Foto – Haddad e FHC.
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Sem um projeto alternativo claro e de longo prazo, fica-se refém das
conjunturas e dos acordos de conveniência, como aconteceu com o Partido dos
Trabalhadores (página 158).
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A incapacidade de articular um projeto alternativo mostra o quanto somos pela
hegemonia da visão de mundo liberal-chique, que com o golpe de 2016 se torna
uma visão de mundo crescentemente “neoliberal-tosca” (página 158).
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Graças a essa fragilidade simbólica, o golpe de 2016 aconteceu da forma como
aconteceu e o moralismo de fancaria da Globo e da Farsa Jato grassou
praticamente sem oposição discursiva e articulada que pudesse denunciar a trama
em seu nascedouro. A tal ponto que foi no próprio Ministério da presidente
posteriormente deposta que montou-se a arcabouço legal que depois funcionaria
como cortina de fumaça para o ataque à democracia (página 159).
Reflexão
XV – Em 2013, Rui Costa Pimenta, presidente do PCO (Partido da Causa Operária),
alertou para o fato de que já estava se formando uma articulação golpista para
derrubar Dilma do poder. Alertou também para o fato de que o controle petista
sobre o Estado brasileiro e seu aparato repressor era muito precário (https://www.youtube.com/watch?v=z2HxKa5aLSg). Não deu outra, pois três anos
depois Dilma foi deposta por meio de um processo fraudulento, sem crime de
responsabilidade nem nada. Percebe-se que o PT, nos anos em que ficou no poder,
foi como um exército que invade um reino, vence os adversários nas batalhas em
campo aberto, mas só que para consolidar seu poder precisa derrubar as fortalezas
e os castelos do reino. E não tem as armas de assédio necessárias para tal. Daí
que ficou nesse impasse até que a direita resolveu colocar um ponto final à
brincadeira. E foi moleza colocar abaixo o castelo de cartas petistas. Talvez,
por falta de interesse de importantes atores sócio-políticos é que o golpe não
aconteceu antes.
Reflexão
XVI – As gestões petistas foram marcadas, entre outras coisas, por um ingênuo
republicanismo, que se revelou fatal à sua permanência no poder. A tal ponto
que, entre outras coisas, o PT salvou a Globo da falência no primeiro governo
Lula, não criou um canal de comunicação direta com o povo e empoderou o
Judiciário e o MPF no combate à corrupção. Também não defendeu o José Dirceu e
o José Genoíno das acusações sem provas do lawfare de Joaquim Barbosa no
julgamento do mensalão em 2012 (que nada mais foi que o balão de ensaio para o
que foi feito com Lula seis anos depois). Ao que tudo indica, o republicanismo
petista foi fruto de uma incompreensão do fato de que o Estado e seus aparelhos
ideológicos não são neutros e funcionam para atender prioritariamente a
determinados grupos de poder (ou seja, estão muito mais para atender aos
interesses de figuras como o Jorge Paulo Lemann, os juízes, promotores e
desembargadores fura-teto, os ruralistas, o Paulo Skaf e o presidente do Itaú que
o Seu Madruga [originalmente Don Ramón]). Também não nunca se deu conta de que
em realidade não foi mais que um mordomo de uma mansão, tal qual Bolsonaro hoje
em dia é.
Reflexão
XVII – Durante os governos petistas, em especial no governo Dilma, o arcabouço
legal que hoje Bolsonaro possui para criminalizar movimentos sociais e a
esquerda como um todo foi criado, incluindo a lei anti-terrorismo e a lei das
organizações criminosas (respectivamente lei 13260 [publicada em 16/03/2016] e
lei 12850 [publicada em 02/08/2013]). Ou seja, Bolsonaro não vai precisar criar
nada novo para fazer a caça às bruxas ideológica que ele pretende fazer. A
Farsa Jato e todo seu lawfare também devem sua existência a tal arcabouço legal
(incluindo o PGR todo-poderoso, diretor da PF “imexível” e relação entre Globo
e sistema de justiça). Além do já citado caso da Lei da Ficha Limpa. Moral da
história: a cobra que você cria para morder seu inimigo mais cedo ou mais tarde
também irá te morder.
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