domingo, 21 de agosto de 2016

Os titereiros do capital e as marionetes da esquerda.

Em 18 de Abril,1 logo após a aprovação do Impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, escrevi que o fato de quase nenhum deputado ter citado os supostos motivos técnicos do pedido de Impeachment mas terem vastamente feito referências aos ataques promovidos pelo PT contra os valores tradicionais familiares, religiosos, morais e éticos, deveria servir de lição para o que ainda resta da Esquerda original aprender que as pautas da Nova Esquerda devem ser abandonadas pelo bem de qualquer projeto de governo popular, trabalhista e nacional.
Semanas atrás a mesma coisa se repetiu no Senado. Discursos inflamados em defesa da família praticamente emudeceram os discursos técnicos, e fraquíssimos, sobre pedaladas fiscais, agora ainda mais debilitados após a temerosa "pedalada prévia"2 do governo interino ter superado colossalmente as pedaladas de Dilma, e Temer, que já superavam em muito as dos governos anteriores. Ainda mais vexaminoso foi ver os discursos em defesa do governo terem sido bastante bem fundamentados na crítica aos pressupostos do Impeachment, não tendo sido sequer confrontados pelos discursos da oposição, mas ao mesmo tempo não se ter visto uma única frase que tentasse ao menos apaziguar as verdadeiras motivações culturais e morais que de fato moveram a maior parte do "golpe" ao menos do ponto de vista popular.
O PT e seus aliados se tornaram totalmente insensíveis para a sensibilidade do povo, e o governo ainda coroou o abandono da Luta de Classes e dos ideias originários da Esquerda com a proposição do famigerado PL 257/2015, que serve como um golpe final no resto de Trabalhismo que o partido ainda tinha enquanto governo.
De certo isso irá se repetir quando os senadores se pronunciarem nova e definitivamente. As ingerências administrativas e econômicas do governo são apenas o pretexto, as motivações reais são outras, e é evidente que mesmo que a inocência de Dilma fosse cristalinamente provada com as mais retubantes e incontestáveis evidências, não faria qualquer diferença. Até por se tratar de ambiente político com seus francos interesses lobistas independente dos fatos, e não jurídico onde a imparcialidade e racionalidade tem que ser ao menos simuladas.
O partido que nasceu como uma defesa dos trabalhadores, assim que assumiu a presidência, acelerou o processo de abandono de seus ideais de Esquerda originais rumo ao ideais da Nova Esquerda, ativando um verdadeiro Hiper Drive no Governo Dilma. Saíram as lutas trabalhistas e ficaram as feministas, homossexualistas, racialistas, abortistas e até "droguistas"! Tudo isso, muitíssimo bem financiado por milhões de dólares de Fundações Internacionais controladas pelas oligarquias máximas norte americanas, esbanjando "progressismo" e seu aberto apoio a tudo menos o que verdadeiramente interesse à totalidade dos trabalhadores.
Não parece que a Lição será aprendida, como questionei em 6 de Maio de 2015 3 ao comentar o Caderno de Teses do PT. Legiões de esquerdistas nos mais diversos partidos, grupos de estudo e até mesmo sindicatos parecem continuar completamente ávidos a abraçar causas de gênero, sexualidade e outras na pauta trabalhista. E o simples apontamento de que tais pautas são claramente financiadas pelas suas nêmesis ultra capitalistas em pessoa parece ter pouco ou nenhum efeito na crença de são perfeitamente bem intencionadas e funcionais, em geral por pensarem que se trata de um mero "oportunismo" das elites financeiras em bancá-las, mas que, no âmago, elas permanecem perfeitamente sãs e compatíveis com a pauta dos trabalhadores apesar de todas as evidências ao contrário.
Cabe então explicar melhor o porquê dessa incompatibilidade extrema.
TRANVERSALIDADE
As pautas da Neoesquerda são essencialmente diferentes da pauta Trabalhista da Esquerda original, mesmo a dos socialistas e comunistas revolucionários que já eram um tanto mais abrangentes, visto que buscavam não apenas o interesse mais direto dos trabalhadores, mas a transformação radical de toda a sociedade. No entanto, essa transformação, por mais exagerada e ingênua que fosse, ainda tinha como objetivo primordial o pleno interesse e bem estar do trabalhador.
Mas as pautas da Nova Esquerda são transversais, atendendo o interesse de um segmento da sociedade que pode ou não ser trabalhador. A pauta feminista defende o interesse mesmo das mulheres de alta classe, rentistas e que jamais trabalharam na vida, e aliás foram justo as mulheres burguesas que movimentaram o Feminismo como o conhecemos hoje. Não tem a ver com ser trabalhadora, mas com ser mulher independente de ser trabalhadora ou não. Ela pode se voltar contra trabalhadores em favor de grandes empresárias, investidoras da bolsa, proprietárias de grande capital. Coisa que jamais, sob hipótese alguma, poderia ocorrer numa pauta trabalhista.
O mesmo ocorre com pautas de raça, sexualidade, pautas ambientais, que invariavelmente prendem trabalhadores que vivem da caça ou agricultura de subsistência. E ainda que tais casos possam ser mais raros e o mais comum seja a defesa da mulher trabalhadora, inclusive a trabalhadora do lar, ou do negro trabalhador, ou do homossexual que trabalha etc, isso ocorre por contingência. A maior parte das ações policiais contra crimes também vão em defesa de trabalhadores vítimas, nem que sejam de criminosos também trabalhadores. Mas ninguém diz que o combate aos assaltos, aos homicídios, ao tráfico de drogas etc, sejam pautas da Esquerda! Pelo contrário! São antes vistas mais como meios de repressão do que de justiça.
Então porque o racismo, os ginocídios, ou os crimes ambientais o seriam? Estes são crimes a serem combatidos pelo aparato estatal, judicial e policial, não por sindicatos e estudantes de esquerda!
O que nos leva ao segundo ponto.
INVERSÃO DE MENTALIDADE
Um dos conceitos mais cruciais das pautas trabalhistas é o da solidariedade de classe, que visa proteger o trabalhador dos abusos das classes dominantes e é em especial refratária a intervenção estatal, judicial e policial. Há uma mentalidade de severa desconfiança em relação a essas instituições que são consideradas como instrumentos de opressão a serviço do Capital, e com bons motivos, uma vez que é fato que os poderes financeiros tem imenso controle sobre o aparato estatal.
No entanto, essa mesma mentalidade, tão cara à Esquerda originária, é completamente invertida no momento em que entra uma pauta neoesquerdista, que imediatamente demanda a ação das mesmíssimas instituições consideradas como instrumentos da opressão capitalista. Delegacias da Mulher, do Meio Ambiente, Ministérios da Igualdade Racial, Secretaria de Políticas para Mulheres, Legislações e mais Legislações, órgãos do governo, ONGs bancadas com dinheiro do grande capital estrangeiro, e todo o aparato de repressão judicial e policial que quase sempre levará à punição e encarceramento de trabalhadores.
Ou seja, num único estalar de dedos toda a mentalidade estrutural esquerdista de coesão trabalhista é virada do avesso! E o hábito de fazer essa inversão regularamente não demora a enfraquecer a própria consciência de classe.
DIVISÃO DE CLASSE
Potencializada pela Inversão, as pautas neoesquerdistas promovem a divisão da classe trabalhadora, que de meros trabalhadores passam a se subdividir por raça, gênero, credo, preferência sexual e uma séria de outras posturas e mentalidades. A luta dos trabalhadores dá lugar à lutas das mulheres, e contra quem as mulheres poderiam lutar senão contra os homens? Da mesma forma que os trabalhadores lutam contra os proprietários do capital, que são seus diferentes, contra quem mais negros iriam lutar senão contra os brancos, quer sejam trabalhadores ou não?
O simples fato de todas essas pautas serem amplamente financiadas por grupos econômicos elitistas deveria ser evidência cristalina de que não são aliadas na luta dos trabalhadores, pelo fato de que geram divisão, e o simples fato de serem abraçadas inevitavelmente fará com que consumam tempo e recursos que deveriam estar indo para a Luta de Classes, e não para uma luta dentro da classe. E isso se torna ainda mais grave dado o fato seguinte.
PROGRESSO INVERTIDO
Uma das mais marcantes características das pautas neoesquerdistas, principalmente a Feminista, é que na exata e inversa medida da pauta esquerdista original, quanto mais "avanços" se consegue, mais elas se revestem de urgência e mais o discurso se torna radical e agressivo. Se num determinado contextos as condições de trabalho estão melhoradas, com bons salários e benefícios, a tendência é os trabalhadores arrefecerem e se acalmarem. Até mesmo se acomodarem. Mas nas pautas da neoesquerda ocorre o exato contrário.
O Feminismo é praticamente inexistente nos países de real opressão a mulheres, em geral os de predominância islâmica, mas nos países mais igualitários e liberais do mundo, o Feminismo é vastíssimo, ostensivo, extremamente atuante e muitíssimo mais agressivo. Suécia, Islândia, Austrália, Inglaterra etc, são justos os países onde feministas declaram em alto e bom som um intenso ódio contra o gênero masculino, a família, a sociedade, e onde mais proclamam que mulheres são oprimidas e vítimas de uma Patriarcado opressor.
A "Dívida Histórica"4, ao pior exemplo das taxas de juros abusivas do sistema bancário, cresce infinitamente se tornando cada vez mais impossível de "pagar" quanto mais é paga! Assim, a tendência é a pauta neoesquerdista, da qual a Feminista é inquestionavelmente a mais ampla, crescer mais e mais tomando cada vez mais tempo e recursos da Esquerda, ao passo que as pautas trabalhistas legítimas ficam periodicamente adormecidas e não demoram a ser paulatinamente abandonadas.
Não é por outro motivo que em todos os países onde governos de esquerda chegaram ao poder, à medida que foram implementando pautas neoesquerdistas de demanda crescente, foram abandonando a causa trabalhista ao ponto da reversão, e após aprovar toda a sorte de "progressismos", terminam passando a atacar e reverter os direitos trabalhistas mais básicos.
Aprendendo a Lição
Quem quer que ainda acredite na luta dos trabalhadores ou mesmo almeje uma revolução socialista tem obrigação de, no mínimo, ter conhecimento do onde provém as causas neoesquerdistas, e em especial o dinheiro que as financias. Organizações sustentadas pela nata do Capitalismo Global como Open Society Foundations, W.K.Kellog Foundation, Rockefeller Family Fund, Rockefeller Foundation, David Rockefeller Foudation, Ford Foundation, Bill & Melinda Gates Foundation, 5 para citar só algumas, não estariam investindo bilhões de dólares em causas da Nova Esquerda se achassem que essas contribuiriam para uma revolução que socializaria seus meios de produção.
Embora a pauta Feminista tenha tido sim algum papel na Esquerda original, o fez quando este realmente tinha algo a ver com Igualdade de Gêneros, algo que no nosso contexto atual somente uma absoluta ignorância no assunto permite ainda acreditar. Mesmo assim, nos processos revolucionários, este antigo feminismo legou apenas uma igualdade formal de Direitos E Deveres em alguns segmentos da sociedade. Na URSS, por exemplo, houve um inédito contingente de mulheres combatentes, desde infantaria atá aviação de caça. Mas as pautas Feministas da Neoesquerda passam longe disto, estando focadas sobretudo num combate cultural contra as tradições familiares e morais. Essa guerra cultural em parte também foi tentada nos primeiros anos da URSS 6 ou da Coréia do Norte, mas afora a flexibilização de alguns papéis mais tradicionais, foi rapidamente abandonada num prazo de menos de uma década, assim que se verificou o estrago que fazia em qualquer projeto de sociedade minimamente são, especialmente nas taxas reprodutivas e nos índices de violência e pobreza ocasionados pela dissolução familiar.
Exatamente tendo aprendido essa lição da história, aqueles que mais teriam a perder numa revolução socialista descobriram uma excelente forma de sabotar as pautas trabalhista e revolucionária,7  passando a estimular pautas que sabem serem deletérias a qualquer movimento que ponha em risco os seus privilégios.
Sua atuação é discreta e JAMAIS mencionada na grande mídia. Mas não é secreta, exigindo poucos minutos de pesquisa para ser conhecida. E mais e mais pessoas estão denunciado essa interferência na Esquerda, não devendo demorar muito para que nenhum esquerdista minimamente engajado possa alegar ignorância.
Daí, o mínimo que se pode esperar é uma análise crítica e um sério ceticismo com relação as intenções dessas instituições, caso contrário, estará configurada evidente aceitação da participação ativa justo daquilo que esquerdistas ao menos um dia juraram combater, e o abandono confesso de qualquer esperança revolucionária trabalhista, deixando-se comprar pelo liberalismo econômico a assumindo de vez seu papel de marionete nas mãos dos titereiros do poder financeiro global.
As plutocracias financistas aprenderam a lição que a realidade tinha a lhes ensinar. Passou da hora do que resta da Esquerda séria fazer a mesma coisa.

Marcus Valerio XR
20 de Agosto de 2016
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