quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

30 anos do Caracazo: a esquecida rebelião popular venezuelana afogada em sangue pela direita "democrática" (postagem da página "Ideologias", do Facebook)


Foto - Caracazo, 1989.
Em 27 de Fevereiro de 1989, o povo venezuelano saiu ás ruas numa violenta onda de protestos que sacudiu o governo de direita da época.
Em 1958, após a derrubada do ditador Marcos Perez Jimenez, os principais partidos de centro-direita, a Ação Democrática e o COPEI, se uniram no Pacto de Puntofijo, para governar o país. Afirmando ser pela “estabilidade democrática” da Venezuela, o pacto acabou gerando um grande sistema de corrupção, em que somente os políticos dos dois partidos governariam o país, com todos os outros partidos (como o Partido Comunista) sendo excluídos da vida política, numa demonstração de elitismo político.
Em 1960, a Venezuela era chamada de “Venezuela saudita”, por causa da grande riqueza vinda da produção de petróleo. Esta riqueza, porém, não era sentida pela população. De acordo com Marta Harnecker, os 10% mais pobres da população detinham apenas 1,6% da renda nacional, enquanto os 10% mais ricos detinham 32%. A pobreza alcançava 85% da população, e as classes A e B, somadas, representavam apenas 3,5% dos venezuelanos.
Em 1989, foi eleito Presidente da Venezuela Carlos Andrés Pérez, do partido Ação Democrática. O país passava então por uma crise por causa da queda dos preços de petróleo. A crise tinha arrasado a economia venezuelana, com uma dívida externa cada vez maior, em que o governo era obrigado a entregar 50% de tudo que ganhava com a exportação de petróleo para tentar quitar a dívida. O dinheiro da Venezuela tinha desvalorizado 100%. Os salários se deterioraram e a população ficou tão pobre que teve de comer comida de cachorro para sobreviver.
O Presidente Perez implantou um pacote neoliberal para tentar resolver a crise. Ele liberalizou os preços, aumentou os preços da gasolina, privatizou estatais, e eliminou taxas de importação. Ao final dos anos 80, os preços da gasolina, eletricidade, telefonia e água aumentaram em 100% em um período muito curto. Os preços do transporte publico aumentaram em 30% da noite pro dia.
Foi este o estopim que gerou o Caracazo. Começando na cidade de Guarenas, em 27 de Fevereiro, e mais tarde se espalhando pra todo o país. Milhares de pessoas, principalmente trabalhadores e moradores das favelas, saíram em protesto contra as novas medidas econômicas. Ônibus eram apedrejados e queimados em todo o país; multidões enfurecidas saquearam lojas, supermercados, shoppings, pequenos comércios, lojas de eletrônicos, etc.
O Presidente Perez respondeu de uma forma brutal: Ele ordenou que a Guarda Nacional e o Exército acabassem com a revolta, permitindo a eles o uso de armas de fogo. Perez ainda decretou o Estado de Emergência, e suspendeu as garantias constitucionais. Desta maneira, o direito a liberdade e segurança pessoal, a inviolabilidade das casas, o direito de ir e vir, a liberdade de expressão, as reuniões em publico e o direito a se manifestar pacificamente foram suspendidos durante 10 dias.
Mais de 4 mil militares com tanques foram mandados para conter os protestos. E eles responderam as manifestações com balas de fogo. Milhares de pessoas foram mortas, a maioria de forma extrajudicial, e outras tantas foram torturadas e desaparecidas. As estimativas oficiais falam em mais 400 mortos, mas muitas outras estimativas falam em no mínimo 2 mil mortos. Algumas chegam a 3 mil mortos. Exército, polícia, a Guarda Nacional e a DISIP (polícia secreta) foram os principais responsáveis.
Não houve pressão internacional. Não houve ameaças do Presidente dos EUA ou de seu Vice. Não houve tentativa de tirar a Venezuela da OEA. Não houve pressão de outros países latino-americanos para que Andrés Perez saísse. Não teve mídia internacional falando disso 24 horas por dia.
A repressão violenta, junto com o contexto generalizado de pobreza e miséria da população e de intervenção externa do FMI, foi um dos motivos que levaram a uma tentativa de Golpe em 1992.
O tenente-coronel do Exército Venezuelano Hugo Chávez havia, antes do Caracazo, criado o Movimento Bolivariano Revolucionário 2000 (MBR-2000) junto de outros oficiais aliados. Este era um movimento de esquerda guiado pela ideologia do Libertador do país, Simon Bolívar. O Movimento de Chávez deu um golpe em 1992 que acabou fracassando. Chávez foi preso, mas não sem antes dar uma mensagem na TV dizendo que o movimento tinha fracassado "por ahora" (por enquanto).
A aparição de Chávez na Venezuela o tornou uma figura nacional conhecida, e muitos venezuelanos passaram a vê-lo como uma alternativa, um homem que se rebelou contra aquele estado desagradável de coisas em seu país. Um ano depois, Carlos Andrés Perez sofreria Impeachment por conta de desvio de dinheiro. O próximo Presidente, Rafael Caldera, perdoaria Chávez que, com sua popularidade, se elegeria Presidente da Venezuela em 1998.
Hoje a oposição venezuela é herdeira de Andrés Perez e sua brutalidade - o que ajuda a explicar porque mesmo com a crise os venezuelanos não confiam na oposição. O partido de Andrés Perez, a "Ação Democrática", é uma das principais lideranças contra o governo de Maduro. Um dos principais organizadores dos grupos violentos repletos de jovens venezuelanos ricos e de classe média alta que causam vandalismo, morte e destruição, e que afirmam ser "vítimas da ditadura" quando levam um merecido corretivo.
Lembrem-se disso quando alguém lhes disser que a Venezuela é uma "ditadura". Lembrem-se disso também quando algum pirralho do MBL ousar te disser que a Venezuela era o país mais rico do mundo antes do chavismo.

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