Foto – Haddad e FHC.
Reflexão
XVIII – A fragilidade simbólica ajuda a explicar não apenas a falta de oposição
significativa ao moralismo da fancaria da Lava Jato e da Globo como também o
fato de que setores expressivos da esquerda brasileira (incluindo figuras como
Luciana Genro e Fernando Haddad) demonstraram simpatia à Lava Jato. Isso para
não falar do apoio de partidos como o PSTU ao golpe contra Dilma. Diga-se de
passagem, Bolsonaro mais fez que surfar no clima do “combate” à corrupção e do
antipetismo, e nisso criou uma imagem de forasteiro do sistema que veio
moralizar a coisa toda. Esse é o mesmo que essencialmente foi usado primeiro
pelo juiz Moro à frente da Farsa Jato e depois por João Dória na campanha para
prefeito de São Paulo de 2016.
Reflexão
XIX – O simples fato de a Lava Jato ser comandada por juízes e procuradores que
ganham muito acima do teto permitido por lei a eles já mostra o quão falso é o
moralismo por eles pregado. Isso para não falar da Rede Globo, que é envolvida
com sonegação fiscal milionária e Fifagate (esquema de propinas para a compra
dos direitos de exibição das Copas do Mundo de 2002 e 2006). Junto com o fato
de que o mesmo que hoje é ministro da justiça do governo Bolsonaro (o que não
muda o fato de que ele é um tucano de carteirinha e de coração e que bem
dificilmente irá afundar junto com o clã Bolsonaro a hora que o barco
bolsonarista afundar caso isso venha a acontecer) arquivou o caso Banestado há
mais de 10 anos, que sinto muito nojo de todo o processo que levou não apenas
ao impeachment de Dilma como também da prisão de Lula. Mas o mais triste de
tudo é ver que muita gente acredita que essa gente está fazendo a higiene moral
do país. Quer coisa mais do sistema que um juiz?
Reflexão
XX – Em um encontro recente do PT no Ceará, Cid Gomes, irmão de Ciro Gomes,
disse que o PT, entre outras coisas, aparelhou o Estado brasileira, precisa
fazer mea culpa e ajudou a criar o Bolsonaro (https://www.youtube.com/watch?v=hC3MvA72Qpw). Que esquerda é essa que repete as
mentiras da direita, a ponto de fazer com o discurso da mídia venal de que o PT
precisa de autocrítica? Esse exemplo prosaico é bem sintomático do fato de que
a esquerda brasileira antes de tudo precisa de uma nova práxis política,
abandonar ilusões e principalmente parar de falar como se fosse direita.
Reflexão
XXI – Uma palavra sobre política exterior. Segundo Ramez Maalouf em um de seus
artigos no Portal da Cidadania, a dinastia Bush fez o que fez no Iraque graças
à mitos como o da ditadura unipartidária do Baath e o da opressão dos sunitas
sobre xiitas e curdos que expressivos setores da esquerda mundial engoliram. E
o mesmo certamente pode ser dito, por exemplo, a respeito do que Helmut Kohl e
Bill Clinton fizeram na Iugoslávia nos anos 1990 e do que Hillary Clinton,
Sarkozy, Cameron e Berlusconi (com uma mãozinha de Ignacio de La Russa, o mesmo
que é um dos principais políticos italianos envolvidos na campanha pela
extradição de Battisti) fizeram na Líbia em 2011.
Como
dito no artigo anterior, vários elementos da esquerda brasileira andaram
soltando pérolas de vestibular a respeito do que se passa na Venezuela (https://www.youtube.com/watch?v=Y5pgsgFBTgk).
Entre eles se incluem figuras como Luciana Genro, Tarso Genro, Fernando
Haddad, Ciro Gomes e Jean Wyllys. Eles chegaram ao ponto de alfinetar Gleisi
Hoffmann por ter ido à posse de Nicolás Maduro. Nisso, acabam fazendo coro não
apenas com Bolsonaro como também com Marco Rubio, o senador republicano da
Flórida que está por trás de todo o esforço golpista na Venezuela e que segundo
a mídia cubana tem ligações com Bolsonaro (https://www.youtube.com/watch?v=-EOLMQafotI). Guaidó, diga-se de passagem, nada
mais é que um garoto de recados de Marco Rubio. Infelizmente, tais figuras
acham que a briga que se desenrola na Venezuela é uma mera luta por democracia
e não se dão conta da ingerência do imperialismo anglo-americano na nação
caribenha (que, diga-se de passagem, iniciou-se não agora, mas na crise
venezuelana de 1902/1903 [https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_na_Venezuela_de_1902%E2%80%931903]).
Ingerência essa que pode levar a Venezuela a uma situação similar à de países
como a Síria e a Líbia. Mal eles se dão conta também de que esses que estão na
oposição venezuelana são pessoas que querem que a Venezuela volte a ser o país
miserável que era nos tempos da Quarta República. E essa não é a primeira vez
que tais figuras fazem coro com as ações do imperialismo anglo-americano mundo
afora: foi assim na Líbia, na Síria, na Ucrânia e outros casos onde eles
apoiaram revoluções coloridas financiadas por multimilionários como os irmãos
Koch e George Soros. Na prática, agem como inocentes úteis que fazem o jogo não
só da direita brasileira e latino-americana como também do imperialismo anglo-franco-americano.
Conclusão
– Em meu entendimento, a seguintes frases que Brizola e Darcy Ribeiro em vida
usaram para classificar o PT definem bem o que é o petucanismo a nível
ideológico: “esquerda que a direita gosta” e “galinha que cacareja pela
esquerda e bota ovos pela direita”. Strictu
sensu, o petucanismo de que Gilberto Felisberto Vasconcellos fala trata-se
das semelhanças de cosmovisão entre petistas e tucanos (cujo ninho ideológico,
como todos nós sabemos, é a USP). Latu
sensu, as semelhanças de cosmovisão entre não apenas petistas e tucanos
como também a direita e a esquerda brasileira de modo geral. Podemos dizer que
Fernando Haddad, candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores de
2018, é um bom exemplo de um petucano. Ou seja, um sujeito que se diz de
esquerda, mas fala e age na prática como se fosse alguém de direita. Basta ver
não só como ele olha problemas como o da corrupção e as alfinetadas que ele deu
em Gleisi Hoffmann por ter ido à posse de Nicolás Maduro. Como que cheguei a
essa conclusão? Belo dia, pensando comigo mesmo, fiz uma ligação de pontos com
o que Gilberto Felisberto Vasconcellos fala sobre petucanismo, em seguida lembrei-me
do que o Jessé Souza fala em suas obras sobre a fragilidade discursiva da
esquerda a ponto de repetir chavões da direita e simplesmente liguei os pontos
e cheguei a tal conclusão. Tenho batido muito nessa tecla ultimamente e
continuo insistindo, porque se a esquerda quiser não só sobreviver aos dias
negros que se avizinham como também reverter os nefastos resultados de toda a
ação golpista iniciada em 2012 com o julgamento do mensalão (do qual a eleição
de Jair Bolsonaro nada mais é que uma consequência direta), precisa antes de
tudo uma práxis política nova e parar de falar como se fosse direita. Em outras
palavras, rasgar o figurino direitista que veste.
Ou
seja, enquanto a esquerda continuar a falar como se fosse direita, não só o
sonho de uma Revolução Brasileira continuará sendo uma utopia como também a
esquerda continuará a ser feita de gato e sapato pelas forças reacionárias que
mandam no país desde o século XVI em toda e qualquer disputa ideológica que
irromper. Em outras palavras, não é endossando políticas repressivas de
Bolsonaro e do juiz do Banestado (como os governadores do PT no Nordeste tem
feito), virar a página do golpe (como fizeram recentemente algumas lideranças
de esquerda, entre elas Flávio Dino), fazendo elogios a Bolsonaro e ao juiz do
Banestado (como os feitos por Haddad), renunciar às cores do partido (como a
campanha de Haddad fez ao trocar o vermelho petista pelo verde e amarelo
bolsonarista, que nada mais representa que a defesa do status quo privilegiado
do 1% mais rico do país e do Brasil enquanto a sociedade escravocrata que é) e
tirando o PT do SPC com a ajuda de juízes (como Haddad tem falado ultimamente –
o que na prática é ajudar ao Judiciário fazer um expurgo dentro do próprio
Partido dos Trabalhadores) que toda essa situação será revertida.
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