segunda-feira, 4 de março de 2019

Considerações sobre as reações de alguns elementos da direita face ao óbito do neto de Lula



Foto – Lula ao lado de seu neto recém-finado. Por Latuff.
No último dia 1 de março veio a óbito um dos netos do ex-presidente Lula, Arthur Araújo Lula da Silva, sete anos de idade, vítima de meningite meningocócica. Deixo aqui não apenas minha homenagem ao jovem Arthur (que segundo o próprio Lula sofreu bullying na escola por parte de alguns colegas de escola devido ao fato de seu ter sido preso sob acusações de participação em esquemas de corrupção e que teve seu ipad confiscado durante a condução coercitiva de Lula em 2016) como também minhas condolências aos familiares do jovem Arthur e que ele esteja em boas mãos ao lado do Senhor Deus no além. Junto também com a Dona Marisa, o Vavá e outros familiares dele que também já não estão mais nesse mundo.
Mas não é a respeito do óbito em si de que falarei no presente artigo, e sim a repercussão que ele gerou. Como era de se esperar, a morte do neto de Lula (o qual recentemente foi impedido de ir ao velório de seu irmão Vavá) repercutiu fortemente nas redes sociais. E o que mais me estarreceu no episódio em questão foi a reação de certos elementos que comemoraram a tragédia, os quais podem ser vistos em vários prints nas redes sociais. Exemplo maior disso é a mensagem no Twitter de Eduardo Bolsonaro, o terceiro filho de Jair Bolsonaro, sobre o recente ocorrido, falando como se o pai dele não estivesse passado por situação similar quando esteve internado durante a recente cirurgia de colostomia.

Foto – O já citado tweet de Eduardo Bolsonaro e a resposta de Fernando Lopez.
A postagem de Bolsokid (que parece ignorar por conveniência não apenas o fato de que Lula é um ex-presidente da República, como também o fato de que ele foi preso sem provas com intenções politiqueiras e a existência do artigo nº 120 da Constituição Federal, que prevê que os condenados que cumprem pena em regime fechado e semiaberto e presos provisórios poderão obter permissão para sair da prisão em caso de falecimento ou doença grave de algum familiar dele) gerou tamanha repercussão que mesmo figuras de direita como Reinaldo Azevedo demonstraram repúdio à mensagem do deputado federal pelo Estado de São Paulo no Twitter, como pode ser visto abaixo.

Foto – A reação de Gilberto Dimenstein, Kennedy Alencar e Reinaldo Azevedo ao tweet de Eduardo Bolsonaro.
Como dito na época da prisão do ex-presidente, muito nojo e repulsa senti de ver pessoas comemorando primeiro a condenação pelos desembargadores (ou como Paulo Henrique Amorim carinhosamente os chama, desembagrinhos) do TRF4 e depois a prisão de Lula (que por si só já me enoja só de saber que ele foi preso pelo mesmo juiz que livrou a cara dos tucanos e de empresas de mídia no caso Banestado e que hoje é ministro da justiça do governo Bolsonaro) com direito a fogos de artifícios lançados ao céu e festejos. Tripudiar em cima do cadáver de uma criança de sete anos recentemente falecida então para mim é o fim da picada. Ainda mais vendo o filho do atual presidente fazendo isso publicamente, como também pessoas que se dizem devotas do Deus cristão (ou será que na verdade são devotas do Deus cruel, impiedoso e sanguinário do Velho Testamento, que matou impiedosamente os filhos do faraó e jogou as pragas no Egito, entre outras atrocidades?) e a favor da família e dos bons costumes.
É o Brasil escravocrata do qual o Bolsokid (o qual quando durante a campanha eleitoral de seu pai nos EUA encontrou-se com o senador republicano pelo Estado da Flórida Marco Rubio, o patrão de Guaidó, que recentemente no Twitter postou uma foto de Muammar al-Kadaffi morto querendo dizer a Maduro que ele será o próximo a sofrer o mesmo destino que o líder líbio sofreu em 2011 – assunto sobre o qual falaremos no próximo artigo) é um representante revelando ao mundo seus demônios interiores que durante muito tempo estiveram ocultos em suas profundezas. Portanto, não é de surpreender tal reação da parte de muitas pessoas, ainda mais no momento de alta polarização ideológica que o país passa e onde a direita, surfando no clima de um suposto combate à corrupção, sai do armário e mostra suas garras e seu bafo fétido que durante muito tempo escondeu.
Esses que não apenas debocharam da morte da Dona Marisa, da Marielle e do neto de Lula são os mesmos que aplaudiram e festejaram com fogos de artifício lançados ao céu a condenação sem provas de Lula pelo juiz do Banestado. E se essa gente foi capaz de tripudiar em cima da morte do neto de sete anos do Lula, para mim não será nenhuma surpresa se vierem a repetir a dose caso o mesmo infortúnio venha a acontecer com o filho brasileiro de Cesare Battisti (ou quem sabe com o próprio ex-militante do Proletários Armados pelo Comunismo caso em um futuro próximo venha a óbito na prisão onde se encontra na Itália).
Em meu entendimento, tais elementos me lembram muito o Mussum em um esquete dos saudosos Trapalhões no qual o Mussum e o Dedé estão na sala de espera de um consultório médico. Uma conversa entre os dois trapalhões se inicia. O personagem interpretado pelo finado Antônio Carlos Bernardes Gomes declara-se a favor do governo, diz que o governo está certo em aumentar o preço dos ovos e do feijão, mas muda radicalmente de opinião quando fica sabendo por meio de Dedé que o preço da sua amada cachaça (ou como ele a chama carinhosamente, mé) aumenta, a ponto de chamar o governo de “danadis”.
Enquanto o governo prejudica os outros, para o Mussum tudo está bem. Mas foi só mexer no preço do mé querido dele que a situação mudou de figura. De forma análoga, esses apoiadores de Bolsonaro e do juiz do Banestado acham lindo quando eles prejudicam o Lula, a Dilma e esquerdistas de modo geral e os sentenciam à prisão sem apresentar provas contundentes da culpa deles nas acusações. Parecem também achar bonito em nome do combate à corrupção arrepiar as leis e a Constituição do país e passar tábua rasa em empresas como Odebrecht e OAS, sem se dar conta do prejuízo que isso causou à economia do país e os milhões de desempregados resultantes dessa brincadeira. Quero muito ver o que eles vão achar na hora em que um desses togados dos cafundós os colocarem na prisão sem apresentar prova de culpabilidade alguma tal como feito com o Lula e com o Cesare Battisti (sobre o qual a única prova dos tais quatro crimes de que o italiano teria cometido durante os anos de chumbo da história italiana é uma delação de um ex-companheiro de armas, obtida bem provavelmente debaixo de tortura e ameaças à sua integridade física).
A tais elementos, apenas digo uma coisa: isso, fiquem apoiando tudo quanto é barbaridade jurídica e atropelo das leis por parte de juiz, procurador e desembargador que mais cedo ou mais tarde a cobra irá lhes picar. E a picada bem dolorida será, diga-se de passagem. E que vocês não reclamem nem chorem na hora em que um desses togados dos cafundós lhes jogarem em uma superlotada prisão como fizeram com o Lula (ouviu essa, né Matteo Salvini? Você, seu projeto de Mussolini, que comemorou a prisão do Lula nas redes sociais. Imagino que você deva ter um rancor muito grande em relação ao Lula pela questão envolvendo o Cesare Battisti, além de teu ranço ideológico fascistóide. Espero não ver lágrimas de crocodilo de tua parte na hora em que você for vítima do mesmo lawfare sofrido por Lula, Cristina Kirchner e Rafael Correa. Não brinque com lawfare, signore Salvini). Talvez só assim para vocês aprenderem a ser gente.

Foto – Mussum e Dedé no referido esquete (provavelmente dos anos 1980) dos Trapalhões.
Fontes:
As fraudes do processo e a extradição de Battisti. Disponível em: https://www.causaoperaria.org.br/as-fraudes-do-processo-e-a-extradicao-de-battisti/
Eduardo Bolsonaro é bombardeado após criticar Lula para velório do neto. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=i2l8-iFvu7g
Matteo Salvini elogia prisão de Lula. Disponível em: https://comunitaitaliana.com/matteo-salvini-elogia-prisao-de-lula/
Os Trapalhões – o governo tá certis. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1IeI_NX2h2g
Quanta dor Lula pode suportar? Por que o temem tanto os sem-caráter? Disponível em: https://jornalggn.com.br/artigos/quanta-dor-lula-ainda-pode-suportar-por-que-o-temem-tanto-os-sem-carater/
Sacanagem – Moro não devolveu o ipad de Arthur. Disponível em: https://talisandrade.blogs.sapo.pt/sacanagem-moro-nao-devolveu-o-ipad-de-798491

Nenhum comentário:

Postar um comentário