sábado, 2 de março de 2019

Não à criminalização da homofobia pelo STF



Foto – Criminaliza, STF?
Recentemente, mais precisamente a partir do dia 13 de fevereiro de 2019, entrou em pauta no STF o tema da criminalização da homofobia. Que obviamente conta com grande apoio da parte dos partidários da esquerda pequena burguesa e suas inócuas pautas identitárias (entre eles partidos como o PSTU, que afirma que isso é um importante passo no combate à violência). O que dizer a respeito da criminalização da homofobia pelo STF? Qual é a nossa posição a esse respeito?
Nossa posição a respeito desse tema é diametralmente oposta ao do conjunto da esquerda pequena burguesa que clama pela criminalização da homofobia via STF. Eles mal sabem da armadilha que estão criando para si mesmos (e nesse anseio punitivista partidos como o PSOL e o PSTU não apenas se igualam como também fazem coro com os partidários de Bolsonaro. A única coisa que muda é o sinal ideológico deles).
Se há algo que a Operação Farsa Jato, depois de conspirar a favor da deposição de Dilma em conluio com a mídia venal, ajudar a colocar Michel Temer no poder, prender Lula sem provas e abrir caminho para Bolsonaro chegar ao poder, escancarou ao país é que o tribunal tem lado, o lado das elites que mandam no país desde o século XVI. E isso é algo que os governos Lula e Dilma foram incapazes de perceber enquanto no poder estiveram.
Agora imaginamos as seguintes situações hipotéticas:
1 – A Gleisi Hoffmann ou o Lindbergh Farias se envolve em uma polêmica com o Fernando Holiday ou com o Carlos Bolsonaro (vulgo Carluxo) e no calor da discussão o chama de “bicha louca”, “bichona”, “biba tresloucada” ou algo similar.
2 – A homofobia é criminalizada pelo STF e o Jean Wyllys de repente resolve voltar ao Brasil depois de seu autoexílio europeu. Passa um tempo e ele se envolve em uma polêmica com algum figurão da direita como o Marcel Van Hattem ou a Joice Hasselmann e é chamado de “bicha louca” ou algo similar.
Um juiz como o Sérgio Moro, o Luiz “peruca moradia” Fux, o Fachin, o Gilmar Mendes ou o Marcelo Bretas irá pegar mais pesado com qual dos infratores, o que é cúmplice do sistema vigente ou o que não é? Ganha um docinho quem souber responder essa questão. Levando em consideração o caráter de classe oligárquico-escravocrata não apenas da justiça brasileira como também do Estado brasileiro como um todo, não é de se surpreender que o sistema judicial brasileiro venha a ser muito mais benevolente para com os infratores cúmplices do sistema.
Lembremos não apenas dos casos Ciro Gomes x Fernando Holiday (no qual o político cearense, depois de chamar Fernando Holiday de “capitão do mato”, foi condenado a pagar uma multa de R$ 38 mil ao ex-MBL) e Paulo Henrique Amorim x Heraldo Pereira (no qual PHA foi condenado a pagar R$ 30 mil de indenização por danos morais ao jornalista da Globo por tê-lo chamado de “negro de alma branca”), como também da verdadeira caçada que a Farsa Jato fez a Lula e ao PT ao mesmo tempo em que passou a mão na cabeça de tucanos, demos e outros da direita (os quais por seu turno certamente devem saber de muitos podres a respeito do juiz Moro em atuações pregressas como no Banestado e na Operação Maringá) e do fato de que na Itália o Judiciário de lá, que mesmo no pós-guerra continuou sob controle fascista, foi muito mais rigoroso com os militantes de extrema esquerda que participaram de grupos como as Brigadas Vermelhas e o Proletários Armados pelo Comunismo (a exemplo do que foi feito a Cesare Battisti) que com os militantes envolvidos com grupos neofascistas e que perpetraram hediondos atentados, não raro culpando a esquerda por isso por meio de operações de falsa bandeira.
Em um trecho do episódio 39 de Cavaleiros do Zodíaco, Máscara da Morte de Câncer e Dohko de Libra (dublados no Brasil pelo finado Paulo Celestino e por Araken Saldanha, respectivamente) travam uma conversa a respeito não apenas do Grande Mestre do Santuário e suas intenções como também a respeito do que é a justiça e suas definições. MDM diz que as definições de justiça mudam conforme os tempos passam e que o que Ares almejava fazer pode parecer diabólico, mas que em caso de vitória dele na batalha contra Athena os perdedores da guerra tornar-se-iam os injustos. Dohko obviamente discorda do que MDM diz, alegando que a injustiça jamais se torna justiça e que o destino inexorável das forças malignas é o fim.
O que o Cavaleiro de Ouro de Câncer quis dizer com isso e aonde ele quis chegar com tal argumentação, a primeira vista sem sentido e absurda? Examinando-a bem, em sua argumentação MDM levanta as seguintes questões: o quem exerce a justiça (e por tabela o poder) e acima de tudo o quem escreve a história. Ou seja, a velha máxima de que os vencedores é que escrevem a história. Na verdade, pode-se dizer que ambos estão corretos. Máscara da Morte no plano subjetivo e Dohko no plano objetivo.
Caso Athena (vulgo Saori Kido) e seus santos perdessem a guerra para Ares (vulgo Saga de Gêmeos), ela passaria para a história como uma bandida impostora que se passou por Athena e junto com ela os santos fiéis a ela, incluindo o próprio Dohko de Libra, que seriam pintados como traidores que se deixaram enganar pela lábia da falsa Athena. Saga/Ares, por seu turno, tornar-se-ia o justo na medida em que a partir daquele momento começaria a escrever a história que dali em diante seria escrita e a criar uma imagem onde ele se colocaria como aquele que derrotou a impostora que perturbou a paz interna do Santuário e como a pessoa certa para governar o Santuário diante das investidas de outros deuses tais como Hades, Poseidon, Zeus, Apollo, Chronos, Janus e outros. A situação mudaria de figura apenas a partir do momento em que anos mais tarde Saga fosse vencido e a ordem por ele instaurada colocada abaixo. Algo análogo certamente Alberich de Megrez faria caso tivesse sucesso em seu intento golpista na saga de Asgard (exclusiva da animação) em relação à Hilda e aos Guerreiros Deuses que à representante terrena de Odin se mantivessem fiéis. Hilda de Polaris passaria à história que dali em diante seria escrita como aquela que após ser possuída pelo poder maligno do anel de Nibelungos por capricho envolveu Asgard em uma batalha ruinosa e Alberich como aquele que pela graça de Odin veio não apenas para salvar Asgard de um destino trágico como também para trazer dias gloriosos para o reino nórdico. Já os Guerreiros Deuses fiéis a ela, como Siegfried e Hagen, seriam tidos como no mínimo uns omissos que colaboraram com Hilda nessa loucura. Mas, como na história do anime o intento golpista de Alberich malogrou, ele certamente passará para os livros de história de Asgard como um conspirador que se aproveitou da batalha contra o Santuário de Athena para atingir ambições pessoais, sem se importar com nada nem ninguém.

Aonde você quer chegar citando uma passagem da mais famosa obra de Masami Kurumada, algum incauto perguntar-me-á? No tema do presente artigo, pois tudo a ver tem. A esquerda pequeno burguesa, em seu anseio punitivista, não leva em consideração justamente o fator “quem exerce a justiça” do qual Máscara da Morte levanta. E quem exerce a justiça no nosso país? As oligarquias que desde o século XVI mandam no país, por meio de seus apaniguados nos três poderes e que desde aquela época aparelham o sistema de justiça de forma a perpetuar seu status quo por meio de expedientes como a prática do nepotismo. Portanto, são esses atores sociais que não apenas fazem as leis como também exercem a justiça conforme seus desígnios. E, como eles em alguma medida estão afinados com o poder vigente no país, as leis serão usadas não apenas para beneficiar a extrema direita que agora está no poder como também para passar o trator no que ainda resta da já combalida esquerda brasileira. Ou seja, serão usadas para fazer as politicagens deles. Ou será que tais juízes vão levar adiante investigações sobre todo o esquema de laranjas de Bolsonaro e suas possíveis ligações não apenas com as milícias cariocas como também com o assassinato de Marielle Franco? Vai acabar como tantos outros escândalos de corrupção envolvendo tucanos, pemedebistas e demos como privataria tucana, trensalão, mensalão mineiro, Banestado, Alstom, helicola e tantos outros. O laranjal e o caso Marielle no máximo vão servir como elemento de chantagem sempre que ele resolver sair da linha estabelecida pelos donos do poder.
Não nos esqueçamos de que a mesma Justiça brasileira que hoje coloca em pauta o tema da criminalização da homofobia é a mesma que deu aval ao fraudulento impeachment de Dilma Rousseff, prendeu Lula, Genoíno e Dirceu sem provas em processos politicamente enviesados, tentou várias vezes extraditar Cesare Battisti de volta para a Itália e que agora quer passar o trator no que ainda resta da esquerda é quem dava aval à escravidão nos tempos da Colônia e do Império e que entregou Olga Benário à Alemanha nazista ainda grávida.
Precisa desenhar? Pedir para o STF criminalizar a homofobia é na prática aumentar ainda mais o arsenal punitivista que o Judiciário brasileiro, um poder não eleito cujos membros pensam que são deuses na Terra e comumente recebem salários muito acima do que a lei permite para funcionários públicos, já tem. Como se não bastasse Lei da Ficha Limpa, Lei antiterrorismo, Lei das organizações criminosas e o pacote anticrime do juiz do Banestado (muitas dessas leis que inclusive foram instituídas ainda nos governos Lula e Dilma), agora o STF está preparando mais uma lei que na prática vai funcionar como uma armadilha recheada com um apetitoso queijinho para apanhar como patinhos esquerdistas, pobres e pretos e jogá-los nas já superlotadas prisões brasileiras aos montes. Não nos esqueçamos de que foi justamente uma dessas leis, a Lei da Ficha Limpa, que foi usada para impugnar a candidatura de Lula no pleito presidencial do ano passado. E enquanto o judiciário e o Estado brasileiro mantiverem seu caráter oligárquico-escravocrata, leis como a da criminalização da homofobia e tantas outras apenas vão servir na prática para reforçar o aparato repressor do Estado e ajudar a superlotar de elementos indesejados pelos donos do poder as cadeias brasileiras.
Resumindo a ópera: alguém como o Jean Wyllys pedir para um juiz prender algum figurão da direita bolsonarista que o agrediu e o ofendeu em uma discussão de rua é o mesmo que alguém da esquerda pedir também para um togado prender o Aécio Neves, o José Serra ou o Michel Temer por envolvimento destes com esquemas de corrupção. Ou na Itália dos dias de hoje pedir para que a justiça de lá seja mais rigorosa para com os militantes neofascistas (a exemplo de Roberto Fiore e tantos outros) ativos no mesmo período de Cesare Battisti. Ou seja, algo inócuo.
E à esquerda pequeno burguesa e seus representantes que se sentirem ofendidos por nosso posicionamento a respeito dessa questão, só lhes digo uma coisa: na hora em que toda a esquerda brasileira estiver sob a custódia da juíza Carolina Lebbos nós conversamos, ok?

Foto - Os anseios punitivistas da esquerda pequeno burguesa que mais cedo ou mais tarde contra ela se voltarão.
Fontes:
Ciro Gomes é condenado a indenizar vereador Fernando Holiday por danos morais. Disponível em: https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2019-02-21/ciro-gomes-fernando-hollyday.html
Conflito entre meias verdades. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cuSxdTDwQHI
Criminaliza, STF? Por Vitor Teixeira. Disponível em: https://www.causaoperaria.org.br/diarias/criminaliza-stf-por-vitor-teixeira/
Criminalização da LGBTfobia: um importante passo no combate à violência. Disponível em: https://www.pstu.org.br/criminalizacao-da-lgbtfobia-um-importante-passo-no-combate-a-violencia/
Criminalização da “lgbtfobia” – PSTU pede mais repressão do Estado contra o povo. Disponível em: https://www.causaoperaria.org.br/criminalizacao-da-lgbtfobia-pstu-pede-mais-repressao-do-estado-contra-o-povo/
O caso Battisti: justiça burguesa é feita. Disponível em: https://www.pstu.org.br/da-italia-o-caso-battisti-justica-burguesa-e-feita/

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