto de abertura para as
outras comunidades presentes na escola e na nossa sociedade”, disse Lyne
Cossette, porta-voz do conselho, a Radio Canadá.
Primeiras
Nações? De onde será que a dita cuja tirou isso? Será que as confederações
tribais que os nórdicos encontraram em Vinland na virada do século X para o XI eram
as mesmas que os franceses e os ingleses encontraram no Canadá a partir do
século XVI? E se um romano ou um gaulês do tempo de César cruzasse o Atlântico
e apartasse no atual Canadá e se aventurasse pelo interior, será que ele
encontraria as mesmas confederações tribais e culturas que os nórdicos e depois
os ingleses e franceses encontraram? Óbvio que também não. Eles adoram falar em
Primeiras Nações, sem se dar conta de que outras nações indígenas podem ter
existido antes delas.
Também salta
aos olhos a maneira como o premiê do Canadá, Justin Trudeau reagiu ao ocorrido.
De maneira tímida e um tanto evasiva, ele disse que nunca concordaria com a
queima de livros, mas em seguida soltou a seguinte pérola:
“Não cabe a
mim, não cabe aos não-indígenas dizer aos indígenas como se devem sentir ou
como se deve agir para promover a reconciliação”, o político do Partido Liberal
do Canadá acrescentou.
O típico
discurso liberal do lugar de fala que poderia muito bem ter saído da boca de
alguém como a Djamila Ribeiro, em que apenas o negro pode falar do negro, o
índio pode falar do índio, a mulher pode falar da mulher e por ai vai.
Verdadeiro “Indiansplaining” a la Kéfera, só que saído da boca do atual premiê
do Canadá.
Também me
chamou a atenção o fato de que termos como índio e esquimó serem considerados
pejorativos e passíveis de eliminação de livros que estão no acervo de biblioteca.
Exemplo paradigmático do fato de que para pessoas como Suzy Kies e Justin
Trudeau o cerne da luta está no vocabulário, e não em ações concretas.
Gostaria de
fazer uma pergunta a esses iconoclastas que queimaram os livros em questão:
acaso queimar livros do Asterix, do Tintin de outros personagens icônicos sob a
alegação de combater o racismo vai resolver os reais problemas que afligem os
indígenas canadenses, como a falta de acesso à água e outros? E irá resolver o
problema do racismo e da discriminação que eles enfrentam? A resposta para
ambas as perguntas é não. Não irá resolver tais problemas sob hipótese alguma. Esse
tipo de coisa é como chamar favela de comunidade, ou mesmo perfumar fezes: algo
que não altera situação concreta alguma.
Além disso, trata-se
de um ato de pura iconoclastia, de fazer inveja a grupos como o Estado Islâmico
e o Taliban. Em nada diferente do que o Estado Islâmico fez a monumentos como o
leão de Palmyra na Síria em 2015 e o Taliban fez aos Budas de Bamyan no
Afeganistão em 2001.
No fim das
contas, é um ato que diz respeito muito mais sobre quem são os arautos do
progressismo politicamente correto que sobre os personagens criados por autores
como Albert Uderzo, René Goscinny, Hergé e outros (ou mesmo os autores em
questão).
E ai eu
pergunto: depois dos livros e HQs dos personagens icônicos em questão, quais
serão os próximos alvos desses iconoclastas canadenses? Quem não me garante,
por exemplo, que eles não vão querer queimar exemplares das sagas nórdicas
(como a Saga dos Islandeses e a Saga de Erik o Vermelho) que retratam o
episódio em que os nórdicos estabeleceram a colônia de Vinland pelo fato de
chamarem os nativos que eles encontraram de skraelinger (palavra que no
islandês moderno significa bárbaro e no dinamarquês moderno significa fracote)?
Precisa desenhar, ou entenderam aonde que essa brincadeira pode chegar?
Como é sabido
por nós, o Canadá, sob o primeiro-ministro Justin Trudeau, tem se mostrado um
dos grandes baluartes do assim chamado progressismo global e suas pautas. Tanto
que no país dos pilotos Gilles e Jacques Villeneuve até cismaram de criar um
pronome neutro destinado a pessoas ditas “não-binárias”, tais como ze e zie, e
uma lei que proíbe o desrespeito à “identidade de gênero”, em 2016. Por conta
de uma lei absurda como essa que existem casos como o do professor
universitário da Universidade de Toronto, Jordan Peterson, que foi perseguido
por recusar-se a utilizar tais aberrações linguísticas.
E alguns me
dirão: isso é algo que aconteceu lá no Canadá, para que ficar se preocupando
com isso? Você está no Brasil, meu caro.
Como é de
conhecimento geral de nós, os setores mais mainstream tanto da esquerda quanto
da direita brasileira adoram copiar os modismos vindos de fora, em especial
aqueles vindos das grandes universidades e metrópoles da Europa ocidental e dos
Estados Unidos. E ainda mais se for coisa que não presta, e esse é o caso do
tipo de coisa que eles adoram copiar.
Vai que essa
brincadeira que começa lá no Canadá daqui um tempo também chega aqui,
impulsionada por partidos da esquerda do figurino do Partido Democrata como o
PSOL e outros (a mesma esquerda que vive falando em queimar e derrubar
monumentos a figuras da história brasileira como Cabral e Borba Gato e proibir
tais homenagens por meio de uma lei inócua, o PL 5296/2020)? Ainda mais levando
em conta que essa mesma esquerda vem há tempos falando em censurar autores como
Monteiro Lobato, por motivos similares que levaram à queima dos já citados
livros no Canadá.
Foto – Obelix, Tintin e Lucky Lucke sendo queimados por seus canceladores.
Fontes:
Asterix y Tintin, entre los más
de 4700 libros infantiles destruidos en Canadá por “ofender” a los indígenas
(em espanhol). Disponível em: Astérix y Tintín, entre los más
de 4.700 libros infantiles destruidos en Canadá por “ofender” a los indígenas |
Internacional | EL PAÍS (elpais.com)
Canadá aprova
lei que proíbe desrespeito à identidade de gênero. Disponível em: Canadá
aprova lei que proíbe desrespeito à identidade de gênero (uol.com.br)
Escolas
canadenses fizeram queima de livros com estereótipos indígenas. Disponível em: queima
de livros asterix - Bing
Escolas
queimam livros do Asterix e do Tintin por ofensas a indígenas no Canadá.
Disponível em: Visão
| Escolas queimam livros do Astérix e do Tintin por ofensa a indígenas no
Canadá (sapo.pt)
Livros de
Tintin, Asterix e Lucky Luke queimados em escolas por serem discriminatórios.
Disponível em: Livros
de Tintin, Astérix e Lucky Luke queimados em escolas por serem
discriminatórios. (centralcomics.com)
Excelente reflexão! Além do Monteiro Lobato, logo poderão querer cancelar também o Mauricio de Sousa. Se bem que no caso dele, talvez seja mais difícil isso acontecer, já que o pai da turma da Monica resolveu aderir à lacração, quando mostrou um quadrinho do Chico Bento - o capiau da turma - defendendo a união homoafetiva, bem como a adoção de crianças por homossexuais.
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