domingo, 3 de fevereiro de 2019

Petucanismo: o PSDB dentro do PT. Ou as limitações ideológicas do PT (resumo do livro "A classe média no espelho", de Jessé Souza, parte 5/5)


Foto – Haddad e FHC.

Reflexão XVIII – A fragilidade simbólica ajuda a explicar não apenas a falta de oposição significativa ao moralismo da fancaria da Lava Jato e da Globo como também o fato de que setores expressivos da esquerda brasileira (incluindo figuras como Luciana Genro e Fernando Haddad) demonstraram simpatia à Lava Jato. Isso para não falar do apoio de partidos como o PSTU ao golpe contra Dilma. Diga-se de passagem, Bolsonaro mais fez que surfar no clima do “combate” à corrupção e do antipetismo, e nisso criou uma imagem de forasteiro do sistema que veio moralizar a coisa toda. Esse é o mesmo que essencialmente foi usado primeiro pelo juiz Moro à frente da Farsa Jato e depois por João Dória na campanha para prefeito de São Paulo de 2016.
Reflexão XIX – O simples fato de a Lava Jato ser comandada por juízes e procuradores que ganham muito acima do teto permitido por lei a eles já mostra o quão falso é o moralismo por eles pregado. Isso para não falar da Rede Globo, que é envolvida com sonegação fiscal milionária e Fifagate (esquema de propinas para a compra dos direitos de exibição das Copas do Mundo de 2002 e 2006). Junto com o fato de que o mesmo que hoje é ministro da justiça do governo Bolsonaro (o que não muda o fato de que ele é um tucano de carteirinha e de coração e que bem dificilmente irá afundar junto com o clã Bolsonaro a hora que o barco bolsonarista afundar caso isso venha a acontecer) arquivou o caso Banestado há mais de 10 anos, que sinto muito nojo de todo o processo que levou não apenas ao impeachment de Dilma como também da prisão de Lula. Mas o mais triste de tudo é ver que muita gente acredita que essa gente está fazendo a higiene moral do país. Quer coisa mais do sistema que um juiz?
Reflexão XX – Em um encontro recente do PT no Ceará, Cid Gomes, irmão de Ciro Gomes, disse que o PT, entre outras coisas, aparelhou o Estado brasileira, precisa fazer mea culpa e ajudou a criar o Bolsonaro (https://www.youtube.com/watch?v=hC3MvA72Qpw). Que esquerda é essa que repete as mentiras da direita, a ponto de fazer com o discurso da mídia venal de que o PT precisa de autocrítica? Esse exemplo prosaico é bem sintomático do fato de que a esquerda brasileira antes de tudo precisa de uma nova práxis política, abandonar ilusões e principalmente parar de falar como se fosse direita.
Reflexão XXI – Uma palavra sobre política exterior. Segundo Ramez Maalouf em um de seus artigos no Portal da Cidadania, a dinastia Bush fez o que fez no Iraque graças à mitos como o da ditadura unipartidária do Baath e o da opressão dos sunitas sobre xiitas e curdos que expressivos setores da esquerda mundial engoliram. E o mesmo certamente pode ser dito, por exemplo, a respeito do que Helmut Kohl e Bill Clinton fizeram na Iugoslávia nos anos 1990 e do que Hillary Clinton, Sarkozy, Cameron e Berlusconi (com uma mãozinha de Ignacio de La Russa, o mesmo que é um dos principais políticos italianos envolvidos na campanha pela extradição de Battisti) fizeram na Líbia em 2011.
Como dito no artigo anterior, vários elementos da esquerda brasileira andaram soltando pérolas de vestibular a respeito do que se passa na Venezuela (https://www.youtube.com/watch?v=Y5pgsgFBTgk).  Entre eles se incluem figuras como Luciana Genro, Tarso Genro, Fernando Haddad, Ciro Gomes e Jean Wyllys. Eles chegaram ao ponto de alfinetar Gleisi Hoffmann por ter ido à posse de Nicolás Maduro. Nisso, acabam fazendo coro não apenas com Bolsonaro como também com Marco Rubio, o senador republicano da Flórida que está por trás de todo o esforço golpista na Venezuela e que segundo a mídia cubana tem ligações com Bolsonaro (https://www.youtube.com/watch?v=-EOLMQafotI). Guaidó, diga-se de passagem, nada mais é que um garoto de recados de Marco Rubio. Infelizmente, tais figuras acham que a briga que se desenrola na Venezuela é uma mera luta por democracia e não se dão conta da ingerência do imperialismo anglo-americano na nação caribenha (que, diga-se de passagem, iniciou-se não agora, mas na crise venezuelana de 1902/1903 [https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_na_Venezuela_de_1902%E2%80%931903]). Ingerência essa que pode levar a Venezuela a uma situação similar à de países como a Síria e a Líbia. Mal eles se dão conta também de que esses que estão na oposição venezuelana são pessoas que querem que a Venezuela volte a ser o país miserável que era nos tempos da Quarta República. E essa não é a primeira vez que tais figuras fazem coro com as ações do imperialismo anglo-americano mundo afora: foi assim na Líbia, na Síria, na Ucrânia e outros casos onde eles apoiaram revoluções coloridas financiadas por multimilionários como os irmãos Koch e George Soros. Na prática, agem como inocentes úteis que fazem o jogo não só da direita brasileira e latino-americana como também do imperialismo anglo-franco-americano.
Conclusão – Em meu entendimento, a seguintes frases que Brizola e Darcy Ribeiro em vida usaram para classificar o PT definem bem o que é o petucanismo a nível ideológico: “esquerda que a direita gosta” e “galinha que cacareja pela esquerda e bota ovos pela direita”. Strictu sensu, o petucanismo de que Gilberto Felisberto Vasconcellos fala trata-se das semelhanças de cosmovisão entre petistas e tucanos (cujo ninho ideológico, como todos nós sabemos, é a USP). Latu sensu, as semelhanças de cosmovisão entre não apenas petistas e tucanos como também a direita e a esquerda brasileira de modo geral. Podemos dizer que Fernando Haddad, candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores de 2018, é um bom exemplo de um petucano. Ou seja, um sujeito que se diz de esquerda, mas fala e age na prática como se fosse alguém de direita. Basta ver não só como ele olha problemas como o da corrupção e as alfinetadas que ele deu em Gleisi Hoffmann por ter ido à posse de Nicolás Maduro. Como que cheguei a essa conclusão? Belo dia, pensando comigo mesmo, fiz uma ligação de pontos com o que Gilberto Felisberto Vasconcellos fala sobre petucanismo, em seguida lembrei-me do que o Jessé Souza fala em suas obras sobre a fragilidade discursiva da esquerda a ponto de repetir chavões da direita e simplesmente liguei os pontos e cheguei a tal conclusão. Tenho batido muito nessa tecla ultimamente e continuo insistindo, porque se a esquerda quiser não só sobreviver aos dias negros que se avizinham como também reverter os nefastos resultados de toda a ação golpista iniciada em 2012 com o julgamento do mensalão (do qual a eleição de Jair Bolsonaro nada mais é que uma consequência direta), precisa antes de tudo uma práxis política nova e parar de falar como se fosse direita. Em outras palavras, rasgar o figurino direitista que veste.
Ou seja, enquanto a esquerda continuar a falar como se fosse direita, não só o sonho de uma Revolução Brasileira continuará sendo uma utopia como também a esquerda continuará a ser feita de gato e sapato pelas forças reacionárias que mandam no país desde o século XVI em toda e qualquer disputa ideológica que irromper. Em outras palavras, não é endossando políticas repressivas de Bolsonaro e do juiz do Banestado (como os governadores do PT no Nordeste tem feito), virar a página do golpe (como fizeram recentemente algumas lideranças de esquerda, entre elas Flávio Dino), fazendo elogios a Bolsonaro e ao juiz do Banestado (como os feitos por Haddad), renunciar às cores do partido (como a campanha de Haddad fez ao trocar o vermelho petista pelo verde e amarelo bolsonarista, que nada mais representa que a defesa do status quo privilegiado do 1% mais rico do país e do Brasil enquanto a sociedade escravocrata que é) e tirando o PT do SPC com a ajuda de juízes (como Haddad tem falado ultimamente – o que na prática é ajudar ao Judiciário fazer um expurgo dentro do próprio Partido dos Trabalhadores) que toda essa situação será revertida.

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