Foto - #AlHilalday.
Ontem, em jogo válido pelas semifinais do Mundial de Clubes
2022/2023, realizado no Marrocos e o último realizado no atual formato (a
partir de 2025 o torneio passará a ter 32 times e disputado a cada quatro anos),
o Flamengo perdeu para o time saudita Al-Hilal por 3 a 2. Com essa derrota,
essa é a sexta vez em que times sul-americanos são batidos não por um time
europeu na final, e sim na semifinal por times africanos, asiáticos ou
norte-americanos.
Antes disso, tivemos a derrota do Internacional para o time
congolês Mazembe por 2 a 0 em 2010; em 2013 o Atlético Mineiro perdeu para o
time marroquino Raja Casablanca por 3 a 1; em 2016 o colombiano Atlético
Nacional perdeu para o japonês Kašima Antlers por 3 a 0; em 2018 o argentino
River Plate empatou com o Al-Ain, dos Emirados Árabes Unidos, por 2 a 2 no
tempo normal e na disputa de pênaltis perdeu por 5 a 4; e em 2020/2021 o Palmeiras
perdeu primeiro para o mexicano Tigres por 1 a 0 e depois para o egípcio
Al-Ahly na disputa de terceiro lugar ao empatar sem gols no tempo normal e ser
vencido na decisão por pênaltis por 3 a 2.
Resumindo a ópera: quinta derrota de times brasileiros para times não-europeus no Mundial de Clubes da FIFA, sétima derrota de times da Conmebol para times não-europeus no Mundial de Clubes da FIFA.
E, tal qual em outras derrotas de times brasileiros na semifinal do Mundial de Clubes da FIFA, mais uma vez vemos o time brasileiro, do alto da soberba e do clima de já ganhou, achando que ia enfrentar o time europeu da vez na final e no fim das contas nem passar da semifinal.
E essa não foi a primeira vez que isso aconteceu: foi assim em 2010 com o Internacional, em 2013 com o Atlético mineiro, em 2020/2021 com o Palmeiras e agora a história se repete no presente ano com o Flamengo.
Foto – #Rajaday, 2013: atleticanos zombando dos cruzeirenses achando que iam enfrentar e vencer o Bayern de Munique na final do Mundial de Clubes daquele ano.
Com mais essa derrota a última conquista sul-americana em
Mundiais de Clubes da FIFA continua sendo o título do Corinthians de 2012, no
qual o time do Parque São Jorge venceu o inglês Chelsea por 1 a 0.
Foto – Corinthians campeão do Mundial de Clubes de 2012.
E, como não poderia deixar de ser, o PCO (Partido da Causa
Operária), notório por suas pérolas dignas de vestibular quando o assunto é
futebol, ladrou sobre a derrota do time da Gávea e soltou as típicas abobrinhas
deles em dois artigos publicados, respectivamente, ontem e hoje. E é sobre isso
que falaremos no presente artigo.
Começo o artigo com as seguintes palavras: e aí PCO (vulgo
ursinhos neymarzetes), cadê toda a superioridade do futebol brasileiro de que
vocês tanto falam e tanto se gabam?
Pela tônica de um dos artigos escritos no Diário da Causa
Operária, intitulado “Eliminação no Mundial é lição ao Flamengo com técnicos
europeus” (publicado em 08/02/2023) e assinado por Juca Simonard, vê-se que
eles tratam o técnico do Flamengo, o português Vitor Pereira, como um bode
expiatório da derrota do time da Gávea para os sauditas.
Pelo visto eles estão se esquecendo de muita coisa, a
começar pelos fracassos da seleção brasileira nas últimas cinco Copas do Mundo.
Acaso foi tem sido com técnicos estrangeiros que o Brasil, sempre que enfrenta
um time europeu em fase eliminatória de Copa do Mundo, vem sendo eliminado
desde a Copa de 2006? E acaso foi com técnico estrangeiro que o Brasil não só
nas duas últimas Copas do Mundo foi eliminado por times europeus de segunda linha
(Bélgica e Croácia), como também sofreu derrota na Primeira Fase para um time
africano em Copas do Mundo, o Camarões? E acaso também foi com técnico
estrangeiro que o Brasil sofreu a primeira derrota em Primeira Fase em 24 anos,
desde a derrota para a Noruega na Copa de 1998? A resposta para todas essas
perguntas é um sonoro não.
Deixe-me refrescar a memória dos ursinhos neymarzetes: em
2006, o técnico da seleção brasileira era Carlos Alberto Parreira, o mesmo
Parreira que foi tetracampeão nos Estados Unidos 12 anos antes; em 2010, o
técnico era Dunga, o mesmo Dunga que foi o capitão do tetracampeonato 16 anos
antes; em 2014, a Copa do 7 a 1, o técnico era Luís Felipe Scolari, o mesmo
Scolari que em 1999 foi campeão da Taça Libertadores pelo Palmeiras, que em
2002 foi pentacampeão e que foi quarto colocado com Portugal na Copa de 2006; e
por fim em 2018 e 2022 o técnico era Tite, o mesmo Tite que em 2012 venceu a
Taça Libertadores e o Mundial de Clubes da FIFA com o Corinthians.
Ou seja, em nenhuma dessas ocasiões o técnico da seleção
brasileira era um estrangeiro. Também vale lembrar que em 2010 o técnico do
Internacional era Celso Roth, e que em 2013 o técnico do Atlético Mineiro era
Cuca. Que em 2011 o técnico do Santos, que foi batido pelo Barcelona por 4 a 0
na final, era Muricy Ramalho. E que em 2017 o técnico do Grêmio, vencido pelo
Real Madrid por 1 a 0 na final, era Renato Gaúcho. Todos eles brasileiros. E
aí, o que me diz disso, ursinhos neymarzetes?
E isso não é tudo: eles parecem se esquecer de que em 2019 o
Flamengo foi campeão da Taça Libertadores e vice-campeão do Mundial de Clubes
da FIFA com o português Jorge Jesus à frente do time da Gávea. E que o também
português Abel Ferreira, no comando do Palmeiras desde 2020, venceu duas vezes
a Taça Libertadores duas vezes (2020 e 2021), a Copa do Brasil de 2020, a
Recopa sul-americana e o Campeonato Brasileiro de 2022. Técnicos esses que, diga-se
de passagem, são técnicos comuns na Europa (nunca que alguém como o Guardiola,
o Mourinho ou o Klopp viria para cá treinar um Corinthians ou um Flamengo da
vida, ou mesmo a seleção brasileira).
Ou seja, a questão envolvendo a derrota flamenguista não foi
uma questão da nacionalidade do atual técnico do Flamengo, e sim da bagunça
interna do próprio Flamengo (além do fato de terem vendido jogadores
importantes ao fim da temporada passada). Além do já citado clima de já ganhou
por parte de muitos jogadores do Flamengo antes de enfrentarem o Al-Hilal. Em
outras palavras, o problema está muito mais embaixo do que o Juca Simonard e os
ursinhos neymarzetes de modo geral pensam, e não tem nada a ver com a
nacionalidade de quem é o técnico que comanda o time.
E de cereja do bolo, no artigo seguinte, “Imprensa usa
derrota do Flamengo para atacar futebol brasileiro”, vemos mais uma vez os
ursinhos neymarzetes destilando seus delírios, acusando a imprensa de se
aproveitar da derrota do Flamengo para atacar o futebol brasileiro (podem ver
que para eles tudo é ataque),e mais o seguinte trecho:
“Mesmo assim, o
argumento de que o futebol brasileiro está decadente é falacioso. Nas Copas do
Mundo, o Brasil é o único país que chegou a todas as quartas-de-final desde a
Copa de 1990. É a única Seleção que participou de todas as Copas do Mundo”.
Correção: desde a Copa de 1994, visto que na Copa de 1990 o
Brasil foi eliminado pela Argentina nas oitavas-de-final da segunda copa da
Itália. E isso não muda o fato de que desde 2006 sempre que o Brasil pega um
time europeu na fase eliminatória de Copa do Mundo é eliminado, e nas duas
últimas Copas foi vencido por times europeus de segundo escalão, e de brinde
derrota para Camarões na primeira fase.
“Caiu apenas duas
vezes na fase de grupos: na primeira, em 1930, quando apenas um país se
classificava em seu determinado grupo — diante de um racha entre Rio de Janeiro
e São Paulo; e, em 1966, após os brasileiros serem bicampeões e o “apito amigo”
favorecer a porradaria europeia para lesionar nossos jogadores. Nenhuma outra
Seleção do mundo tem esses números”.
Ou seja, para eles parece que tudo está bem com o futebol
brasileiro. A derrota do Flamengo para o Al-Hilal no presente Mundial de Clubes
não foi a primeira, e podem ter certeza que não será a última derrota de times
brasileiros para times não-europeus nos futuros Mundiais de Clubes da FIFA. E
se as coisas continuarem como estão é capaz de com o tempo o Brasil começar a
amargar os mesmos fiascos que seleções como a Itália e a Alemanha vieram
amargando nas quatro últimas Copas do Mundo. E, em uma situação ainda mais
extrema, de virar uma seleção que vive de passado que nem o Uruguai ou a
Hungria.
Portanto, PCO, só lhes digo uma coisa: menos, menos. Abaixem a bola que vocês ganham mais. E parafraseando o Romário, o Juca Simonard está precisando colocar um sapato na boca urgentemente.
É por causa da empáfia e da arrogância de pessoas como vocês que veremos não apenas mais derrotas de times sul-americanos para times asiáticos, norte-americanos e africanos em Mundiais de Clubes, como também o Brasil talvez sendo eliminado em Copas do Mundo por europeus de terceiro escalão ou algum selecionado africano ou asiático. E não mais em quartas-de-final, mas em oitavas-de-final, como em 1990.
Foto – Eliminações de times sul-americanos para times não-europeus no Mundial de Clubes da FIFA desde 2010.
Fontes
Eliminação no Mundial é lição ao Flamengo com técnicos
europeus. Disponível em: Eliminação
no Mundial é lição ao Flamengo com técnicos europeus • Diário Causa Operária
(causaoperaria.org.br)
Imprensa usa derrota do Flamengo para atacar futebol
brasileiro. Disponível em: Imprensa
usa derrota do Flamengo para atacar futebol brasileiro • Diário Causa Operária
(causaoperaria.org.br)
Mesmo se o Flamengo passasse do Al-Hilal, perderia para o Real Madrid, pois não se compara o nível do futebol sul-americano para o futebol europeu. Investimentos pesados para montar as bases dos times, muitos jogadores que começam a crescer nos clubes daqui logo vão para a Europa, em busca de mais grana e status... enfim, não tão cedo veremos um clube da Conmebol derrotar um clube da UEFA.
ResponderExcluirE se você for ver o currículo de jogadores dos anos 1980 e 1990, verá que não raro eles iam jogar na Europa em fim de carreira (tipo beirando os 30 anos) e iam jogar em clubes medianos para baixo (vide Bebeto no La Coruña, Romário no PSV, Mazinho no Celta de Vigo, Zico na Udinese, Sócrates e Edmundo na Fiorentina, Casagrande no Torino e no Ascoli, Toninho Cerezo na Sampdoria, entre outros). Hoje eles mal saem das fraldas e já estão jogando em times como o Real Madrid e o Barcelona.
ExcluirExatamente! Antigamente, jogar em clubes fora de seu país natal era mais para encerrar a carreira. O húngaro Ferenk Puskas, uma das grandes lendas do futebol europeu, a vida toda jogou pela seleção da Hungria, e por clubes húngaros. Depois, quando já estava com a idade avançada, perto de encerrar a carreira, foi jogar no Real Madrid. Hoje, nós vemos o contrário. Mal um jogador começa a despontar no clube que o revelou, já vai pro futebol europeu, e mais tarde, quando já está mais velho, em fim de carreira, vai pro futebol árabe.
ExcluirOu então vem jogar em algum time brasileiro já todo bichado.
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