Foto – O triunfo de
Messi e companhia limitada.
A Argentina, depois de um hiato de 36 anos e passados já
dois anos da morte de Maradona, o principal ídolo futebolístico da nação
platina, enfim conquistou seu terceiro título em Copas do Mundo.
A Argentina caiu no grupo C, junto com Polônia, México e
Arábia Saudita. A albiceleste começou a Copa do Qatar com o pé esquerdo,
perdendo para a Arábia Saudita por 2 a 1 no primeiro jogo. Mas depois desse
revés as vitórias vieram, com os triunfos sobre o México por 2 a 0 na segunda
terceira e sobre a Polônia também por 2 a 0 na terceira rodada. E assim fechou
a primeira fase como líder do grupo C, com 6 pontos marcados, 5 gols marcados e
2 gols tomados. Saldo de gols: +3.
Passada a fase classificatória, a Argentina pegou a
Austrália nas oitavas-de-final e venceu o selecionado oceânico por 2 a 1. Nas
quartas-de-final, enfrentou a Holanda e empatou no tempo normal por 2 a 2,
tendo vencido os comandados de Louis Van Gaal nos pênaltis por 4 a 3. Na
semifinal, vitória por 3 a 0 sobre a Croácia, a mesma Croácia que na fase
anterior despachou o Brasil.
E enfim chegamos à grande final contra a França, campeã em
2018 e que na copa anterior venceu a Argentina nas oitavas-de-final por 4 a 3.
As duas equipes empataram por 3 a 3 no tempo normal, com a albiceleste vencendo
os franceses por 4 a 2 nos pênaltis.
Deixemos nossos parabéns e nossas congratulações aos
comandados do técnico Lionel Scaloni por essa brilhante conquista, depois de
quatro copas seguidas vencidas por seleções europeias e nove copas sem
conquistas da nação platina. Com certeza Maradona está muito orgulhoso no além.
Entretanto, nem tudo foram flores. Algo que me chamou muito
a atenção nos dias que se seguiram à conquista da Argentina na Copa do Mundo do
Qatar foi a maneira como o PCO (Partido da Causa Operária) a tratou e a abordou
em vários artigos publicados nos dias subsequentes no site DCO (Diário da Causa
Operária).
A conquista argentina na Copa do Mundo deixou bem claro que
toda a conversa de luta contra o imperialismo no futebol da parte do PCO tem
seríssimas limitações, no mínimo. Citemos alguns desses artigos.
O primeiro artigo publicado após a vitória argentina na Copa
do Mundo foi “Argentina vence nos pênaltis e conquista o tricampeonato
mundial”, postado em 17 de dezembro de 2022, logo após a vitória da albiceleste
no Mundial. Trata do título argentino com a maior indiferença.
Mas o pior ainda estava por vir no artigo “Argentina vence
com um futebol feio e burocrático”, publicado em 19 de dezembro de 2022. Um
festival de sandices e asneiras sobre as equipes que disputaram a final da Copa
do Qatar, tudo para exaltar o Neymar e a seleção brasileira que não vence times
europeus na fase eliminatórias de Copas do Mundo desde 2002.
Depois dessa, para mim toda a conversa sobre combate ao
imperialismo da parte do PCO perdeu toda a moral. Foi para o ralo. E o motivo é
muito simples: a empáfia, a indiferença e a hipocrisia que eles demonstraram em
relação ao terceiro título da albiceleste em Copas do Mundo.
Eles falam tanto em luta contra o imperialismo. Até aí tudo bem. E a Argentina, um país
sul-americano que tem todo um histórico de reivindicação sobre as ilhas
Malvinas, as quais desde o século XIX estão sob a posse da Inglaterra, um país
notadamente imperialista que já teve colônias por todo o globo e um império no
qual o sol não se punha. E na final da Copa do Mundo vence outro país
notadamente imperialista, a França.
A França que a despeito das perdas de colônias na África e
na Ásia na segunda metade do século XX até hoje mantem uma colônia na América
do Sul, a Guiana Francesa, e domina por meio do franco CFA (moeda essa que é
emitido em Paris) os países africanos que outrora foram suas colônias. A mesma
França que sob Sarkozy em 2011 invadiu a Líbia junto dos Estados Unidos e da
Inglaterra (no que levou o país norte-africano, outrora a joia da África, à
ruína, ao caos e à anarquia) e em 2013 invadiu o Mali sob Hollande.
Foto – Invasão francesa ao Mali: tropas francesas operando na nação africana.
No Mali a França permaneceu por nove anos (de 2013 a 2022)
ocupando a nação africana com suas tropas, e ao contrário do que vimos no
presente ano em relação à Rússia após a invasão à Ucrânia, não foi impedida de
participar das Eurocopas de 2016 e 2020/2021 ou das Copas do Mundo de 2014 e
2018, nem teve seu Grande Prêmio excluído do calendário da Fórmula 1. Muito
menos houve exclusão de times franceses das competições europeias de clubes por
conta dessas expedições militares à Líbia e ao Mali, ou pilotos franceses
despedidos de suas equipes na Fórmula 1 ou de outras competições
automobilísticas (como foi o caso de Nikita Mazepin, que teve seu contrato com
a equipe Haas reincidido em março de 2022). Até do festival de Cannes a nação
de Gogol e Borodin foi excluída.
E assim a França, ao contrário do que aconteceu com a Rússia
(que agora tenciona abandonar a UEFA e filiar-se à CAF – Confederação Asiática
de futebol), nunca recebeu sanções por parte da FIA, da FIFA, da UEFA ou
qualquer outro órgão do mundo esportivo por ter invadido os referidos países.
Dois pesos, duas medidas.
E os caras vão lá e ficam sofismando nos artigos deles
publicados no DCO (Diário da Causa Operária) e tratando a conquista dos
“Hermanos” com a maior indiferença e empáfia do mundo. Depois dessa, não tem
como levar a sério o discurso de combate e luta contra o imperialismo deles.
Na contramão das abobrinhas do PCO, algumas personalidades congratularam os argentinos por essa conquista. E uma delas é o ex-piloto Emerson Fittipaldi, campeão pela Fórmula 1 em 1972 e 1974 e pela Fórmula Indy em 1989 e vencedor das 500 milhas de Indianápolis em 1989 e 1993, que deixou uma mensagem muito bonita em sua página sobre a conquista argentina, na qual ele conta que ele tinha como ídolo Juan Manuel Fangio (campeão da Fórmula 1 em 1951, 1954, 1955, 1956 e 1957) e Carlos Reutemann (vice-campeão em 1981, tornou-se governador da Província de Santa Fé após abandonar as pistas) como amigo.
E o gozado é que o mesmo PCO, em outros artigos, parabeniza
o Marrocos por ter chegado às semifinais da mesma Copa do Mundo, a primeira vez
em que uma seleção africana chegou às semifinais da competição máxima do
futebol mundial. Chegaram ao ponto até de dizer que o Marrocos foi um
representante dos povos oprimidos, mas não de dizer o mesmo da Argentina sob
alegações de que a nação platina é uma nação europeizada e evocando episódios
pregressos de antipatia dos “Hermanos” para com o Brasil. Ah o que eles não
fazem para bajular o Neymar...
E então pergunto com os meus botões: se o Marrocos tivesse
vencido o Brasil que nem a Nigéria fez nos jogos olímpicos de 1996, o Camarões
fez nos jogos olímpicos de 2000 e o México nos jogos olímpicos de 2012, será
que o PCO estaria comemorando a campanha marroquina no mundial do Qatar? Eu
tenho sérias dúvidas. Dois pesos, duas medidas, parte II.
No fundo, isso só pode ser de dor de cotovelo pelo macho
deles, o Neymar. Eles queriam que ele, e não Messi e seus compatriotas, que ganhasse
a Copa do Qatar. E é por causa de pessoas como os membros do PCO, que vivem o
bajulando, classificando como ataque toda e qualquer crítica a ele direcionada
(por mais construtiva que seja) e dando moral a ele para tudo o que ele faz que
o Neymar é quem ele é: o Peter Pan do futebol hodierno.
Em 2010, o técnico René Simões, à época a frente do
Fluminense, fez a seguinte profecia a respeito de Neymar: de que um monstro
estava sendo criado caso alguém não o colocasse na linha, o educasse. E hoje
vemos o resultado dessa brincadeira toda. Um monstro em campo que não respeita
árbitros, juízes, bandeirinhas, zagueiros, e que por estes é desprezado.
Como disse em artigo anterior, é por causa de gente como os membros do PCO que às vezes torço para que em uma futura Copa do Mundo o Brasil venha a ser eliminado não por um time europeu de primeiro ou segundo escalão, mas por um time africano ou asiático. Ou mesmo um europeu de terceiro escalão. E aí quero ver o que eles irão ladrar quando isso ocorrer, com eles sendo expostos mais uma vez ao ridículo.
Lembrando que no Mundial de Clubes da FIFA não foram poucas
as vezes em que o representante da Conmebol foi eliminado não pelo
representante da UEFA na final, e sim pelo representante de outras
confederações na semifinal. Por times africanos, árabes e mexicanos, para ser
mais exato.
Em 2010, o Internacional perdeu para o time congolês Mazembe
por 2 a 0. Em 2013, tivemos a derrota do Atlético Mineiro para o Raja Casablanca,
do Marrocos, por 3 a 1 e com Ronaldinho Gaúcho em campo. Em 2018, o argentino River
Plate, depois de empate no tempo normal em 2 a 2, foi despachado pelo Al Ain,
dos Emirados Árabes Unidos, por 5 a 4 nas cobranças de pênaltis. E em
2020/2021, o Palmeiras primeiro perdeu para o mexicano Tigres por 1 a 0 na
semifinal e depois para o egípcio Al Ahly após empatar no tempo normal por 0 a
0 e perder nos pênaltis por 3 a 2.
Foto – Raja Day, 2013.
Um dos principais alvos das críticas do PCO é o ex-jogador
Walter Casagrande, notório por ter jogado no Corinthians no tempo da Democracia
Corinthiana e que jogou na Copa de 1986. No futebol europeu, teve passagens
pelo Torino e pelo Ascoli. Não concordo com muita coisa da qual ele fala. Mas
há algumas coisas que vi dele recentemente e não tem como não discordar dele.
Em especial no que tange à geração do penta. Geração essa que, entre outras coisas, assistiu a Copa ao lado de dirigentes da FIFA (isso ao mesmo tempo em que ex-jogadores argentinos como Batistuta, Verón e Cambiasso lá estavam no estádio torcendo por seu time na arquibancada ao lado dos torcedores argentinos) e que não teve a humildade de comparecer à homenagem feita pela Conmebol em Doha a Pelé, que agora passa por um momento bem delicado, pela Conmebol. Entretanto, dois argentinos compareceram à homenagem: o ex-lateral Javier Zanetti (ex-jogador de times como o Banfield e a Internazionale de Milão) e o ex-goleiro e técnico Nery Pumpido (jogou em times como o Velez Sarsfield, o River Plate e o Betis).
Também não há como discordar de Casagrande quando ele fala a respeito do distanciamento entre os torcedores e os jogadores brasileiros e no que tange a
Neymar, entre outras coisas. Casagrande desde 2017 vem criticando o “adulto
Ney”, e talvez seja por isso que o PCO tem birra dele. Por não dizer amém a
todas as atitudes dele.
Foto – Zanetti na homenagem ao rei do futebol.
Outra coisa que acho bem curiosa a respeito do PCO é a
duplicidade deles a respeito de figuras que atuam como “managers” de times de
futebol. Eles criticam com razão figuras como o influenciador digital Felipe
Neto (vulgo garoto colorido) por suas aventuras de investimento no Botafogo
carioca. Até aí tudo bem.
Foto – Batistuta, Zanetti e outros ex-jogadores argentinos torcendo pela Argentina na Copa do Qatar.
O problema é que eles se omitem e fazem silêncio de
cemitério a respeito da atuação de outra dessas figuras, o ex-jogador Ronaldo
Nazário, que atua de forma similar (sobre o qual falamos em artigo anterior).
Talvez, não por acaso, trata-se do mesmo Ronaldo que levou alguns dos jogadores
da seleção brasileira ao restaurante desfrutar do famigerado “bife de ouro”.
Ele, que vem atuando em times como o Cruzeiro e o Valladolid de forma similar a
que o iraniano radicado na Inglaterra Kia Joorabachian fez no Corinthians no
tempo da parceria com a MSI (2005 – 2007). É um testa-de-ferro a serviço de
grandes investidores.
Foto – Ronaldo Fenômeno no episódio do “bife de ouro”.
Mas enfim. É por causa de pessoas como os membros do PCO,
que do alto da empáfia e da arrogância deles acham que só o brasileiro que sabe
jogar futebol, que toda crítica que se faz à seleção brasileira ou ao Neymar é
um ataque da assim chamada “imprensa burguesa” e que não vê que nos últimos anos
o Brasil não acompanhou a evolução que o futebol em outras partes do globo veio
tendo que um dia o Brasil vai começar a amargar os mesmos fiascos que a Itália
e a Alemanha amargaram nas quatro últimas Copas do Mundo. Com direito a
eliminações não mais para times europeus ou para a Argentina, e sim para times
como Senegal, Gana, Camarões, Nigéria, Egito e Marrocos.
Vários craques já vestiram a camisa da seleção brasileira ao
longo da história. Friedenreich, Leônidas da Silva, Garrincha, Jairzinho, Pelé,
Zagallo, Carlos Alberto Torres, Rivelino, Gérson, Tostão, Sócrates, Zico,
Careca, Toninho Cerezo, Romário, Bebeto, Rivaldo, Ronaldo Fenômeno, entre
tantos outros. E ver que atualmente alguém do naipe do Neymar, o Peter Pan do
futebol hodierno, é o principal craque do escrete brasileiro não é um sinal de
que o Brasil tem a melhor seleção do mundo como pensa o PCO. E sim um sinal de
decadência e queda de nível técnico em relação a tempos anteriores.
Parafraseando Ariano Suassuna em sua crítica à banda
Calypso, se o time do Tite no Mundial do Qatar (que foi eliminado por um time
europeu de segundo escalão) é incrível como pensa o PCO, que adjetivo será que
terei de usar para se referir às seleções brasileiras de 1958, 1962, 1970 ou
1982?
Fontes:
A defesa insana da Argentina e o antirracismo por
conveniência. Disponível em: A
defesa insana da Argentina e o antirracismo por conveniência • Diário Causa
Operária (causaoperaria.org.br)
Argentina vence nos pênaltis e conquista o tricampeonato
mundial. Disponível em: Argentina
vence nos pênaltis e conquista o tricampeonato mundial • Diário Causa Operária
(causaoperaria.org.br)
Conmebol homenageia Pelé – Mas só ídolos argentinos
comparecem. Disponível em: Conmebol
homenageia Pelé — mas só ídolos argentinos comparecem | Placar - O futebol sem
barreiras para você (abril.com.br)
Como o imperialismo usa a Argentina para atacar o Brasil.
Disponível em: Como
o imperialismo usa a Argentina para sabotar o Brasil • Diário Causa Operária
(causaoperaria.org.br)
Messi: a boneca de ouro dos golpistas. Disponível em: Messi:
a boneca de ouro dos golpistas • Diário Causa Operária (causaoperaria.org.br)
Seleção do Marrocos é recebida com festa no país. Disponível
em: Seleção
do Marrocos é recebida com festa no país • Diário Causa Operária
(causaoperaria.org.br)
Que eu saiba, em 2013, quem perdeu para o Raja Casablanca foi o Atlético MG, e na final, o Raja foi derrotado pelo Bayern Munchen.
ResponderExcluirObrigado pela correção.
Excluir