Foto – Pelé (1940 –
2022).
Ontem, 29 de outubro de 2022, Edson Arantes do Nascimento, o
Rei Pelé, o atleta do século XX, nos deixou aos 82 anos de idade. Desde o final
do último ano o rei do futebol vinha enfrentando um câncer no cólon que veio
fatigando-o, lhe causando complicações e que no fim das contas o ceifou. Que
agora Pelé esteja em boas mãos junto ao Nosso Senhor e que sua alma tenha a
melhor acolhida possível no além.
Desde tenra idade ouvi histórias a respeito de Pelé e seus
feitos, tanto à frente do Santos quanto à frente da Seleção Brasileira. E saber
que agora ele nos deixou é algo, no mínimo, difícil de acreditar. Mas é a vida.
Pelé nasceu na cidade de Três Corações, no interior mineiro,
no dia 23 de outubro de 1940. Depois de uma infância difícil, Pelé deu seus
primeiros passos no futebol no Bauru Atlético Clube entre 1953 a 1955, vindo a
se profissionalizar no Santos Futebol Clube em 1956. Assumiu a camisa 10 do
time no ano seguinte, em decorrência da venda de Emmanuele del Vecchio ao clube
italiano Verona. E o resto é história.
Calcula-se que ao longo de 22 anos de carreira profissional
(de 1956 a 1977), Pelé teria marcado 1283 gols ao todo, ao longo de suas
passagens pelo Santos, pela Seleção Brasileira e pelo New York Cosmos.
Pelo Santos e pela Seleção Brasileira, Pelé conquistou
muitos títulos. E os mais lembrados deles são os títulos em Copas do Mundo. Com
a camisa da seleção brasileira ele jogou as Copas de 1958, 1962, 1966 e 1970.
Das quatro Copas, Pelé ganhou três. Ou seja, um aproveitamento de 75%.
Com essas conquistas, Pelé é o indivíduo que mais Copas do
Mundo ganhou como jogador. Apenas Mário Jorge Lobo Zagallo, que foi companheiro
de equipe de Pelé em 1958 e 1962 e técnico em 1970, ganhou mais Copas do Mundo que
ele em toda a história (ganhou como jogador em 1958 e 1962, como técnico em
1970 e como auxiliar-técnico em 1994). Recordes esses que, diga-se de passagem,
não se excluem entre si. Pelo contrário, se completam entre si.
Um feito extraordinário e que, diga-se de passagem, nunca
mais foi repetido na história do futebol e que talvez nunca mais venha a ser
repetido. Voltemos no tempo a 1950. Naquele ano o Brasil sediou sua primeira
Copa do Mundo, na qual foi vencido em casa pelo Uruguai no jogo que entrou para
a história como o Maracanazo.
20 anos se passam, e o mesmo Brasil que foi vencido pelo
Uruguai em casa se sagrava tricampeão na primeira Copa do México, tendo vencido
o mesmo Uruguai nas semifinais e a Itália na contenda pelo tricampeonato na
final. E com a conquista no México, o mesmo Brasil que 20 anos antes foi
vencido em sua própria casa tornou-se o maior campeão da história das Copas do
Mundo. E lá estava Pelé a frente junto com muitos outros craques de sua geração
e Carlos Alberto Torres erguendo a Taça Jules Rimet em definitivo. Enquanto que
o Uruguai nunca mais foi campeão depois de 1950, no máximo sendo semifinalista
três vezes (1954, 1970 e 2010). Ah, as ironias da história, o mundo e suas
voltas...
E quando olhamos para o currículo de alguém como Pelé (assim
como de muitos outros jogadores brasileiros tanto anteriores quanto posteriores
a ele), algo bem interessante salta aos olhos: ele nunca jogou em nenhum grande
time europeu. Em sua época, era muito comum de os jogadores brasileiros jogarem
toda a carreira em clubes brasileiros, e quando iam jogar em algum clube
estrangeiro (como foi o caso do próprio Pelé e outros posteriores a ele como
Zico e Sócrates) muitas vezes ia jogar em fim de carreira, por volta dos 30
anos de idade.
Isso em um tempo em que o sonho de todo jovem aspirante a
jogador de futebol no Brasil era jogar em um time como o Santos, o Corinthians,
o Vasco, o Flamengo ou o Cruzeiro, e daí para a Seleção Brasileira. E não em
algum grande clube europeu. Ah o futebol e sua idade clássica...
Fora o fato de que ele se tornou o rei do futebol sendo um
negro. Ele, que certamente tem antepassados que foram escravizados em algum
momento da história tanto de um lado quanto de outro do Oceano Atlântico. Cujos
antepassados tanto da linhagem paterna quanto da materna teriam sido em algum
momento entre os séculos XVI a XIX capturados em decorrência de conflitos
tribais pelo exército de algum chefe africano e depois vendidos a comerciantes
europeus em algum porto africano. E desse porto transportado ao Brasil em
navios chamados tumbeiros. Uma verdadeira história de redenção para seu povo
que por séculos foi escravizado. E por meio do esporte mais popular do mundo, o
futebol.
Alguns comentaristas e historiadores até dividem a história
do futebol entre o antes e o depois de Pelé, tamanha a importância que ele teve
na história do esporte mais popular do mundo. Em outras palavras, ele foi um
divisor de águas na história do futebol.
Outros craques surgiram depois de Pelé em várias partes do
globo. Zico, Sócrates, Cruyff, Beckenbauer, Baresi, Van Basten, Gullit, Roberto
Baggio, Romário, Bebeto, Maradona, Roger Milla, Zidane e tantos outros. A lista
é imensa. Mas há um ditado que diz o seguinte: quem é rei não perde a
majestade. E Pelé de forma alguma é a exceção que confirma a regra.
E a verdade é a seguinte: ontem o homem chamado Edson Arantes
do Nascimento deixou este mundo, aos 82 anos de idade. Mas a lenda de nome Pelé
e todo o seu legado na história do futebol, essa é eterna. A lenda cujo nome a história
registrou e para sempre se lembrará dele. Ontem, hoje e para sempre.
Pelé, presente!
Foto – Pelé sendo recebido no além por jogadores como Paolo Rossi, Maradona, Alfredo di Stéfano, Sócrates, Cruyff, Eusébio, Lev Jašin e outros.
Por fim, eu gostaria de terminar essa singela homenagem com
um desabafo. Antes mesmo de o rei nos deixar, vi em redes sociais pessoas o
denegrindo da forma mais baixa e vil possível por conta da questão da filha
dele que morreu em 2005, o ofendendo e até o chamando de m* e lixo.
E quem pensa que o caso envolvendo Pelé é um caso isolado,
enganados vocês estão.
Antes mesmo de Pelé nos deixar, nos deixou o ator e artista
marcial norte-americano Jason David Frank, aos 49 anos de idade, no dia 19 de
novembro de 2022. Ele se tornou famoso por interpretar o personagem Tommy
Oliver na franquia Power Rangers nos anos 1990 e 2000. Talvez, sem ele, a
franquia Power Rangers não teria tido a projeção que hoje tem.
À época da morte dele, soube por meio de comentários no
Facebook que alguns indivíduos em redes sociais tripudiaram em cima da morte
dele, sob a alegação de que Power Rangers é uma cópia dos sentais japoneses,
que por causa de Power Rangers não tem mais seriados tokusatsu na TV brasileira
(sendo que estes já estavam meio mal das pernas quando Power Rangers chegou ao
Brasil em 1994 e já não eram mais a mesma febre do fim dos anos 1980 e começo
dos anos 1990) e outras afins (mal sabendo eles que uma das coisas que mais
corriqueiras no mundo da teledramaturgia são adaptações de obras audiovisuais
de outros países – não foram poucas as adaptações de novelas mexicanas e
argentinas feitas pela teledramaturgia brasileira. Entre elas adaptações de
novelas originalmente escritas pelo dramaturgo argentino Abel Santa Cruz,
finado em 1995).
Aquele era o momento de celebrar o legado dele, que foi um
dos principais ícones do tokusatsu a nível global, como ator e artista marcial
e respeitar a dor dos familiares e amigos dele e não ficar fazendo esse tipo de
comentário maldoso e nojento. Da mesma forma que agora é o momento de celebrar
o legado de Pelé como rei do futebol e respeitar a dor dos familiares e amigos
dele. Não de fazer esse tipo de comentário.
Foto – Jason David Frank (1973 – 2022), o eterno Tommy Oliver de Power Rangers.
Pois bem, a morte do rei do futebol coincidiu, talvez não
por acaso, com o nono aniversário do acidente de esqui nos Alpes franceses que
deixou o kaiser da Fórmula 1, Michael Schumacher, em estado vegetativo. A
família do heptacampeão vem mantendo um sigilo tal que pouco ou nada de
concreto sabemos sobre a atual situação dele.
Foto – Schumacher e Pelé, o kaiser da Fórmula 1 e o rei do futebol.
Fico imaginando como é que será, por exemplo, quando
anunciarem a morte de Schumacher. Não será nenhuma surpresa vê-los chamando o
heptacampeão de Dick Vigarista, competidor sujo (quem que não é sujo na Fórmula
1, para começo de conversa?) e ofensas similares. E nisso se lembrando de
lances como a dividida com Damon Hill no Grande Prêmio da Austrália que deu ao
alemão o título do campeonato de 1994 e o acidente com Jacques Villeneuve em
1997 no Grande Prêmio da Europa (ocorrido em Jerez de la Frontera, na Espanha).
E não da importância dele na Fórmula 1 e suas conquistas, e de todo o trabalho
de longo prazo que ele teve que fazer para conquistá-los ao lado do engenheiro
e projetista Ross Brawn tanto na Benetton quanto na Ferrari.
Ou mesmo quando o Nelson Piquet estiver hospitalizado e em
estado grave. No caso do campeão
da Fórmula 1 dos anos de 1981, 1983 e 1987, notório por, entre outras coisas,
seu conhecimento em mecânica e habilidade em acertar carros, o ofendendo e o
rotulando de invejoso do Ayrton Senna, lembrando que ele não foi ao velório do
Ayrton Senna em 1994 e o denegrindo por conta do recente episódio no qual
Piquet chamou o piloto Lewis Hamilton de “neguinho”. E omitindo sua importância
e suas conquistas na Fórmula 1. Não será nenhuma surpresa se vermos esses
idiotas repetindo a dose no momento em que os referidos ex-pilotos nos deixarem
e dizendo que eles “já foram tarde”.
Foto – Zico, Nelson Piquet e Pelé. Coletiva de imprensa no tempo em que o rei do futebol foi ministro do Esporte (entre 1995 a 1998).
Pelé, de fato, foi um jogador fenomenal, mas sua conduta fora dos campos, realmente, foi lamentável. E ele não foi o único. Outros jogadores, como Maradona, também deixaram a desejar fora dos gramados. A velha questão de separar o jogador da pessoa.
ResponderExcluirSe bem que eu acho que aquela história da polêmica envolvendo a filha dele que morreu em 2005 um tanto quanto mal contada. O Pelé deve ter tido os motivos dele para evitar um contato maior com ela.
ExcluirMesmo assim, não achei certo ele sequer ter estado presente na despedida, enviado só uma coroa de flores. Mas vai entender...
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