Em
18 de Abril,1 logo após a aprovação do Impeachment de Dilma
Rousseff na Câmara dos Deputados, escrevi que o fato de quase nenhum deputado
ter citado os supostos motivos técnicos do pedido de Impeachment mas terem
vastamente feito referências aos ataques promovidos pelo PT contra os valores
tradicionais familiares, religiosos, morais e éticos, deveria servir de lição
para o que ainda resta da Esquerda original aprender que as pautas da Nova
Esquerda devem ser abandonadas pelo bem de qualquer projeto de governo popular,
trabalhista e nacional.
Semanas
atrás a mesma coisa se repetiu no Senado. Discursos inflamados em defesa da
família praticamente emudeceram os discursos técnicos, e fraquíssimos, sobre
pedaladas fiscais, agora ainda mais debilitados após a temerosa "pedalada
prévia"2 do governo interino ter superado colossalmente
as pedaladas de Dilma, e Temer, que já superavam em muito as dos governos
anteriores. Ainda mais vexaminoso foi ver os discursos em defesa do governo
terem sido bastante bem fundamentados na crítica aos pressupostos do
Impeachment, não tendo sido sequer confrontados pelos discursos da oposição,
mas ao mesmo tempo não se ter visto uma única frase que tentasse ao menos
apaziguar as verdadeiras motivações culturais e morais que de fato moveram a
maior parte do "golpe" ao menos do ponto de vista popular.
O
PT e seus aliados se tornaram totalmente insensíveis para a sensibilidade do
povo, e o governo ainda coroou o abandono da Luta de Classes e dos ideias
originários da Esquerda com a proposição do famigerado PL 257/2015, que serve
como um golpe final no resto de Trabalhismo que o partido ainda tinha enquanto
governo.
De
certo isso irá se repetir quando os senadores se pronunciarem nova e
definitivamente. As ingerências administrativas e econômicas do governo são
apenas o pretexto, as motivações reais são outras, e é evidente que mesmo que a
inocência de Dilma fosse cristalinamente provada com as mais retubantes e
incontestáveis evidências, não faria qualquer diferença. Até por se tratar de
ambiente político com seus francos interesses lobistas independente dos fatos,
e não jurídico onde a imparcialidade e racionalidade tem que ser ao menos
simuladas.
O
partido que nasceu como uma defesa dos trabalhadores, assim que assumiu a
presidência, acelerou o processo de abandono de seus ideais de Esquerda
originais rumo ao ideais da Nova Esquerda, ativando um verdadeiro Hiper
Drive no Governo Dilma. Saíram as lutas trabalhistas e ficaram as
feministas, homossexualistas, racialistas, abortistas e até
"droguistas"! Tudo isso, muitíssimo bem financiado por milhões de
dólares de Fundações Internacionais controladas pelas oligarquias máximas norte
americanas, esbanjando "progressismo" e seu aberto apoio a tudo menos
o que verdadeiramente interesse à totalidade dos trabalhadores.
Não
parece que a Lição será aprendida, como questionei em 6 de Maio de 2015 3
ao comentar o Caderno de Teses do PT. Legiões de esquerdistas nos
mais diversos partidos, grupos de estudo e até mesmo sindicatos parecem
continuar completamente ávidos a abraçar causas de gênero, sexualidade e outras
na pauta trabalhista. E o simples apontamento de que tais pautas são claramente
financiadas pelas suas nêmesis ultra capitalistas em pessoa parece ter pouco ou
nenhum efeito na crença de são perfeitamente bem intencionadas e funcionais, em
geral por pensarem que se trata de um mero "oportunismo" das elites
financeiras em bancá-las, mas que, no âmago, elas permanecem perfeitamente sãs
e compatíveis com a pauta dos trabalhadores apesar de todas as evidências ao
contrário.
Cabe
então explicar melhor o porquê dessa incompatibilidade extrema.
TRANVERSALIDADE
As
pautas da Neoesquerda são essencialmente diferentes da pauta Trabalhista da
Esquerda original, mesmo a dos socialistas e comunistas revolucionários que já
eram um tanto mais abrangentes, visto que buscavam não apenas o interesse mais
direto dos trabalhadores, mas a transformação radical de toda a sociedade. No
entanto, essa transformação, por mais exagerada e ingênua que fosse, ainda
tinha como objetivo primordial o pleno interesse e bem estar do trabalhador.
Mas
as pautas da Nova Esquerda são transversais, atendendo o interesse de um
segmento da sociedade que pode ou não ser trabalhador. A pauta feminista
defende o interesse mesmo das mulheres de alta classe, rentistas e que jamais
trabalharam na vida, e aliás foram justo as mulheres burguesas que movimentaram
o Feminismo como o conhecemos hoje. Não tem a ver com ser trabalhadora, mas com
ser mulher independente de ser trabalhadora ou não. Ela pode se voltar contra
trabalhadores em favor de grandes empresárias, investidoras da bolsa,
proprietárias de grande capital. Coisa que jamais, sob hipótese alguma, poderia
ocorrer numa pauta trabalhista.
O
mesmo ocorre com pautas de raça, sexualidade, pautas ambientais, que
invariavelmente prendem trabalhadores que vivem da caça ou agricultura de
subsistência. E ainda que tais casos possam ser mais raros e o mais comum seja
a defesa da mulher trabalhadora, inclusive a trabalhadora do lar, ou do negro
trabalhador, ou do homossexual que trabalha etc, isso ocorre por contingência.
A maior parte das ações policiais contra crimes também vão em defesa de
trabalhadores vítimas, nem que sejam de criminosos também trabalhadores. Mas
ninguém diz que o combate aos assaltos, aos homicídios, ao tráfico de drogas
etc, sejam pautas da Esquerda! Pelo contrário! São antes vistas mais como meios
de repressão do que de justiça.
Então
porque o racismo, os ginocídios, ou os crimes ambientais o seriam? Estes são
crimes a serem combatidos pelo aparato estatal, judicial e policial, não por
sindicatos e estudantes de esquerda!
O
que nos leva ao segundo ponto.
INVERSÃO
DE MENTALIDADE
Um
dos conceitos mais cruciais das pautas trabalhistas é o da solidariedade de
classe, que visa proteger o trabalhador dos abusos das classes dominantes e é
em especial refratária a intervenção estatal, judicial e policial. Há uma
mentalidade de severa desconfiança em relação a essas instituições que são
consideradas como instrumentos de opressão a serviço do Capital, e com bons
motivos, uma vez que é fato que os poderes financeiros tem imenso controle
sobre o aparato estatal.
No
entanto, essa mesma mentalidade, tão cara à Esquerda originária, é
completamente invertida no momento em que entra uma pauta neoesquerdista, que
imediatamente demanda a ação das mesmíssimas instituições consideradas como
instrumentos da opressão capitalista. Delegacias da Mulher, do Meio Ambiente,
Ministérios da Igualdade Racial, Secretaria de Políticas para Mulheres,
Legislações e mais Legislações, órgãos do governo, ONGs bancadas com dinheiro
do grande capital estrangeiro, e todo o aparato de repressão judicial e
policial que quase sempre levará à punição e encarceramento de trabalhadores.
Ou
seja, num único estalar de dedos toda a mentalidade estrutural esquerdista de
coesão trabalhista é virada do avesso! E o hábito de fazer essa inversão
regularamente não demora a enfraquecer a própria consciência de classe.
DIVISÃO
DE CLASSE
Potencializada
pela Inversão, as pautas neoesquerdistas promovem a divisão da classe
trabalhadora, que de meros trabalhadores passam a se subdividir por raça,
gênero, credo, preferência sexual e uma séria de outras posturas e
mentalidades. A luta dos trabalhadores dá lugar à lutas das mulheres, e contra
quem as mulheres poderiam lutar senão contra os homens? Da mesma forma que os
trabalhadores lutam contra os proprietários do capital, que são seus
diferentes, contra quem mais negros iriam lutar senão contra os brancos, quer
sejam trabalhadores ou não?
O
simples fato de todas essas pautas serem amplamente financiadas por grupos
econômicos elitistas deveria ser evidência cristalina de que não são aliadas na
luta dos trabalhadores, pelo fato de que geram divisão, e o simples fato de
serem abraçadas inevitavelmente fará com que consumam tempo e recursos que
deveriam estar indo para a Luta de Classes, e não para uma luta dentro da
classe. E isso se torna ainda mais grave dado o fato seguinte.
PROGRESSO
INVERTIDO
Uma
das mais marcantes características das pautas neoesquerdistas, principalmente a
Feminista, é que na exata e inversa medida da pauta esquerdista original,
quanto mais "avanços" se consegue, mais elas se revestem de urgência
e mais o discurso se torna radical e agressivo. Se num determinado contextos as
condições de trabalho estão melhoradas, com bons salários e benefícios, a
tendência é os trabalhadores arrefecerem e se acalmarem. Até mesmo se
acomodarem. Mas nas pautas da neoesquerda ocorre o exato contrário.
O
Feminismo é praticamente inexistente nos países de real opressão a mulheres, em
geral os de predominância islâmica, mas nos países mais igualitários e liberais
do mundo, o Feminismo é vastíssimo, ostensivo, extremamente atuante e
muitíssimo mais agressivo. Suécia, Islândia, Austrália, Inglaterra etc, são
justos os países onde feministas declaram em alto e bom som um intenso ódio
contra o gênero masculino, a família, a sociedade, e onde mais proclamam que
mulheres são oprimidas e vítimas de uma Patriarcado opressor.
A
"Dívida Histórica"4, ao pior exemplo das taxas de
juros abusivas do sistema bancário, cresce infinitamente se tornando cada vez
mais impossível de "pagar" quanto mais é paga! Assim, a tendência é a
pauta neoesquerdista, da qual a Feminista é inquestionavelmente a mais ampla,
crescer mais e mais tomando cada vez mais tempo e recursos da Esquerda, ao passo
que as pautas trabalhistas legítimas ficam periodicamente adormecidas e não
demoram a ser paulatinamente abandonadas.
Não
é por outro motivo que em todos os países onde governos de esquerda chegaram ao
poder, à medida que foram implementando pautas neoesquerdistas de demanda
crescente, foram abandonando a causa trabalhista ao ponto da reversão, e após
aprovar toda a sorte de "progressismos", terminam passando a atacar e
reverter os direitos trabalhistas mais básicos.
Aprendendo
a Lição
Quem
quer que ainda acredite na luta dos trabalhadores ou mesmo almeje uma revolução
socialista tem obrigação de, no mínimo, ter conhecimento do onde provém as
causas neoesquerdistas, e em especial o dinheiro que as financias. Organizações
sustentadas pela nata do Capitalismo Global como Open Society Foundations, W.K.Kellog Foundation, Rockefeller Family Fund, Rockefeller Foundation, David
Rockefeller Foudation, Ford Foundation, Bill &
Melinda Gates Foundation, 5 para citar só algumas,
não estariam investindo bilhões de dólares em causas da Nova Esquerda se
achassem que essas contribuiriam para uma revolução que socializaria seus meios
de produção.
Embora
a pauta Feminista tenha tido sim algum papel na Esquerda original, o fez quando
este realmente tinha algo a ver com Igualdade de Gêneros, algo que no nosso
contexto atual somente uma absoluta ignorância no assunto permite ainda
acreditar. Mesmo assim, nos processos revolucionários, este antigo feminismo
legou apenas uma igualdade formal de Direitos E Deveres em alguns segmentos da
sociedade. Na URSS, por exemplo, houve um inédito contingente de mulheres
combatentes, desde infantaria atá aviação de caça. Mas as pautas Feministas da
Neoesquerda passam longe disto, estando focadas sobretudo num combate cultural
contra as tradições familiares e morais. Essa guerra cultural em parte também
foi tentada nos primeiros anos da URSS 6 ou da Coréia do
Norte, mas afora a flexibilização de alguns papéis mais tradicionais, foi
rapidamente abandonada num prazo de menos de uma década, assim que se verificou
o estrago que fazia em qualquer projeto de sociedade minimamente são,
especialmente nas taxas reprodutivas e nos índices de violência e pobreza
ocasionados pela dissolução familiar.
Exatamente
tendo aprendido essa lição da história, aqueles que mais teriam a perder numa
revolução socialista descobriram uma excelente forma de sabotar as pautas
trabalhista e revolucionária,7 passando a estimular pautas que sabem serem
deletérias a qualquer movimento que ponha em risco os seus privilégios.
Sua
atuação é discreta e JAMAIS mencionada na grande mídia. Mas não é secreta,
exigindo poucos minutos de pesquisa para ser conhecida. E mais e mais pessoas
estão denunciado essa interferência na Esquerda, não devendo demorar muito para
que nenhum esquerdista minimamente engajado possa alegar ignorância.
Daí,
o mínimo que se pode esperar é uma análise crítica e um sério ceticismo com
relação as intenções dessas instituições, caso contrário, estará configurada
evidente aceitação da participação ativa justo daquilo que esquerdistas ao
menos um dia juraram combater, e o abandono confesso de qualquer esperança
revolucionária trabalhista, deixando-se comprar pelo liberalismo econômico a
assumindo de vez seu papel de marionete nas mãos dos titereiros do poder
financeiro global.
As
plutocracias financistas aprenderam a lição que a realidade tinha a lhes
ensinar. Passou da hora do que resta da Esquerda séria fazer a mesma coisa.
Marcus
Valerio XR
20
de Agosto de 2016
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